Quando resolvi criar o Pequeno Guia das Grandes Falácias
(link acima), minha ideia era produzir textos relativamente curtos sobre
engodos frequentes em diversas linhas de raciocínio. No entanto, ocorreu um
fenômeno que acabou modificando minha regra de conduta. A cada texto não
relacionado ao Pequeno Guia que eu escrevia, começava a perceber uma relação do
mesmo com algum tipo de falácia. Com isso, passei a aproveitar o próprio texto
para amarrar com a respectiva falácia, e a estrutura do guia foi se
modificando. Não acho isso um problema, e apenas gostaria de registrar a
utilização deste recurso, porque entendo que enriquece o texto principal e
evita que se perca uma boa oportunidade para tratar de uma determinada falácia.
Afinal, ela é como formiga, capim-gordura e filha-da-puta: existe em toda
parte. Vamos ao que interessa.
O mundo nunca, em nenhum momento, deixou de viver situações
complexas. É claro que grandes chacoalhos como a queda do Império Romano, a
Revolução Francesa e as Guerras Mundiais sempre vêm em primeiro lugar à nossa
memória, dado ao fato de serem episódios de virada de mesa, que afetaram toda a
História, mas isso não evita que grandes dramas ocorram diariamente.
Digo isso inspirado pelas calçadas empanturradas de
estrangeiros na rua do Glicério, por onde passo diariamente. São tantos
imigrantes no centro de São Paulo que desde algum tempo atrás tem sido
realizada uma “Copa do Mundo” de refugiados, inicialmente no campo do
quartel do Parque Dom Pedro. São haitianos, nigerianos, sírios, bengalis, colombianos,
a grande maioria fugindo da miséria e da perseguição em seus países de origem,
como já fizeram nossos avós em passado nem tão distante. Os comentários de nós,
nativos, versam sobre uma espécie de invasão de nossas terras, onde os
imigrantes vêm plantar suas bandeiras e tomar nossos empregos, ocupar nossos
cortiços, assaltar nossos parcos bens, sujar nossas calçadas. Toda espécie de
mazela.
A imprensa ajuda, e muito. Já falei por aqui o quanto a certas
emissoras são um modelo bem acabado de sensacionalismo metido a erudito, onde
se provoca a notícia distorcida com todos os acentos e pontos bem polidinhos. Em
uma determinada reportagem que assisti na TV (como não consegui localizar uma
reprodução na internet, vou omitir o canal) é enfatizado que um nigeriano
compra celulares roubados na região da Cracolândia. Não há, na mesma, nenhuma
vontade de dizer que o criminoso estrangeiro é só mais um elo na corrente que
se espalha pelo submundo das leis frouxas e injustiça social no Brasil. Não se
fala dos brasileiros que roubam os celulares, não se fala dos brasileiros que
lucram com esse comércio, não se falam dos inúmeros brasileiros que receptam
esses celulares, da mesma forma e no mesmo local que faz o grande acusado desta
história toda, o nigeriano. Esse é o quintal da minha casa, vejo isso
diariamente, e é quase impossível distinguir quem é quem naquela muvuca.
A reportagem faz entender que a recepção de celulares
roubados é uma novidade e uma exclusividade de nigerianos. Não há nenhuma
menção de que há dezenas de outros receptadores no mesmíssimo lugar, e o
vínculo é imediato: nigerianos são criminosos. E dá-lhe reclamar das
imigrações: que este monte de estrangeiros veio acabar com o país, que a gente
vai ter que dividir o pouco que tem, que certos partidos querem mais gente
alienada para votar em seus corruptos, et
cetera. Desculpem a vocês que concordam com esse tipo de afirmação, mas
vocês foram, mais uma vez, enganados. Basta pensar que a grande maioria dos
réus da Lava Jato são pessoas que vocês adorariam ter como genros.
Mas o problema no Brasil é até relativamente pequeno se
comparado à Europa, tanto no volume dos deslocamentos quanto na reação das
populações e governos. Aqui no Brasil ainda há alguma compassividade, porque a
manifestação da ojeriza ao estrangeiro se dá na esfera dos botecos (e da
imprensa maliciosa). No velho continente, a coisa se dá no campo público, onde
governos e populações confrontam abertamente as ondas de imigrações. Para mim,
a famosa imagem do menino sírio morto na praia da Turquia é definitiva e
explicita um drama humano que não tem como ser justificado pela preservação de
fronteiras, manutenção de emprego e outras. Mas somos assim mesmo, ocupantes do
planeta azul, presos aos nossos egoísmos.
