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quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Cartas náuticas para marinheiros de terra firme - 13º relato: Jaguariúna e o esquecimento como necessidade

Olá!


E eu tirei um fim de semana para ser criança. Crianção mesmo, daqueles bobos, que ficam correndo de lá para cá, cutucando as pessoas e atrapalhando seus afazeres e seu repouso. Tudo isso dentro de um trem, daqueles puxados a maria-fumaça.

Explico melhor. Todo ano, eu aproveito o fim de semana mais próximo do dia 13/01 para comemorar o aniversário de casamento com a patroa. Algumas vezes comemos fora, em outras fazemos alguma viagenzinha. Não tenho grande paciência em fazer turismo nessa época do ano, de muito movimento e pouco proveito, por isso mesmo a volta é mais curta. Este ano, o dia treze calhou no próprio domingo, e fomos enfrentar o sol venusiano que tem nos torrado nos últimos dias para completar o Circuito das Águas Paulista. Só faltava Jaguariúna, a cidade do rio negro das onças, e é para lá que embarcamos em nosso quase-totalmente-pago Bedelho*. Queríamos fazer o célebre caminho férreo da antiga Companhia Mogiana, que vai até Campinas.


Estávamos hospedados em outra cidade, mais especificamente Monte Alegre do Sul, tomando uma fresca após o sábado de sol a pino. Saímos logo cedo para Jaguariúna, objetivando conhecer um pouco mais da cidade antes de se mandar para a região da estação ferroviária. Acontece que encontramos um lugar tão propício para estacionar que resolvemos ficar andando um pouco mais a pé. Passamos meio que de passagem pela praça da matriz, a igreja de Santa Maria, com seu adro e coreto costumeiros. Havia missa, e resolvemos não encher o saco de ninguém com nossos flashes.


Logo em seguida a um café, descemos até a rua Amazonas, intervalo da Rodovia João Beira que contém a principal atração fixa da cidade, a estação ferroviária. Tenho uma triste memória deste lugar: foi aqui que tomei minha primeira multa fora da cidade de São Paulo, surpreendido por um radar de 40 Km/h em uma avenida de quatro faixas. O prédio é um modelo de boa conservação.


É evidente que há modernidades instaladas para facilitar a vida dos transeuntes, já que o lugar é muito frequentado, mas, dentro do que é possível, todo o ar do passado é mantido também pelos equipamentos, como as janelinhas de compra das passagens, os bancos de madeira e os relógios analógicos em pleno funcionamento.


Há ainda a caixa d’água utilizada outrora para suprir os mais de cinco mil litros necessários ao funcionamento de uma única locomotiva, hoje ao lado da lanchonete instalada nos fundos da estação. Notem que as pessoas ainda podem optar por fazer um mais familiar e menos caro piquenique. Não chegamos a tanto: optamos pelo sorvete italiano mesmo.


A estação não é somente a gare de onde partem e chegam os trens turísticos, mas é um núcleo de memória completo. Por isso mesmo, é conhecido como Centro Cultural Zi Cavalcanti. Um dos salões da estação hospeda o Museu Ferroviário, que contém peças, equipamentos e vestimentas necessárias ao desempenho das funções específicas.


Como alguns exemplos, posso mencionar as diversas maquetes e miniaturas de locomotivas e vagões espalhados pelas paredes do museu...


... e destas curiosas pilhas, muito semelhantes àquelas que usávamos em brinquedos e radinhos, só que muito maiores. “As amarelinhas” eram os artefatos produzidos pela Ray-o-vac, como estas abaixo; havia também as Eveready, a “pilha do gato”, e as National, “Hi-top e Hyper”. Às vezes eu lembro de cada coisa...


Uma das coisas mais legais do Centro Cultural é um vagão em que o turista pode se vestir com uns simulacros de roupas de época para fazer fotografias (cobradas, evidentemente). Eles possuem uma gama bem grande de vestimentas, que servem para todo mundo se sentir em uma novela das seis, sejam adultos ou crianças.


Evidentemente, no entanto, a cereja do bolo é o passeio de locomotiva a vapor. Saudade para os idosos, curiosidade para as crianças, fico exatamente no meio termo: andei um bom tanto de trem, mas nunca de maria-fumaça; portanto, trem para mim não são só os rápidos metrôs, mas não chega a ser uma antiguidade, como essa máquina que estava pronta para puxar nossos vagões.


O trajeto é mais ou menos longo, com a duração de três horas e meia, aproximadamente. Como pega pontos bem íngremes, ele não é feito todo de equipamento a vapor, mas de locomotiva a óleo também. Nesta foto abaixo, temos, lado a lado, as duas máquinas utilizadas para nos conduzir até Campinas. A azul é a diesel, e mesmo que não possua todo o romantismo da locomotiva mais antiga, tem uma beleza muito digna. O distintivo é lindo.


Embarcamos no carro 04, embora eu tenha feito questão de pegar a patroa pela mão e puxá-la para percorrer todos os vagões em uso, perturbando a paz alheia. Percebam que é possível sair de um vagão e entrar em outro, o que é uma novidade para os atuais metrôs. Minha esperança era chegar até o vagão da fornalha, mas os condutores, preparados para abestados como eu, tratam de deixar o primeiro vagão devidamente trancado.


