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sexta-feira, 28 de maio de 2021

Navegações de cabotagem – a Praça das Cabeças de Praia Grande e o espaço vital que precisamos para transformar o mundo

Olá!

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Era uma vez um freezer, e este freezer ficava em uma casa de veraneio no litoral paulista. Acontece que ele se transformou em contrapiso para poeira, e desligado que estava não exercia a função social preconizada na Carta Magna do Florão da América. Sendo assim, fazia muito sentido que fosse deslocado de sua cozinha inoperacional para um novo destino, lá pelos lados do Vale do Paraíba. Ou, sem regateios e chorumelas, meu sogro tinha um freezer em desuso na Praia Grande e minha filha mudou-se para Taubaté. Faz-lhe falta tal eletrodoméstico, e o velho o disponibilizou, meio na base do “te vira prá levar”. Cálculos:

Freezer novo – R$ 1.700,00
Usado em bom estado – R$ 1.000,00
Aluguel de uma picape + combustível + pedágios – R$ 300,00

A relação custo-benefício pareceu favorável ao último quesito, e foi por esse caminho que eu rumei, indo a uma dessas locadoras cheias de protocolos, garantias e burocracias, mas que fornecem o que eu preciso.

Bem, a carga em si coube a mim e à patroa. Um freezer vazio de seus 200 litros não é lá uma bigorna, então encaramos a tarefa de boas. Feita a carga e a amarração, ao invés de sair correndo para a estrada, resolvemos fazer um pedaço de beira-mar, para matar um pouco das saudades. Afinal de contas, o tempo estava bem bom, com aquele mormaço típico da costa, um diferencial em relação às terras altas da capital. Andamos um bom trecho, da Vila Mirim até o Boqueirão, mas não voltei à rota pela Costa e Silva, geralmente muito movimentada. Fi-lo um pouco antes, mais ou menos na altura da feira de artesanato, pela Avenida São Paulo.

Foi então que percebi o quanto de tempo já fazia que eu não rodava por este pedaço. No meio da via, uma praça bem larga desponta ao longe, cheia de cabeças metálicas, que eu ainda não tinha visto, independentemente de já ter passado por aqui.


O nome do logradouro é Praça Elos, mas o espaço expositivo é chamado de Praça da Paz, inaugurada em 2007 para homenagear algumas personalidades que fizeram algum tipo de ação relevante pela paz no mundo.

As estátuas retratam Jesus, sua mãe Maria, Gandhi, madre Tereza de Calcutá, São João Paulo II, Nelson Mandela e Sérgio Vieira de Melo, sendo que este último eu cheguei a confundir com o George Bush.

Todas as obras são revestidas em aço inox, e possuem em torno de 10 metros de altura cada uma.

O autor das esculturas é Gilmar Pinna, que se notabilizou por fazer obras semelhantes em Guarulhos e Ilhabela, especialista em produzir com o uso de material metálico de grandes dimensões.

Embora a praça tenha um nome oficial, o povo não deixou barato e a batizou informalmente como Praça das Cabeças. Vox populi, vox dei, e eu o adoto daqui por diante.

Pelo que andei vendo por aí, há polêmica na construção da praça. Tem gente que adorou a novidade, tem gente que achou desperdício de dinheiro público. Eu tendo a concordar com a primeira posição, desde que o montante se justifique e não haja indícios de desvios. Não que eu tenha ficado de queixo caído com as estátuas, mas não é em qualquer lugar que poderemos ter um Musée Rodin.

Mesmo não sendo unanimidade, a praça faz parte de um processo de melhorias e urbanização que já vem de longe, com o objetivo de mudar uma imagem renitente. A Praia Grande leva nas suas costas uma boa dose de preconceito. Certo: é uma cidade com índices de violência acima do desejável, embora não fuja da média do litoral. Mas o fato é que ela carrega um estigma que escapa da observação deste quesito. É que ela é considerada uma cidade para pobres, para farofeiros, para aqueles que não têm grana para gastar com hotéis de frente ao mar, como ocorre no Guarujá ou no Litoral Norte. Todas as vezes que alguém quer falar que passou o feriado em um lugar sem requinte, refere-se à PG, mesmo que não seja verdade.

Eu não tenho nenhum direito de falar mal da Praia Grande. É, de longe, a cidade da Baixada que eu mais frequentei na minha vida. Quando eu era criança, ao contrário da longa teia urbana que se vê hoje, havia grandes espaçamentos entre os diversos bairros, que eram ligados por vias de areia socada mesmo pela avenida principal. Chegávamos pela velha Ponte Pênsil, aguardando o tempo necessário para inversão da mão, sempre que preciso. Meu pai tinha um amigo com uma casinha próxima à Vila Caiçara, um tanto isolada e que, mesmo sendo meio distante da orla, dava para vê-la da janela lateral. A casa ficava mais cheia que um ovo cozido, porque a patota aproveitava a oportunidade e se organizava nos carros que estivessem à disposição. Mais tarde, meu sogro compartilhava um cômodo-e-cozinha com sua irmã, até que pode adquirir uma casa no Balneário Maracanã, de modo a esgotar suas verbas rescisórias de anos a fio, mas que o deixou muito feliz. Por este motivo, mais da metade das vezes em que fui para a área litorânea, o fiz para ir à Praia Grande. E, como pode ser percebido, éramos adeptos de pular no trem na hora em que ele passasse, sem se preocupar se o banco era estofado.

Não éramos só nós, operários e camponeses familiares, que nos despíamos de requintes. Toda uma camada da população via lá a opção possível de lazer. A Praia Grande começou a ficar cada vez mais atulhada de gente e lixo por conta das famosas excursões de um dia, com uma estrutura então muito precária, principalmente nos desembocadouros de esgoto. Da década de 80 para cá, muita coisa mudou, principalmente na organização do espaço público. A Praia Grande é outra, e qualquer pessoa que não tenha vindo para cá há pouco tempo, não reconhece a cara nova.

Mas a marca fica. Hoje, quem olha para a Praia Grande, vê uma orla muito bem estruturada*, embora a ausência dos quiosques tenha sido uma canelada indesculpável da prefeitura. Há ciclovia de fora-a-fora, há chuveiros, sinalização farta, via toda asfaltada. Está em melhor situação que outras cidades melhor cotadas na mente do povo.

O pior é que o estigma não fica na cabeça só de quem vem de longe, mas embutido até mesmo em quem está do lado de dentro. Não se trata de um complexo de vira-latas, como quereria Nelson Rodrigues, mas de uma condição psicológica de quem tanto ouve a mesma cantilena e que vê o ar de desprezo ou deboche do outro. E isso se espraia de mente em mente, marcando todo um povo, de modo que só há dois caminhos: a conformação ou a revisão. Como temos uma tendência à comodidade, na maioria das vezes acontece o primeiro, mas é possível pensar diferente, como ensina Kurt Lewin.

Este camarada foi o principal precursor da Psicologia Social, a área de conhecimento que trata dos fenômenos mentais das interações, de uma maneira a reconhecer que estes não ocorrem apenas na célula individual, mas que se compartilham com as comunidades que possuem elementos comuns em seus convívios. Na época em que começou a militar na área, havia duas vertentes que condividiam a Psicologia: a psicanálise, que operava nas entranhas mais profundas da mente, mais voltada para uma visão filosófica do assunto; e o behaviorismo, mais preocupado com os efeitos dos estímulos sobre o comportamento do indivíduo. Lewin procura uma terceira via, mais próxima à Gestalt, que se preocupava exatamente com a dinâmica social, que precisa levar em conta fatores muito externos às cabeças em si.

Lewin pega emprestado o conceito de campo na física para descrever suas ideias. Quando olhamos para um objeto qualquer, intuitivamente compreendemos que toda sua presença física se limita às fronteiras de seu corpo físico. Mas isso não corresponde à realidade. Ainda que não se toque com outros, esse objeto exerce influência e é influenciado pelo ambiente que o rodeia. Um campo gravitacional ou magnético, para citar exemplos, exerce uma interação com o ambiente ao seu redor. Pensando em um ímã, ele possui uma força de atração que aumenta ou diminui de acordo com a proximidade dos objetos que estão ao seu redor, transitando de um absoluto, que representa o toque, até um ponto em que sua capacidade de atrair é tão rarefeita que já não consegue produzir aproximação. Enfim, um campo é uma área estendida, que não corresponde unicamente à porção perceptível do corpo.

Segundo Lewin, o mesmo se aplica às relações sociais. O núcleo da interação é o self, que representa o indivíduo como centro convergente das percepções sobre o mundo. Seu campo é composto pelas forças que vem de fora, chamadas por Lewin de vetores, que podem interagir com o self de maneira positiva ou negativa, e que, de acordo com sua proximidade e importância, exercerão maior ou menor influência sobre o self.

O que é o espaço vital para Lewin? É exatamente essa área abrangida pelo campo. Trata-se de todo e qualquer fato que influencie o comportamento de uma pessoa. Isso já nos indica que o espaço vital não é meramente físico, e também não somente espacial, da mesma maneira que os campos tratados no ramo da Física, como exemplificado acima.

E é aqui que vemos como as considerações que se fazem sobre o ambiente em que se vive moldam o self. Uma cidade que vai ganhando infraestrutura mais robusta é um vetor positivo, que faz com que alguém se sinta mais bem representado e com anseios atendidos. Por outro lado, toda a carga de despeito que se lança sobre essa mesma cidade é um vetor negativo, que leva influências como um certo desconforto, ou, no limite, uma vergonha em ser partícipe de um lugar desprezado. É como se o lugar em que eu vivo não fosse digno e, por consequência, eu não fosse digno também.

Mas como se sai desse círculo vicioso? De acordo com Lewin, as pessoas possuem zonas de conforto que, mesmo incômodas, representam um modo de viver conhecido e razoavelmente seguro. É necessário vencer esse natural conservadorismo de um grupo, o que começa com o reconhecimento dos vetores negativos que penetram nos espaços vitais de cada indivíduo, com a observação da necessidade de mudanças e com a aposentadoria de crenças e hábitos. Como se trata de uma disposição coletiva, é preciso que existam lideranças dentre os membros que sirvam como porta-estandartes para o que Lewin chamou de descongelamento de padrões. Logo em seguida, vem a mudança em si, fruto de um desafio de transformação. É com essa predisposição que um sistema é entendido e modificado, de modo a eliminar os vetores negativos e maximizar os positivos, ou até mesmo de lhes mudar o sinal, passando o que era ruim a ser utilizado com proveito. Após a implementação de uma nova cultura, é a hora do recongelamento, ou seja, da absorção definitiva dos novos conceitos e práticas, e do novo espaço vital. Lewin usa um experimento com a utilização de miúdos pelas donas de casa no período de guerra, mas eu vou exemplificar com um modelo mais costumeiro para nós, tupiniquins: o futebol.

Imagine que seu time da esquina, glorioso pelos torneios da várzea, tenha entrado em uma modorra infinita. As tradições mandam que aquele velho 4-2-4 seja o padrão tático, com dois pontas abertos e um ponta-de-lança acompanhando o centroavantão clássico: alto, forte e lento. O técnico é das antigas, daqueles que ‘inda falam que “quem corre é a bola”. Acontece que o antigo desempenho foi aos poucos degradando. Aquele time outrora tão goleador passou a ser facilmente marcado, e, com as posições tão fixas e previsíveis, foi sendo mais e mais derrotado, a ponto de perder a antiga relevância. Depois de um bom tempo nessa condição, o vetusto técnico pega seu boné e vai criar peixe no interior de Goiás. O novo professor escolhido tenta embutir novas ideias na cabeça do elenco, mas é recebido com ceticismo. Para vencer a resistência, leva o time para assistir jogos em outras praças e trás vídeos de esquemas táticos alternativos, explicando aos atletas bissextos o que quer e o que espera deles. Não tendo muita alternativa, o time descongela. Os pontas agora recuam para ajudar os volantes, e os laterais avançam até a linha de fundo dos adversários. O centroavantão desce para a zaga para cortar os cruzamentos, e os beques fazem o oposto no ataque, para aproveitar a boa estatura. O resultado foi uma mudança na tendência às derrotas, conseguindo mais empates e algumas vitórias eventuais, que foram aumentando e se acumulando, na exata medida em que o time foi se adaptando mais e melhor às suas novas funções. Bem estabelecido, seu esquema tático torna-se um novo padrão, novamente congelado, mas agora eficiente, totalmente novo, mas capaz de retomar a antiga glória.

Já não parece que você ouviu falar desse papel das lideranças em algum lugar? Não te parecem aquelas dinâmicas de grupo que fazem os gestores para demonstrar quais são os novos papeis que se esperam de seus comandados? Pois é. A prática psicológica social de Lewin é uma das grandes vedetes dos modernos administradores e coaches, quânticos ou não. Sim, a vida é regada e adubada de contrassenso. Uma das teorias mais festejadas pelo mundo empreendedor tem origem em uma cabeça socialista, que se preocupava em fazer com que o próprio povo se reconhecesse com seus espaços vitais impregnados de vetores negativos, e que se reunisse em torno de suas lideranças para desenhar um novo futuro.

Talvez a chave para a autoimagem da Praia Grande esteja em atitudes semelhantes. Os tempos de cidade suja e que ninguém queria assumir como destino turístico (embora sempre houvessem assíduos frequentadores) fazem parte de um passado que precisa se descongelar. A novidade estética da Praça das Cabeças, embora nem se deva pretender uma unanimidade sobre o gosto, pode ser o marco de um lugar que se pensa diferente, que se assume como uma das cidades que mais mudou nas últimas décadas, para muito melhor. Espero que o mesmo empenho se dedique às camadas mais pobres da população. Bons ventos a todos!

Recomendações:

Lewin olhou para a Gestalt que emergia naqueles dias para criar suas teses originais, tão repisadas hoje em dia que chegaram a perder seu sentido original. É bom buscar seu ideário na fonte primária, como é o livro abaixo.

LEWIN, Kurt. Teoria de Campo em Ciência Social. São Paulo: Pioneira, 1965.

Para quem quiser, a Praça das Cabeças é um lugar onde o pessoal vive tirando selfies. É bem fácil de estacionar, porque não fica colada na praia.

“Praça das Cabeças”
Praça Elos (cruzamento das Avenidas São Paulo e Brasil)
Boqueirão
Praia Grande
Aproximadamente 80 Km a partir do centro de São Paulo

* Não me esqueço de que há uma linha divisória muito clara na Praia Grande: a Avenida Presidente Kennedy. Tudo o que está para o lado do mar está mais bem situado, e à medida que se aproxima do morro, pior fica a miséria e a violência. Os termos são comparativos com as outras cidades da região.

