Marcadores

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Receitas para forrar a pança e para deixar o mundo melhor (Mostra Internacional de Quiches)

Olá!

Sempre que posso, procuro reunir minha galera (que, aliás, vai retratada logo abaixo) para fazer alguma coisa qualquer, pelo simples prazer de estarmos juntos e darmos risadas de nossas estripulias. Foi assim que se deu alguns dias atrás, quando nos reunimos para um “festival” de quiches, com destaque para um de carne seca, construído como se fosse um escondidinho: em uma base de massa podre, carne seca desfiada e refogada com bastante cebola, coberta por uma grossa camada de batatas e finalizado com queijo mozarela (muzarela? Mozzarella? Muçarela?), devidamente gratinado em forno alto. Acompanhou também um quiche de frango com elemento X (o tal elemento X nasceu da desconfiança do meu filho Danillo, que queria saber do que se tratava o ingrediente que dava liga no galináceo despedaçado – nada demais, apenas creme de leite), um tradicionalíssimo de alho-poró e outro de palmito com batata, para atender os veganos/vegetarianos da casa. Na tela da TV transformada em monitor, um review de nossas filmagens do ano passado. Na verdade, um making off.





Como citei, havia um quiche de palmito manufaturado sem carnes, leites ou ovos, para atender a demanda da filha Deborah, vegetariana, e principalmente da afilhada Renata, aquela mesma, vegana. Daí, foi necessário elaborar uma massa a parte, substituindo os elementos oriundos do reino animal por outros de origem vegetal. Para o leite, usei extrato de soja; para os ovos, dei liga com amido de milho, a boa e velha Maisena. Ficou bom, posso garantir. Mancada: fiz gelatina de sobremesa, mas veganos não a consomem, feitas de colágeno de origem animal que são. Juro que eu pensava que era fruto de alguma mezinha vegetal, como o ágar-ágar. Peço perdão. Ainda bem que tinha umas mexericas à disposição.





A questão do consumo de carne tem se aprofundado nos dias atuais. Há basicamente dois motores para discussão: um fisiológico e um ético, e resolvi tratar do tema, soltando meus pitacos. De bate pronto, vou marcar minha posição informando que seu ABSOLUTAMENTE CONTRÁRIO a todo tipo de diversão que implique em sofrimento para os animais. Abomino rodeios, detesto touradas, não suporto brigas de galo, tenho arrepios de pensar em farras do boi. Também desaprovo qualquer forma de abate que implique em sofrimentos longos e injustificáveis aos animais, como faz a extração do fígado do ganso para o paté de foie-gras ou o caldeirão borbulhante para cozinhar as lagostas ainda vivas. Também quero dizer não reprovo NENHUM modelo alimentar, que tento compreender as restrições que cada grupo se impõe e que não tenho nenhum motivo para brigar por conta disso. Isto posto, podemos começar a discutir.


Começarei tentando pensar onde se delimita o que é necessidade física e o que é prazer. Mas antes de tudo, é preciso pensar porque comer é uma espécie de celebração, como a que fizemos em casa, no “evento” que abriu este post.

Não é preciso ter bola de cristal (eu não tenho) para adivinhar o quanto era difícil a vida nos tempos em que o homo sapiens ainda engatinhava como espécie. Em outras oportunidades, já fiz remissões à famosa assertiva de Blaise Pascal: “O homem não passa de um caniço, o mais fraco da natureza. Mas é um caniço pensante. Não é preciso que o universo inteiro se arme para esmagá-lo: um vapor, uma gota de água, basta para matá-lo. Mas, mesmo que o universo o esmagasse, o homem seria mais nobre do que quem o mata, porque sabe que morre e a vantagem que o universo tem sobre ele; o universo desconhece tudo isso”. Não é só sobre o autoconhecimento que Pascal falou nessa frase; também está explícito que a razão é praticamente a única característica que nos mantem vivos: grandes demais para se esconder, pequenos demais para enfrentar feras, fortes demais para prescindir de farto alimento, fracos demais para suportar intempéries. Não nadamos bem, não corremos bem, não saltamos bem, não escavamos bem, não voamos, praticamente não temos faro, nossa audição é pouca, nosso principal sentido – a visão – não tem a acuidade que tem uma águia; nossa pele é frágil, temos poucos pelos, nossas unhas são pastiches de garras, nossos dentes mal conseguem despedaçar uma maçã. Reproduzimos pouco e nascemos extremamente delicados. Mas pensamos. E, por conta disso, chegamos à conclusão que multiplicaríamos em muito nossa possibilidade de sobreviver se vivêssemos em grupo.