Um pouco antes da partida, já com os vagões praticamente plenos, e eu fui fazer a foto clássica da janelinha. Talvez a minha inabilidade seja a responsável, mas aqui é possível perceber pelo volume de luz o quanto o astro-rei estava disposto a arrancar a pele dos pobres turistas.


O momento da saída da estação é um dos ápices da viagem, com as composições que saem e as que ficam acionando seus barulhentos apitos. Há um viaduto de contorno por sobre a avenida que faz com o trem pegue sua rota, entremeada pela região rural de Jaguariúna e Campinas.


Uma das primeiras paisagens que é avistada no caminho é o rio Jaguari, que ajuda a denominar a cidade, e que a abastece. A ponte por sobre ele é alta e completamente invisível para quem está no interior do trem.


A partir daí, o percurso vai se entremeando basicamente por duas espécies de panorama: os longos corredores de mata de ambos os lados (os comissários – ferromoços – informaram que sempre há riscos de faíscas que podem meter fogo na quiçaça. Credo)...


... e as terras cultivadas, algumas delas cheias de história. Essa fazenda abaixo, por exemplo, é pertencente à família Paes de Barros, a mesma da famosa avenida da Mooca, a pátria da qual me exilei. Estamos em plena rota do café do século XIX, e este era um eixo de muita riqueza.


No interior do trem, além dos sorvetes e souvenires, um trio passa de vagão em vagão para animar a galera com músicas de outrora. É o trio Maria Fumaça. A arquibancada acompanha batucando nos bancos de couro, e alguns passageiros mais descoladinhos chegam a ensaiar uns passinhos balouçantes.


No fundo da composição, o vagão-restaurante (chamado de Pullman). Fui arrastando a patroa de fora a fora do trem para chegar até aqui e tomar uma água, pelo puro prazer de dizer “cheguei aqui”. Não há nada de tão especial – talvez tomar sopa fosse um pouco mais complexo no sacolejo.


O trajeto até Campinas inclui, além da própria estação de Jaguariúna, outras cinco. A primeira delas é a estação Carlos Gomes, que é utilizada como uma espécie de oficina mecânica onde são feitos os reparos de locomotivas e vagões, e lá está repleto de equipamentos para consertar.


A estação seguinte é a Desembargador Furtado, e, de todas, é a que está mais estragadinha. Em termos de construção, ok, parece estar sólida e facilmente reparável, mas ainda precisa ser devidamente revitalizada.


Depois, temos a estação do Tanquinho, que tem esse nome porque aqui existia uma espécie de “lava-rápido” para os equipamentos da linha. É aqui onde é feita a parada para os meio-passeios, uma das opções disponíveis. Eu fiz o caro (porém compensatório) percurso completo.


Nesta mesma estação, existe um pequeno museu das telecomunicações, que contém telégrafos, centrais telefônicas, aparelhos e outros que-tais. Estava com a porta encostada, e eu estava babando para dar uma olhada. Nada como uma criança numa hora dessas: uma menina mais atrevida um pouco chegou empurrando a porta e abrindo tudo para a massa ignara invadir. Fiz feio? Fiz feio, mas registrei o que eu queria, em nome do conhecimento.


A penúltima estação antes do destino final é a Pedro Américo, que homenageia o dono da imensa Fazenda São Pedro, que permitiu a passagem da linha de ferro por suas terras, evitando assim os custos da desapropriação ou uma volta gigantesca.



A última estação, na cidade de Campinas, chama-se Anhumas, um rio da região. É aqui que embarcam as pessoas que fazem o trajeto contrário, e onde o pessoal da ABPF – Associação Brasileira de Preservação Ferroviária dá diversas explicações sobre o funcionamento das máquinas, da manutenção da ferrovia e de sua história.



Em uma das marias-fumaças, a justa homenagem ao idealizador deste projeto de conservação, o francês Patrick Dollinger, que desde 1977 reuniu pessoas e recursos para levar a cabo a tarefa de manter o que fosse possível da história ferroviária do país, algo que é relativamente comum na Europa, mas que no Brasil...



Na volta, fiz menos reportagens e apreciei um pouco melhor os cenários, ainda mais que, pelo acordo assinado com a patroa, eu fui na janelinha. Estávamos de volta a Jaguariúna mais ou menos às 16:30. Dava tempo suficiente para passear pela feirinha de artesanato da estação e ainda subir até o Parque dos Lagos, uma espécie de Ibirapuera local.



São dois lagos entremeados por uma via pública, o que divide o parque em dois, e que podem ser intercambiados por um túnel. Deu tempo de refrescar a garganta antes de pegar a estrada de volta, ainda com clima saarauí.