Como eu acabei de dizer, o discurso contra imigrações, mesmo
aquelas de fundo humanitário, está baseado no estado de necessidade que os
refugiados trazem, o que gera uma bola de neve: são pobres e
não-qualificados, vindos de países violentos. O caminho óbvio é a
criminalidade. É evidente que dentre tantos, algum haverá de seguir esse
roteiro, mas de onde se tirou a ideia de que essa é uma regra geral? Desde o
século XIX o Brasil é terra de imigrantes. Você mesmo que me lê, provavelmente
tem um sobrenome estrangeiro, assim como eu. Parte dos meus avós vieram fugindo
da fome, parte fugindo da guerra, exatamente como continua acontecendo hoje. Se
hoje o Brasil ainda é opção para quem vem do desespero, é porque esses mesmos
imigrantes, nossos avós, tornaram-no minimamente atraente, da mesma forma que
os novos ingressantes podem também fazer. Essa é a história escrita, e não há
registro de que fluxos humanos nos tenham feito passar necessidades, como se
pode dar a entender. Talvez tenham involuntariamente ajudado a manter os negros
na marginalidade, mas esse é outro assunto, para ser tratado com mais cuidado.
Também é uma boa oportunidade para revisitarmos nossos
preconceitos mais velados. Não nos preocupamos tanto quando os imigrantes são
portugueses (tivemos um pouco notado fluxo no começo da década), chineses ou
coreanos, mas ficamos bastante incomodados com bolivianos e haitianos, índios e
negros que são. Parem um pouco para pensar. Tem gente que prefere trabalhar
como escravo no Brasil, e que te causam mais repulsa do que aqueles que os
colocam nessa condição. Não é contraditório?
Mas é claro que essas coisas não nascem do vazio. Temos uma
tendência clara em atribuir a outrem a causa de problemas que, na verdade, são
nossos. Como vivemos em um determinado modelo de sociedade, comparável a um
organismo, há a propensão em se acreditar que ela funciona como deveria
funcionar, e, se algo vai mal, antes de observar se o seu funcionamento não tem
nenhum tipo de enguiço intrínseco, vamos procurar a causa fora, em algum tipo
de desvio ao padrão.
É o exemplo do desemprego e do aumento da criminalidade.
Temos um equilíbrio econômico precário e um ordenamento jurídico de
faz-de-conta, mas, como essas coisas acontecem por defeitos tão profundos
quanto equivalentes ao nosso próprio caráter, é mais fácil apontar um bode
expiatório.
É sobre esse mecanismo que se debruçou o sociólogo
sul-africano Stanley Cohen. Estudioso da criminalidade, buscou um novo rumo na
pesquisa sobre a impressão geral que a população tem sobre os agentes dos
delitos. Para tanto, foi estudar em campo o caso do confronto entre duas tribos
urbanas típicas da década de 60: os rockers
e os mods.
Hoje pode até parecer estranho, mas o conceito de tribos era
uma novidade absoluta naquela época. Era a primeira vez na história em que
havia uma clara contraposição entre o que pensavam os jovens e o que era
praticado pelas gerações anteriores, o que, evidentemente, criou várias rotas
de colisão. A juventude, buscando se desvencilhar da ortodoxia veterana, que
coincidia com o período das guerras da Coreia e do Vietnã, caracterizada pelo
envio de recrutas para uma batalha que não era a deles, não formava uma massa
uniforme e homogênea. Afinal de contas, fugir de um paradigma conservador não
se dá sem aventura, sobre um palmilhar em terreno incerto, e cada um foi para
um lado, buscar sua própria solução.
Os rockers eram
conhecidos por sua adesão ao rockabilly,
aversão ao uso de drogas, exaltação da vida livre e uso abundante de
motocicletas, com sua indumentária correlata: jaquetas de couro, botas e calças
de brim. Já os mods (abreviatura de moderns) eram comumente membros da
classe média que se vestiam com apuro, gostavam de experiências psicodélicas e
eram adesivos ao jazz e ao Rhythm
& Blues, se aproximando de
estilos mais exóticos no transcorrer de sua existência, como o ska jamaicano e
a motown de Detroit.
Com esse ideário divergente, houve um determinado momento em
que ambos os grupos passaram a se confrontar, por aquele espírito de clã que
vemos entre os jovens, chegando muitas vezes à pancadaria. Os mods chamavam os rockers de caipiras; os rockers
chamavam os mods de mariquinhas. Pode
parecer coisa de criança (e é), mas foram esses embates isolados que forneceram
às gerações mais velhas uma oportunidade de reagir, acusando a camada jovem de
desordeira e ameaçadora. Pouco mais do que algumas costelas partidas resultaram
do confronto entre os grupos, mas o que se pintou era sua franca ameaça a todo um
sistema social. Os mods e os rockers foram tachados de violentos intrínseca
e generalizadamente, fazendo com que as pessoas nas ruas passassem a temê-los
só de vê-los, configurando uma espécie de materialização dos demônios, e, mais
ainda, exigindo que as autoridades interviessem pela sua simples existência.
