Marcadores

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Sobre políticos e sofistas, com direito a um loooooongo voto de desagravo

Olá!

Já perceberam como nos tempos de eleição a guerra de argumentos segue em um crescente, até chegar ao ponto de causar náuseas? Esse é um dos principais motivos pelos quais é praticamente impossível manter a serenidade para fazer escolhas bem ponderadas. Isso porque se fala muito e diz-se muito pouco. Quem não gostaria de ouvir as propostas de governo e vê-las debatidas por especialistas de forma imparcial? Infelizmente, o que temos são propagandas eleitorais e debates em que mais se procura depreciar os adversários do que propriamente discutir propostas. Todos os candidatos de ponta fazem isso, insistentemente, por mais que digam o contrário. E, com honorabilíssimas exceções, são seguidos nessa conduta pela grande imprensa, que preferem esse ou aquele, e colaboram, subrepticiamente, em suas campanhas.
Esse é um dos usos mais perniciosos que se faz da linguagem, o de engabelar. Mentir com cara de verdade. Esse jogo retórico busca mais despistar do que propriamente esclarecer. Vou dar dois exemplinhos bem básicos, extraídos da última eleição presidencial (um da oposição, outro da situação, para que ninguém diga que eu mesmo estou aplicando a regra – aliás, como vocês podem bem perceber, esperei o sufrágio ocorrer para soltar este post).

O que temos aí em cima? Duas candidatas com calhamaços à sua frente e um terceiro, sem nenhum papel na mesa. O que isso quer dizer, a rigor? Nada, absolutamente nada. A ideia aqui é que o Aécio é tão bem preparado que não precisa do apoio de nenhum material para guiar seu discurso. Podemos fazer as mais variadas especulações: que ele não tem fontes para basear suas opiniões, que ele é soberbo, que ele não tem argumentos calcados em números, que ele os esqueceu e está tentando se arranjar, pode ser que ele tenha papéis mas não está utilizando-os no bloco, pode ser algo meramente proposital para sair bonito na foto, pode ser qualquer uma dessas hipóteses ou nenhuma delas. Bom discurso o Maluf tem, o Collor tem, o Lula tem, o Brizola tinha, o Quércia tinha... E normalmente dispensam ou dispensavam papéis. Será responsável falar de programa de governo sem tê-lo à sua frente? Quando vou a uma reunião, procuro levar todo o material necessário, para não ser pego de surpresa, para poder comprovar minhas afirmações. Não há absolutamente nada de errado nisso, mas o pessoal usa essa imagem como se demonstrasse alguma coisa. O que essa informação diz, além de ser um argumento de tiete? No máximo, que o Aécio é bem preparado para debates, e não obrigatoriamente para governar. Vamos para outra:

O que temos aqui é um pouco diferente: uma grande dose de maldade. Isso tudo porque sabemos que há uma polêmica sobre uma suposta agressão feita a uma namorada pelo Aécio. Não há nenhuma comprovação deste fato, mas a pergunta é perniciosa. Ela não serve propriamente para acusar ou para conhecer a posição do adversário. A Dilma fez essa pergunta para lembrar à audiência da acusação que pesa contra seu oponente. É uma tática em que se causa o embaraçamento do contendor, seja ele culpado ou inocente, porque é um assunto delicado, que aflige muita gente no país e que torna sua imagem absolutamente antipática, justamente em cima de um fato não provado. A pergunta poderia sido formulada de uma forma diferente, menos irônica, mais direta, mas isso tiraria o efeito descrito acima.
Por fim, pincei uma frase dita pela candidata Dilma ao candidato Aécio no primeiro debate do segundo turno, feito na Rede Bandeirantes. Não há aqui nenhum juízo de valor, uso a frase apenas para fins didáticos. Ela diz o que segue:
“O senhor perdeu as eleições em Minas Gerais. Pode fazer qualquer outro sofisma, mas perdeu. Isso é inconteste.”
Vejam que eu frisei muito a palavra sofisma. Esta palavra significa dar uma chicana no tema, uma contornada, uma manipulada nas palavras para tentar justificar algo através de argumentos que não se calcam em fatos. Sofismas são usados à beça em campanhas eleitorais, mas não só nelas. Utilizamos sofismas sempre que precisamos aplicar aquele famoso “veja bem” no atraso de entrega de um relatório, no “perdido” que demos no boteco com os amigos, na louça que não lavamos para a patroa, e via discorrendo. Ou seja, é a linguagem utilizada a serviço da falsidade.
A palavra deriva diretamente dos sofistas, a quem me referi e prometi trazer mais elucidações neste texto aqui. Até o século XX, esta palavra era praticamente sempre tomada no sentido de enganador, de vigarista ou de mercenário. Culpa da tríade Sócrates-Platão-Aristóteles, que falava muito mal deles. Somente com estudos mais específicos foi possível desmistificar essa imagem negativa, e colocar os filósofos sofistas no lugar merecido, contrabalançando seus defeitos com suas contribuições.
Para entendermos como foi possível o surgimento dos sofistas, precisamos lembrar, em primeiro lugar, que o primeiro pensamento de cunho filosófico tinha a preocupação de explicar os substratos materiais da composição do universo, ou seja, tentar compreender do que o cosmos é feito. Por isso mesmo, quase todos os grandes filósofos pré-socráticos escreveram tratados De Natura, cada um com sua tese consubstanciada sobre a natureza.  Outro questionamento dizia respeito à dúvida sobre a mutabilidade dos seres. Quem estaria correto: Heráclito e seu eterno fluxo ou Parmênides e seu Ser uno e mutável apenas nas aparências?
O problema é que esse divagar todo já não tinha paralelo com a sociedade grega da forma com a qual esta vinha se desenvolvendo. Depois de todas as observações dos filósofos naturalistas, especialmente após as definições atomísticas de Lêucipo e Demócrito, as fontes de conhecimento passaram a ser associadas à razão, perdendo seu caráter místico e sacralizado. Já não era o sacerdote ou o poeta cantado por seus aedos que eram os sábios, mas aquele que procurava na própria Terra as explicações para suas aporias. Além disso, as soluções propostas pelos naturalistas poderiam ser geniais, mas não eram suficientes, e muitas vezes eram contraditórias entre si. Vejam o próprio átomo pensado pelos mestres de Abdera: a conclusão a que chegaram era tão boa que vale, com as devidas reservas, até os dias de hoje, mas essas mínimas partículas são frutos unicamente do pensamento, e não havia campo teórico ou experimental suficiente para demonstrá-las. Com isso, encontramos neste período uma posição cada vez mais afastada das certezas por parte dos pensadores.
Mais ainda. A Grécia vivia o período de ascensão da democracia, e os cidadãos já não tinham necessidade de olhar para o céu e se perguntar o porquê das estrelas. Precisavam pensar menos no universo e mais no seu lugar no universo.
A democracia grega não se assemelhava ao que hoje conhecemos e adotamos como sistema político. Hoje em dia, temos a democracia representativa, que consiste em eleger representantes que saibam traduzir nossos anseios. São os deputados, senadores e etc. No sistema democrático grego, tínhamos a modalidade direta, que era traduzida por reuniões na ágora, a praça central das cidades, onde os cidadãos manifestavam seus interesses e tratavam de defendê-los, para que a maioria acolhesse suas propostas – algumas vezes no grito e na porrada. Isso significava que a capacidade de argumentação era uma qualidade basilar.
(Abrindo parênteses. A democracia direta grega era meia-boquíssima, se pensarmos em termos de poder popular e à maneira como ela é exercida nos dias de hoje. Apenas os chamados “cidadãos” tinham o direito de se manifestar. Desta forma, as mulheres, os escravos, os mestiços, os estrangeiros e seus descendentes não tinham direito a participar da assembleia da ágora. Fecha parênteses).
Neste contexto, surgem profissionais que se especializaram em absorver conhecimento enciclopédico e traduzi-los em argumentos eloquentes, os mais irrefutáveis possíveis. Essa mescla de conteúdo e uso da palavra era absolutamente necessária para quem precisava viver e impor vontades na Ágora. O poder de convencimento, portanto, era mais importante que a veracidade dos argumentos. E mais ainda: esse saber era vendido a quem quisesse e pudesse pagá-lo.
Dá a impressão que nossos amigos eram meros mercenários que viviam de ensinar a produzir mentiras, mas vamos com calma, porque a coisa não era bem assim. Vamos desossar esse frango.
Quando eu era pequeno, certa vez meu pai me desafiou a produzir o desenho de um dado em que fosse possível enxergar mais de três lados de uma só vez. Não valia, evidentemente, distorcer o cubo para forçar a barra. Depois de algumas horas tentando e não convencendo, fiz o que deveria fazer desde o começo: cacei um dado pelas minhas bagunças e verifiquei a impossibilidade.
Muito bem. Vamos imaginar um desenho simples. Um dado igual ao que eu me referi, visto por duas pessoas em ângulos diferentes.