Vamos fazer uma análise dos três tipos de pessoas que eu encontrei nessa viagem. Há as crianças, que se divertem enquanto o tédio não bate; há os bobos-alegres como eu, que procuram aproveitar a oportunidade rara de encontrar uma ponte entre o ontem e o hoje. E há aqueles de mais idade, que tem uma atitude de nostalgia. São, de longe, os mais emocionados com o passeio, que terminam com uma mescla de gratidão por poder reviver um pouco de seu passado e a melancolia de ter ciência de que o seu tempo, assim como as locomotivas, estão ficando para trás.

Já falei neste texto sobre a maneira como as memórias são resgatadas de maneira pouco confiável, o que acaba ocasionando aquela sensação de que “antigamente as coisas eram boas”. Neste outro, mostrei como até mesmo podemos reconstruir maliciosamente nossa memória, de modo a constituir fatos totalmente novos como se fossem reais. Mas há ainda outro ponto importante, que parece controverso: tão importante quanto lembrar é esquecer. É vital até.

A memória é uma coisa difícil de rastrear. Se fizermos bastante força para tentar evocar nossa primeira recordação, vamos lembrar de algumas coisas marcantes ou prosaicas, não há muito como controlar. De uma forma ou de outra, essa lembrança se dará por volta dos três ou quatro anos. Mas isso não significa que seja, de fato, a primeira coisa que está em nossas reservas mentais. Na verdade, há registros de cheiros e sabores desde que nascemos, provavelmente do leite de nossas mães. Não conseguimos lembrar disso porque não tínhamos a linguagem suficientemente desenvolvida, mas não acontece às vezes de termos a sensação de que há algo a lembrar em uma determinada circunstância? Nada mais pode ser do que um registro de uma sensação que obtivemos em um momento anterior à nossa maturidade linguística, e que acabou ficando solta, mas ainda assim existente.

Mas ok, essa memória difusa deixa de fazer sentido a partir do momento em que temos desenvolvimento intelectual suficiente para fazer conexões linguísticas, mas ainda assim não temos nossa memória toda presente, o tempo todo. Uma parte da memória se esvai rapidamente, de modo a ter três destinos: extinção, repressão ou esquecimento puro.

Os dois primeiros não são esquecimentos de verdade. Elas ficam reservados na memória para uma eventual necessidade ou por um acidente que as faça vir novamente à tona. No caso da extinção, é aquilo de mais comum que acontece. Temos espaços na nossa memória de trabalho para que possamos operar o nosso dia-a-dia e coisas mais triviais. Na medida em que não são mais estimuladas, as memórias que ocupam esse espaço vão sendo extintas, não no sentido de ser apagadas, mas de dar lugar para outros pensamentos ativos, e ficam prontas para serem evocadas no momento adequado. É como um pôster do seu time que você tira da parede. Todos os dias, você entrava e saía de casa e via o escrete imbatível, mas a peça envelheceu e você decide recolhê-la. Por um tempo, haverá o estranhamento com a ausência, até que a parede vazia vai fazer parte de sua nova rotina e os onze cavaleiros serão extintos de sua memória. Mas bastará uma reportagem, um bate-papo, uma nova final para que o seu pôster seja resgatado na sua mente. Portanto, não é um esquecimento de fato, mas uma retenção mnemônica.

Na repressão, mecanismo muito estudado por Freud, um determinado fato ou circunstância é “jogado fora” da memória por uma questão de autoproteção, em especial quando causa grande incômodo para a pessoa. Às vezes tratamos de nos forçar a esquecer, tentando pensar em outra coisa, mas o próprio cérebro se encarrega de executar essa tarefa, depositando a memória desagradável no inconsciente. É evidente que novas experiências dolorosas podem fazer aflorar a memória reprimida no consciente, o que demonstra que este também não é um esquecimento na acepção da palavra.

Mas o fato é que esquecemos, para o nosso próprio bem. Existe uma condição patológica que faz com que as memórias não se apaguem, extremamente limitante. É o stress pós-traumático, um transtorno onde uma experiência traumática de natureza grave fica registrada de maneira tão indelével na consciência da pessoa que são frequentes as recorrências do acontecimento a nível mental, como nos sonhos, nos sustos frequentes, na equiparação de situações semelhantes. Isso faz com que a vida da pessoa se torne tremendamente limitada, cercada por recidivas que não se apagam da memória. Imaginemos alguém que sofreu um sequestro violento, onde tenha sofrido abusos e torturas. Se essa pessoa não receber um acompanhamento psicoterapêutico sério, poderá ter suas memórias traumáticas evocadas a cada instante: a cada notícia sobre o mesmo tema, a cada carro semelhante ao que lhe levou, a cada canto escuro como seu cativeiro, a cada pedaço de comida como a que lhe trazia sobrevida, a cada grito como o que lhe berravam. Se nossas memórias não se apagassem naturalmente, viveríamos, todos nós, em um stress pós-traumático permanente.