O homem aprendeu a se organizar coletivamente e percebeu o quanto isso era proveitoso para coletar, pescar e, principalmente, caçar. Havia grande vantagem em obter uma quantidade mais significativa de proteínas, tornando a raça mais forte e resistente a doenças. Só que, para caçar, o homem se expunha a riscos. Precisava correr atrás dos bisões e outros bichos carnudos em campo aberto, onde podia ele se tornar a presa da vez. Também não era fácil encara o tal bisão: era um animal forte, de chifres pontiagudos, e que não se entregava de graça. Havia uma batalha diária, portanto. E a cada vez que os membros de uma tribo se recolhiam às suas cavernas com uma boa quantidade de alimento conquistado, não havia motivos para tristeza. Muito pelo contrário. Era um dia que não tinha sido vivido à toa, e, aos poucos, os homens começaram a aprender a fazer agradecimentos às suas divindades. O jantar começava a virar uma espécie de ritual.

E ao redor do pobre bisão agora abatido, a tribo toda se reunia, feliz, certamente enumerando as aventuras e desventuras das caçadas, retratando-as nas paredes das cavernas, uns contando mais vantagens do que os outros, com os jovens ouvindo assombrados as histórias dos mais velhos. A comida também é objeto de celebração e interação, garantia de sobrevivência e de repouso tranquilo, ao menos até o dia seguinte. É por isso que é difícil pensar em festa sem comida.

Ocorre que, muitos séculos depois, apareceu um tal de Thomas Malthus, economista estudioso da demografia, por volta de 1800, dizendo que a população cresceria em progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos cresceria em progressão aritmética. Era a teoria populacional malthusiana. Quem tem um pouquinho de conhecimento matemático sabe o que isso significa:


PA: 1+2=3 3+2=5 5+2=7 7+2=9 9+2=11 11+2=13 13+2=15


PG: 1.2=2 2.2=4 4.2=8 8.2=16 16.2=32 32.2=64 64.2=128


Vejam o que isso representa graficamente:





Deu para sentir o caos prognosticado, né? Malthus chegou a essa conclusão analisando o fato de que o crescimento populacional ocorrido em 200 anos havia sido muito incrementado, principalmente motivado pelos avanços científicos e tecnológicos, que proporcionaram um belo aumento na expectativa de vida, aviado pelo combate mais efetivo às doenças e pelo aperfeiçoamento do saneamento básico e da produção de alimentos. Esses fatores ensejaram também o acréscimo da taxa de natalidade. Vidas mais longas, em maior quantidade. Isso representava uma necessidade cada vez maior de produção dos alimentos. Malthus propunha uma diminuição na fertilidade das famílias, mas é óbvio que encontrou a oposição ferrenha de uma série de setores da sociedade, começando pelas igrejas. Como era necessário quebrar esse paradigma, buscou-se o outro lado, ou seja, aumentar mais e mais a produção agropecuária. Só que os meios nem sempre eram os mais saudáveis, seja para as pessoas, seja para o planeta. Devastou-se muito, mudou-se a natureza dos alimentos, desenvolveram-se técnicas químicas de aumento dos rebanhos e de defesa contra as pragas. Desviaram-se os cursos dos rios, aterraram-se áreas pantanosas. Ecossistemas inteiros foram para o vinagre da memória, existindo hoje apenas em livros.