A primeira pessoa terá a seguinte visão:

A segunda verá o que segue:

Agora peça para cada um dos interlocutores somar a quantidade total de pontos visível. Você perceberá, através de exemplo boçal, que este total será diferente porque cada um dos pontos de vista é diferente. Nenhum dos dois é errado, mas nenhum dos dois é completo. Daí nasce o relativismo.
Essa visão relativa, para os sofistas, mata a possibilidade de obter conhecimento seguro. Se um ponto de vista é sempre parcial, torna-se impossível evitar que ele se torne uma mera opinião. O universal é uma lenda para o sofista, portanto. Isso se aplica não só à observação física, como mostrei anteriormente com o exemplo dos dados, mas também, e principalmente, sob o prisma moral. Cada povo tem seu conjunto de costumes que não se conciliam com os dos outros povos, e, mesmo individualmente, o que um indivíduo pensa não coaduna NUNCA em 100% com o que pensa outro cidadão. Temos então que cada indivíduo vê e pensa seu próprio mundo, e cria sua própria verdade. E então chegamos a Protágoras de Abdera.
Este filósofo soltou a frase mais célebre de todo o movimento sofístico: “O homem é a medida de todas as coisas”. Com isso, ele quer dizer que todo o conhecimento é oriundo do pensamento humano. Nada brota como conhecimento sem que exista um homem para interpretá-lo, com toda a sua visão parcial e relativa. Se todo o conhecimento parte do homem, então ele deve ser o centro da Filosofia.
Sua descoberta é chamada de antilogia. Todas as pessoas que observarem um determinado fenômeno terão uma interpretação própria. Cada uma destas interpretações contém uma parte da verdade sobre o fenômeno, e também há que se perceber que há ângulos que não são considerados, por não terem sido observados ou levados em conta. Com isso, há sempre um certo grau de contraposição entre um raciocínio e outro e, com isso, sempre é possível colocar os discursos em confronto. Disso nasce a arte da retórica, cujo objetivo é adotar e defender o melhor discurso. A antilogia redunda em um exercício de crítica e debate de razões.
Pois bem. Derivando da posição relativista de Protágoras, chegamos ao segundo pilar da escola sofista, o ceticismo. É simples de fazer a correlação: se todo o conhecimento é relativo, se depende não apenas do objeto, mas do sujeito que o observa, e se podemos duvidar de qualquer conhecimento disponível, podemos duvidar, também e por consequência, de nossa própria capacidade de conhecer, o que nos coloca na posição de seres ineptos à verdade. Quem fala com propriedade sobre o assunto é Górgias de Leontino.
Esse filósofo era siciliano, região hoje em dia pertencente à Itália, mas que na ocasião fazia parte da Magna Grécia. A sua frase mais célebre, e que sintetiza seu pensamento, nos diz que “Nada existe. E ainda que existisse, não poderia ser conhecido. E ainda que pudesse ser conhecido, não poderia ser transmitido a ninguém”.
Em um único raciocínio encadeado, Górgias nos faz três desafios filosóficos: o primeiro é metafísico, o segundo é epistemológico e o último é linguístico.
Nada existe” parece ser a assertiva mais provocativa de todas. De fato, podemos observar e apalpar todo o cosmos ao nosso redor: os astros, as plantas, os animais, os outros humanos, nós mesmos. Como será possível compreender o niilismo de Górgias?
Na verdade, toda a Filosofia se voltava para a análise do Ser como um todo, não só em suas aparências, mas também e principalmente em suas essências. Esse era o substrato do pensamento filosófico de então, com um espectro que transitava da total mutabilidade heraclitiana à total imobilidade parmenidesiana. Para Górgias, tanto um quanto o outro se equivocavam, levando consigo qualquer tipo de solução intermediária.
Parece óbvio que a afirmação de Górgias é mais radical do que seu pensamento em si. O seu real sentido é evidenciar o quanto a discussão acerca do Ser é vã. E, para compreender bem, necessitamos passar ao próximo tópico.
“... e ainda que existisse, não poderia ser conhecido” faz remissão direta à questão do ceticismo como derivação direta do relativismo, na qual se cristaliza – como há a impossibilidade de se obter a verdade, abre-se mão de prosseguir em suas tentativas. A única possibilidade de mitigar a limitação que a visão relativa coloca no objeto do conhecimento é justamente reconhecê-la. Dessa forma, o bom conhecimento será aquele desvencilhado de todos os penduricalhos que só servem para obnubilá-lo, torná-lo complexo e arrastá-lo. Conhecimento bom é conhecimento útil. Já ouviram falar nisso? Sim, é o atualíssimo pragmatismo.
“... e ainda que pudesse ser conhecido, não poderia ser transmitido a ninguém” toca na questão da linguagem e sua capacidade de ser suporte ao conhecimento. O grande problema é o seguinte: o conhecimento já é dúbio e inseguro. A tarefa de transmiti-lo é feita por uma ferramenta claudicante, que tira o objeto em si da frente do observador e a arremessa a um meio distinto, e, desta vez, abstrato e cheio de símbolos. Agrava ainda mais a questão o fato de que a visão que temos da própria linguagem é parcial, da mesma maneira que acontece com o objeto que ela tenta representar. Ou seja, para Górgias, a linguagem não tem capacidade de transmitir conhecimento, ainda mais porque piora o que já era ruim.
Ora, o pragmatismo citado no item anterior aplicado à linguagem dá a sua verdadeira utilidade: a persuasão, conquistada através de uma retórica bem treinada. A linguagem vale exatamente, portanto, pelo o que ela tem de útil – se ela não consegue transmitir a verdade, que consiga exercer o convencimento.
Percebem como o relativismo, o ceticismo e o pragmatismo são assuntos muito relevantes até os dias de hoje? Este simples fato é suficiente para que percebamos o valor do pensamento sofista. Pensem quantos filósofos mais recentes que admiramos beberam nessas fontes, ainda que indiretamente. E as principais críticas que se fazem aos sofistas podem, hoje em dia, ser facilmente rebatidas.
Em primeiro lugar, é preciso saber que, sendo verdade que os sofistas vendiam seus saberes e técnicas, não há mais nenhuma estranheza nisso, já que o ensino é comerciado sem contestações nas escolas particulares – e mesmo públicas, já que os professores trabalham em troca de salários. No fundo, os sofistas eram mais democráticos do que parecem. É fato que para pagá-los, já era preciso ter dinheiro, mas seus préstimos não dependiam da posição social de quem os contratava, e sim da sua possibilidade de remunerar. Desta forma, sai-se de uma elite de berço para uma elite financeira, o que, mesmo ainda limitante, ampliava muito o alcance da educação.
Outra coisa que não se pode negar aos sofistas é o mérito de fornecer ferramentas para o exercício da cidadania, pelo motivo já exposto da necessidade de bom desempenho na ágora. Era algo semelhante aos ensinos de “ética e cidadania” que vemos ministrados em nossas escolas modernas.
E o melhor de tudo: não é com os festejados socráticos, mas com os detonados sofistas que nasce o conceito de paideia, que se trata da formação global do homem. Os sofistas educavam nas mais diversas áreas, incluindo não só a questão política, mas conhecimento referente à natureza, aos costumes, ao funcionamento da ética e das religiões, e, no final, a virtude (que os gregos chamavam de areté). Hoje reconhecemos a importância primordial da educação para a formação das gerações, e os sofistas já se ocupavam dessa difusão do saber.
Talvez a maior crítica que se voltou aos sofistas se deva à existência de uma corrente radical, denominada erísticos. Estes últimos transformaram a arte da retórica em jogo, onde nenhum raciocínio poderia ser tornado definitivo; sempre havia uma contraposição possível, e, com isso, os debates eram levados ao infinito. Desses nós linguísticos, improdutivos e sem o aspecto primordial na senda sofística de utilidade, nasceram a capciosidade e empulhação (esta, talvez, seja a escola mais utilizada pelos políticos), tão bem explanadas principalmente por Platão em seu livro Eutidemo.
É isso. Tenho uma boa notícia: a partir deste post, sem seguir uma lógica temporal ou sequencial, vou elaborar textos que falarão sobre as principais falácias que detectamos (às vezes sem facilidade alguma) em nossos discursos. Vão ser textos curtos, em que vou nominar a falácia, falar um pouco sobre sua origem, como são utilizadas e onde podemos localizar utilização prática. Vai ser legal. Caso queiram, sugiram alguma falácia que vocês queiram saber mais nos comentários. A quem é meu amigo nas redes sociais, podem fazê-lo por lá também.
Recomendações de leitura:
Como os sofistas, apesar de terem escrito muito, tiveram todos os seus registros perdidos, não tenho um livro de autoria deles para recomendar. Mas Platão falou um bocado deles, mesmo que por um viés crítico. São estes livros:
PLATÃO. Eutidemo. São Paulo: Loyola, 2011
PLATÃO. O Sofista. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (Col. Os Pensadores)