A própria dinâmica do stress pós-traumático, no entanto, ajuda-nos a entender o que é um esquecimento de verdade e o que não é. As memórias estarão tão mais propícias a ser esquecidas quanto menos ligadas a um contexto de emoção estiverem, o que é extremamente intenso na situação da perturbação mencionada. Mas é um fenômeno muito fácil de experimentar sem grandes consequências. Vou usar exemplos pessoais. Eu lembro muito bem do “7 x 1”. E você também, que sabe bem do que estou dizendo, a não ser que não seja brasileiro ou alemão (ou argentino). Lembro de muitos detalhes. Assisti os jogos anteriores da Copa nos mais diversos lugares: no apartamento das minhas afilhadas comendo pipoca, no meu vizinho tomando cerveja, no meu sogro, que me devolveu a visita no jogo seguinte. Até mesmo no hospital, com minha mãe moribunda, assisti a um dos jogos. No malfadado dia do malogro, acabei ficando sozinho em casa mesmo. Peguei um saco de batatinhas, uma garrafa de cerveja e liguei a tevê do quarto, esticando os joelhos na cama. Lembro que eu estava confiante em uma alienada tradição de que a Alemanha era a maior freguesa do Brasil no futebol de alto nível, e achava que isso ia pesar. Lembro do primeiro gol, inclusive que cocei a cabeça e arranquei uma casquinha dela, o que me fez um pequeníssimo sangramento. Lembro também do inacreditável sacode, quatro gols em seis minutos, e que a patroa foi lavar a louça, puta da vida. Eu tirei a camisa do Timão que vestia, para preservar sua dignidade. É uma daquelas cor de vinho, linda de morrer, com o São Jorge tatuado, a única terceira camisa que eu gostei de verdade. Não a pendurei no mancebo, coloquei-a direto na gaveta, tão pouco o tempo que a vesti. Depois do jogo, finalizado o massacre, estranhamente fui atrás de todas as resenhas possíveis, na tevê, no rádio e na internet. Até ouvir a frase-síntese de todo aquele vexame, se não me engano proferida por José Trajano: “Agora Barbosa** pode descansar em paz”.

Pois bem. Semana passada, o Corinthians jogou contra o São Caetano e eu não me lembro de mais nada, a não ser que vi a partida no mesmo quarto (por uma questão de hábito) e que ela terminou 1 a 1. Se eu estava de camisa, se eu estava descalço, se minha patroa falou mal da vizinha, se o cachorro dormiu nos meus pés, se eu fui antes ou depois no banheiro, não lembro mais nada disso, e nem tenho condições de lembrar. São esquecimentos reais, porque não havia nenhuma emoção em especial para retê-los, como na vergonha de 2014. Era um jogo comum de campeonato, que a gente não assiste no campo porque o ingresso está com o preço exorbitante. A emoção faz uma espécie de lastro que prende toda a cadeia de acontecimentos em um mesmo arcabouço, como se fosse um galho com suas folhas. O vexame de 2014 teve toda uma carga emocional para fixar as circunstâncias que lhe cercavam; a estreia do campeonato paulista, não.

Isso ajuda a explicar um pouco a reação mais emotiva dos mais velhos. O resgate feito de suas memórias traz apenas coisas boas. O tédio das longas viagens, o incômodo do balanço diário, a obrigação de ir e vir ao trabalho ainda que não se queira, todos ficaram pelo caminho, na cova rasa do esquecimento real, ou, no mínimo, sem extrair os cadáveres da repressão ou o mofo da extinção. O esquecimento, no caso, torna doces suas memórias, e ajuda a explicar porque cada coisa no funcionamento de nossos corpos e nossas cabeças são, por si só, fascinantes. Daqui a alguns anos, talvez, quando eu pensar em Jaguariúna, queira repetir a jornada, quem sabe com eventuais netos, para lembrar das fotos e da viagem, e esquecer do calor causticante, único senão que poderia me desanimar.

Recomendação de leitura:

O professor Iván Izquierdo é um argentino naturalizado brasileiro que se especializou no estudo das memórias. Fez algo que é muito bom para nós, membros da plebe rude: traduziu um tema extremamente complexo em termos simples, facilmente compreensíveis. Recomendo fortemente.

IZQUIERDO, Iván. A Arte de Esquecer. Cérebro e Memória. Rio de Janeiro: Vieira e Lent, 2010.

* É um Prisma 2010 verde, que tem se portado muito bem em quase todos os terrenos cruéis que o enfiei (daí o apelido). Se os ventos monetários se mostrarem propícios, devo despachá-lo ainda este ano, porque as coisas são assim mesmo: é um bem a quem trato com um carinho ilusório. Daqui a pouco, não vale mais nada e lá vou eu fazer financiamentos imensos para comprar algo pouquinha coisa melhor.

** Para quem não sabe, Barbosa era o goleiro da seleção brasileira na Copa de 1950, igualmente disputada no Brasil. O resultado foi um vice-campeonato, com uma derrota por virada diante do Uruguai. Barbosa foi considerado o maior culpado, devido a uma suposta falha no segundo gol dos cisplatinos: o atacante Ghiggia entrou de fianco na área brasileira, e o infeliz guarda-redes se preparou para cortar o evidente cruzamento, que não veio – o chute direto entrou no cantinho esquerdo da meta. Barbosa carregou o peso da derrota até sua morte, no ano 2000. Diante do fiasco acachapante de 2014, sua memória foi devidamente (e tarde demais) redimida.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Cartas náuticas para marinheiros de terra firme - 12º relato: Serra Negra e o dia em que máquinas superarão a inteligência humana (será?)