Conclusão: o mundo sobrevive hoje em dia por causa desse monte de tecnologia alimentícia, isso é inegável; podemos até mesmo discutir se era possível outro caminho, só que o fato é que chegamos onde chegamos, e se hoje há deficiências na distribuição dos alimentos, isso se deve mais a questões financeiras do que propriamente pela ausência de comida. Mas isso quer dizer que as coisas devem ser imutáveis, restando a nós apenas nos conformar?

Tem um monte de gente que acha que não, eu inclusive. E uma série de alternativas alimentares tem surgido com o passar do tempo, buscando resgatar um pouco da harmonia ecológica de nosso pobre mundo, muitas delas voluntárias (além das restrições típicas de quem já adoeceu – diabetes e hipertensão à frente).

Comecemos falando dos orgânicos, que, grosso modo, não tem grandes preocupações éticas com o objeto consumido. Sua distinção visa dois objetivos principais: um resguardo à saúde e uma relação menos traumática com o meio ambiente. Isso porque os orgânicos querem reduzir ao mínimo o consumo de alimentos que sofreram algum tipo de intervenção química. Nestes termos, os orgânicos querem consumir alimentos que não passaram por processos de utilização de defensivos agrícolas inorgânicos ou de adubos químicos. Também são descartados os produtos que aceleram artificialmente o crescimento ou a utilização de transgênicos. Em resumo, os orgânicos visam restabelecer o equilíbrio natural do ecossistema, mesmo que isso represente maçãs menores.

Orgânicos não são muito radicais. Consomem carne e derivados de origem animal, que também devem seguir os mesmos princípios das lavouras. Também podem consumir alimentos que não são orgânicos em suas misturas, como é o caso de açúcar e sal. Para garantir a autenticidade do produto que consomem, geralmente contam com associações que somente admitem membros que seguirem à risca as regras de “organicidade” estabelecidas em conjunto, através de inspeções e auditorias, bem como pelo exame laboratorial para captar a presença de produtos inorgânicos.

Em seguida, vamos falar dos vegetarianos. Existe uma gama gigantesca de variações, por isso mesmo vou estabelecer que as menções neste texto dizem respeito ao modelo ovolactovegetariano, ou seja, vegetais mais leite e ovos (com respectivos derivados). Da mesma forma que no caso dos orgânicos, há um componente de busca por mais saúde e cuidados ecológicos, mas o componente ético dá um passo além. O vegetariano não distingue um motivo pelo qual os animais devem ser considerados inferiores aos homens, talvez até mesmo em remissão às conclusões darwinianas de que todas as espécies presentes na natureza humana hoje são igualmente evoluídas – o homem não é uma pérola da criação nem o ponto mais alto da escala natural. Este é um dos motivos pelos quais os vegetarianos se abstêm de comer carne, porque este ato implica (ooooooooooooooooooooooh!!!) na morte do animal. Caso isso não ocorra, o consumo é lícito. Por isso, ovos, leite, mel e geléia real podem fazer parte da sua dieta.

Passemos agora aos vegetarianos estritos, mais conhecidos como veganos. Neste grupo, o componente ético válido para os vegetarianos torna-se mais profundo. Agora, já não basta que o animal não seja morto: ele não pode ser objeto de exploração. Os veganos excluem completamente de suas dietas todo e qualquer alimento de origem animal, e procuram substituí-lo por alternativas vegetais. Procuram ter uma ação mais ideológica, trabalhando ativamente pela causa dos direitos dos animais, e usam reiteradamente novas discussões, como uma modalidade de preconceito humano conhecida por especismo (da qual já falei há tempos). São verdadeiramente engajados, procurando se posicionar a favor da redução de testes com animais de laboratório, sendo contrários à utilização de produtos que se utilizam desses testes. Mas aqui já estou escapando ao tema dieta.