Metapost

Olá!



Olha só que legal! Este é o 100º post que publico neste humilde espaço*. Para comemorar, elaborei uma série de “eventos”, ou seja, um monte de pequenas coisas para melhor adornar e facilitar a navegação neste espaço. Na verdade, nem foram tantas coisas assim, mas que deram um bocado de trabalho para quem não é muito perito nessas coisas de design.
Achei que ficou bom. Tirei aquela cara padrão do Blogspot e inseri o muro chaveado que é possível ver logo acima. Também coloquei um menuzinho do tipo combo para fazer uma filtragem por área. Como há textos que se encaixam em mais de uma área, é evidente que serão listados mais de uma vez. Também providenciei uma revisão completa dos textos e criei uma espécie de distintivo, o tijolo com a chave, que será explicado ao longo deste texto.
Não cheguei a pensar que este blog atingiria este volume. Na verdade, imaginei que ele duraria pelos verões necessários à conclusão de meu projeto pedagógico. Para quem não sabe, o projeto é uma exigência na conclusão dos cursos de formação de professores, as famosas licenciaturas, e acompanham o restante do pacote, que inclui TCC, estágio com suas centenas de relatórios, análise de plano gestor, atividades acadêmicas e culturais, planos de aula e etc. Só que, na medida em que escrevia e divulgava meus textos, percebi uma repercussão positiva em meus leitores, o que acabou ampliando sua existência para o indecifrável tempo que o destino quiser. Por isso mesmo, resolvi abrir o espaço desta 100ª postagem para os meus “clientes” mais habituais, e desta forma satisfazer algumas de suas curiosidades e recolher novas sugestões de temas. Vamos lá.
- - -
Comecemos em casa – a Deborah pergunta o que me levou para a Filosofia.
A lembrança mais remota que eu tenho da Filosofia como disciplina acadêmica remonta ao final da década de 70 ou começo da de 80, não lembro bem. Existia um programa de televisão que consistia em uma competição básica de conhecimento entre faculdades, uma gincana; havia lá suas atividades físicas também. Cheguei a pensar se não foi o “É proibido colar”, comandado pelo hoje festejado Antonio Fagundes, mas acho que não. Se não me engano, este último era destinado a colégios. Bom, passons... Lembro-me de que todas as vezes que o pessoal da Filosofia da USP ia ao programa, mandavam muito bem nas provas de conhecimentos e muito mal nas desportivas, gerando um estranho equilíbrio nos certames dos quais participassem. Colocando na mesa a questão prática típica das crianças, perguntei a mim mesmo: “Qual é o trabalho de quem se forma em Filosofia? O que faz um filósofo? Para que serve a Filosofia?”. Não sei por que, mas esse tipo de pergunta, tão frequente ainda hoje aos alunos, ficou meio que fixada na minha cabeça, e foi colocada como hipótese – muito embora os discursos fossem invariáveis: “Só se você quiser morrer de fome”.
Eu não quis. É claro que esse motivo não era suficientemente sério para me guiar ou desviar da faculdade. Segui o caminho das minhas atividades momentâneas, o que me levou à contabilidade e à informática, mas o tempo trouxe maturidade e, bom leitor que eu sempre fui (modéstia a parte), comecei a buscar em obras filosóficas as respostas a questões concretas que nem sempre a literatura conseguia me trazer. Acabei me encantando com o processo de construção do conhecimento através dos tempos, e, quando tive a oportunidade de mais uma vez cursar o superior, resolvi fazê-lo por gosto, e não por exigências “mundanas”.
- - -
A Rê Cabaleiro – uma das mais citadas freguesas deste espaço – me pergunta em que (ou como) me inspiro e qual a relação com meu modo pessoal de pensar.
Bom, a proposta do blog é extrair Filosofia do quotidiano, das coisas que se passam no dia-a-dia. É causar discussão não a partir das grandes questões universais, mas chegar a elas através das notícias que leio, das coisas que vejo nas ruas, dos alimentos que como, das músicas que ouço. Uma das maiores dificuldades que percebo, em especial nos mais jovens, é associar questionamentos mais aprofundados com o mundo que os rodeia. Isso torna a disciplina tremendamente chata e pesada. Se é apresentada a um aluno uma tese epistemológica elaboradíssima, o resultado é tédio e desprezo. Entendo que é técnica muito mais eficaz apresentar um caso do quotidiano e, a partir dele, mostrar que já houve pessoas que pensaram cuidadosamente na questão.
Evidentemente há assuntos que me tocam mais de perto. São coisas que se passam na minha cabeça sem nenhuma motivação especial, e ficam a espera de ser revolvidas por algum acontecimento qualquer. Uma postagem no Facebook, por exemplo, pode disparar um processo de confecção de texto. Uma cena na rua. Um filme. Um almoço. O bom da Filosofia é que tudo pode ser fonte de inspiração. Mas também trabalho “sob encomenda”. Há quem tenha dúvidas sobre determinado assunto, queira saber um pouco de minha visão sobre determinado tema, e nesse ponto minha persona professor entra em ação. Em geral, já tenho algum tipo de “forma bruta” do objeto requisitado, e então me ponho a pesquisar e elaborar melhor tais pensamentos. É processo por vezes lento.
Procuro apresentar visões variadas sobre um tema específico. Nem sempre coloco em tela posições com as quais eu concorde, mas procuro discorrer sobre elas da maneira mais isenta possível, até mesmo porque não posso me arrogar o direito de portar a verdade – pode ser que nada do que eu penso seja real. Mas, evidentemente, minhas posições pessoais acabam por “contaminar” meus textos, até porque minha ideia não é produzir textos acadêmicos, mas dar um estímulo ao pensamento, abrindo leques de opções a quem me lê.
- - -
A Ná Cabaleiro – irmã da Renata anterior - me pergunta onde escrevo meus posts, e de onde tiro argumentos para escrever.
Basicamente, não tenho um lugar específico para escrever, algo como um quarto ou escritório, mas há alguns locais onde, com certeza, carrego meu caderninho para dar tratos à bola e redigir pelo menos o grosso dos meus textos. Um desses lugares, como falei em outras oportunidades, é a feira de orgânicos do Parque da Água Branca, enquanto aguardo as compras da minha inseparável Mimi, e, vez por outra, da retro mencionada Deborah. Não tenho muita paciência nem qualificação para selecionar os melhores chuchus (argh!) ou saladas, então fico tomando meus litros de café enquanto aguardo e escrevo.  Outro bom lugar para redigir é a Praça Buenos Aires, onde, vez por outra, passos meus parcos minutos de almoço revisando minhas escritas. Também aproveito salas de espera de médicos, dentistas e veterinários, muitas das vezes demorados e solitários. E, claro, na minha casa, sem lugar e hora prefixados.