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Sobre os princípios racionais e nossa mania de classificar

Olá!

Tudo bem com vocês? Olha, eu lancei há bem pouco tempo atrás minha postagem comemorativa de dez anos deste humilde blog, e até que o número de visualizações está acima da média. Para quem gosta de listas, o endereço é este, e lá tem de tudo um pouco: dos meus textos, de Filosofia, de futebol, comida, livros e lojas, entre outros badulaques e penduricalhos.

Está tudo lá para se concordar ou achincalhar, desde que com o devido respeito. Afinal, nada há mais de opinativo na vida do que listas. Eu pergunto para Joãozinho as comidas que ele mais gosta e lá vem feijoada, churrasco e chocolate. Mariazinha discorda dizendo que doce não é comida, e Joãozinho reage perguntando por onde Mariazinha come o chocolate. Não quero criar nenhum tipo de caso, nem mesmo entre meus estudados hipotéticos, mas, como eu disse no próprio corpo do texto, o ser humano tem uma sanha classificatória combinada com indolência elaborativa. Não se assuste, todo mundo é assim em alguma medida. Isso parte da nossa capacidade de raciocinar.

Mas não deveria ser exatamente o inverso? Bem, na parte da preguiça talvez, mas mesmo ela tem sua razão de ser. Quando utilizamos listas e classificações, estamos preenchendo o barramento de informações que utilizamos nos nossos pensamentos, ou, em outras palavras, estamos trazendo informações de referência para a memória. Nem sempre estamos seguros quando construímos nós mesmos esse processo, e por isso recorremos a ajudinhas. A coisa cresce ainda mais quando lembramos das vantagens evolutivas em se copiar processos bem sucedidos, especialmente no quanto isso facilita nossa adaptação ao meio. Já falei sobre isso várias vezes, podem ler este texto aqui para ficar mais claro.

Isso tudo faz parte do jogo da razão, considerada nosso grande distintivo das demais espécies, ainda que muitas vezes não pareça. Na própria origem da palavra já podemos pegar umas dicas. Vem de ratio, palavra latina que significa “dividir”, e, por extensão, “calcular”. Vejam: palavra como racionar ou rateio carregam também consigo esse mesmo sentido, o de distribuir adequadamente um objeto. Fazemos exatamente isso quando raciocinamos, ainda que inconsciente e automaticamente: dividimos os problemas em partes compreensíveis, classificamos as separações e concatenamos todas as partes de maneira lógica. Raciocínio não é muito mais do que isso e Descartes explica.

É claro que, falando assim, tudo parece mais simples do que verdadeiramente é. Há regras a reger o pensamento, de modo que não extraiamos meras abobrinhas do pomar de nosso patrimônio mental. Essas normas não são aplicáveis cem por cento do tempo, e, quando estamos só nos defrontando com os absurdos do dia-a-dia, não há muito compromisso lógico, mas quando estando proposicionando, aí sim é de rigor que o raciocínio tenha balizas, ou, melhor dizendo, princípios.

O primeiro deles é o princípio da identidade, que é resumido classicamente com a sentença A=A. Ou seja, qualquer coisa é igual a si mesma: Joãozinho é Joãozinho, Mariazinha é Mariazinha, malandro é malandro, mané é mané. Em um primeiro olhar, parece a assertiva mais estúpida de todos os tempos. Mas há um verdadeiro oceano de justificativas por trás de axioma tão aparentemente singelo.

A primeira coisa a pensar é a seguinte: por que o nosso costumeiro RG é também chamado de cédula de identidade? Ora, porque ela identifica uma pessoa, e isso significa descrever uma série de características que são próprias dela e que a tornam única. Neste documento, existe um conjunto de informações que pretendem tornar seu portador um indivíduo único. Data de nascimento, nome dos pais, local de nascimento e digital do polegar são dados que, somados, são irrepetíveis, e por esse motivo fazem com que você possa ser identificado com segurança. Identificar, portanto, significa que a descrição de um cidadão corresponde a ele mesmo, tornando-o único e distinguível de todos os demais. Idem, o étimo da palavra, significa 'o mesmo'. Você é você, seja em carne e osso, seja documentalmente – concreta e abstratamente.


Essa propriedade de identificação, por conseguinte, faz com que seja possível tornar único qualquer objeto dentro de qualquer relação. É possível mudar os referentes, mas o objeto permanecerá o mesmo. Quando eu falo em São Paulo, Terra da Garoa, Capital da Solidão, cidade mais populosa do Brasil, terra da gastronomia, túmulo do samba, território nas coordenadas tal e tal, cidade-sede de um time chamado Nacional, pelo princípio da identidade, estou falando sempre da mesma coisa, possuidora da mesma identidade, o que a torna única entre todas as cidades do mundo. As variações nas designações são uma mera questão de sinonímia, e não de troca de essência. E é obedecendo este princípio que conseguimos estabelecer relações racionais. Imagine se falássemos de São Paulo sem ter exatamente sua identidade. Como saberíamos qual passagem comprar, como poderíamos saber do seu PIB, do seu IDH, como poderíamos nos situar no espaço se não temos elementos para identificá-la firmemente? Portanto, dizer que A=A não é um mero papo de malucos, e sim a síntese de uma parte de qualquer processo de racionalização, que busca isolamento de partes. Como eu isolo uma parte se não tenho como a identificar seguramente?

Só que o princípio da identidade sozinho não carrega o piano da retidão lógica de um raciocínio. O princípio da não contradição é quase uma derivação do princípio da identidade, que, de certa forma, deixá-lo-ia inválido se não existisse. Resumidamente, diz que uma proposição não pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo, ou, melhor dizendo, não é possível que se obtenha verdade de duas afirmações contraditórias ao mesmo tempo e na mesma relação.

O processo em que imputamos atributos é chamado de predicação. Lembra daquela história de sujeito e predicado nas aulas de português? É exatamente isso: alguém recebe qualificações, e essas qualificações devem seguir alguns critérios para atender a um bom raciocínio. O principal deles é regido pelo princípio em tela. Não é possível predicar um sujeito com atributos contraditórios, não é possível ser e não ser ao mesmo tempo. Vamos para os exemplinhos, que sempre são mais didáticos:

No momento que estou digitando este texto, vejo pelo canto dos olhos meu celular transmitindo o jogo em que meu pobre Nacional vai levando sua biaba do Noroeste de Bauru. Algumas situações – para que eu esteja digitando o texto, é necessário que o computador esteja ligado, idem com o celular que está transmitindo a contenda. Eles não podem estar ligados e desligados ao mesmo tempo. Se o Nacional está perdendo do Noroeste, ele não pode estar ganhando. Não se ganha e perde ao mesmo tempo. Pode até ser que o Ferrinho vire o jogo, mas não temos aí a mesma relação temporal. Também é possível que o pessoal da bocha do Naça tenha aproveitado a viagem e esteja fazendo o resultado oposto contra os velhinhos do Norusca. O resultado é oposto, mas não há contradição, porque a relação não é a mesma: uma coisa é o jogo de futebol, outra é o de bocha.

Trocando em miúdos, não é possível que uma proposição seja verdadeira e falsa ao mesmo tempo, ou que uma predicação e sua respectiva negação sejam ambas verdadeiras. Uma proposição do tipo p ^~p é o que nós chamamos de contradição, e ela não nos diz nada sobre a realidade, assim como uma tautologia também não diz. Enquanto na tautologia todo resultado é verdadeiro, na contradição ele sempre será falso. Quando eu digo que “vou assistir o jogo do Nacional OU não vou assistir o jogo do Nacional”, isso sempre terá como resultado a verdade proposicional, e por isso é o típico argumento tolo, que não está errado, mas que não acrescenta nada ao nosso conhecimento. Já se eu digo que “vou assistir o jogo do Nacional E não vou assistir o jogo do Nacional”, tenho um argumento impraticável, cujo resultado será sempre falso. As regras de raciocínio não permitem que as operações mentais lógicas fujam de sua função de espelhar a realidade, mesmo que seja a nível abstrato, e este princípio descreve exatamente essa impossibilidade.

Bom, sabemos agora que um objeto qualquer não pode ser verdadeiro e falso ao mesmo tempo. Mas além dessas duas hipóteses, há uma terceira? É possível que algo seja mais ou menos verdadeiro, ou razoavelmente falso? A resposta é não. Pelas leis do razão, as proposições carregam apenas dois valores de verdade possíveis, e este é o chamado princípio do terceiro excluído. É assim: se eu afirmo que estou na Comendador Souza vendo um jogo do Nacional, ou estou de verdade, ou não estou. Pode-se até tentar uma gracinha, do tipo dizer que estou bem no portão de entrada, nem para dentro, nem para fora. É só uma questão de critério para derrubar a armadilha: se eu considero que o portão faz parte do clube, então tenho uma verdade; se não, uma falsidade, e pronto. Dificuldades com essa definição somente são possíveis em quebra-cabeças mentais do tipo gato de Schrödinger*, que refletem as dificuldades de compreensão da física de partículas e da mecânica quântica. Na realidade observável, as afirmações somente podem ser verdadeiras ou falsas.

É preciso muita calma nesta hora porque podemos ter a impressão de que a realidade é dicotômica, um enorme sim ou não, mas está longe de ser isso. O princípio do terceiro excluído não está preocupado em contemplar nuances dos fatos e dos acontecimentos, e sim de assegurar que uma proposição somente tenha dois caminhos possíveis: ser verdadeira ou ser falsa. Nestes tempos em que nos obrigam a tomar posições com base em polos opostos, qualquer declaração no sentido de que somente há duas posições possíveis na própria interpretação da realidade torna-se uma justificativa para forçar a aceitação das falsas dicotomias. Cuidado, isso é burro. Toda realidade pode ser quebrada em inúmeros pedacinhos, e o conjunto deles não demonstra que só existem dois lados (principalmente em Política).

Pois então. Esses três princípios agem em contiguidade e dependência, de maneira a se articular mecanicamente. Na verdade, é como se o princípio da identidade já contivesse, em si mesmo, os outros dois, que nada mais seriam que seus corolários. E, no fim das contas, não nasce das formulações modernas ou contemporâneas, mas do poema ontológico de Parmênides, ainda no século VI aC, onde se dizia que “o Ser é e não pode não-ser; o não-ser não é e não pode Ser de modo algum”. Notem que aí já está contido explicitamente o princípio da identidade e o da não-contradição, e tacitamente está o do terceiro excluído. Mais tarde, Aristóteles vai sintetizá-los de forma mais explícita em sua obra sobre a Lógica, e acabar por consagrando essa teoria para os tempos pósteros.

Mais adiante, um novo item foi incorporado à teoria clássica, o princípio da razão suficiente, também chamado de princípio da causalidade. Bem sinteticamente, nada mais é do que dizer que todos os fenômenos que acontecem no universo tem sua razão de ser por conta de uma longa cadeia de causas e efeitos, que se interconectam de modo a tornar a realidade como ela é. A função do raciocínio seria enxergar estes liames entre os diferentes objetos e acontecimentos. Se as coisas são como são, há uma razão que é suficiente para que elas sejam dessa forma, seja em âmbitos bastante particulares, seja em visões mais macrocósmicas, estendidas por longos períodos de tempo. Confuso?

Já que fomos de Nacional até agora, vamos continuar de Nacional. Dentre os times profissionais da Capital, ele é certamente o menor**. Possui uma história bacana, ligada à estrada de ferro e aos primeiros movimentos pela fundação do futebol no Brasil, mas nunca pode ser considerado um dos grandes, nem mesmo no passado, como a Portuguesa em São Paulo ou o América no Rio. Quando entra em campo, não assusta os adversários com o barulho de sua torcida, porque ela praticamente não há. Até mesmo por isso, costuma-lhe ser indiferente jogar em casa ou fora dela. Quando enfrenta adversários em melhor situação, como é o caso do Noroeste, coirmão na origem ferroviária, joga fechadinho lá atrás, esperando um contragolpe que lhe permita alguma chance melhor de vitória. Isso tudo posto, podemos pinçar um lance isolado e olhar para o seu todo. Uma bola espirrada vai parar na zona morta e é alcançada pelo lateral-direito, que tenta uma bola espichada para a cabeça de área, na esperança de que o lépido atacante de seu time consiga se livrar da marcação e tentar vencer o goleiro. No seu ímpeto incontido, vence o zagueiro que lhe funga no cangote e sai em direção ao gol, e tenta pegar o goleirão rival desprevenido, mandando uma bola por cobertura. A intenção é magnífica, mas a falta de habilidade faz com que a bola vá parar atrás da arquibancada de fundo, para desespero da comissão técnica e gáudio dos gandulas.

Pintado o quadro, vamos ver as relações de causalidade entre diversos fatos. A bola  perdida na arquibancada foi consequência de um chute mal dado. Este foi consequência de um lançamento vindo da defesa, que foi motivado por uma sobra, que foi causada por um ataque mal sucedido do adversário. Poderíamos regressar ab ovo, até o início da partida ou mesmo antes. A coisa podia ser vista por outro ângulo, um pouco menos restrito à partida em si. O Nacional enfrenta o Noroeste na terceira divisão paulista porque foi rebaixado da segunda em 2019. Está disputando as divisões inferiores porque não possui um orçamento comparável aos dos manda-chuvas, porque seu quadro de sócios não é grande, e porque os clubes associativos já não atraem mais tanta gente, porque as comodidades modernas fazem haver uma academia em cada esquina, porque a cultura da imagem induz as pessoas a ter corpos perfeitos, porque isso significa consumo permanente, porque esse é o motor do sistema capitalista, e de porque em porque voltaremos até o surgimento do homo sapiens, ou até mesmo antes. É possível radicalizar e ampliar ainda mais o horizonte: o Nacional está disputando sua partidinha porque os seres humanos gostam de futebol, porque são seres altamente sociáveis, porque existiam vantagens evolutivas em se agremiar, porque a compleição física humana não é grandemente privilegiada, porque há diferentes estratégias evolutivas, porque há diferentes seres surgidos na Terra, porque condições específicas de tempo e espaço fizeram surgir a vida no planetinha azul, porque houve um afastamento adequado do Sol, porque disposições físicas permitem os fenômenos de repulsão centrífuga e atração gravitacional, porque um belo dia surgiu um universo com todas essas características.