Por fim, vou mencionar os macrobióticos, ainda mais restritivos em sua alimentação. Neste caso, a porção filosófica está ligada a um pretendido equilíbrio com a própria natureza e com o meio ambiente, como preconizam certos elementos do taoísmo, doutrina religiosa fortemente associada a esse modelo alimentar. Para tanto, a ingestão de comida deve ser baseada em alimentos integrais, o que exclui praticamente todos os produtos que passam por algum processo de industrialização. Há inclusive restrições com o consumo de alguns alimentos de origem vegetal, como é o caso da batata, das pimentas marcadas, café e chás cafeinados, porque teoricamente estes alimentos afetam o equilíbrio sódio-potássio exigido em sua dieta. Mesmo o consumo abundante de água é desaconselhado. Por outro lado, é permitido o consumo de peixes, com moderação. Os macrobióticos devem observar alguns itens não significativos para outros regimes alimentares. Devem respeitar, por exemplo, os alimentos nativos do local onde vivem e as épocas do ano em que estão naturalmente disponíveis. Enfim, os macrobióticos, antes de mais nada, precisam conhecer mais a fundo os elementos que compõe a sua dieta do que qualquer outra categoria.

Há ainda muitíssimas outras formas de se dedicar a uma dieta específica, como os peixetarianos, a permacultura, ortomoleculares e muitos mais, mas para este texto é o que basta. Eu estou colocado em um meio termo entre a dieta convencional com a adição de muitos elementos orgânicos, principalmente em legumes e verduras. Dizem que um bom sinal é encontrar uma lagartinha em um pé de salada (ainda em preparo, naturalmente). Isso indica que a hortaliça não está impregnada de pesticidas. Tenho encontrado bastante delas.

De uma forma ou de outra, entendo que, se queremos ajudar a resolver os problemas do mundo, precisamos começar diminuindo drasticamente o desperdício, não importando, a princípio, se vamos ou não aderir a alguma alternativa alimentícia como as mencionadas até aqui. O documento “Os rastros do desperdício de alimentos: Impactos sobre os recursos naturais”, emitido pela FAO, órgão da ONU voltado para a questão em tela, dá indicações preciosas sobre os excessos cometidos no mundo inteiro com a pauta alimentar. Segundo o relatório, há 1,3 BILHÃO (1.300.000.000!!!!) de toneladas de alimentos sendo jogados fora todos os anos no planetinha azul. Isso não produz apenas um prejuízo financeiro imenso (algo em torno de 750 bilhões de dólares), mas causa um impacto ambiental gigantesco, porque há muita água utilizada no processo, há muita terra desmatada para plantar coisas que não servirão para nada e há muita sujeira sendo mandada para o subsolo, onde vai contaminar os lençóis freáticos. E, principalmente, esse volume é mais do que suficiente para mitigar a fome no mundo inteiro. Ah, um detalhe. O documento não inclui informações de desperdícios alimentícios oriundos dos oceanos, o que aumentaria o número ainda mais assustadoramente.

Vivemos hoje uma condição contraditória. Nossos ancestrais usaram a união dos grupos para melhorar os procedimentos de caça e coleta, mas consumiam muita energia para fazê-lo. Temos hoje alimentos a nosso dispor em quantidade muito maior, e não nos esforçamos praticamente nada para queimá-los. Ficamos sedentários e gordos, e a variedade disponibilizada nos induz a consumir mais e mais e mais e mais e mais e mais e mais. A tecnologia nos permitiu descumprir a profecia de Malthus, mas o desperdício de comida também representa desperdício de recursos naturais. Com um plus pernicioso: a poluição do ambiente e devastação cada vez maior dos biomas originais. Desta forma, qualquer mecanismo que regule as nossas dietas é bom, independentemente das posições éticas e ideológicas.