“Se o cérebro cibernético pudesse criar sua própria alma, qual seria a importância de ser humano?”

Olá!


Mas as Cartas Náuticas já não haviam sido encerradas? Já não haviam até mesmo recebido seu epílogo? Acontece que, se vocês prestarem a atenção, verão que eu menciono duas cidades onde não houve tempo de estender minhas jornadas. Falo de Jaguariúna e de Serra Negra, sendo que esfreguei a borracha de meus pneus agora, mais recentemente, nestas belas urbes. Desta forma, reabro o caderno velho de minhas anotações para acrescer mais esta folha, começando pela última, que, na verdade, foi a primeira. Confuso? Confuso. Então, chega de palavrório e vamos ao que interessa. Estamos naquela cidade cujo nome deriva da densidade das matas que recobriam suas montanhas, Serra Negra.



Estamos novamente no Circuito das Águas Paulista, e toda a iconografia deriva do líquido, como costuma acontecer em lugares que tem um marco tão forte a distingui-las das demais. Essa simbologia já começa logo na entrada da cidade, onde há a estátua de uma ninfa, divindade grega simbionte das águas, conforme já expliquei em meu texto sobre São Lourenço, estância mineira cujo circuito é equivalente ao paulista.



É óbvio que está ao alcance da mão abrir uma garrafinha de água em um quentíssimo mês de janeiro, mas a industrialização quebra o encanto da coisa. Por isso mesmo, Serra Negra possui alguns parques onde as pessoas (eu e patroa inclusive) preferem procurar para coletar um pouco de H20 diretamente da fonte. Um deles contém duas, além de peixes para divertir as crianças e bancos para esticar as canelas.



As águas minerais habitam o imaginário popular não só pelo que elas tem de bom, incluindo propriedades terapêuticas, mas principalmente por um certo misticismo que se dá diante de tal elemento, uma espécie de integração à natureza ou um favor divino. Por isso, é comum que sejam vinculadas a entidades que guarneçam a religiosidade, como é o caso das fontes deste parque, uma delas dedicadas a Santo Agostinho...



... e outra a Santa Luzia, padroeira daqueles que tem problemas nos olhos. As águas desta fonte são usadas para lavar e gotejar, como se fossem um colírio espiritual.



Há também o Parque das Fontes, onde estão a fonte São Carlos e a fonte dos Italianos. Eu estava com um pouco de pressa naquele momento, e achei que a casa estava um pouco desarrumada. Desisti rápido dele.



Serra Negra não é turística apenas por sua paisagística e por sua crenologia, mas também por ser especializada na venda de artigos de couro. E como a galera gosta de torrar suas moedas! A região das lojas estava lotada, o que foi um motivo a mais para eu passar ao largo. Preferi conhecer outros recantos urbanos, como a praça do paço municipal, onde está localizada a estátua de um dos seus moradores mais célebres, Ronald Golias.



No mesmo local, há uma fonte dos desejos, onde o pessoal aprecia jogar as moedinhas de menor valor. Gostei muito da estátua das duas divindades se pegando. Como o visual do suposto rapaz é meio andrógino, há quem pensa se tratar de duas ninfas. Eu acho que dá para atribuir a cada um à sua própria fantasia, mas analiso o contexto como um todo. Anatomicamente, o formato do corpo do menino é meio arredondado demais, mas ele está quase que completamente nu, enquanto a moça tem suas partes pudendas mais cobertas. Sei lá.



Por esta ocasião, estava acontecendo o Festival da Cachaça, evento anual recente que celebra o líquido insorvível por dinossauros canoros. Por toda a praça João Zelante, quiosques contam histórias, explicam processos, exibem marcas e oferecem bebericagens para os transeuntes ávidos por diversões etílicas. Bem melhor do que ficar caçando jaquetas de couro.



Serra Negra, região montanhosa como indica o nome, tem todos os predicados para a existência de um teleférico, e ele realmente há. Confesso mais uma vez minha pouca vocação para alturas, mas enfrentar o medo é a melhor fórmula para vencê-lo, e a oportunidade estava à minha frente, como em Caxambu.



É óbvio que, à medida que o balanço vai se equalizando nos cabos e nos nervos, la paura vai amenizando. Se eu fosse um cara religioso, a visão do Cristo imenso no topo do morro provavelmente me reconfortaria. Mas o fato é que você chega lá em cima balançando os pés, já brincalhão.



Quando você vai iniciar a descida, a sensação de vazio no estômago é muito mais forte, porque é aí que você percebe de verdade o quanto você está no alto. Mas é também quando você morre de inveja, morador da Terra da Garoa, ao ver o nível de arborização de uma cidade.



O morro é o Pico do Fonseca, gajo do qual não achei referência alguma. Depois de uns quinze minutos de subida, além da vista da cidade que o mirante proporciona, há uma lanchonete e uma casa de doces (desconsolo dos diabéticos) toda temática, fazendo o ambiente recender a cheiro de chocolate.