Daí para trás, ou temos uma causa incausada, como o Primeiro Motor Imóvel aristotélico ou uma divindade qualquer, ou a simples assunção de que há ainda mais causalidades que simplesmente não podemos conhecer, que nos cutuca a especular: o que há antes do Big Bang, por exemplo. Nossa ânsia é tocada por esse tipo de movimento – não gostamos de buracos no conhecimento, e queremos fechar toda a conta, sem facilidades para aceitar dúvidas. Mas, de toda forma, há toda uma cadeia que permite reconhecer o nexo causal que caracteriza a nossa realidade circunstante.

Falado tudo isso, podemos então notar que a ânsia classificatória é uma prerrogativa de quem busca o conhecimento, porque todos os elementos estão lá: as separações necessárias, as referências, as bases comparativas, e as balizas para que a racionalização seja mais segura. É quase uma bobagem achar que uma lista de dez comidas favoritas seja arcabouço para alguém averiguar a precisão das suas próprias preferências, mas lembremos que isso se repete quase inconscientemente, como acontece com a moda, por exemplo. E, além do mais, é divertido. Não é preciso fazer macerações filosóficas a cada vez que queremos simplesmente comparar as coisas que gostamos com as dos outros. A coisa só se complica quando queremos classificar pessoas, mas aí é conversa para outro momento. Fiquem à vontade para comparar as suas listas com as minhas, e bons ventos a todos!!!

Recomendações de leitura:

Para compreender os três primeiros itens, mais clássicos, é bom ir no velho estagirita.

ARISTÓTELES. Órganon. Bauru: Edipro, 2005.

Para uma visão mais ampla, englobando explicitamente o princípio da razão suficiente, recomendo o livro abaixo:

CASTORIADIS, Cornelius. A instituição imaginária da sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982

* Não vou me arriscar aqui a tentar explicar aqui o experimento mental de Schrödinger. Melhor será recomendar um bom vídeo sobre o assunto: https://www.youtube.com/watch?v=k5jIYbf2cSo

** Não estou desconsiderando o pequeno Barcelona de Capela do Socorro. É que trata-se de uma agremiação que flutua entre o amadorismo e o profissionalismo, então a mesma acaba por ter menos tradição que times verdadeiramente amadores, como o Indiano ou o Parque da Mooca.

segunda-feira, 10 de maio de 2021

Crer e conhecer - necessidade e suficiência entre ambos

Olá!

Ninguém nunca disse que é fácil viver. Pior ainda é tomar algumas atitudes que acabam por te grudar um selo na testa. Digo isso porque tenho sentido reflexos na vida desde que promovi minha “saída do armário”*, o que sintetizei através do meu texto comemorativo de 300 postagens. Não se trata exatamente de hostilidade, mas uma certa indisposição com muitas das coisas que eu falo, tipo o que acontece quando alguém quer reconduzir uma ovelha alvinegra ao redil verde**: o Palmeiras tem mais títulos, se você sabe disso porque pulou o muro? É pregar para convertido, saibam, mas o debate é menos na sua casa nova, e mais no apartamento velho. Deu para entender?

É melhor deixar mais claro. O problema é mais ou menos o seguinte: se um cristão que conhece a história de Jesus não se dispõe mais a acreditar nele, tornando-se um apóstata, por que volta e meia menciona a religião que nasceu a partir dele? Por que escreve textos sobre filósofos da Religião***? Por que não larga da gente de uma vez?

Ora, claro que as coisas não são assim. E preciso criar um pouco de vontade para explicar por que. Vamos nessa!

É claro que não ficamos pensando incessantemente como são as profundezas das coisas. Imagine, por exemplo, se você vai ficar raciocinando nos movimentos circulares e na pressão interna dos gomos de uma laranja quando você quer fazer um suco. Você simplesmente vai lá e espreme a fruta. Você sabe que esse processo resulta em líquido e punto, finito. Esse é um saber prático que não depende de nenhuma ciência incrustada no seu telencéfalo extremamente desenvolvido, que pode estar exatamente filosofando sobre a vida e a morte no momento do espremer o cítrico.

É isso aí. Existem muitas que sabemos COMO fazer, o que não equivale a dizer que sabemos O QUE as coisas são. É o que se chama de techné, a palavra grega que significa a habilidade que temos para construir coisas e interferir no ambiente, e que dá origem para tantos termos do nosso quotidiano, como tecnologia, mnemotécnica e tantos outros. Só que o uso da técnica não está vinculado diretamente às razões pelas quais fazemos esse uso. Aqui, temos uma distinção a fazer.  São usos diferentes os que damos para a inteligência e a sabedoria. A primeira está amarrada com entender o funcionamento das coisas, e o porquê de serem assim e não assado. Já a segunda tem mais a ver com momentos certos de fazer uso das coisas que sabemos. No nosso caso específico, importa-nos a inteligência.

Só que até agora não estabeleci muito bem o que é uma coisa e o que é outra. Crença e conhecimento não são a mesma coisa, mas guardam uma relação de dependência uma com a outra. Portanto, podemos dizer que, para que se conheça, é preciso que primeiro se creia.

Vejamos um exemplo. Eu estou aqui na casa da minha filha sem saber ao certo como ela foi construída. É uma daquelas construções antigas, feita em tijolinhos maciços, e sem laje. Ao contrário, temos uma forração de PVC, fazendo as vezes de estuque. Vários reparos são necessários para melhorar sua habitabilidade, e um deles consiste em remover algumas das ripas para mexer na fiação que chega ao banheiro, nos fundos. Como é costumeiro acontecer, as divisões dos cômodos inexistem do forro para cima, o que torna tudo sob o telhado um vão único. Entretanto, na divisa da sala para a cozinha, a parede sobe até o telhado, o que divide o vão sob o teto em duas partes. Eu deduzo que tal mistério ocorre porque foi feito um prolongamento da casa, para torná-la maior. O que era o seu término, virou a divisão entre a saleta e a cozinha, que acabou por se tornar os novos fundos.

Bem, eu digo que sei tudo isso por um processo de dedução, mas o fato é que isso não é conhecimento, mas opinião. Eu ACHO que as coisas são desse jeito, usando minha própria experiência, mas não posso corroborá-las porque não tenho outros elementos. Não tenho perícia técnica, não assisti à construção, não tenho fotos, não tenho vídeos, não tenho planta original, não tenho nem ao menos o depoimento do dono da casa ou dos vizinhos. Ou seja, isso tudo é uma opinião, ou como gostavam de dizer os gregos, doxa. A doxa não é saber, é uma crença.

Agora digamos que eu queira tirar a história a limpo. Vou até o cartório de registro de imóveis da comarca de Taubaté e leio os assentos gravados na matrícula que deram para a casinha em questão. Lá, eu leio que a casa originalmente tinha um tamanho X e que foi expandido posteriormente para X+Y, sendo Y o valor correspondente à adição de um cômodo. Pronto, minha opinião se comprovou verdadeira, e agora eu não mais creio, agora eu SEI.

Isso mostra duas coisas: que a opinião não significa necessariamente um erro, e que ela sozinha não tem embasamento para refletir uma realidade. Mas por que podemos dizer que minha crença transformou-se em conhecimento? 

O melhor que é possível fazer é pegar os conceitos clássicos da Epistemologia e dar um passeio com eles. É com o velho Sócrates que olhamos para aquilo que pensamos que sabemos e colocamo-lo no âmbito crítico. Nos diálogos platônicos Menon e Teeteto, vemos o velho padroeiro falando sobre o que é uma mera crença e como ela pode ganhar o selinho de qualidade de conhecimento.

A epistéme é um sinônimo grego para um tipo de conhecimento seguro, ou seja, aquele que não é ofuscado pela aparência, mas que busca o que os fatos e fenômenos são na realidade. Quando nós pensamos em crença, primariamente temos na cabeça quase que o oposto disso: as coisas são o que nós acreditamos que seja, e não o que são de fato. Mas a questão é a seguinte: não há como ter conhecimento sem que se tenha crença. A epistéme não é só uma modalidade de conhecer, mas um processo, que inclui um marco zero: acreditar naquilo que achamos ser verdadeiro. Imagine que é exposto a você um teorema que explique o formato da Terra, ou a eficácia de uma vacina. Se você não se dispõe a acreditar nas formulações e nas evidências que lhe são apresentadas, não adianta. O ciclo que forma o conhecimento não se fecha.

Acontece que a crença é uma condição necessária, mas não suficiente para chegar ao conhecimento. Isso é muito simples de se perceber. Não adianta acreditar em um conto da carochinha para que isso seja verdade, embora seja possível que o façamos tão piamente que para que qualquer lugar que olhemos tenhamos a sensação de confirmação de nossa crença. O nome disso é tratado pela Psicologia com o nome de wishful thinking, e já tratei do assunto neste texto. Talvez você que me lê tenha acreditado em Papai Noel ou coelhinho da Páscoa quando era pequeno, e isso não os tornou verdadeiros.

Eu não coloquei meus filhos para acreditar em nenhum dos dois quando eram pequenos, não porque tivesse algum tipo de posição filosófica contrária, mas porque achava que a transição entre a ilusão e a verdade nua e crua seria mais complicada em um relacionamento que se pretendia basear na sinceridade (cheguei a falar um pouco sobre isso há um bom tempo atrás). Quando chegava a época da Páscoa, por exemplo, eu escondia dois capitalistíssimos ovos de modesto tamanho pela casa, e colocava-os para procurar, rindo às escâncaras com seus palpites furados. Não dizia que era o coelhinho que os havia trazido, mas que eu mesmo os tinha comprado com meus parcos estipêndios. Ora, podia muito bem ser verdade, mas também eu poderia estar falando que a compra foi feita por mim só para parecer o bonitão, e os ovos tivessem sido, na real, comprados pela avó ou pela madrinha.

Vejam, portanto, que transitar da crença para o conhecimento não é algo exatamente simples. Eu posso acreditar em algo que seja verdadeiro, mas pelos motivos errados. Por exemplo, eu sei que a diabetes é excesso de glicose no organismo, e isso é verdadeiro, porque há quilos e quilos de estudos que comprovam a afirmação. Só que o senso comum pensa ser essa doença uma consequência do abuso no consumo de sacarose. Só que ela se dá por um problema de metabolismo, e não por conta das bombas de chocolate da padaria. Ou seja, quando digo que a diabetes é uma superabundância de açúcar, minha opinião é verdadeira, só que é verdadeira “no chute”. Tem um elemento faltando nela: a justificação.

Justificar, neste âmbito, nada mais é do que explicar os motivos pelos quais as coisas são como são ou deixam de ser. Não basta que eu saiba que algo é verdadeiro, é preciso também saber o porquê, para que a crença verdadeira se consolide e se torne segura. Esse é, por exemplo, o caminho da Ciência. Tá lá no céu uma raio de luz singrando-o de fora a fora na noite. Eu sei que isso acontece de vez em quando, e também sei que quanto mais escuro estiver meu ponto de visagem, melhor conseguirei observá-lo, mas enquanto eu não souber do que se trata o fenômeno, não poderei alegar ter fechado o ciclo do conhecimento: eu, sujeito, apreendo um objeto de meu universo observável, e tiro conclusões que deverão ser averiguadas. Começo crendo, termino sabendo. O conhecimento é crença verdadeira justificada, como dizia o parteiro de ideias. Uma tese conhecida como teoria tripartite do conhecimento, e que é representada mui comumente com o gráfico abaixo:

O conhecimento está precisamente na intersecção entre a crença e a verdade. Não é conhecimento aquilo que cremos, mas não é verdade; assim como também não é conhecimento aquilo que é verdade, mas não cremos. Para que o conhecimento seja efetivo, é necessário que ele transite de uma doxa para a epistéme através do logos, porque não há conhecimento inefável, inexprimível, indescritível. Isso também não é conhecimento, correto?

Doxa, logos, epistéme... Que monte de grego, meu pai… onde entra esse tal de logos na história toda? É que o meio pelo qual conseguimos traduzir um conhecimento é a palavra. Toda forma de saber precisa passar primeiro pela articulação mental de um sujeito, e isso não é possível sem que se transite pelo logos. A razão se processa pelo logos.

Pois bem, então. Bem estabelecidas as diferenças necessárias, passo a explicar a questão inicial. Muito embora uma pessoa possa não crer em uma divindade, ela sabe da existência das narrativas sobre a mesma. Eu, por exemplo, sei que existe um livro chamado Bíblia, que contém as histórias e os feitos de várias personagens, dentre as quais um homem a quem são atribuídos poderes divinos chamado Jesus. Também sei que, a partir de sua vida e ensinamentos, foi estabelecida a base para a religiosidade ocidental praticada até hoje, e que a crítica histórica é, na sua maioria, favorável à existência de um Jesus histórico, ainda que sua existência possa não ter correspondência com aquilo que é relatado nos Evangelhos. Em resumo, ainda que haja parcialidade nos relatos evangélicos, há outros elementos externos a eles que tendem a corroborar a existência de um profeta no meio do movimento messiânico judaico das épocas da dominação romana que o celebrizou por uma abordagem diferente com relação aos demais, que esperavam por um senhor da guerra. Tenho conhecimento de tudo isso, independentemente da minha crença (ou falta dela), acrescido das vitaminas e sais minerais que são minha vivência eclesial e meus estudos acadêmicos.

Sendo assim, não há absolutamente nada de errado em se falar sobre as religiões que não praticamos e sobre as teologias que não concordamos, porque é perfeitamente possível conhecê-las. A quem me contesta por esse motivo, devo explicar que é uma contestação tola. Já não falei sobre o budismo (um, dois, três e quatro) e a umbanda (neste texto)? Há algo de errado nisso? Falo dos filósofos cristãos porque eles têm ideias muito boas, muito desenvolvidas e muito bem descritas. Eu não posso excluí-los dos meus estudos e dos meus textos pelo simples fato de não crer no mesmo que eles. Por isso, continuarei a falar sobre religião quando for pertinente. Até mesmo porque trato delas com o respeito que é devido aos seus praticantes. Bons ventos a todos!

Recomendação de leitura:

Por que nunca citei um livro de Sócrates no meu blog? É simples: porque ele não existe. É pela boca de Platão que Sócrates fala, e suas teses sobre conhecimento estão mais claramente colocadas nos dois livros mencionados. Já havia mencionado o Teeteto neste texto, e fica a recomendação para o Menon.

PLATÃO. Mênon. Rio de Janeiro: Loyola, 2001.