É claro que eu não sou dado a exageros. Acho que é preciso ter cuidado em não radicalizar tanto uma ideologia (que em si mesmo não tem nada de mais) a ponto de se causar mais prejuízos do que benefícios. Sei, por exemplo, que existem alguns grupos que se colocam contrariamente à fluoretação da água, ou à aplicação de vacinas. Estarão agindo com bom senso? Se há o argumento de que devemos nos privar da presença de insetos porque eles são vetores de doenças, e que há uma legítima defesa que justifica seu extermínio, não deveremos aplicar a mesma lógica para o uso de técnicas de prevenção de doenças? Algumas discussões acabam se transformando em contendas assemelhadas a brigas de torcidas – fundamentalismo não é bom em lugar nenhum, a começar pelas religiões; e princípios éticos ficam abalados quando o debate não é ético – ora bolas! – e as opiniões não são respeitadas. Por exemplo: um lado diz que onívoros são assassinos, que se alimentam com prazer do sofrimento alheio. O outro, são hippies inconsequentes que gostariam que o mundo fosse um grande cigarro de maconha. Nada disso. Todos têm seus argumentos e muitos deles são plenamente válidos, enquanto outros são falaciosos. Mudanças de hábitos implicam em mudanças de culturas, e estas não surgem do nada. São semeadas por séculos a fio. E dessa forma nos constituímos em adversários, quando deveríamos, na verdade, trocar estudos, e não farpas. O mundo está muito dividido em posições antagônicas, e isso é um dos motores para chegar à situação de pré-caos ambiental. Chegou a hora de lançarmos uma agenda realmente eficiente, e isso passa pela conscientização de cada um de nós.

Recomendação de leitura:

Segue abaixo o endereço eletrônico do documento da FAO. Infelizmente está em inglês, mas vale o esforço de traduzir.

FAO. Food wastage footprint: Impacts on Natural Resources. FAO: Roma, 2013. Disponível em http://www.fao.org/docrep/018/i3347e/i3347e.pdf.

O livro que mencionei de Thomas Malthus é um clássico da Economia, que influenciou muita gente, incluindo ninguém menos que Charles Darwin. O insight que detonou seu ideário de seleção natural veio da leitura da teoria populacional. Vejam, portanto, como vale a pena conhecer este autor.

MALTHUS, Thomas. Ensaio sobre o Princípio da População. Lisboa: Relógio d’Água, 2014.

Recomendação de receita:

E hoje a segunda dica vai ser inusitada: vou passar a receita do meu tradicional quiche, tão aprovado por extensa comunidade de umas vinte pessoas. Afinal, culinária, arte e filosofia se confundem. Vamos lá.





Primeiro, a massa base – serve para uma montanha de recheios subordinados à sua imaginação. Os ingredientes entre colchetes são os substitutos para fazer uma massa vegana.

2 xícaras de farinha de trigo

100 gramas de margarina [100 gramas de creme vegetal]

1 ovo batido levemente [200 ml de creme de soja]

300 ml de leite [300 ml de extrato de soja]

1 colher de chá de fermento

Sal a gosto

Em primeiro lugar, lembre-se de deixar todos os ingredientes em temperatura ambiente. Coloque 1 e ½ xícaras de farinha de trigo em um recipiente grande o bastante para trabalhar. Adicione o ovo batido, a margarina e o sal. Comece a mexer com as mãos, acrescentando aos poucos o leite. Vá mexendo o grude pastoso até ficar tudo homogêneo. Neste momento, você vai perceber que a massa ainda estará muito mole. Vá acrescentando o restante da farinha até a massa desgrudar dos seus dedos. Não se incomode se a farinha for insuficiente – acrescente mais, bem aos poucos. Quando o ponto estiver legal, adicione o fermento, misture bem e forme uma bola. Deixe-a descansar por, no mínimo, 15 minutos. É estressante.