Lá dentro, uma série de ursinhos mecanizados simulam uma fábrica da apetitosa e perigosa guloseima. A patroa foi se divertir com a comilança; eu, com os mecanismos – é o que me resta. Mas não estou me vitimizando, só contando essa historinha. As crianças costumam ficar encantadas com as duas coisas.



O lugar foi feito para tirar fotos, inclusive com uma casinha de flores com formato de cogumelo, o que dá um certo ar de misticismo, que flutua entre o onírico e o lisérgico, digamos. É aquele tipo de coisa que significa uma coisa para os petizes, e outra para os marmanjos de cérebros já deturpados. Lembrei do Ventania e de São Thomé das Letras, é inevitável.



Uma das opções na descida do Pico do Fonseca é utilizar o caminho da via sacra. Trata-se de uma ladeira com as estações utilizadas por ocasião da semana santa, quando os fiéis da cidade buscam o Cristo do alto do morro. Também serve de opção para aqueles que não estão a fim de encarar o teleférico na descida, já que é um caminho bem bonito e fresco nestes dias de sol na tampa da cabeça.



É também do alto que fotografei a igreja de São Benedito. Confesso duas coisas: achava que esta era a matriz da cidade por conta de sua beleza e aspecto antigo, e que não estava com muita vontade de ficar visitando templos, do que me arrependi posteriormente, porque observando algumas fotos na internet, notei que tanto esta quanto a matriz de verdade (Nossa Senhora do Rosário) são belíssimas por dentro. Bom, passons...



A pressa era motivada pela quantidade de coisas para fazer em unzinho fim de semana. Há um lugar chamado Alto da Serra, bem alto e fácil de chegar, próximo ao núcleo urbano, e onde o pessoal mais arrojado costuma saltar de parapente.



É um daqueles típicos pontos limítrofes, que divide a área rural e a zona citadina. Como tem bastante vento, eu e a patroa ficamos um bom tempo refrescando a nossa contemplação, apesar da quantidade expressiva de motos com seus borozinhos abertos. Queria ter pego um dos buguinhos para dar um rolê, mas estava caro para um cacete, prejudicando o orçamento da massa proletária.



Um pouco mais enfiado para o mato, fica a adega da família Silotto, que comercializa vinhos, cachaças, outras bebidas e petiscaria para acompanhar.



Eles têm o ótimo hábito de preservar sua história, que pode ser comprovada através de fotos e documentos, como é o caso do atestado de liberação abaixo, datado da década de 40 e mantido como uma relíquia da casa (que é, de fato).



Esse interesse na própria história e da cidade onde vivem gerou a possibilidade de montar um pequeno museu da cachaça dentro de uma barrica simulada. Lá dentro, aparelhos rústicos, peças, utensílios domésticos e pôsteres contam a história da família em sua busca por um recanto de paz após sua saída da Itália.



Serra Negra é toda bonita, mas o que há de mais original e curioso é a Disneylândia dos Robôs, obra do mecânico Pedro Tomé, que agrupa todo tipo de parafernália eletromecânica e aproveitamento de sucata para construir seus autômatos.



O lugar é diversão garantida para a molecada, mas há muita coisa com as quais os adultos podem se divertir, principalmente rememorando seus tempos de criança, ora essa. A maioria das peças possui algum tipo de mecanismo que lhe permite a movimentação, a iluminação ou ambas as coisas. Este grou, por exemplo, move sua cabeça e seu rabicho, e é construído de modo a se observar com facilidade como as engrenagens se movimentam.



Outro artefato que permite o mesmo efeito é o robô ciclista, sem dúvida um dos favoritos da casa. Aqui, a criança consegue perceber como um motorzinho aciona toda uma cadeia de pequenas peças, de modo a emular o que ocorre com o próprio corpo humano. Interessante.



E o que me fez filosofar? Um capacete. Um mero e bobo capacete com uns trecos presos nele, que as pessoas podem pôr para ter a sensação de como seria uma “máquina de pensar”, tipo daquelas do Professor Pardal.



É óbvio que o capacete é só uma brincadeira, embora ele tenha me colocado para pensar de fato. Não pela estimulação de meus neurônios por alguma espécie de pulso elétrico, mas porque me recordou do desafio cada vez mais palpável de se integrar homem e máquina, ou de que produzamos equipamentos que se comandem independentemente de interveniência humana.

O homem moderno sempre teve encantamento com os robôs. E medo também. Um autômato que o substitua nas tarefas monótonas, pesadas ou arriscadas é um grande sonho de consumo, mas a execução destes trabalhos demanda um determinado nível de “raciocínio” – uma programação em que a máquina tome decisões. E isso é o que assusta. Mas o fato é que os computadores caminham para uma capacidade de processamento difícil de conceber, e as revoluções que imaginávamos nos Jetsons foram por caminhos bem distintos.