* Continuo hétero. Minha saída do armário diz respeito à questão religiosa. E antes que alguém me diga que era desnecessário fazer esse esclarecimento, informo que vivemos no Brasil.

** Substituam pela dupla de times de suas preferências.

*** E é verdade mesmo. Já escrevi sobre Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, Boécio, sobre o Eclesiastes duas vezes (um e dois), Constantino, Nicolau de Cusa e mais alguns outros perdidos por aí.

quarta-feira, 5 de maio de 2021

Os dez anos das Aporias Plurais - Trinta listas de dez para comemorar

Olá!

Hoje faz dez anos que abri este boteco. Com um breve texto de algumas linhas, concretizei o projeto pedagógico que propus para estágio na minha faculdade, que usava um meio digital já consagrado e garantia a participação de meus alunos, onde eu exporia alguma situação quotidiana e, dela, extrairia Filosofia junto com a rapaziada. Deu certo por um bom tempo, mas o estágio acabou e o projeto perdeu o propósito. Acontece que eu gostei do jogo e continuei com ele.

Eu sei que o suporte chamado blog está em plena decadência, e nem sei mais por quanto tempo a Google pretende manter esta tecnologia disponível aos usuários, mas o fato é que eu não penso muito nisso e vou vivendo meu hobby enquanto ele existir. Um site de verdade é uma opção, mas não tenho conteúdo suficiente para organizar um. Um canal no Youtube não é proposta factível. Primeiro, porque não faço bela figura. Depois, porque edição de vídeos é terreno totalmente movediço para mim. Portanto, precisaria de um belo investimento em editores ou em aprendizado, e isso não vai dar agora.

Mas eu gostaria que esse espaço fosse visitado mais vezes, mesmo não arredando o pé do formato que adotei. Já pesquisei formas de fazer com que os buscadores o ofereça aos consulentes, e vi que há alguns subterfúgios de atrair gente. Um deles é organizar listas. Seres humanos adoram listas, seja pelo motivo de comparar suas preferências com as de outras pessoas, seja pelo simples fato de que é mais descansado para a mente pegar pensamentos prèt-a-porter do que formar as próprias opiniões. Não creio que isso aconteça para quem busca textos voltados para a Filosofia, mas gostei da ideia, e resolvi fazer três pacotes de listas de dez: um mais pessoal e pouco preso a temas, outro mais filosófico e um último, mais voltado para este blog em si mesmo, porque, afinal de contas, é ele o aniversariante. Vamos lá?


Dez listas gerais

Para prender vossas atenções, falo dos itens menos específicos, que fazem parte do dia-a-dia de todos nós, porque quem procura listas geralmente está atrás de diversão, e não de elucubrações mentais sofisticadas. Então começo devagar. Sempre lembrando que estamos aqui no pantanoso terreno da opinião, o que lhes libera para concordar ou discordar.


1 - Dez uniformes de times de futebol mais bonitos

Futebol é uma coisa que atrai multidões, como bem sabemos nós, brasileiros. Há todos os motivos para se discutir seja lá o que for: quem é o time mais glorioso, o de títulos mais relevantes, o de torcidas mais apaixonadas e così via. Entretanto, tenho uma certa fissura com os fardamentos, o uniforme de guerra que representa a nação. Estes são os dez que eu acho mais bonitos (sempre lembrando que meus critérios são prá lá de subjetivos, e cada um pode ter livremente os seus), já descartando a maldição das terceiras camisas:

 

Juventus

É um uniforme simples de tudo, mas o grená e branco fazem uma combinação perfeita, com um distintivo excelente. Há outras agremiações grenás, como a Ferroviária, mas o conjunto juventino é perfeito. Será que o fato de eu ter nascido na Mooca influencia alguma coisa? Pode ser, mas não consigo evitar.


Imagem disponível em br.pinterest.com


Cruzeiro

Camisas em cor azul mais escuro geralmente já são bonitas meramente pelo tom, mas novamente temos um felicíssimo distintivo para ajudar na configuração. As estrelas soltas na camisa do Cruzeiro são uma sacada sem igual.

Imagem disponível em adidas.com.br


Remo

Quase com a mesma justificativa do item anterior, a camisa do Remo é ainda mais escura, quase preta. Bonita demais também.


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Corinthians – 2ª camisa

Ora (direis), sendo seu clube de coração, não deixarias de incluir a sua camisa... não tente se fazer de isento. Não, não tentarei. Mas vamos combinar que a camisa dois do Corinthians, aquela listrada e com as faixas pretas mais grossas que as brancas, dão um toque de originalidade ao conjunto. Desculpem, mas é uma camisa muito bonita.

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Vasco

Uma faixa transversal remete a uma montanha de coisas, como as camisas de polo, tão queridas pela aristocracia do passado, ou a simbologia de passagem, entre outras. Muito legal! Mas por que a do Vasco e não a da Ponte Preta, por exemplo? Por conta do magnifico distintivo da cruz de malta (embora digam não ser uma cruz de malta de verdade).

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Treze

Há tantos times que utilizam camisas com faixas alvinegras simétricas que quase não dá para escolher uma específica. Mas eu gosto um pouco mais da do Treze de Campina Grande porque estas faixas em geral são um pouco mais estreitas que as demais.

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Criciúma

As cores de tigre estão espalhadas por alguns times de Pindorama, como o Cascavel, o São Bernardo, o Volta Redonda, mas a configuração de ombros, peito e abdômen do Criciúma dá uma beleza única ao uniforme.

Imagem disponível em sportsretro.com.br

Olaria

Há vários uniformes que apresentam faixas horizontais, como o Flamengo, Fortaleza, São Paulo, Rio Negro e tantos outros, Mas a camisa do Olaria é absolutamente única, seja pela sua coloração, seja pelo fato de ser uma faixa única, o que dá uma seriedade maior ao conjunto. Linda.

Imagem disponível em mantosdofutebol.com.br

Portuguesa

Aqui, vamos ter que dar um parêntese. Atualmente, as camisas da Portuguesa são de faixas alternadas rubroverdes, que eu pessoalmente não curto muito. Entretanto, as camisas mais antigas, vermelhas e com detalhes brancos e verdes, são bonitas prá caramba. Esse modelo mais antigo pode ir para a lista tranquilamente. Espero que qualquer dinâmica de reconstrução da Lusa inclua a titularização de camisas nesses moldes.

Imagem disponível em halldafama.com.br

América

A mais simples de todas as camisas é também uma das mais bonitas: vermelha e pronto. Vou no América do Rio por ser a original.


Imagem disponível em verminososporfutebol.com.br

 

2 - Dez carros de f1 mais bonitos

Gosto bastante de automobilismo, meus caros, e me é indiferente a presença ou não de brasileiros. Inclusive, fiquei apreensivo com o desfecho das transmissões da Fórmula 1 a partir desta temporada, achando que teria que pagar o streaming da Liberty Media. Mas tudo deu certo e a vida segue. Esta é a lista de bólidos que mais me chamaram atenção na categoria.

Arrows A3

A Arrows é a equipe que ficou mais tempo na Fórmula 1 sem nunca ganhar um corrida, e isso não é bonito. Mas seus primeiros modelos... tá louco! Cada carro bonito... E olha que acho o dourado uma cor perigosa para cair no mau gosto.

Imagem disponível em oldracingcars.com

Brabham BT49

O carro que deu o primeiro título ao Nelson Piquet é um exemplo bem típico de uma época. Largo, com o piloto socado lá na frente, é de um bom gosto estético sensacional.

Imagem disponível em ultimatecarpage.com

Ferrari 126 C2

É muito difícil escolher uma Ferrari, por dois motivos: geralmente o vermelhão vivo é muito bonito, mas também deixa os carros muito semelhantes. O modelo em questão é um dos melhores de todos.

Imagem disponível em ferrari.com

Lotus 72 D

A Lotus usou o patrocínio da John Player’s Special intermitentemente, e sempre com muita elegância. No entanto, o modelo pranchado do começo da década de 70 é, realmente, especial, porque além de tudo é um distintivo daqueles perigosos anos.

Imagem disponível em wikipedia.com.br

McLaren MP4/14

Quem pensa nesta equipe, imediatamente traz na cabeça o modelo maço de cigarros da Marlboro, que é bonito de fato, mas foi outra marca de cigarros que a tornou esteticamente especial. Gosto muito das transições entre preto e cinza.

Imagem disponível em mclaren.com

Ligier JS11

Um filhote do tempo dos carros-asa, esta Ligier é uma verdadeira aula de aerodinâmica para principiantes, além de possuir uma elegância discreta ímpar na combinação de cores.

Imagem disponível em carthrottle.com

Tyrrel 019

Quem viveu o automobilismo do começo dos anos 90 lembra bem dos carros com bico tubarão. Além de ter sido este o modelo que originou a série, possuía uma original conformação em modelo bigode, que nem todo mundo acha bonita, mas eu gosto um bocado.

Imagem disponível em en.wheelsage.org

Lotus 49

Os charutinhos eram sensacionais, causando uma sensação enorme de incômodo em quem observa e pensa como podia existir malucos que andavam em jabiracas explosivas como aquelas. Só tinham um defeito: eram todos muito parecidos. Optei pelo Lotus 49 por causa da tonalidade linda de verde e amarelo, sem nenhuma patriotada.

Imagem disponível em motorsportoldtimes.wordpress.com

Jordan EJ11

Deu para perceber que não gosto muito de extravagâncias, mas aqui tenho que abrir uma exceção, porque a preponderância do amarelo e a careta invocada no bico da Jordan acabaram por me convencer, além de ser uma das equipes mais simpáticas do paddock.

Imagem disponível em commons.wikimedia.org

March 751

No começo dos anos 70, a criatividade dos projetistas estava no auge, e cada equipe era tremendamente peculiar. Algumas das equipes adotaram frentes integrais, que tornavam o aerofólio e a carenagem uma peça só, dando esse aspecto de limpa-trilhos. Destes modelos, eu gostava da March 751, que, além de tudo, mantinha exposta uma parte considerável do seu motor.

Imagem disponível em rodrigomattardotcom.wordpress.com

Racing Point RP20

Fiquei com dó de tirar um dos carros que tinha escolhido inicialmente, então me darei a liberdade de deixar onze itens nessa lista de dez, deixando a exclusão a critério de quem a ler. Vamos concordar que um carro cor-de-rosa é uma das apresentações mais incomuns já vistas no circo, mas a Racing Point RP20 é realmente linda de aplaudir em pé.

Imagem disponível em dunapress.org

 

3 - Dez cidades para morar

De todas elas já escrevi textos, então não vou ficar dando grandes explicações, bastando visitar cada um dos posts, que são ricos em fotos. Dentro em breve, pretendo estar de mala e cuia em alguma delas. Ao contrário dos itens anteriores, a ordem aqui é inespecífica.

São Luiz do Paraitinga (um, dois, três e quatro)

Areias

Monte Alegre do Sul

São José do Barreiro

Itajubá

Santo Antonio do Pinhal

São Thomé das Letras

Cristina

São Bento do Sapucaí

Pedra Bela

 

4 - Dez canais do YouTube:

O YouTube virou a nova televisão dos lares brasileiros que têm grana suficiente para uma banda larga. Muitos dos canais que eu acesso tem algum propósito filosófico, enquanto outros são outras formas de diversão, algumas puras e simples, outras com algum teor de inspiração. Da minha lista de quase cento e cinquenta inscrições, extraio algumas das que eu mais gosto.

Projeto Motor

Um canal sobre Fórmula 1 absolutamente simples: uma live em dias de corrida e um vídeo semanal sobre assuntos variados, porém correlatos. Já os mencionei por aqui e acho um trabalho de muito boa qualidade.

https://www.youtube.com/ProjetoMotor


Última Divisão

Canal dedicado a malucos como eu, que sempre se preocupam com os times que não estão na mídia, que ocupam as tabelas das divisões inferiores e que possuem nas suas histórias o seu grande patrimônio. É simplesmente excelente nessa tarefa.

https://www.youtube.com/UltimaDivisao


Um olhar com Sabrina

Este é o único canal de viagens que eu acompanho, por um motivo muito simples. Seja lá para onde a Sabrina Araújo for, ela encontra coisas boas para fazer, de maneira bem parecida com o que faço. Outros canais buscam o esplendoroso quase inatingível, enquanto Sabrina o encontra em qualquer cidadezinha.

https://www.youtube.com/UmOlharComSabrina


Ficçomos

Capitaneado pela jovem escritora e socióloga Wlange Keindé, é um canal de técnicas de escrita que foge um pouco do academicismo. Além disso, ela passa dicas simples que já acabei utilizando neste espaço. Muito bom para quem pretende escrever sem grandes pretensões (quem as tiver, deve procurar uma faculdade, correto?).

https://www.youtube.com/Ficcomos


Literature-se

Também dedicado à literatura, só que pelo ângulo do leitor, da Mell Ferraz. São opiniões coesas e as mais neutras que consegui encontrar até agora, além de uma variedade interessante de temas.

https://www.youtube.com/MellFerrazLiteraturese


Som de Peso

Bruno Ascari é um dos melhores youtubers dedicados à música em Terra Brasilis, e possui uma coleção digna de dar inveja a qualquer museu, tudo isso aliado a uma vivência que lhe dá assuntos inesgotáveis. Imperdível para quem gosta de rock’n’roll.

https://www.youtube.com/c/SomdePeso/


The Bestdream I had

É um canal de música, que contém álbuns completos. O que há de diferente? Só tem coisa boa e difícil de achar. Para passar dias e mais dias de pandemia ouvindo sem parar.

https://www.youtube.com/TheBestdreamIHad


Ubira Leal

O mais filosófico de todos os futeboleiros. Não é para quem quer notícias rápidas ou engraçadinhas, mas para quem quer refletir sobre esportes.

https://www.youtube.com/UbiraLeal


Motovlog do Dan

Aqui, uma força para o primogênito. Voltas e mais voltas de motocicleta pelo Paraná, com suas impressões pessoais, opiniões sobre os diferentes bairros e algumas observações jurídicas.

https://www.youtube.com/channel/UCRY2zqF2XF39vdxmRODMF_Q/featured


Estação Armênia

Canal incrivelmente pequeno, um dos mais subestimados que eu conheço, de boa qualidade e que me chamou a atenção pela minha inesperada descendência armênia. Vale acompanhar.

https://www.youtube.com/user/estacaoarmenia/

 

5 - Dez estabelecimentos legais

Não há nenhum jabá aqui, até mesmo porque não faz sentido alguém patrocinar um blog de filosofia hoje em dia. São lugares em que você sente prazer em entrar nem que seja só para olhar, para provar um acepipe, para pegar um clima. Devido à pandemia, nem sei quais ainda estão abertos, quais atendem pela internet, e etc. Curtam a vontade.