Os argumentos brotam do dia-a-dia, como já expliquei, mas não escrevo a esmo. O trabalho de redação sempre implica em pesquisa, e, como tenho a responsabilidade de não escrever bobagens, essa tarefa pode acabar levando muito tempo. Como meus jovens leitores eventualmente me pedem para desenvolver textos específicos, preciso me aprofundar nesses assuntos, que nem sempre estão muito claros na minha mente. Às vezes o texto sai quase no fluxo da consciência, mas quase nunca é assim. Normalmente, consulto a estante da minha casa, onde tenho livros, apostilas e anotações da faculdade, mas também uso bastante a internet. Se for o caso, vou até a biblioteca e consulto uma obra específica. Já cheguei a fazê-lo unicamente por causa de uma temática, o que dá medida da seriedade com que tento manter meu espaço cibernético.
- - -
Vamos para o Bruno Costa, outro afilhado, que me manda belo pacote de perguntas, e que serão respondidas por tópicos:
1) Uma curiosidade que eu sempre tive é sobre o seu processo de escrita. Se você faz um roteiro, se vai montando o texto no dia a dia;
Varia muito, Bruno, e depende muito do tamanho do conhecimento que eu já tenho sobre o tema e sobre o tanto que preciso pesquisar. Às vezes faço de fato algo como um “roteiro”, em geral pontuando os tópicos que preciso enfatizar. Redijo os trechos e depois me ocupo de costurá-los. Há momentos em que estes tópicos já se tornam fixos, mas há coisas que vão surgindo na minha cabeça, seja no processo de escrita, seja em uma destas avenidas quaisquer, seja em algum bate-papo, quando, do nada, pinta uma correlação. Raramente, o texto sai no correr da pena, mas acontece de vez em quando. E às vezes a escrita vai sendo montada sequencialmente, como se fossem os vagões de um trem.
2) ...como você escolhe os excelentes livros e filmes que vai indicar. O processo de inicio ao fim. Desde a ideia e a conclusão.
Em geral, as obras que indico são aquelas com as quais me socorri em pesquisa. Há também textos que nascem da própria leitura de uma obra, ou de algum filme ou peça que assisti, também estes são processos do quotidiano que me inspiram a escrever. Há muitos casos em que busco, além de uma recomendação mais direta, alguma referência mais lateral, procurando enriquecer a compreensão.
3) E a outra curiosidade é em saber o que esse blog significa pra você, se funciona como um diário público, ou um caderno de estudos, ou talvez algo como uma coluna particular. Enfim como você vê isso o que você faz e com que objetivos.
É tudo isso, separado ou misturado. É um diário público (não “diário” no rigor da palavra, bem entendido, já que o atualizo somente quando possível), porque há o propósito não só de propor temas, mas de emitir opiniões sobre eles, além de desafiar meus leitores a também fazê-lo. É um caderno de estudos, porque reflete meus anos de aprendizado na faculdade e leituras autônomas, bem como de participações em palestras e muita coisa que assisto/leio na internet, filtrando e sintetizando o que obtenho de mais interessante. E é também uma coluna particular porque, lembrando que nunca somos totalmente isentos (por mais que devamos tentar sê-los), serve para marcar minha posição sobre inúmeros temas. Tanto é verdade que, nas redes sociais, respondo – raramente, é fato – a algumas postagens com o compartilhamento de meus posts.
- - -
Minha afilhada Jéssica Araújo (Jazz, para os íntimos) pergunta: qual autor que te traz mais coisas boas e pensamentos positivos sobre a vida, já que a Filosofia nos deixa meio “bad” às vezes. Ela quer saber se há algum autor que faz o inverso.
Vai ser um pouco mais longo. É difícil responder isso, tenho até mesmo uma certa dificuldade em estabelecer qual corrente filosófica mais influenciou meu pensamento, porque é a típica perspectiva que deveria vir de fora; alguém da área deveria ler meus textos e dizer: “Ah, isso aqui se assemelha a Fulano, aquilo ali é influenciado por Sicrano”, e assim por diante. É uma coisa interessante: músicos adoram revelar influências, escritores já tem dificuldade em admiti-las. Como não sou uma coisa nem outra, fico entre a cruz e a caldeirinha. O que posso dizer é que meu filósofo favorito é Schopenhauer. Isso quer dizer que sou pessimista? Sim.
O grande problema é que a Filosofia não olha os problemas pelo seu lado bom; olha-os pelo seu lado real. E isso faz com que todos os aspectos de uma questão tenham que ser colocados na mesa, com seus aspectos positivos e negativos. Como a Filosofia procura por problemas, em geral temos mais aspectos negativos sendo tratados.
Por isso mesmo, os filósofos que observaram as limitações e fraquezas humanas sempre dão uma aura de mau humor aos seus escritos, mas isso não é algo proposital: é inerente à sua obra. Imagine o trabalho de um médico: ele é composto por vidas salvas, por partos bem sucedidos, por correções de anomalias, por indicação de medicamentos que aliviam as dores, e isso é muito bom, traz felicidade e realização. Mas há também o fracasso, erros médicos, vidas interrompidas. Há socorro para pessoas acidentadas, rostos desfigurados, vítimas de crimes, membros amputados, doenças permanentes, e mortes (Há inclusive um aconselhamento geral para que os médicos não cliniquem pacientes queridos, como parentes e amigos, para que seja possível manter a serenidade e o juízo crítico diante das dificuldades que possam ser encontradas. Imagine, por exemplo, um médico que esteja fazendo uma cirurgia no seu próprio filho, e que ocorra uma hemorragia inestancável. A possibilidade de que este médico entre em desespero é tão grande quanto indesejável, portanto o ideal é que alguém isento e mais distante seja acionado).
Com os filósofos ocorre o mesmo. Seja ele otimista ou não, encontrará dificuldades de manter uma mensagem positiva sempre. A não ser que escreva auto-ajuda. Aí, é fácil. Mas não é Filosofia (leia aqui).
Isso quer dizer que só encontrarei depressão em leituras filosóficas? Não, evidentemente. Quando a Filosofia investiga coisas que não derivam do caráter humano, ela é neutra. Filosofia da Linguagem, Física pré-socrática, Estética e outras áreas podem ser lidas sem que se tenha vontade de chorar, e há algumas obras que falam do caráter humano por um viés mais voltado para a felicidade. Rousseau, por exemplo, acha que o ser humano nasce bom e o mundo ao seu redor o distorce. Portanto, mesmo que Rousseau navegue pelas dificuldades das relações humanas, tem no substrato de seu pensamento a crença nessa bondade natural, e o ápice desta crença o levou a produzir uma de suas obras-primas, Emílio, em que discorre sobre um método educacional para manter nas crianças esse espírito benévolo sem que se mantenham ingênuos perpetuamente.