Como eu já disse neste texto, ainda que de forma não intencional, um computador parece processar suas informações de modo muito semelhante aos processos mentais. Tudo começa com “0” e “1”, o sistema numérico binário. Essa arquitetura nasce da ideia genial de Joseph Jacquard, engenheiro e tecelão francês, que criou um tear totalmente automatizado. Quem já viu uma confecção de tapetes sabe do que se trata: os fios precisam passar para lá e para cá da peça a ser tecida, de modo a constituir uma trama de cores e relevos. A sacada de Jacquard foi perceber que esse trabalho seguia um padrão, que poderia ser reproduzido em um gabarito que determinaria quais fios traspassariam a peça em cada passo. Se há um furo no gabarito, o fio passa; se não há, não passa – simples assim. Essa é a base que veio desembocar na máquina de Von Neumann, que nada mais é do que esse aparelhinho que você tem à sua frente neste momento, um computador. Dentro dele, há circuitos repletos de “zeros” e “uns”, os bits, e o conjunto deles formam um código que possui um significado, o byte. A coisa funciona mais ou menos assim: imagine que um bit é uma lâmpada. Se ela está acesa, seu valor é 1; se está apagada, é 0. No chip de um circuito, há milhões e milhões de pequeníssimas áreas que podem ser sensibilizadas eletronicamente. Se estiver, o processador entenderá que ali temos o número 1. Do contrário, temos um zero. Esse é o tal do bit (binary digit), a menor unidade de informação possível. Isoladamente, isto não quer dizer muita coisa, mas se agruparmos uma cadeia de bits podemos codificar qualquer informação que precisemos processar ou armazenar. Em um sistema de 8 bits, o computador faz a leitura de oito informações para formalizar o seu significado*.  Assim, se existir uma sequência formada por 01000001, entender-se-á que a informação é uma letra “A”, se for 11011000 é um símbolo de vazio (Ø) ou 10101001 é um símbolo de copyright (©). Como são possíveis dois estados em oito posições, o que eram meros 0’s e 1’s transformam-se em 256 possibilidades, o que é muito mais do que o alfabeto e os algarismos juntos.

Temos aqui então duas coisas. Desde os gabaritos de Jacquard, desenvolvem-se sequências lógicas para a descrição das tarefas, que são algoritmos; e estes são expressos por uma estrutura binária, algo como dicotomias passa-não-passa, aceso-apagado, presente-ausente, aberto-fechado, com a combinação desses estados formando uma representação. Pois filósofos da mente, apoiados por descobertas da neurologia, têm entendido que os processos mentais e o funcionamento computacional são bastante correlatos. Elementos naturais, sociais e culturais moldariam o algoritmo mental, de forma que já existiria uma lógica preestabelecida, e os neurônios plasmariam o binarismo, na base do excitado-não-excitado, agrupando-se para formar significado (de forma bem simplificada).

E aí vem a reflexão. Se encontramos uma maneira de reproduzir o método de funcionamento mental, é possível aperfeiçoá-lo ao ponto de considerá-lo inteligente, ou seja, até o momento em que ganhe autonomia. É a tal da inteligência artificial. Tem gente que considera que os tais bots já possam ser considerados como IA, mas, para mim, isso é otimismo demais. O que me parece inevitável é que se chegue efetivamente a um nível de sofisticação em que máquinas consigam tomar decisões por si só. E, uma vez atingido esse ponto, a barra só tende a subir, até chegar ao lugar de viragem que mete medo em tanta gente: a singularidade.

Singularidade é um termo utilizado em muitas áreas, como Astronomia e Matemática, e geralmente diz respeito a fenômenos particulares, que não são muito bem definidos e previsíveis através de fórmulas. Um deles refere-se a buracos negros (leia aqui para saber mais sobre a vida das estrelas). O colapso gravitacional a que são submetidas as maiores estrelas leva a um ponto de densidade infinita, o que impossibilita qualquer cálculo, e, consequentemente, qualquer previsão do que acontece no interior desses misteriosos ralos cósmicos. É impossível delimitar quais as leis físicas continuam válidas dentro de um destes, justamente por conta desta singularidade. Outro exemplo é a divisão por zero. Qualquer número, por maior ou menor que seja, pode ser o denominador de uma fração, com exceção do zero**, por se tratar de um absurdo matemático. Portanto, em uma fração do tipo x/y, o denominador y pode assumir qualquer valor, com exceção do zero. Na representação gráfica de uma equação que envolva a passagem por uma operação como essa, a divisão por zero representa uma quebra, algo inexprimível por aquela equação, e isto é um ponto de singularidade. Veja como o gráfico da função f(x) = 1/x é descontínuo:



(fonte: http://www2.mat.ufrgs.br/edumatec/cursos/trab2/inversa.htm)

Podemos notar, portanto, que a singularidade representa uma quebra de paradigmas. No caso da tecnologia, um antigo vaticínio proposto por Gordon Moore diz que, a cada um ano e meio, os processadores dobrarão sua capacidade de trabalho. Essa previsão, apesar de ser preponderantemente intuitiva, tem se mostrado próxima da realidade, e chegará um momento em que a curva da hipérbole que esse crescimento representa se tornará tão vertical que não será mais distinguível das próximas evoluções possíveis. Alguns pensadores entendem que esse ponto de inflexão coincidirá com o momento em que a capacidade de processamento de um computador superará a do cérebro humano, com consequências imprevisíveis.