Emporio Akkar

Situado na região da 25, é uma das “lodginias” mais tradicionais de artigos árabes de São Paulo. Os gaveteiros de doces são para matar os diabéticos de raiva. Tem narguilé, tem arak, tem panelas, tem forminhas, tem roupas e tem comida, muita comida, para sírios, libaneses, armênios e outros imigrantes da região.

R. Comendador Afonso Kherlakian, 165 – Parque Dom Pedro, São Paulo - SP


Padaria Franciulli

Quando se pensa em padarias do tipo italiano, logo vem à cabeça os estabelecimentos do Bixiga, como a 14 de Julho, a São Domingos, a Basilicata, eccetera. Mas eu tenho uma ligação afetiva com a Famiglia Franciulli, localizada no Glicério, porque era lá que eu ia buscar um pão com calabresa todos os finais de semana que eu ia fazer plantão. Por ser menos badalada, pratica preços melhores, embora os produtos sejam tão bons quanto.

Rua do Glicério nº 750  Glicério – São Paulo/SP


Mai será o Binidito?

Vou para mais longe agora. Em São Luiz do Paraitinga, fica o Mai Será o Binidito, mais conhecido como bar da Dani para os íntimos, em pleno centro histórico, com comidinhas de comer na igreja. Qualquer pessoa que comer o nhoque ao molho de abóbora e não chorar é porque não tem coração. Além disso, muitos dos petiscos de bar têm referências à culinária do Vale do Paraíba.

Praça Dr. Oswaldo Cruz, 322 - centro, São Luís do Paraitinga - SP


Mercearia Santa Terezinha

Tive que fazer um street view para descobrir o nome oficial da barraquinha da Fátima, a próxima indicação desta lista. Ali, vemos um outro aspecto do Vale do Paraíba, com muita coisa de cambuci e as estupendas pamonhas enroladas na folha de caeté, além do pão com linguiça local e outras coisas típicas de roça, como o frango caipira, pato e queijo a beça. Fica na estradinha que liga Taubaté a Redenção da Serra.

Rodovia Major Gabriel Ortiz Monteiro (SP-121), Km 2


Sebo do Messias

Um dos meus maiores hábitos no horário de almoço sempre esteve ligado aos livros, fosse lendo-os, fosse caçando-os nos sebos do centro de São Paulo. O maior deles é o Messias, onde é possível passar horas a fio correndo atrás de raridades interessantes. Atenção, riníticos e sinusíticos: usem máscara, independente de pandemia.

Praça Dr. João Mendes, 140 - Sé, São Paulo - SP

 Bar do Elídio

Esta vai também por conta da memória afetiva. Era o bar para onde eu fugia com os colegas quando resolvíamos enforcar uma sexta-feira de colégio. Petiscaria abundante, chope na temperatura certa e paredes recobertas de camisas de times de futebol fazem o ambiente. Pena que o seo Elídio já se foi.

Rua Isabel Dias, 57 – Alto da Mooca - São Paulo - SP


Pizzaria da Vinci

Em uma cidade que tem mais de cinco mil pizzarias, não poderia deixar de mencionar ao menos uma. Mas qual escolher? Para mim é simples. A pizzaria da Leila tem massa crocante, molho puro de tomates meramente esmagados e recheio farto. A pizza de berinjela é uma coisa prá comer em estado meditativo. Pensa que é uma grande casa? Nada, uma portinha que foi achada por acaso, ainda antes de meus filhos nascerem.

Av. Zelina, 1039 - Vila Zelina, São Paulo - SP


Adega Peterlini

Em um ambiente duplo, na pequena cidade de Monte Alegre do Sul, fica uma adega que vai muito além da ótima cachaça que fica no subterrâneo: pães feitos no forno a lenha, geleias, ovos, patês e manteigas, numa casa de estilo roceira absolutamente linda, tocada pelas irmãs Elaine e Edivana.

Estrada Municipal para o Bairro dos Alves, 202-246, Monte Alegre do Sul - SP


A.Esportes

Uma lojinha de camisas de times de futebol. Ela está em casa nova, que não conheci ainda. Boa parte das camisas que tenho em casa veio desse comércio, que tem bastantes coisas difíceis de achar, e que rende horas de papo com seu dono, que conta histórias incríveis de como ele consegue obter algumas de suas raridades.

Rua Cuiabá, 346 - Mooca - São Paulo/SP


Aqualung

Loja de discos na clássica galeria do rock, que se manteve firme no período em que ninguém queria mais discos de vinil. É a única loja que conheço que tem um viés do progressivo, o que a torna ainda mais rara.

Avenida São João, 439 - Segundo andar, Conjunto 301 - Paissandu, SP/SP


Vai fazer falta nesta lista a esquina do Fuad, na Santa Cecília, mas a mudança do perfil do restaurante foi tão profunda que não posso me dizer mais um frequentador de lá. Pena.

 

6 - Dez pratos favoritos

Comida é tudo, como vocês já puderam ler nas listas anteriores. Mesmo tendo bem poucas restrições alimentícias, ainda assim tenho lá minhas preferências. É uma lista difícil, porque um bom arroz é melhor que um mau faisão, e alguns itens têm modos de preparo praticamente infinitos, como os pastéis e as pizzas. Portanto, a lista abaixo é circunstancial e mutável. Mas pode me convidar para qualquer uma das opções, que o sucesso será garantido. Só escolhi um doce porque na verdade temos aqui um empate gigantesco: não há doce que eu não goste. Portanto, apelei para o sentimentalismo e fui no primeiro pudim que a patroa preparou especialmente para mim.

Risoto de camarão

Feijoada

Costela assada

Macarrão a bolonhesa

”Fogado”

Bacalhoada

Peixe frito (praticamente qualquer um)

Batata recheada

Quiche de carne seca

Pudim de banana

 

7 - Dez bebidas favoritas

Pensando por oposição, se falei das comidas, devo falar das bebidas. Algumas delas são bastante óbvias, porque já falei bastante delas aqui no blog, como a cerveja, o vinho e o café, mas eu gosto de coisas não alcoólicas também, sempre lembrando que sou responsável com a direção.

Cerveja IPA

Água tônica

Água com gás

Piña colada

Cachaça azulzinha

Cachaça amarelinha

Café

Vinho tinto seco

Chopp escuro

Suco de cambuci

 

8 - Dez estádios que mais frequentei

Fui em muitos jogos de futebol, o que já expliquei diversas vezes neste blog. Fiz uma ordem bem mais ou menos do que imagino tenham sido os estádios que mais frequentei até hoje, e não uma ordem de preferência. Arrependo-me hoje, menos bobo, de não ter conhecido o velho Parque Antarctica.

Comendador Rodolfo Crespi (rua Javari)

Por conta da proximidade e das idas do meu avô, eu cansei de ver jogos no pequeno estádio do Juventus.

Rua Javari, 117 - Mooca, São Paulo - SP


Nicolau Alayon (rua Comendador Souza)

Tenho frequentado muito nos tempos recentes (pré-pandemia), para acompanhar a saga do Nacional em suas idas e vindas nas divisões inferiores.

R. Comendador Sousa, 348 - Água Branca, São Paulo - SP


Paulo Machado de Carvalho (Pacaembu)

O estádio por excelência, otimamente localizado e uma beleza para assistir jogos. Pena que o Corinthians se enfiou numa dívida caríssima, ao invés de investir em uma concessão nesta casa.

Praça Charles Miller, s/n - Pacaembu, São Paulo - SP


Alfredo Schürig (Fazendinha)

Esse é dos meus tempos das antigas, quando o pequeno estádio do Corinthians ainda recebia jogos do time principal. E agora a paixão está rediviva com o time das meninas, que vai ganhando títulos e mais títulos. É nele que fica a fonte São Jorge, onde as crianças são batizadas corintianas.

R. São Jorge, 777 - Parque São Jorge, São Paulo - SP


Osvaldo Teixeira Duarte (Canindé)

Também é um dos campos que eu mais frequentava nos últimos tempos, muito fácil de acessar e com aura de grandes jogos.

R. Comendador Nestor Pereira, 33 - Canindé, São Paulo - SP


Anacleto Campanella

Frequentei ainda nos tempos em que se chamava Lauro Gomes, e quem jogava lá era o falecido Saad, mas fui ver o São Caetano nos tempos de sensação umas cinco ou seis vezes, já sem a arquibancada do lado da Kennedy.

Av. Walter Tomé, 64 - Olímpico, São Caetano do Sul - SP


Cícero Pompeu de Toledo (Morumbi)

Não fui muitas vezes aqui, mas só foi jogo grande. Para quem é mais jovem, até meados dos anos 2000, praticamente todos os clássicos, principalmente as finais, eram jogados no imponente estádio do São Paulo, o único com dois anéis da capital.

Praça Roberto Gomes Pedrosa, 1 - Morumbi, São Paulo - SP


Bruno Daniel

O estádio do Santo André é pertinho da casa dos primos, então fui algumas vezes lá para ver o Ramalhão.

R. Vinte e Quatro de Maio - Vila America, Santo André - SP


Neo Química Arena (Itaquerão)

Reclamei do gasto com o estádio, mas que a arena do Corinthians é muito bonita e confortável, não dá para negar. Não tem lugar ruim para ver jogo, e é de encher os olhos a quantidade de detalhes. Me sinto meio de fora? Sim, mas a gente precisa se acostumar com essas coisas. Só não acostumo com o preço do ingresso, por isso ainda poucas vezes fui lá.

Av. Miguel Ignácio Curi, 111 - Artur Alvim, São Paulo - SP


Urbano Caldeira (Vila Belmiro)

É o time da patroa, né? Mas é um estádio muito bacana de ver jogos, sim.

Rua Princesa Isabel, S/N, Vila Belmiro, Santos - SP

 

9 - Dez games que eu mais gostava (tudo velharia)

Eu sou um cara de 50 anos. Videogame era uma coisa muito rara na minha infância/juventude. Mas eles existiam, apesar do meu acesso em particular ser muito ocasional. Já mais velho, usei um pouco dos jogos para computadores que meus filhos tanto amam, mas isso também vai tempo. Não tenho muita paciência para aprender os diversos macetes e mumunhas necessários para conseguir desempenhar os jogos mais recentes.

Pong

Para quem é verdadeiramente coroa, este jogo é o tênis do Telejogo, dois pauzinhos que ficavam correndo atrás de um quadradinho, provenientes de um aparelho ligado a uma daquelas antigas tevês de tubo. O único dos meninos que tinha um desses era o Otílio, filho de um dono de padaria, e que vivíamos adulando para poder jogar.


Retorno Vegas

Este aqui era um jogo para computadores Sinclair, mais especificamente para o TK85, daqueles que eram carregados via fita cassette. Não era um jogo apenas de ação, com tiros e etc, mas principalmente de simulação de navegação espacial, que precisava de muita paciência para ser jogado. Não encontrei absolutamente nada desse jogo na internet.


Carateca

O Carateca era um jogo famoso para Apple, que joguei muito quando estava fazendo estágio no técnico de processamento de dados, na telinha de fósforo verde. Para a época, era um jogo encantador, com muitas fases e necessidade de habilidade nos comandos.


Enduro

Já aqui chegamos à época de Atari et magna comitante caterva. O Enduro era um jogo de corrida que se tornou um clássico dos clássicos, com uma dinâmica muito simples: correr por uma pista com um número mínimo de ultrapassagens a fazer no decorrer de um dia de competição. Só isso, mas eu ficava boas horas ocupando a máquina do meu primo Maurício.


Keystone Kapers

Também para Atari, temos aqui uma corrida de polícia contra ladrão em algo que se assemelha a um shopping de três níveis, com elevadores e escadas rolantes. Gostava porque não havia raciocínio nenhum para jogar.


Decathlon

Esse jogo era de lascar. Era a reprodução da competição olímpica de atletismo, onde eram disputadas dez modalidades diferentes: quatro corridas, três saltos e três arremessos. Arrebentava mãos e joysticks em pouco tempo.


F1GP

Primeira versão de jogo de Fórmula 1 chancelada pela FIA. É claro que, comparado com os jogos atuais, era absolutamente tosco, mas na época era surpreendente, com a reprodução de carros e pistas que correspondiam à temporada de então.


FIFA International Soccer 94

O jogo do famoso Janco Tianno, o melhor jogador de futebol daquele mundo particular. Sem dúvida, sua perspectiva diagonal trouxe uma novidade que revolucionou os jogos de futebol para computador. Junto ao F1GP, é provavelmente o jogo que mais joguei na vida.


Commander Keen

Um divertido joguinho no estilo Alex Kidd, onde um molequinho vai navegando pelas telas aos saltos e tiros e cumprindo suas missões. Novamente um jogo mais para mãos do que para cérebros.


POD (Planet of Death)

O mais subestimado dos jogos que mencionarei aqui. Tinha potencial para crescer muito mais do que conseguiu, com ótimas pistas, bons carros e componentes gráficos muito bons para a época de lançamento. A história inicial é de tirar o fôlego, e cansei de assistir só para me maravilhar com o que era possível fazer com computação gráfica.

 

10 - Dez bandas

Sem ordem de preferência (até porque elas mudam), seguem as minhas dez bandas favoritas de todos os tempos do momento, com o melhor disco de cada uma delas para animar um pouco mais.

Whitesnake (Live in the Heart of City - ao vivo)

Black Sabbath (Masters of Reality)

Jethro Tull (A Passion Play)

Genesis (Foxtrot)

Pink Floyd (The Wall)

Premiata Forneria Marconi (Per un amico)

Banco del Mutuo Soccorso (Io Sono Nato Libero)

Pearl Jam (Ten)

Fanny (Fanny Hill)

Deep Purple (Machine Head)

 

Dez Listas filosóficas

Vamos partir para as listas ligadas à Filosofia. Muitos dos itens aqui listados têm relação com minha atividade acadêmica, então não estarei falando propriamente de preferências, mas de caminhos que podem ser cruzados pelos amigos leitores, se por ventura resolverem enveredar por este caminho. Vamos a elas.