Vou mencionar dois filósofos contemporâneos que versaram parte de sua obra ao estudo da felicidade, e que produziram livros mais leves, por conseguinte (ótimos, por sinal). Um deles é Bertrand Russell, filósofo da linguagem por excelência, que tenta encontrar na supressão do egocentrismo o melhor caminho para a felicidade humana em seu livro A conquista da felicidade. O outro é Julián Marías, filósofo espanhol mais recente ainda, que no seu livro A felicidade humana discorre sobre a felicidade de forma muito simples: os homens já não conhecem o que é a felicidade pelo simples fato de não pensaram mais nela, de não refletir se o modo como a sociedade nos coloca diante dela é o que realmente pode nos conduzir a este estado. Vou mencionar as referências mais abaixo.
Para finalizar, em geral, gosto dos filósofos que mataram charadas: Demócrito com o atomismo, Kant com a epistemologia da razão, Wittgenstein com a teoria pictórica, Nietzsche com a vontade de potência, Bergson com a intuição... Principalmente quando observamos a batalha de séculos que a humanidade teve para que estes filósofos tenham sido vetores da síntese destes pensamentos.
- - -
A Darci Bernardo Cagnin, que para quem não sabe é mesmíssima Mimi que há 25 anos é minha patroinha, quer saber se tenho algum texto do qual me orgulhe mais.
Eu diria que não, pelo menos a princípio. Mas, relendo todos eles, percebo que alguns são mais fortes que os outros. Alguns ficaram datados, em outros ficou faltando encaixar melhor os contextos, mas eles vão ficar como estão. Refletem um momento do meu pensamento e servem como registro histórico. Se eu quiser revisar seus conteúdos, fá-lo-ei através de uma nova postagem, fazendo as devidas remissões. Mas gosto muito da maneira que redijo meus escritos.
Certa vez, a Renata mencionada na segunda pergunta reparou que, no decorrer de minhas aulas, eu sofria uma certa “transformação”. Em geral, iniciava um tema com linhas gerais, passava para a experiência pessoal, em um tom bastante coloquial. Na medida em que avançava para as teses e teorias extraídas dessas observações, eu adotava uma linha cada vez mais professoral, abandonando paulatinamente a informalidade, ganhando mais e mais coesão na fala, e até mesmo mudando postura e tom de voz. É como se eu começasse a “incorporar” uma entidade professor externa a mim.
Fazendo a revisão gramatical dos meus textos, percebi que também aqui este fenômeno ocorre. Muitas vezes saio de uma coloquialidade quase de boteco para partir a um português escorreito, feito de palavras raras. Pensei uma boa meia hora sobre a questão, e me lembrei do quanto uma leitura legal pode se transformar em um enfadonho texto acadêmico, e decidi que mudar a maneira de escrever seria desnaturar este espaço. Afinal, escrevo do mesmo jeito que gosto de ler – um texto leve na introdução e nas pinturas de pavão do tema, e um pouco mais de seriedade ao se tratar do miolo da questão. No final das contas, essa é a maneira mais espontânea que tenho para registrar minhas ideias. Textos acadêmicos devem ser sérios e é importante que sejam assim, mas este não é um espaço da seriedade, mas da Filosofia que podemos encontrar no café e nas abelhas. Não são textos para serem citados em artigos, mas para estimular seus leitores a buscarem suas próprias pesquisas.
Ela também quer saber se houve algum texto em que eu espelhe mais a minha tristeza. Bom, já falei inúmeras vezes sobre a morte e a angústia, e como, de certa forma, meus textos refletem um estado de espírito, pode dar a impressão que eu estava entristecido nesses momentos, mas isso não é tão intenso quanto possa parecer. Pelo menos não todas as vezes em que abordei temas como esses. São assuntos por vezes difíceis de encarar, por isso mesmo necessitam de seriedade no trato.
Mas há um texto em que eu estava de fato tomado de torpor. É o post intitulado “Por que nos envergonhamos de dizer ‘eu te amo’?”, por motivos óbvios.
- - -
O Marcos Santos faz pergunta semelhante: algum texto de maior impacto?
Bom, neste caso, usei a ferramenta de estatística do próprio Blogger. Ela indica, em números absolutos, que estes são os meus 10 posts mais lidos:
6º - A concepção de boa arte (colaboração de Vitor Bertalan)
Não tenho muito a extrair desta lista. O líder, inclusive, foi feito bem despretensiosamente, e não chutaria nunca que seria o mais lido de todos. Em termos de “audiência”, esperava muito mais de alguns outros textos, mas o incômodo não me leva à depressão. Calculo, pelas estatísticas, que tive arredondadas 8 leituras diárias, mas este é um número crescente. Se levarmos em consideração que a divulgação é feita unicamente através do mecanismo de seguidores do Blogger e da minha conta pessoal no Facebook, não está mal. O que é possível constatar, isso sim, é que toda vez que alguém replica o compartilhamento, o volume de acessos ao meu blog tem interessantes picos, algo de multiplicar por 10 mesmo. Até por isso, aproveito para agradecer a todos os que compartilharam textos meus na internet, porque ajudam este trabalho a se tornar um pouco mais conhecido.
E tem mais uma coisa: é Filosofia, né? O que eu podia esperar? Ganhar minha vida com esse blog? Menos, muito menos...
- - -
O Rogério Raddatz, meu GRANDE amigo de infância, certa feita me questionou por que “Aporias Plurais”, e sugere que eu mencione uma traquinagem muitas vezes repetidas em nossa vida, chamada “Operação Resgate”. Bom, com relação a esta última, merece um texto a parte, que farei em breve. Já quanto ao nome do blog, peço um pouco de paciência e que sentem, porque lá vem história.
Bem, é evidente que primeiramente decidi pelo blog como projeto pedagógico, para depois escolher um nome. Não ia ser tão pouco criativo a ponto de chamá-lo de Blog do Décio, por isso queria pegar um nome relacionado à (oh!) Filosofia. Pensei inicialmente em Panta Rei, o “tudo flui” de Heráclito, mas achei que estava meio nada a ver, era só um nome bonito, sem muita coerência com a proposta, além de um motivo muito mais grave (e o único verdadeiro – o resto é balela): o nome já estava ocupado no Blogger. Sem mais ideias imediatas, baixei um dicionário de termos filosóficos para buscar inspiração e estudar algumas hipóteses: paideia, maiêutica, episthéme... De repente, estava lá:
Aporia (gr. aporia: impasse, incerteza): 1. Dificuldade resultante da igualdade de raciocínios contrários, colocando o espirito na incerteza e no impasse quanto à ação a empreender.