Isso tudo me faz parar para pensar. Dá para entender como o momento em que nós, humanos, perderemos o nosso trono e ganharemos a quarta ferida narcísica***?

Há muito para especular, e pouco para ter certeza. Com relação à duplicação da capacidade de processamento a cada ano e meio, é preciso ter em mente que a profecia dá certo não por conta de um vislumbre transcendental de Moore, mas porque as indústrias de processadores colocaram historicamente este número como meta de produção. E, sim, têm conseguido cumprir os cronogramas. Só que, a persistir o modelo de arquitetura vigente, haverá um limite nesta hipérbole, que diz respeito aos materiais utilizados. Tudo o que vou falar a partir de agora é grosso modo.

É preciso compreender que a melhoria dos desempenhos dos processadores se dá na medida do aumento da frequência que os pulsos elétricos passam pelos circuitos e na diminuição do tamanho da área que consegue reter uma informação. No limite do limite, esse tamanho será de um átomo, irredutível daí para frente, e só uma nova revolução tecnológica imprevisível poderá fazer a progressão continuar. Já há a ideia da computação quântica, o que exponencializaria as possibilidades, mas ela ainda está na prancheta, à espera de viabilização.

No entanto, quando a singularidade chegar, não espero que tenhamos computadores com consciência, e que possam se revoltar contra os humanos. Talvez façamos um pouco de confusão entre inteligência e sabedoria. O inteligente não é necessariamente sábio, porque este consegue intuitivamente colocar o conhecimento que possui no lugar certo e na hora certa. Se pensarmos em um robô decidindo o que fazer na iminência de um acidente, ele adotará os princípios morais que nós imputarmos a ele, e não o contrário, como faz o célebre autômato HAL 9000, do filme 2001, uma Odisseia no Espaço. Também não me parece tão plausível, ao menos para os próximos tempos, que a integração entre máquinas e humanos carreguem efeitos maléficos, muito pelo contrário. Quando vemos o ambiente sombrio retratado no anime Ghost in the Shell, por exemplo, podemos supor que o limite entre o que é humano e o que é fruto da evolução da informática ficará cada vez mais enevoado. De fato, como diz a heroína da obra, Major Motoko, conforme a epígrafe deste texto, há uma expectativa de dissolução entre as fronteiras dos pensamentos humanos e artificiais. A resposta não é simples, mas parte do princípio de que todos estes questionamentos se originam em paradigmas da espécie bípede implume. Por enquanto, somos nós que estamos fazendo as perguntas e imputando os valores que servirão de fundamentos para as respostas. Se uma máquina quebrar a barreira, não da inteligência, mas da consciência ou da sabedoria, aí sim veremos um mundo diferente se descortinar. Por ora, não faz sentido queimar a mufla com isso. Já nos basta o sol de verão em Serra Negra.

Recomendações de filme:

Ghost in the Shell é um anime oriundo de um mangá de mesmo nome, que estou caçando entre meus amigos nerds para ler e comparar. A animação é uma distopia fenomenal, cujo foco está mais nos conflitos existenciais da protagonista, cuja única reminiscência humana é uma parte de seu cérebro, do que propriamente nas cenas de perseguição e combate, ótimas também. Em 2017, foi lançada uma versão cinematográfica, mas não estou tão animado em assistir, não.

OSHII, Mamoru. Ghost In The Shell. O Fantasma do Futuro. Filme. Cor. Japão: Flashstar, 1995. 83 min.

Stanley Kubrick é um gênio eclético, que sabe desenvolver boas histórias diante de suas câmeras, com resultados inesperados. Para fãs de ficção científica que gostam de raios e porradas alienígenas, no entanto, haverá decepção. O filme é pura Filosofia.

KUBRICK, Stanley. 2001: Uma Odisseia no Espaço. Filme. Cor. EUA: Warner Bros., 1968. 141 min.

* Esse significado em geral segue uma convenção traduzida na tabela ASCII (American Standard Code for Information Interchange), que serve para que os sistemas computacionais se compreendam mutuamente.

** Uma maneira interessante de demonstrar a impossibilidade de se dividir por zero é tentar fazer sua suposta prova real. Por exemplo: se queremos demonstrar que 6:3=2, basta que multipliquemos 2x3=6. Isso não dá certo com o zero. Digamos que 2:0=X. Deveríamos supor que 0.X=2, mas isso não é verdade, porque qualquer número multiplicado por zero é igual a zero.

*** As feridas narcísicas são metáforas que Freud usou para representar “tombos” que a humanidade tomou em sua crença na posição de criatura especial, favorecida pelas divindades. A primeira é a descoberta de Copérnico de que a Terra não está no centro do universo. A segunda, a teoria da Evolução de Darwin, demonstrando que o homem descende de um ancestral comum com os demais macacos, e estes, com os demais mamíferos e assim sucessivamente. A terceira é do próprio Freud, que sustenta ser a consciência uma pequena parte do equipamento mental, no mais dominada por um instinto que o iguala a qualquer outro animal.