Utilize uma forma de fundo removível. Não é preciso untar, porque já tem margarina suficiente na massa. Se você tiver habilidade suficiente, abra a massa com um rolo, senão use os dedos mesmo. Cubra todo o fundo da forma com a massa a partir do centro, e vá espalhar até os cantos. Não deixe a massa muito grossa, senão vira tijolo. Pressione a massa pelos lados da forma, até recobri-los por completo. Não faz mal se sobrar massa. Podemos fazer um miniquiche ou transformá-lo em torta. Fica bom do mesmo jeito.

Substitua o sal por duas colheres de açúcar se a intenção for fazer um quiche doce.

Coloque a forma em forno pré-aquecido a 200 graus. Asse até ficar firme, mas não abuse. A massa deverá voltar ao forno.

Recheios:

Como falei anteriormente, esta é a parte divertida, já que é possível criar quase que livremente. No caso, vou passar os quatro recheios que apresentei no festival.

Quiche de carne seca

700 g de carne seca

1 cebola roxa média

500 g de batatas

Duas colheres de cebola bem picada

Duas colheres de salsinha bem picada

200 ml de leite

300 g de queijo mozarela (muzarela? Mozzarella? Muçarela?) ralado

Sal a gosto (cuidado! A carne seca já é bem salgada)

Um dia antes do preparo, lave a carne e coloque-a de molho em água. Troque a água por umas quatro vezes no período de 12 horas, até baixar bem a salmoura. Se você acabar tirando sal demais, nada impede de repor um pouco na hora de cozinhar.

Parta a carne seca em cubos grandes e coloque-a em uma panela de pressão com água suficiente para cobri-la. Deixe cozinhar por uns 45 minutos. Desfie a carne seca, retirando os excessos de gordura (é melhor do que retirar a gordura antes e desperdiçar metade do produto).

Corte a cebola roxa em fatias finas e junte-a à carne seca em uma panela. Mexa ambos até a cebola murchar. Reserve.

Lave as batatas e descasque-as. Coloque em uma panela de pressão com água previamente fervida e deixe cozinhar por 5 minutos. Passe a batata cozida por um espremedor ou esmague-a com um garfo, sendo que neste caso o risco de ficar “pedaçuda” aumenta consideravelmente.

Em uma panela, derreta uma colher de sopa de manteiga e frite um pouco de cebola bem picada. Despeje a salsinha, coloque a batata amassada, misture até ficar homogêneo e despeje o leite aos poucos. Mexa sem parar até começar a desgrudar da panela.

Para montar, despeje a carne seca sobre a massa e alise. Em seguida, despeje o purê de batatas e alise novamente. Recubra tudo com a mozarela (muzarela? Mozzarella? Muçarela?) ralada e leve ao forno. Deixe assar até o queijo ficar gratinado. Caso a massa comece a ficar meio queimada antes disso, retire do forno e gratine o queijo com um maçarico muito bem regulado, porque quiche com cheiro de isqueiro ninguém merece. Sirva quente.


Frango com elemento X:

1 peito de frango

Sal a gosto

1 gema

200 ml de creme de leite (o elemento X)

1 colher de sopa de farinha de trigo

200 ml de leite

2 tomates

2 colheres de cebola picada

½ colher de alho

1 colher de manteiga ou margarina

1 pitada de pimenta do reino

Cozinhe o peito de frango em uma panela de pressão por cerca de 30 minutos. Após esfriar um pouco, desfie todo o peito, desprezando os ossos e a pele, óbvio. Doure a cebola e o alho em uma colher de manteiga e frite um pouco. Coloque dois tomates picados. Eles vão soltar bastante água e dar um gosto bem legal. Mexa de vez em quando. Faça uma mistura homogênea com o ovo, a pimenta do reino, a farinha de trigo e o leite. Quando o frango estiver quase seco, ajunte essa mistura e mexa sem parar, até ficar pastoso. Junte o creme de leite e reserve.