 

1 - Dez livros

 Quem é da área de Filosofia, sabe que as faculdades costumam pedir análises filosóficas de obras que não são propriamente filosóficas. Os livros que eu apresento abaixo são exatamente os dez dos quais realizei resenhas para créditos de horas de atividades acadêmicas, sempre os olhando sob um prisma filosófico. Em tempo: são todos livros que eu gosto demais.


Cem anos de solidão (Gabriel García Márquez)

Livro espetacular, que eu provavelmente levaria para a tal ilha deserta, mostrando como os homens são presos à sua própria história.


O Som e a Fúria (Willian Faulkner)

História complexíssima, feita para ser compreendida no último parágrafo, e reiniciar imediatamente sua leitura. Um dos principais pontos é a questão racial: mesmo decadente, o oligarca continua a tratar o negro como um ser inferior.


Germinal (Émile Zola)

Obra-prima do Naturalismo, é a própria escola do Determinismo colocada como romance na forma de uma revolta de mineradores de carvão.


O Evangelho segundo Jesus Cristo (José Saramago)

Releitura ácida sobre a vida de Jesus, com a qualidade de escrita insuperável do mestre português. Modifica o ponto de vista da narrativa ao humanizar a visão sobre Jesus.


Ópera dos mortos (Autran Dourado)

Um olhar inédito sobre loucura e identidade, construindo um dos personagens mais emblemáticos da literatura brasileira, na minha opinião.


O Velho e o Mar (Ernest Hemingway)

A metáfora dos dramas pessoais que não são notados por ninguém além de nós mesmos, além da inutilidade da obtenção do objeto do desejo.


O guardador de rebanhos (Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa)

A rejeição da metafísica e o apego epicureu à vida simples são a tônica deste conjunto de poemas.


A Dama do Cachorrinho e Outros Contos (Anton Tchekhov)

Neste livro, por ser uma coletânea de contos, tive que analisar o substrato comum da literatura de Tchekhov, um escritor que foca o fragmento da vida, mostrando como o mero quotidiano pode expressar as dores e aflições.


Crime e Castigo (Fiódor Dostoiévski)

A discrepância entre os sonhos de grandeza e a realidade crua marca este romance de características fortemente sociológicas e psicológicas.


Max e os Felinos (Moacyr Scliar)

A luta do homem com seus conflitos interiores é a tônica deste breve romance do escritor gaúcho.

 

2 - Dez filmes

Aqui, não estou indicando necessariamente meus filmes favoritos, apesar de gostar de todos. Na verdade, trata-se dos dez filmes que analisei na faculdade, como atividades acadêmicas, no mesmo espírito da lista anterior. Mas são todos muito bons e recomendáveis.


O Sétimo Selo (Ingmar Bergman)

Dois momentos icônicos, o xadrez contra a Morte e a dança macabra, iniciam e concluem este cativante filme. A sua grande questão é: o que é o homem diante da finitude?


A Festa de Babette (Gabriel Axel)

Neste filme dinamarquês, há duas perguntas de fundo: o quanto as aparências enganam e o quando nossa visão tradicionalista nos enche de preconceitos. Além disso, há uma dinâmica de valores surpreendente na conclusão.


Ladrões de Bicicletas (Vittorio de Sica)

Filme do Neorrealismo Italiano do imediato pós-guerra, retrata o drama do ambiente social e político através de um evento corriqueiro.


Central do Brasil (Walter Salles)

A ressignificação de um espírito vazio através da tragédia alheia é o leitmotiv dessa obra-prima do cinema brasileiro.


Oito e meio (Federico Fellini)

Um filme metalinguístico, que trata dos bloqueios criativos e das construções das personas, dando a ele um grande aspecto psicanalítico.


A Encantadora de Baleias (Niki Caro)

Delicadíssimo filme neozelandês que trata dos confronto entre as tradições milenares e o mundo globalizado.


Matrix (Irmãs Wachowski)

A mais célebre versão cinematográfica da Alegoria da Caverna de Platão, adicionada de efeitos de tirar o fôlego, que se tornaram célebres.


Narradores de Javé (Eliane Caffé)

A importância das histórias contadas é o item central desta comédia, principalmente quando as mesmas não surgem espontaneamente, mas quando são criadas com um objetivo específico.


Metrópolis (Fritz Lang)

Ficção científica da época do cinema mudo, põe a claro os confrontos entre classes sociais e o messianismo de quem não tem muito pelo que esperar.


Tomates Verdes Fritos (Jon Avnet)

Gostei mais do livro de Fannie Flag, que é totalmente não-linear (e nisso reside sua criatividade) mas não chega a ser demérito. É uma obra sobre o apego às pessoas e ao próprio passado, e como a leitura da experiência alheia pode ser libertadora.

 

3 - Dez obras filosóficas

Ainda na faculdade, existiam obras ao redor das quais muitas das disciplinas giravam em torno. Outras ainda eram indicações bibliográficas para acrescentar subsídios aos temas discutidos. De toda forma, foram livros que influenciaram pesadamente minha fase acadêmica, sem nenhuma ordem especial.


O Mundo como Vontade e Representação (Arthur Schopenhauer)

O profeta do pessimismo, o livro que desbancou a razão como característica central da humanidade, e que evidenciou nossa falta de controle sobre nossos objetivos. Fundamental.


Genealogia da Moral (Friedrich Nietzsche)

Como chegamos à nossa ética ocidental e o que ela traz de prejuízo para nossa existência. Provocativo e instigante.


A Essência do Cristianismo (Ludwig Feuerbach)

É nesta obra que Feuerbach disserta sobre o fato de que toda a Teologia é, na verdade, uma Antropologia, já que o homem atribui aos seus deuses todas as características que lhe são valiosas como humanidade.


Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (Karl Marx)

Livro bom porque você já aprende em dobro: conhece a Filosofia de Direito aplicada por Hegel e todas as contraposições colocadas por Marx.


A Cabeça Bem-feita (Edgar Morin)

Livro eminentemente pedagógico, leva o professor a se perguntar onde está o velho objetivo de totalidade dos gregos. Imperdível para quem quer aprender o significado de transversalidade na educação.


Novum Organum (Francis Bacon)

Estamos entrando no Renascimento e a Ciência está afiando os cascos para sua cavalgada. Livro basilar para a compreensão do método científico.


Confissões (Santo Agostinho)

Entra aqui por ser o melhor autor de toda a Idade Média, com seu inigualável capítulo 11, sobre o tempo.


Meditações Metafísicas (René Descartes)

Se há o empirismo de Bacon, há o racionalismo de Descartes, que até hoje designa aqueles que se pautam pelo raciocínio.


Dialética do Esclarecimento (Max Horkheimer e Theodor Adorno)

Os conceitos de Indústria Cultural vistos pelo prisma da Escola de Frankfurt, uma crítica pesada aos efeitos do Capitalismo sobre a produção de cultura no ocidente.


O Ser e o Nada (Jean-Paul Sartre)

Livro fundador do Existencialismo contemporâneo, uma corrente de pensamento que coloca o sujeito em suas ações no centro do debate filosófico.

 

4 - Dez discos com fundo filosófico

No caso, vou explorar os álbuns conceituais, aquelas obras que buscam ir além da música e trazer uma história ou discussão completa. 


Wish you were here (Pink Floyd)

Baseado na história de seu guitarrista original, Syd Barrett, conta como o mainstream tritura mentalmente quem se enfia em seus meandros.


Thick as a brick (Jethro Tull)

Divertidíssima história inventada pelos membros do grupo, sobre um poema abstrato que um suposto garoto teria composto. Só que não é só a historinha que é fascinante. A composição fala de maneira muito requintada sobre o desafio de envelhecer.


Darwin (Banco del Mutuo Soccorso)

O nome torna a temática meio óbvia: o processo de evolução das espécies. Mas também o álbum é evolutivo, com cada faixa narrando uma parte do ciclo.


Hemispheres (Rush)

No formato de suite, o álbum é todo dividido em movimentos, trafegando pela mitologia grega e enfatizando os contrapontos entre Apolo e Dionísio, como fazia Nietzsche.


Sargent Pepper Lonely Hearth Club Band (Beatles)

Não é exatamente um álbum-conceito, embora conte a história da banda do Sargento Pimenta, e sua filosofia está na novidade dos efeitos da psicodelia no desenvolvimento das ideias.


Selling England by the Pound (Genesis)

Aqui, em um dos álbuns mais geniais de todos os tempos, temos a discussão da influência externa na cultura local, e a perda do significado de um país.


The Rise and Fall of Ziggy Stardust on the Spiders from Mars (David Bowie)

O longo nome já dá uma ideia da história contada neste álbum. Filosoficamente, fala sobre sexualidade e consumo de drogas, além da busca pela paz em um mundo em constante ameaça de destruição.


Days of Future Passed (Moody Blues)

Primeiro álbum que ganhou o rótulo de conceitual, é a descrição do transcorrer de um simples dia, como a metáfora da passagem do tempo de uma vida humana.


El Tor (Città Frontale)

Um álbum que transpire questões políticas e sociais, em um ambiente de problemas gerados por uma epidemia de cólera.


Campo di Marte (Campo di Marte)

Outro grupo italiano, que, como o nome faz supor, fala sobre a violência da guerra e as marcas de sua perspectiva permanente.


In a Glass House (Gentle Giant)

A preocupação neste complexo álbum é a preocupação em ter a vida como se vivêssemos em uma casa de vidro: totalmente expostos e arriscados a levar pedradas a cada instante.

 

5 - Dez canais filosóficos

Agora os canais do YouTube estarão especializados para a área de Filosofia e derivados. São canais que despertam meu interesse e que volta e mais consulto em minhas pesquisas.


Anna Gicele Garcia Alanis

História interpretada também é filosofia. Ótimo canal para quando eu preciso buscar referências históricas.

https://www.youtube.com/user/AnnaGicelle


Audino Vilão

A grande novidade dos canais de filosofia no YouTube, e que supre uma carência de forma bem humorada. Segundo seus próprios dizeres, Vilão fala sobre temas espinhosos com a linguagem da “quebrada”.

https://www.youtube.com/channel/UCdYnL5uXF-sIddK4BpSy2Fw/featured


Café com Yogurt

Infelizmente não tem publicado vídeos. Como o próprio Diego Solamito diz, “um café com pitada ácida”, que não foge a temas polêmicos, como sexualidade, religião (ou ausência dela) e outros.

https://www.youtube.com/user/cafecomyogurt


Canal USP

É o canal oficial da Universidade de São Paulo, sinônimo de fonte confiável no Brasil.

https://www.youtube.com/c/CanalUSP/


Filosofia Acadêmica

Canal do Elan Marinho, que trata de filosofia mais pesadamente, aconselhável para quem já tem alguma vivência na área. Tem trazido um monte de debates atualmente, o que é muito bom.

https://www.youtube.com/c/ElanMarinho/


Isto não é Filosofia

Apesar do irônico nome, é de filosofia sim. Da Evelyn e do Vitor Lima, também tratam de temas mais diretamente ligados à área, embora possuam um viés crítico mais evidente do que o canal anterior.

https://www.youtube.com/c/Iston%C3%A3o%C3%A9Filosofia/


Penso, logo Assisto

Seu autor tem um perfil mais low profile, mas muito bom e substancial. Ele deslinda termos que estão no colóquio, mas que usamos sem saber muito bem porque.

https://www.youtube.com/channel/UCauZY8o2t7RKG2vLOUl9NoQ/featured


Thaís Lima

Aqui, o viés é mais sociológico e antropológico, especialmente no âmbito do feminismo. Eu sublimo os vídeos de K-Pop, mas o canal é dela e não vou reclamar.

https://www.youtube.com/c/Tha%C3%ADsLimaM/


Canal do Pirulla

Não tenho como não mencionar o primeiro canal que me fez criar uma conta e inscrever no YouTube. Pirulla fala de Ciência, é verdade, mas filosofa inúmeras vezes, sem contar que é o último remanescente daquela velha guarda que me fez entender um pouco melhor as relações entre a religião e a ausência dela.

https://www.youtube.com/user/Pirulla25/videos


Frank Jaava

Adriano Facioli incorpora um psicólogo e trata de temas polêmicos relacionados às coisas da cabeça.

https://www.youtube.com/user/adrianofacioli/videos

 

6 - Dez animações

Eu segreguei as animações dos filmes em geral por conta de um caso pessoal curioso. Eu cogitava fazer meu TCC remetendo-me à Filosofia contida nesse modelo de obra, e, por conta disso, fui fichando várias delas. Como pretendia aproveitá-las, não as utilizei nas atividades acadêmicas. Acabou que eu mudei vertiginosamente o tema, e as fichas ficaram jazendo no fundo dos meus arquivos virtuais. Relembrei deles e trouxe para cá, devidamente complementados.


A Viagem de Chihiro (Hayao Miyazaki)

Por trás da aventura asfixiante, há toda uma crítica social sobre a ganância e a um tema caro aos autores japoneses: a transição entre a idade infantil e a adulta.


O Túmulo dos Vagalumes (Isao Takahata)

Esse é triste até a raiz da medula. A temática não é nem tão novidade assim: os sofrimentos dos indivíduos perante a guerra. Porém, a maneira como a obra é construída, e especialmente a metáfora dos vagalumes é desesperadora.


O Serviço de Entregas da Kiki (Hayao Miyazaki)

Uma animação muito menos agitada, que se foca mais uma vez no aspecto transicional das idades. Tem um momento em que a cena parece ocorrer ao obelisco da Ladeira da Memória, mas é um óbvio acaso.


Kirikou e a Feiticeira (Michel Ocelot)

A pergunta aqui é: por que há pessoas que são más? Uma bela discussão sobre o sofrimento como desvirtuador do ser humano.


Ghost in the Shell (Mamoru Oshii)

O que caracteriza um ser humano? Ele é essencialmente sua mente, ou seu corpo é parte imprescindível dele?


Divertida Mente (Pete Docter)

Tem muita gente que não vê graça nesta animação, mas eu achei uma grande sacada a personificação das emoções, especialmente a demonstração de como todas elas são necessárias para a vida psíquica.


Heavy Metal - Universo em Fantasia (Gerald Potterton)

Um ícone da minha geração. É uma coletânea de histórias repletas de violência e erotismo, além de uma ácida ironia. O que há de mais filosófico é a onipresença do mal, muito mais “confiável” do que o bem.


Yellow Submarine (George Dunning)

O mundo onírico dos Beatles, repletos de imagens lisérgicas, e esse é o principal interesse intelectual do filme: como a mente é afetada por estímulos sensórios.