2. Dificuldade irredutível, seja numa questão filosófica, seja em determinada doutrina. Em outras palavras, dificuldade lógica insuperável num raciocínio. Uma objeção ou um problema insolúvel: tudo o que faz com que o pensamento não possa avançar.

Aporia... Um nome pequeno-burguês para beco sem saída... Por que não? Parecia se encaixar bem ao propósito do trabalho, afinal é bem frequente se ver em frente a um muro intransponível de nossas dúvidas, sendo que a única chave que temos para abri-lo é o nosso próprio raciocínio (perceberam que já estou explicando a simbologia recém-nascida da decoração deste blog?). Reservei.
Vamos testar o nome no Blogger? Já existe! Merda...
Voltemos ao glossário. Ethos, logos, pathos, plethos... Plethos! Pluralidade... Também vai ao encontro da proposta. Não nos defrontamos com um muro feito de uma só aporia, mas de várias. Cada tijolo do muro é uma dúvida, com sua resposta própria (ou “irresposta”), e desse paredão emerge a barreira entre nosso conhecimento e nossa ignorância. Parecendo bom, vamos testar e, desta vez, com sucesso. Meu blog se chamava Plethos, que é o seu endereço até hoje.
Mas a ideia da multiplicidade das aporias me pareceu tão boa, que fiquei com dó de não utilizá-la. Se as dúvidas existem e elas são muitas, temos um “plethos de aporias”. Que nome feio! Temos uma “pluralidade de aporias”. Que nome enrolado! Temos “muitas aporias”. Que nome sem sal! Temos “aporias plurais”. Bom, tá melhorzinho. Fica esse.
- - -
Finalmente, meu sarcástico amigo Lucas Soares (Tio Maza) pergunta, laconicamente: “O que lhe incentiva a continuar com o blog?”, pergunta essa que interpreto como qual o próximo passo que darei neste espaço.
Na verdade, ainda não sei bem. Acho que esta é uma das grandes vantagens do mundo moderno: você tem espaço disponível para expor suas ideias, sua arte, seus palpites e opiniões. Sentia muita falta de algo do gênero quando era jovem. Começava a escrever muita coisa nos meus cadernos, que se perdiam, eram esquecidos, e utilizados como livros de anotações e de receitas. Não sei se isso vai acontecer com meu blog, mas, enquanto eu tiver o que falar e as pessoas quiserem ler, a brincadeira prossegue, porque é o combustível que me alimenta. O que tenho como certo é que prosseguirei adicionando itens paulatinamente ao “pequeno guia das grandes falácias”, e que sempre procurarei traçar roteiros filosóficos das viagens que faço, com foi o caso do “diário de bordo de uma nau sem rumo” e estão sendo as “cartas náuticas para marinheiros de terra firme”. Pode ser que a brincadeira dure anos ou acabe amanhã. Tudo depende do meu tempo, da minha sobrevivência e, para dizer a verdade, da minha vontade, que por ora persiste. Cheguei a pensar em transformar este espaço em um canal do YouTube, mas penso em dois dificultadores: não tenho habilidade para produzir bom conteúdo (no sentido técnico) e não tenho equipamentos decentes. Além do mais, confio muito mais na minha pena do que na minha língua. Pode ser que lá pelo 200º post eu apresente algo parecido como novidade.
Mas, além disso, já tem algum tempo que venho adicionando fotografias, desenhos e outras ilustrações aos textos do meu blog. Os motivos são “publicitários”. Primeiro: na versão mobile do Blogspot, sempre fica exposta alguma das fotos na página de chamadas. Depois: ao compartilhar um texto nas redes sociais (notadamente no Facebook), uma foto torna a chamada muito mais atraente. E por último: como resolvi sempre inserir ilustrações de alguma forma, aproveito para exercer meu bom humor/sensibilidade/amadorismo-com-boa-vontade artístico/(in)habilidade no Photoshop, e uso meus amigos e afilhados como modelos de minhas pretensas fotografias. Peço desculpas, mas é um processo de construção de conhecimento no qual ainda engatinho. Prometo melhorar.
- - -
Alguns outros leitores não enviaram perguntas sobre o blog em si, mas sugeriram temas, que serão desenvolvidos e publicados aos poucos. Quem me lê e interage com meu conteúdo já aprendeu a ter paciência. O Jhonatan Souza, por exemplo, gostaria que eu comentasse sobre a mudança comportamental das gerações, principalmente com as novas tecnologias. A Eliana Souza (não são parentes) pergunta, curta e seca: Por que o homem trai? Meu colaborador Vitor Bertalan quer que eu discorra sobre o apogeu da filosofia árabe e sobre o concílio de Nicéia. São temas amplos, mas instigantes, que serão analisados cada um a seu tempo.
Outros grandes leitores deste espaço são meus sobrinhos Pedro Debs e Paulo Mutuca, e o Marcos Paulo Zaninetti, que não enviaram perguntas, mas a quem agradeço igualmente pela preferência.
Recomendação de leitura:
Vou fazer uma auto-propaganda e convidar a todos que usufruam deste espaço. Há textos sobre todos os tipos de assunto, desde os mais polêmicos até os mais triviais, e vai continuar nessa pegada: posso divulgar textos sobre a existência como ilusão e sobre a qualidade do chá de saquinhos. Tudo é possibilidade filosófica. Ele está aberto a críticas, elogios, sugestões e etc. Quem quiser e achar que o espaço merece, divulgue a seus amigos. Minha intenção é dar uma pequeníssima contribuição para o enriquecimento cultural do país, que precisa escalar muito ainda para reconhecer que a Filosofia não é algo apenas para malucos, mas que pode ser muito bacana de ser lido e debatido.
* Devo admitir, humildemente, que usei um macete sul-americano para considerar este o 100º post publicado. Como decidi fazê-lo meio que em cima da hora, teria que represar as postagens posteriores por muito tempo, o que daria uma quebrada sem precedentes no ritmo das publicações. Desta forma, coloquei uma plaquinha de “homens trabalhando” e toquei minha vida normalmente. Isso tudo porque convidei meus amigos a levantarem os questionamentos, redigi o presente texto em resposta, preparei o novo fundo e o logo, o iconezinho da barra de menu, pesquisei e testei as mudanças de menu e reli texto por texto para fazer a revisão gramatical. Desculpem pela chicana, mas foi feita com a melhor das intenções.
E também seguem abaixo as obras mencionadas na resposta à Jazz.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio, ou da Educação. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
RUSSELL, Bertrand. A conquista da felicidade. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.
MARÍAS, Julián. A felicidade humana. São Paulo: Duas Cidades, 1989.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Estórias de brinquedos e a dor de existir