Coloque essa gororoba toda na massa pré-assada, cubra com alguma das dicas de cobertura posteriores e volte a assar, até ficar pronto.

Alho-poró:

1 pé de alho-poró

Sal a gosto

1 colher de farinha de trigo

1 colher de manteiga ou margarina

1 colher de cebola picada

1 colher de salsinha picada

300 ml de leite

200 ml de creme de leite

1 gema

Compre um alho-poró com folhas. Não caia na armadilha dos mercados que só vendem o talo. Se você gostar do sabor de talo, faça um quiche de cebola que sai mais barato. Lave-o muito bem (costuma vir um pouco de terra nas juntas das folhas com o talo) e pique em fatias finas. Deixe de molho em água com algumas gotas de vinagre por uns 15 minutos (aliás, acostume-se a fazer isso com qualquer verdura que você for consumir). Ferva água em uma panela em que caiba todo o alho-poró e desligue. Preste muita atenção: você vai colocar o alho-poró nessa água, contar até cinco e escorrer imediatamente! Se ficar muito tempo, murcha tudo e vai parecer chiclete. Reserve.

Em uma panela, derreta uma colher de manteiga e doure a cebola. Junte em um recipiente a parte a gema batida, o leite e a farinha. Despeje na panela e mexa insistentemente, até engrossar. Coloque o alho-poró escorrido e o creme de leite, já com a panela desligada, mexendo bem.

Coloque esse creme sobre a massa previamente assada e cubra com alguma das sugestões abaixo. O clássico dos clássicos é as claras em neve.


Palmito e batata vegano

1 vidro de palmito

4 batatas médias

1 colher de cebola

1 colher de salsinha

1 colher de creme vegetal

200 ml de leite de soja

1 pitada de cúrcuma

½ colher de sopa de amido de milho

Pegue um vidro de palmito (não use açaí, que é um engodo – palmeira real de origem legalizada ou pupunha são mais indicados, ainda que mais caros) e escorra. Doure uma colher de cebola no creme vegetal e junte o palmito, deixando até secar. Faça uma mistura do extrato de soja, do amido de milho, da salsicha e da cúrcuma. Despeje essa mistura na panela e mexa bem, até engrossar. Junte o creme de soja e reserve.

Cozinhe as batatas já descascadas em uma panela de pressão por 5 minutos. Amasse-as como explicado anteriormente. Coloque uma colher de creme vegetal numa frigideira, junte as batatas e mexa até ficar homogêneo. Coloque lentamente o leite de soja e cozinhe até ficar bem pastoso.

Pegue a massa já pré-assada e despeje o palmito já preparado, alisando-o ao final. Coloque cuidadosamente a massa de batata e alise. Cubra com massa ou com nada, a seu critério. Queijo e claras não valem para veganos.


Coberturas:

O clássico dos quiches é a clara em neve, mas não estamos aqui para perpetuar tradições. É possível aproveitar um tanto de massa que sobrar. Se for bastante, alise-a com um rolo de macarrão e cubra o quiche por inteiro (transformando-o em torta), podendo ser pincelado com gemas ou shoyu para dar uma corzinha (eu não costumo usar nada). Se a massa não for suficiente, faça rolinhos finos com as mãos, deixando parte do recheio exposto.

Para fazer a cobertura de clara, faça assim:

1 ou 2 claras, dependendo do tamanho do quiche

2 colheres de sopa de queijo parmesão ralado

Bata as claras em neve, até o ponto em que a mesma se sustente sozinha no recipiente. De posse de um fuê (olhe no Google), misture suavemente uma colher de parmesão ralado. Coloque essa mistura IMEDIATAMENTE sobre o recheio do quiche, espalhando-a. Para garantir a firmeza, basta colocar uma ponta de colher de cremor de tártaro, mas eu não uso. Após, salpique a outra colher de parmesão e leve ao forno para dourar.

Bom apetite!



Nenhum comentário:

Postar um comentário