Persepolis (Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud)

Uma aula angustiante de história - como a vida tenta se manter em um mínimo de normalidade mesmo em meio à guerra.


Fantasia (Samuel Armstrong et al)

Aqui, temos uma grande possibilidade de análise no campo da Estética, porque há fusão de imagem e som e perfeito casamento por toda a animação.

 

7 - Dez museus históricos e científicos

Se existe algo de bom na Terra da Garoa, é a sua dimensão cultural. Aqui tem museus para todos os gostos, todos com porte para te tomar o dia inteiro ou muito mais, principalmente aqueles que abrem seus acervos para pesquisa. Vou mencionar abaixo alguns dos que eu gosto mais. Lembrando que todos se encontram fechados por conta da pandemia, enquanto outros, que se encontram em reforma, não serão citados.


Museu do Futebol

Praça Charles Muller, s/n - Pacaembu

 

Museu de Zoologia da USP

Av. Nazaré, 481 - Ipiranga

 

Museu de Arqueologia e Etnologia da USP

Av. Prof. Almeida Prado, 1466 – Butantã

 

Museu da Imigração do Estado de São Paulo

R. Visconde de Parnaíba, 1316 - Mooca

 

Museu Afro Brasil

Av. Pedro Álvares Cabral, s/n – Portão 10 – Parque Ibirapuera

 

Memorial da Resistência de São Paulo

Largo General Osório, 66 - Santa Ifigênia

 

Instituto Butantan

Av. Vital Brasil, 1500 – Butantã

 

Museu dos Transportes Públicos

Av. Cruzeiro do Sul, 780 - Canindé

 

Museu Histórico da Imigração Japonesa

R. São Joaquim, 381 – Liberdade

 

Museu da Energia de São Paulo

Alameda Cleveland, 601 - Campos Elíseos

 

8 – Museus artísticos

Mesma coisa que a lista anterior. Ia fazer uma só, mas não estava conseguindo acomodar uma coisa só. Sim, disso eu tenho verdadeiro orgulho em São Paulo.


Museu da Casa Brasileira

Av. Brigadeiro Faria Lima, 2705 - Jardim Paulistano

 

Museu de Arte de São Paulo – MASP

Av. Paulista, 1578 - Bela Vista

 

Pinacoteca de São Paulo

Praça da Luz, 2 – Luz

 

Museu de Arte Sacra

Av. Tiradentes, 676 - Luz

 

Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia - MuBE

R. Alemanha, 221 - Jardim Europa

 

Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM

Parque Do Ibirapuera, s/nº - Próximo ao Portão 3

 

Museu da Imagem e do Som de São Paulo – MIS

Av. Europa, 158 - Jardim Europa

 

Museu de Arte Contemporânea – MAC

Av. Pedro Álvares Cabral, 1301 - Vila Mariana

 

Museu Belas Artes

Rua Dr. Álvaro Alvim, 90 - Vila Mariana

 

Museu Lasar Segall

Rua Berta, 111 - Vila Mariana

 

9 - Dez peças em que eu filosofei

Não vou citar autores, diretores, atores e nem em qual teatro, mas não podia deixar passar batido meu encantamento com o teatro e mencionar peças de onde saí com a cabeça em movimento.


Trágica 3

O feminino na tragédia clássica grega, traduzido pelas personagens Antígona, Electra e Medeia.


Isso é o que ela pensa

As fronteiras entre a sanidade e a loucura, a perda da identidade e a impossibilidade de distinguir entre a realidade e a alucinação.


Santa Joana dos Matadouros

Clássico social de Brecht, a história da menina que flutua entre as incertezas das atitudes.


Cyrano de Bergerac

O herói romântico que se restringe a um papel secundário na vida amorosa por conta de sua aparência. Um signo dos problemas gerados pela autoimagem.


À la carte

A fome unindo dois palhaços da Companhia La Mínima, absolutamente distintos um dos outros, mostrando como a necessidade reduz os destinos à mera sobrevivência e à despersonalização.


O homem que sabia javanês

Inspirada na obra de Lima Barreto, um belo tapa na cara dos pseudointelectuais, que na sua arrogância não conseguem admitir seu desconhecimento.


Recordar é viver

Afeto e conflito familiar povoam esta peça com cara de comédia, mas com conteúdo dramático. Uma tentativa de explicar o presente através do resgate das memórias.


Contrações

Obra focada nos conflitos das relações de trabalho, a desgastante convivência entre uma gerente e sua subordinada. São explorados os limites do aceitável ao valor dado ao dinheiro.


Triptico Samuel Beckett

Beckett é um mestre do teatro do absurdo, e nesta peça tripartite é abordada a transição entre as fases da vida de uma mulher perturbada existencialmente.


Do Lado Direito do Hemisfério

Calcada nos problemas neurológicos insólitos descritos por Oliver Sachs, esta peça mostra um grupo de atores que perdem a noção de diferença entre realidade e abstração na montagem de um trabalho.

 

10 - Dez lugares filosóficos

Não são só a ágora ou a universidade, mas qualquer lugar que traga algum tipo de estímulo à reflexão. Selecionei dez deles que ficam situados nesta metrópole da solidão.


Nostalgia: Cemitério da Consolação

Na verdade, qualquer cemitério é local de nostalgia. Entretanto, o Cemitério da Consolação é o mais antigo em atividade na cidade, é relativamente bem conservado e é recheado de sepulcros famosos.


Desespero: Beco dos Aflitos

O ambiente já é sufocante só de ver. Um beco estreito, em cujo fim fica uma capela encaixotada entre prédios muito mais altos. A história do lugar torna as coisas ainda piores: era o lugar onde ficavam encarcerados os condenados a enforcamento, o que era feito logo mais acima, na atual Praça da Liberdade.


Liberdade: Memorial do DOPS

Um conjunto de celas e o corredor do banho de sol dão a dimensão da claustrofobia de uma prisão especializada na tortura de presos políticos. É o painel perfeito para a valorização da liberdade física e psicológica.


Despedida: baias da rodoviária do Glicério

Elas são discretíssimas, ficam abaixo do Elevado da ligação norte-sul e serviam para os ônibus de viagem que iam para muito longe, quando se sabia que os viajantes ficariam longos períodos afastados, ou quando chegavam sós a São Paulo em busca de uma vida minimamente decente.


Linha da pobreza: Morro dos Ingleses

A Rua dos Ingleses divide exatamente este morro, onde é possível enxergar com clareza absoluta a linha divisória entre a Bela Vista e o Bixiga, que em tese são o mesmo bairro, mas que se separam pela capacidade aquisitiva de quem vive em cada um deles.


Inflexões: Usina da Traição

É uma construção elevatória no Rio Pinheiros, que serve para inverter o fluxo de suas contaminadas águas e abastecer as represas da zona sul. É filosófico porque simboliza para mim como somos tirados de nossos cursos naturais contra a nossa vontade.


Resistência: chaminé da Luz

É preciso atenção para reparar nos buracos de bala de canhão na isolada chaminé da antiga usina que abastecia a região dos quarteis. É uma peça de resistência, tanto na guerra, quanto na cidade que não cuida de sua história.


Incompletude: Diana Caçadora da Praça do Correio

É só um braço faltante, à moda das estatuas gregas originais, mas o membro arrancado da obra de bronze dá uma terrível sensação de que há algo faltando, não só fisicamente, mas como aquelas coisas que são removidas sem licença de nossas vidas. A sensação piora quando sabemos que a Diana foi furtada inteira recentemente.


Fragilidade: extinto prédio de vidro do Largo do Paissandu

Aqui, é a tragédia que tornou este lugar filosófico. O antigo prédio da Polícia Federal, repleto de paredes de vidro, era a imagem do equilíbrio delicado que a deficiência habitacional desta terra proporciona a nós diariamente. O que é frágil um dia quebra. O rombo na igrejinha luterana ao lado complementa o quadro.


Desalento: Escadaria da Galeria Prestes Maia

Todas as vezes em que saio do Anhangabaú para a Praça do Patriarca pelo caminho mais curto, eu vejo o símbolo do desânimo aos pés da enorme escadaria, ladeada pelas escadas rolantes sem manutenção.

 

Meus top 10

Isso aqui vai ficar comprido... Finalmente, chego às listas do aniversariante: este blog. Em dez anos, e com mais de 330 textos, é obvio que dá para fazer algumas listinhas de 10 específicas dele. Quem quiser conhecer e gostar, estão aí. Recomendem aos seus amigos, coloquem nos grupos de ZapZap, sigam o Aporias Plurais. Deem uma força para este velho professor que não exerce sua profissão, mas que gosta de escrever e filosofar.

 

1 - Dez posts que ficaram datados

 Não tem jeito. Quem escreve, escreve para uma determinada época, por mais que procure fazê-lo de maneira atemporal. Só que no mundo das mudanças rápidas, o que você diz na semana passada já não tem valor hoje. Que fará o que foi dito a alguns anos? Estes são os textos que mais envelheceram nesta casa.


Os desafios e as causas

Acho que nem existe mais o Causes, uma espécie de aplicativo que reunia pessoas em torno de causas específicas. E a própria TV Cultura já é outra, quase dez anos depois.


Sobre as ilhas esparsas pelo oceano da indigência televisiva

Nenhum dos programas mencionados na postagem existe mais, faz tempo.


Sobre mulheres ricas e fuga humana

Mais uma vez, temos aqui comentários sobre um programa de televisão que nem existe mais.


Sobre novas imagens e velhas imprensas

A revista Playboy nem existe mais. A tara que a mídia tinha sobre a cantora Sandy arrefeceu. E, além disso, o texto meio que desmerece a imprensa, sem mencionar o jornalismo sério. Tá tudo velho.


Sobre a Virada Cultural como evento menos importante que um fato pouco significativo para muitos (ou: fechamento do assunto Amy Winehouse, finalmente)

A Virada Cultural mudou completamente de modelo, tornando o tema defendido meio sem sentido. Além disso, devemos ficar dois anos seguidos sem, devido à pandemia. Nem sei se a Prefeitura voltará a promovê-la.


Sobre textos bem decorados e a correspondência entre frase e fato

O texto em si é muito bom e atual, na minha opinião. O que são datadas são as minhas histórias pessoais, já que não faço mais nada daquilo que está descrito.


Entre tintas e desencantos - arte e juventude entrelaçadas

A exposição já foi há muito, nunca mais vi nenhum dos meninos... nem sei se mesmo o restaurante ainda existe.


Metapost

Quando redigi o texto comemorativo das 100 publicações, eu tinha contato com um monte de gente que conversava comigo pelos comentários, pelos feicebuques da vida e mesmo pessoalmente, o que não acontece mais.


Arte restrita, arte expandida (Sobre macarrão com alcaparras)

Novamente um texto atual, datado apenas nas circunstâncias. Miseravelmente, o restaurante não existe mais.


Lições de cinema para fazer professores chorar (de raiva)

O filme já passou, já saíram partes dois e três, e continua ruim. Os temas são plenamente válidos, mas não sei se ainda dá para discuti-lo apenas com base na obra.

 

2 - Dez posts dos quais esperava muito e veio pouco

O caso aqui sempre se repete: redijo um texto em que eu acho que vou abafar, e, na verdade, sou abafado. São postagens de pouquíssimas visualizações, e que nunca entendi porque não deram certo, porque entendo que são boas. Leiam e me digam o que há de errado com elas.


Estórias de brinquedos e a dor de existir

Sobre luzes de Natal e crise da meia-idade: até onde nossas angústias fazem viradas para a depressão

Cartas náuticas para marinheiros de terra firme - 12º relato: Serra Negra e o dia em que máquinas superarão a inteligência humana (será?)

Tá, só não saquei bem o que é essa tal de (20 - Filosofia do Tempo)

A ética da etiqueta: sobre o modo como ela aparta e quando ela reúne

A aposta ética do cinismo e o Pequeno guia das grandes falácias - 39º tomo: o apelo à pobreza (argumentum ad Lazarum)

País do futebol: o que precisamos avaliar para saber se isso é ou não uma verdade

Sobre o conflito interior exposto pela quebra de sigilo de um sitezinho de relacionamentos traquinas (ou mais simplesmente: sobre a infidelidade)

Sobre as coisas que explicam a necessidade de manter meia dúzia de árvores em pé

Sobre feriados sem grande sentido e sobre o que legitima uma celebração


3 - Dez posts dos quais esperava pouco e veio muito

Aqui, temos o exato oposto da lista anterior. São textos que escrevi descompromissadamente, em geral no correr da pena, mas que acabaram se tornando os “best-sellers” do espaço. Vai entender...


Sobre o medo expresso na forma de gafanhotos e o Ser que emerge da inadequação (Pequeno guia das grandes falácias – 35º tomo: a vivacidade enganosa)

Sobre a desonestidade intelectual e o Pequeno Guia das Grandes Falácias - 29º tomo: o Atirador do Texas

Pequeno guia das grandes falácias - 8º tomo - O poço envenenado

Pequeno guia das grandes falácias - 7º tomo - A inversão do ônus da prova

A teoria do gomo da mexerica

Eclesiastes, o livro de Filosofia da Bíblia

Sobre a ética da eutanásia

Sobre novelas e a ideologia que nos cerca

Diário de bordo de uma nau sem rumo – 1º porto: Queluz, as ladeiras da memória

 

4 - Dez posts que mais me deram trabalho

Pois é, não é sempre em que basta sentar e sair escrevendo um texto. Aliás, na maioria das vezes não é. Entretanto, pelas mais diversas circunstâncias, alguns realmente acabam dando o que fazer: pesquisa, desenhos, fotos, coletas de estatísticas e assim por diante. Estes foram os que eu lembrei que me deram o que fazer.


A internet como campo de prova da anarquia

Em certo momento, consolidei a ideia central na minha cabeça, mas precisava estudar mais para ver se encaixava. Para isso, pus-me a ler Proudhon e rebuscar outros livros de Filosofia Política.


Direita e esquerda - quando a cinestesia é ainda mais complexa nas cabeças do que nas mãos

Aqui, muito cuidado com as palavras, especialmente nos dez mandamentos, para não ferir suscetibilidades em tema delicado.


O cesto da gávea de onde observo o mundo - 10ª mirada (2ª parte): o distrito de Luís Carlos evocando os princípios e leis da Gestalt

A trabalheira aqui foi na montagem dos exemplos, ainda mais porque eu cismei de relacioná-los ao futebol. Mas não ficou nada mal.