Olá!

Os períodos de férias (1) são bastante previsíveis, ao menos para quem não é agraciado por fartas disponibilidades monetárias. A televisão brasileira invariavelmente resolve tirar a poeira de algumas “fitas”, e dá-lhe Casamento Grego, Conta Comigo, Curtindo a Vida Adoidado e assim sucessivamente. Um dos habituês dessa reciclagem é a série Toy Story, que em seus três episódios conta a história de alguns brinquedinhos e suas aventuras ocorridas na ausência de seu dono. É um desenho que fez parte da minha, digamos, infância paterna. Assisti a danada inúmeras vezes, em companhia das crianças, a ponto de praticamente decorá-la.

Se gosto ou não? Ah, é legalzinho, bem agitado. Tecnicamente não há nada a debater. A produção é primorosa e muitíssimo bem cuidada, como é costume da dupla Disney-Pixar. Cada detalhe é estudado à exaustão, e somente algum crítico muito chato pode contestar a sua qualidade. É também uma aventura alucinante, que prende a atenção ao máximo, com um roteiro bem criativo, é preciso admitir. Já com relação ao quesito “filosofia”, bem... Podemos discutir bastante seu valor, mas no caso em tela, há observações bastante interessantes a fazer. Seu foco central é uma cantilena sobre o valor da amizade, tudo senso comum. Dá muita agilidade e significado, mas não precisamos colocar o assunto sobre a mesa da maneira que foi tratado no desenho. Valor de amizade é algo muito mais complexo e espinhoso do que foi exposto. Passemos.

Onde a obra acerta em cheio é na maneira como lida com a passagem do tempo. Mas, para isso, é preciso ser vista em seu todo. Assistir as partes isoladamente não ajuda a chegar nesse nível de compreensão. E, apesar de se tratar de um desenho obviamente destinado ao público infantil, e por conta disso estar repleto de carapaças para aliviar a crueza que o assunto poderia atingir, o fato é que ele está salpicado de melancolia. Se essa foi a ideia dos realizadores, estão de parabéns.


Percebam que o pano de fundo da ação da aventura se dá nas transformações do menino Andy. Tudo começa na sua infância menor, no primeiro episódio, passando pela puberdade da segunda parte e chegando às portas da vida adulta, com sua ida para a faculdade. Essa transição, dado o fato de que não é o foco principal do filme, é bastante lenta, espraiada em alguns poucos pontos. Mas ela é bastante marcante porque, ao contrário do papo flácido sobre a amizade, coloca em evidência a mudança da relação que o protagonista tem com o mundo ao seu redor. Levando em conta que as crianças estadunidenses tem uma maneira um pouco mais individualista em suas brincadeiras, podemos achar um tanto estranho o apego tão forte com seus brinquedos, mas não podemos esquecer que nosso modus vivendi também vem se aproximando disso. É, talvez não estranhemos mais tanto assim. E a relação que o menino tem com os seus brinquedos são um espelho e uma alegoria do que ele terá com o outro, ou seja, dão a medida de qual será sua alteridade.

Em um determinado momento, vemos que os brinquedos estão guardados no sótão, o que é uma bela metáfora: a eterna existência através das recordações. Mas também representam a aposentadoria de um modo de ser específico, que é superado pelo aumento da idade. O que mantém os brinquedos guardados é o medo – medo da quebra de vínculo com o passado, com algo que ainda reside em nós, mas que já não nos serve. Não queremos limpar o sótão, mas temos a necessidade de fazê-lo, porque não há espaço suficiente para conservar nosso arsenal de experiência em nossa vida presente, e também não há conveniência social em se manter preso ao tempo em que éramos crianças. O passado precisa morrer para que tenhamos diante de nós a possibilidade de transformação. A vida é cíclica. Como o amor na bela música de Gilberto Gil que me aproprio e improviso nessa hora, a vida “tem que morrer prá germinar”.

Essa alternância em que percebemos os ciclos de morte e novo nascimento é uma constante especialmente rica a partir da juventude, e por isso é possível perceber o porquê da inconstância e rebeldia tão típicas desta fase. É a descoberta e a tentativa de afirmação como adultos, constituindo um conjunto de mudanças e retornos de rumo, uma coisa profundamente angustiante de fins e começos. Cada contingência é elemento motivador para que se vislumbre uma nova vida, que nem sempre pode ser elevada aos patamares da felicidade, às vezes muito pelo contrário. Afinal de contas, costumamos associar a morte à tristeza e o nascimento à alegria, à esperança, à renovação e etc., mas há momentos em que é preciso deixar o romantismo um pouco de lado, e perceber que o parto efetivamente é dor.
Quando digo isso, não penso exclusivamente na mãe, que passa por cólicas poderosas e tem suas carnes rasgadas para a passagem do neófito contribuinte. Esse é o ponto mais óbvio. Mas, para a criança que nasce, imagino que seja o rito de passagem mais dolorido de todos, e é justamente o primeiro. O nascituro está lá, quietinho, quentinho, envolto por água, escuridão e silêncio, quando, não mais que de repente, uma série de eventos sem explicação passa a se suceder. Ele já não é um hóspede, é um corpo estranho. E, como tal, deve ser expulso. Passa a ser comprimido, cada vez mais, até ser embocado em um canal apertadíssimo, que tenta esmagar sua cabeça. É despejado em um ambiente frio, sob uma luz cegante, todo melecado de sangue de sua própria mãe (bem, ele ainda nem sabe disso), já distanciado de todo seu ambiente de proteção anterior. Seu primeiro sinal efetivo de vida não é um sorriso, um olhar de ternura, um gesto de carinho, nada disso. O que indica que uma criança está viva é seu choro. Um esgar espasmódico, extremamente dolorido, das paredes dos pulmões que se descolam, como se fosse fita velcro. A vida começa e acaba com as lágrimas, com o ruído desesperado do próprio choro no princípio, com o ruído desesperado do choro alheio no derradeiro. A experiência do parto só pode ser suportada porque é esquecida, ao menos conscientemente.