Inferências diversas como matéria-prima para a metodologia científica, ou tempos de saber melhor como funciona a Ciência

Quando a gente se propõe a uma tarefa com ares professorais, deve se preparar para suar um pouco. Isso se aplica principalmente quando alguma ideia, como é o caso do método científico, tem pouca compreensão e/ou vem sofrendo combate que não merece.


Ser estoico é ser heroico

Eu conhecia as linhas gerais do estoicismo, mas acabei me afundando de cabeça no tema, já que fui sendo absorvido pelo que ele tem de cativante. Ter trabalho não significa ter desprazer.


A pareidolia e os engodos que o cérebro nos impõe

Comecei a me interessar por itens psicológicos ao estudar Filosofia da Mente, e uma coisa foi puxando a outra, e a outra, e a outra, gerando uma série de textos que começaram com esse...


A dialética entre os hemisférios cerebrais e o Intérprete - propostas para explicar a síndrome das falsas memórias e outras peculiaridades mentais

... e que chegaram até este, muito mais ligado à neurociência do que à psicologia, mas ainda assim carregadíssimo de Filosofia. Os livros da área são um verdadeiro desafio, porque é preciso desfiar muitos termos técnicos.


Luzes ou trevas, ou nem isso e nem aquilo – A Filosofia Medieval como um conjunto de ideias semelhantes a qualquer outro

O trabalho aqui nem foi de nível difícil, apenas quantitativamente grande, porque precisei passar, ainda que de soslaio, por muitos autores.


Sobre nossos elementos primordiais e a evolução do pensamento filosófico rumo à Ciência

Quase a mesma coisa que o item anterior. Só que, sendo um tema que eu adoro, vale também a lógica de que volume de trabalho não é igual a volume de desgosto.


Dos dias em que o vento nos afasta do mar - 8º sopro: Jesuânia, sotaques e a fala como originadora da língua

Eu queria pegar três palavras em que pudesse ser visível o cruzamento do latim nas demais linguagens, ainda mais com a história da substituição do L pelo R (rotacismo). Deu muito o que pesquisar, mas fui bem sucedido.

 

5 - Dez posts que eu mais gosto

Aqui, não tenho muito o que comentar. São textos que me dão, essencialmente, prazer em reler, em que consegui sintetizar bem as ideias e, em certa medida, dosei bem experiência pessoal e Filosofia. Seriam meus cartões de visita, se tivesse que apresentar minha obra para alguém.


Ensaio sobre o ensaio - da cegueira e metafísica do egoísmo

Sobre tristeza e barcos a vela

Navegar é preciso viver - 6ª ancoragem: Santo Antonio do Pinhal e a solidão de quem observa o frio

Em demanda dos trilhos perdidos – 8ª estação: Itajubá e os riscos de que a pós-verdade nos leve a verdade nenhuma

Uma casca de nós

Sobre nomes de ruas e perda de identidade

Sobre a discrepância entre o que vemos e o que lembramos - e o quanto isso pode ser fruto de manipulação

Tá, só não saquei bem o que é essa tal de (19 - Filosofia da Mente)

Solidão e sentimentos - o que pertence à ideologia e o que é inerente à espécie (ou a solidão como doença da linguagem)

Ayrton Senna e os heróis fabricados de linguagem

 

6 - Dez posts que me dão vergonha

É, não é tudo o que dá certo. Como, no entanto, parto do princípio de que devo manter uma certa história pessoal escrita através do tempo do blog, coloquei por princípio mantê-los como estão, até mesmo para conseguir fazer um paralelo entre minha cabeça de ontem e de hoje.


Entre tintas e desencantos - arte e juventude entrelaçadas

Não é exatamente um texto ruim em si, mas eu quis festejar tanto a exposição dos meninos que eu acabei fazendo um relato mais para o adulatório do que para o crítico. Mas dá para ler sem embrulhar o estômago.


Sobre paradas, convicções, torcidas de futebol e confrontos entre religiosidade e sexualidade

Quis investir tanto no viés sociológico que passa a plena impressão de que eu não creio em uma natureza da homossexualidade, e sim somente da construção social.


Discussões sobre nossa capacidade de legislar adequadamente sobre a maioridade penal

Aqui, eu tenho uma opinião da qual guinei radicalmente para o sentido oposto, embora continue concordando comigo mesmo em parte. Mas uma extinção da idade penal seria um desastre completo, da forma como entendo hoje.


Pequeno guia das grandes falácias - 15º tomo - O raciocínio circular (circulus in demonstrando)

Não há vergonha pelo post em si, mas pelo engano cometido. Aqui, fui obrigado a fazer uma pequena intervenção a posteriori para esclarecer o ocorrido e colocar as coisas em seu devido lugar, com a adição de uma nova postagem.


Corridas e racismo

Lewis Hamilton assumiu tal protagonismo nas causas sociais que hoje me arrependo de ter aberto a crítica tal como foi. Sobre isso, ainda pretendo redigir uma nova postagem, colocando as coisas no lugar.


Auto-ajuda e Filosofia: há espaço a compartilhar?

Fiquei no muro e passei o pano, pensando em não espantar os curtidores de autoajuda. Deveria ter sido muito mais contundente. Muito.


Sobre a angústia

Precisaria ter especificado melhor a questão do ateísmo. De toda forma, fiz isso mais adiante.


Apontamentos sobre a (im)possibilidade de mensurar a boa arte

Estava fácil de divergir do texto que analisei, mas não o fiz. Tá... de toda forma minhas análises não estavam tão ruins assim.


Vacinas versus moral - uma luta difícil de explicar

A vergonhazinha aqui foi só pelo final piegas, embora sendo verdadeiro.


Navegações de cabotagem - A praça da matriz de Itu: as desmedidas e a assimetria de quem age e de quem observa

Não pelo texto em si, mas pela entregada no primo da patroa. Ah, foda-se... ele merece.

 

7 - Dez posts que mais demoraram para ficar prontos

No caso, demorou pelos mais diferentes motivos, na maioria das vezes pela necessidade de aprofundar conhecimento, mas também por conta da preguiça ou por pintarem outras propostas na frente. E olha que tem coisa muito boa aí no meio.


Considerações sobre consciência e corpo que nos vinculam à realidade (Sobre alpercatas e quepes confederados)

Sobre histórias em quadrinhos e grafite: reminiscências infantis e apreciações sobre a intersecção artística entre ambos

Progressivo - porque o rock também pode ser arte

Pequeno guia das grandes falácias – 51º tomo: o apelo ao ridículo, e mais algumas coisas sobre o humor como ferramenta da agressividade

Sobre o pânico moral e o problema dos refugiados no Brasil (Pequeno guia das grandes falácias - 40º tomo: a generalização apressada ou falsa indução)

Pequeno guia das grandes falácias – 52º tomo: a armadilha de Kafka (uma falácia polêmica e perigosa)

Sobre essência humana e política em Aristóteles, e como a finalidade amarra ambas, ou: despojos de carteiras velhas que nos fazem recordar de antigas lições de Filosofia

Cartas náuticas para marinheiros de terra firme - 2º relato: Poços de Caldas, um sabor de vidro e corte

Sobre a discrepância entre o que vemos e o que lembramos - e o quanto isso pode ser fruto de manipulação

Eclesiastes e sua Filosofia do Tempo - outras observações sobre o livro mais filosófico da Bíblia

 

8 - Dez posts que não escrevi sob condições normais

Seja porque estava com o emocional mexido, seja por conta de raiva ou até mesmo pelo fato de ter tomado algumas biritas, não estava pleno de serenidade quando escrevi os dez textos abaixo.


Maradona e velho problema de esbarrar na loucura a cada instante

Um dos raros textos em que escrevi na febre dos acontecimentos, ainda por cima o fiz em um quarto escuro, dando um clima um bocado melancólico.


Por que nos envergonhamos de dizer “eu te amo”?

Minha mãe tinha acabado de morrer. Não preciso falar mais nada.


Sobre o tédio dos dias que parecem não terminar nunca

O título também diz tudo... O arrasto do fim de ano em plena pandemia.


Sobre o envelhecimento e a sensação de que a morte nem é tão ruim assim

Uma das primeiras vezes que me senti envelhecendo de fato.


Pais e filhos

Tinha aqui a notícia da doença da minha mãe, e eu estava meio mal. Por isso, o tom amargurado do texto.


Sobre diferenças e indiferença

Já aqui eu estava puto. Levei meu cachorro na igreja de São Francisco e proibiram a entrada dele. Na igreja do padroeiro dos animais.


Sobre a Virada Cultural como evento menos importante que um fato pouco significativo para muitos (ou: fechamento do assunto Amy Winehouse, finalmente)

Sabe aquelas notícias que não mudam a cotação do dólar, mas que te pegam mal? Foi exatamente o caso.


Lições de cinema para fazer professores chorar (de raiva)

Obviamente o título já denuncia, e como eu não tenho sangue de barata, não consigo simplesmente passar com indiferença por uma “obra” dessas.


A Portuguesa e a tragédia grega posta em prática - Até quando há de brilhar a cruz dos teus brasões?

Como eu exponho no texto, fui acompanhando a derrocada da pobre Portuguesa e isso foi me dando um aperto danado no coração, e aproveitei esse exato momento para redigir esta peça.


5 anos de Aporias Plurais – sobre o que motiva e o que desmotiva a atividade filosófica

O desânimo típico de quem gosta da academia (não para malhar). E olha que era para ser festivo... é, acho que a Filosofia tem mesmo um viés deprimido.

 

9 - Dez posts mais autobiográficos

Como o propósito deste blog é a extração de Filosofia através do quotidiano, é inevitável que haja muita autobiografia no seu decorrer. Nas postagens abaixo, eu me ponho um pouco mais exposto, falando mais profundamente de minha história e dos fatos que me moldaram.


Prá não dizer que não falei das tarifas

Em trezentos textos, a sutil história da transformação do pensamento e da fé

O cesto da gávea de onde observo o mundo – Epílogo: onde continuarei escrevendo minhas histórias?

Pequeno guia das grandes falácias – 48º tomo: a petição de princípio (petitio principii) e um pouquinho sobre inversão de argumentos e terra plana

Pequeno guia das grandes falácias - 24º tomo: o erro da má companhia (culpa por associação) e mais algumas observações sobre como pessoas boas cometem ações ruins

Para lá da serra que eu vejo na janela – Epílogo: sobre as coisas que nos moldam e a despedida do intrépido Bedelho

Sobre um tipo de bicho que nada tem de inocente e o Pequeno guia das grandes falácias - 47º tomo: o argumentum ad nauseam

Tim-tim! Sobre o efeito coquetel e a sofisticação dos mecanismos de atenção humanos

A dissonância cognitiva e as mentiras que se tornam verdades

Pequeno guia das grandes falácias - 12º tomo - A afirmação do consequente

 

10 - Dez posts que começaram de um jeito e terminaram de outro

Tem muita coisa que começamos a escrever sob a sombra de uma ideia e que vai mudando de rumo à medida que a escrita vai fluindo, seja porque falamos sobre processos em andamento, seja porque nossa própria cabeça muda.


O cesto da gávea de onde observo o mundo - 9ª mirada: Salesópolis e a metafísica no delicado nascimento do Rio Tietê

Eu fiz toda a parte fotográfica pensando em trazer as ideias de um filósofo ambientalista. Caí em um perigoso marasmo, porque estava ameaçando trazer novamente Peter Singer, Arne Naess ou James Lovelock, quando então decidi ir em uma raiz mais metafísica e trouxe Espinoza para a linha de frente, até mesmo porque estava com uma bela dívida com o batavo.


Data maxima venia: Sobre juízes e religiões, com direito a um rápido volteio pela história da Filosofia

Eu comecei a digitar este texto ainda no calor dos fatos, e estava indo por um caminho ainda mais crítico. Como o juiz em questão se retratou durante a escrita, dei uma boa tirada de pé.


Sobre o alcance das concepções da verdade (e a pornografia como sua expressão)

Aqui, eu já tinha produzido toda a parte das concepções da verdade, mas achei o texto insosso, como uma mera exposição, sem grandes argumentos. Foi então que resolvi dar um exemplo mais picante para dar um colorido mais expressivo. Deu certo.


O café filosófico do quotidiano – discussões sobre alma e corpo, e uma alternativa à "doutrina oficial"

Ia falar só do Descartes, mas achei que ia ficar repetitivo e busquei um contestador, Gilbert Ryle.


Somos adivinhos ou só sabemos prever o passado? O viés retrospectivo, a (im)parcialidade de juízes famosos e o Pequeno Guia das Grandes Falácias – 46º tomo: o red herring

Não chegou a ser propriamente uma mudança de rumo. Queria dar andamento à análise de aspectos psicológicos, mas calhou bem a introdução da falácia em questão.


Dos dias em que o vento nos afasta do mar – 1º sopro: Pouso Alto e os eixos históricos da Estrada Real

Minha intenção era falar só sobre a Estrada Real, mas acabei indo parar no conceito de anacronismo


Cafundó e fim do mundo - Mapas e palavras para entender a Sociologia e a Filosofia das bancas do centro

Uma guinada completa, que saiu de Wittgenstein, passou por Weber e desembocou na Etnometodologia de Harold Garfinkel, a quem eu nem sonhava em incluir no começo da conversa.


Pequeno guia das grandes falácias – 54º tomo: o ignoratio elenchi (conclusão irrelevante) e a distorção de informações verdadeiramente relevantes

Fui entendendo melhor o funcionamento dessa falácia na medida em que fazia as pesquisas para sua composição. Achava inicialmente que era uma simples falácia do “nada com nada”, o que se revelou errôneo.


Constantino I e o Concílio de Niceia inaugurando o pensamento medieval

Minha ideia inicial era dar uma desancada na influência de Constantino, mas achei tudo tão mal fundamentado que resolvi virar para a importância filosófica do evento.


Pequeno guia das grandes falácias - 56º tomo: a redução ao absurdo (argumento apagógico), e os paradoxos de Zenon como exemplo

Nada como juntar dois textos que estavam mal parados para um complementar o outro. Achei que foi oportuno e ficou decente.


Punto e finito. Não sei o que vai ser daqui para frente, se serão mais dez anos, mais vinte ou se encerro minha aventura por aqui mesmo, o que é improvável no momento. Agradeço, no entanto, a todo mundo que me acompanhou até aqui, tanto neste presente texto, quanto no blog em si mesmo. Haverá algum momento em que vou mudar de meio, ou parar, isso é inevitável. Espero que vocês continuem comigo por onde eu estiver. Bons ventos a todos!!!