Carreguei propositalmente nas tintas para dar mais dramaticidade ao texto, mas o fato é que, ao associar a alegoria do parto e da morte aos diferentes ciclos da vida, que ocorrem em grande quantidade na fase da adolescência, devemos reconhecer que algumas dessas viradas podem ser muito dolorosas, ainda que canalizadas para algum símbolo, como o boneco que se reluta em abandonar.
Explicando melhor. Quando o jovem Andy se vê indeciso em se separar do seu boneco de cowboy, não está preocupado com algum tipo de “ingratidão”, mas com a quebra de vínculos com seu passado. Teme a morte definitiva de sua infância e, principalmente, a incerteza de seu novo parto rumo à vida adulta. Na prática, ele não brinca mais com o personagem Woody. Ele não sonha mais com aventuras montadas a cavalo. Apenas o mantém como mantemos retratos na parede, para que tenhamos uma sensação de pertença universal no tempo, e para que, de alguma forma, o novo parto não represente uma morte completa. Temos medo demais da morte para que tenhamos tantas delas durante a vida.

Temos a ferramenta da memória, mas não a julgamos suficiente. Ela não é concrescível, materializável. Olhar uma foto ou um objeto é apenas uma celebração do resgate do passado, não de sua nova existência. Podemos comemorar uma data importante, um aniversário, um centenário, mas o fato é que o objeto rememorado não está mais presente. O tempo passou e já não somos crianças, já não somos jovens, somos velhos. Isso nos enche de pavor, e por isso é complicado jogar fora as coisas que nos são caras.
Olhando por outro viés, não estou aqui defendendo nenhuma desvinculação, pelo contrário. Adoro fotografias, tenho vááááários livros de memória paulistana, gosto de biografias, tenho alguns objetos meus da época de bebê, bem como de meus filhos e de minha esposa. Sou capaz de ficar horas e horas contando histórias da minha vida, da minha infância e juventude, meus afilhados sabem muito bem disso. É que o diabo da desvinculação já está escrito no momento mesmo em que temos dó de jogar qualquer porcaria fora. É uma dor interior, de não sermos mais o que éramos, e de termos muitas dúvidas do que ainda vamos ser.

E aí temos o grande problema da velhice. Temos um milhão de subterfúgios para renegar o fato de que estamos envelhecendo. Eufemismos como “terceira idade”, “era da experiência”, o horroroso termo “melhor idade” servem para disfarçar as rugas inevitáveis. Temos botox, peeling, plásticas. A vida que era compactada em 50 ou 60 anos está alastrada para 80, 90. Isso é bom enquanto há qualidade de vida, mas, ao contrário do que nos mostra a publicidade, é algo muito raro de acontecer.
A vida hoje em dia é mais longa. O que preencheu mais esse espaço? O tédio. Aumentou o tempo em que ficamos velhos. Não só fisicamente, mas espiritualmente também.  Por isso mesmo afirmamos que a rapaziada parece mais envelhecida, já que temos muito tempo e pouca coisa a fazer.

Eu tenho a esperança, mas também tenho o cansaço. Qual vai prevalecer, na medida em que me torno cada vez mais experiente e, consequentemente, racional?
Temos hoje uma guerra dialética, que, do lado da tese nos obriga a esquecer que somos velhos; e do lado da antítese, que devemos nos cuidar intensamente para viver bem na velhice. O grande problema é que a síntese é quase impossível. A construção social do “novo velho” quer vê-lo eternamente produtivo, cheio de expectativas e projetos, mas não pode deixar de reconhecê-lo como um ser limitado, cheio de necessidades especiais. E temos, dentre outras coisas, o estereótipo de velho ranzinza. Nem sempre a chatice que costumamos atribuir aos velhos significa uma característica que todos terão no futuro. Pode ser uma dor, um incômodo ou simplesmente a sensação de que a morte se aproxima, sem muitos instrumentos para evitá-lo, a não ser cápsulas, comprimidos, pílulas, drágeas, ampolas... E mesmo isso tudo não combate a sensação de ser imprestável, de se tornar um incômodo, um peso a ser carregado. Está aí o medo dos brinquedos de serem abandonados, de não servir mais justamente para aquilo que foram feitos. Haverá sofrimento pior?

É neste sentido que podemos encaixar nosso pensamento ao de Miguel de Unamuno, filósofo, poeta e romancista espanhol que viveu na transição do século XIX para o século XX. De tendência claramente existencialista, Unamuno entendia que a característica mais própria do ser humano é a dor. Essa dor não é meramente física, porque os animais também a sentem, mas uma dor que reside na alma. O homem é o único ser que tem consciência de sua finitude, aliada à incerteza de quando ela se dará. O animal se impacienta pela falta de comida, pelo desconforto da temperatura, e por qualquer outro fator extrínseco. Sem estes, não há dor. Já o homem tem o sofrimento a lhe permear a existência, ainda que nenhum fator externo esteja presente para lhe aborrecer. E, com isso, o homem nunca é completamente feliz. 
Mas esta conclusão não é apenas ontológica. O sofrimento nos humaniza porque ele tem também uma dimensão ética. E isso reside no fato de reconhecermos que o mesmo sofrimento e noção de finitude estão no outro, e não somente em nós. O que nos solidariza é esse objeto de irmandade. Somos iguais na morte e no caminho a ela. Esse movimento fica claro no final da trilogia (que, espero, conclua-se por aí – não entendo que haja mais a ser dito), quando, ainda relutante, Andy entrega seu boneco à menina da instituição. Neste momento, ele vê na menina o ponto em comum que há entre os dois. Também ela crescerá, também ela morrerá e renascerá outras vezes, sentindo todos os problemas de cada mudança de fase na vida, e também ela sofrerá, assim como todo o restante da humanidade, em todos os seus dias.

Cinquentinha tá bom demais, né? Sessenta, no máximo.

(1) Comecei a escrever este texto no verão de 2012!!! Foi ficando, ficando, ficando... e só nos últimos dias resolvi olhar para ele, adormecido que estava em um canto esquecido do meu pen drive. Faz parte. Mas, desde já, informo que é o texto que ficou mais tempo mofando para publicar.

Recomendações diversas:

Obviamente, todos os filmes da trilogia:
GUGGENHEIM, Ralph; ARNOLD, Bonnie; LASSETER, John. Toy Story – Um mundo de aventuras. Filme. São Paulo: Disney Pixar Brasil, 1995. 81 min. Colorido.
JACKSON, Karen; PLOTKIN, Helene; LASSETER, John. Toy Story 2. Filme. São Paulo: Disney Pixar Brasil, 1999. 92 min. Colorido.

LASSETER, John; UNKRICH, Lee. Toy Story 3. Filme. São Paulo: Disney Pixar Brasil, 2010. 103 min. Colorido.

E também o capolavoro de Unamuno, muito bom de se ler, apesar de não ser bom fazê-lo em momentos de baixo astral:

UNAMUNO, Miguel de. Do sentimento trágico da vida. São Paulo: Martins Fontes, 1996.