Dessa forma, através da disseminação de notícias extrapoladas, o corpo
mandatário se encarregava de construir uma justificativa ao combate a ideologias
que se opunham à sua, através da opinião pública e da formação de opiniões. É o
que Cohen denominou de pânico moral.
É evidente que há situações onde o pânico se justifica.
Basta pensarmos no que se passa na cabeça das pessoas, como os habitantes da
cidade mineira de Mariana, ao saber que a represa que sustenta milhões de
litros de dejetos químicos estourou às suas costas, ou com os ocupantes dos
edifícios Joelma e Andraus, que protagonizaram as piores catástrofes incendiárias da
combalida metrópole da qual vos falo. Não há espaço para a racionalidade em um
momento desses, com a tragédia iminente. Só se pensa em escapar; se não da
morte, ao menos do sofrimento, como fizeram os desesperados que saltaram dos
precitados prédios, para não serem consumidos pelas chamas. Mas o pânico moral
não se caracteriza pela premência da situação, mas por sua desproporção. E isso
se reflete nos próprios edifícios em questão. Após a restauração do Andraus,
sua ocupação se tornou tão difícil que acabou por se tornar um prédio de
trabalho da prefeitura, muito embora tenha se transformado em um local modelo
de segurança. Já estive lá e vi: dê dois passos e há um extintor; mais dois, e
há uma mangueira; mais dois, e há um machado; mais dois, e há uma maca, tudo
sinalizado e com acesso facilitado. Sprinkles,
detectores de fumaça, alarmes e equipes treinadas a cada andar – não há motivo
para temer, mas as pessoas temem, irracionalmente, embaladas pela história que
aquele lugar conta.
Idem no caso que estou tratando? Idem. Temos ao nosso redor
todo um contexto social complicado, com muitas desigualdades e pobreza, sem
soluções de curto prazo e com uma classe dirigente pouco fiável. Mas os
problemas são imediatos e graves. Qualquer ameaça ao status gera uma reação de
quem tem algo a perder, obviamente.
Mas o que faz o pânico moral ser tão musculoso, a ponto de
transformar alguns eventos isolados em uma ameaça a todo um conjunto social?
Acertou quem afirmou ser a mídia.
Primeiro é preciso conceituar um pouco melhor o que é a
mídia. Esse é um termo que foi chupado de media,
usual em terras ianques e que significa o conjunto de meios de comunicação que
é estabelecido em determinada sociedade. Temos a propensão a identificar de
imediato mídia com imprensa, o que é correto, mas incompleto. Por exemplo,
quando lemos um romance, ouvimos um álbum ou assistimos a um filme, chega a nós
uma coleção de informações que, de uma forma ou outra, retrata algum aspecto
cultural, e isso, por si só, diz muito sobre o modo de pensar e de agir da
sociedade que os produz e/ou consome. Portanto, mídia não é só o Jornal Nacional,
mas a novela das oito também.
Isso posto, podemos tentar entender um pouco mais como o
pânico moral se dissemina. Obviamente, vou contar uma historinha.
Quando eu era criança pequena, já existiam as vendedoras de
Yakult©, igual-que-nem
existem até hoje, vagando sob o sol forte ou chuva intensa com seus carrinhos
brancos, tentando ganhar a vida enquanto a morte não lhes pega, vendendo
regularidade intestinal, cansando-se de tomar calotes. Eu não era
muuuuuuuuuuito chegado nos lactobacilos, mas minha mãe achava que fazia bem e
me empurrava um pouco, saudável que se reputava o produto. Ocorre que, passados
alguns anos, lançou-se um outro produto, chamado Taffman E©. Sua proposta, como o nome
indica, era fornecer uma fonte de vitamina E, conhecida no vulgo como a
vitamina da fertilidade. Algum filósofo de porta de boteco especulou sobre os motivos
de tal lançamento, com caráter afrodisíaco. Nosso anônimo pensador vinculou o
poder revigorante da novidade a um suposto prejuízo ocasionado pelo consumo dos
casei hirota, de ordem disfuncional
no futuro desempenho sexual dos seus consumidores. Sim, pensava-se que o Yakult
causava brochadeira, e que o Taffman vinha para reparar o infortúnio.
Ainda que sem internet, e na medida do alcance possível, a
coisa se espalhou como um rastilho de pólvora em plena combustão, chegando até
mesmo ao subúrbio paulistano, gerando árduas dúvidas na cabeça da emérita
genitora, que suspendeu o fornecimento (para o meu gáudio) até tomar a melhor
decisão possível: aproveitando a consulta periódica ao Dr. Deodato, pediatra do
Sindicato dos Metalúrgicos que cuidava dos meus perrengues, solta-se o
questionamento indiscreto sobre a veracidade do boato. Com a negativa do douto
fisiologista (e seu sorriso irônico), as garrafinhas voltaram à geladeira, mas
o testemunho das vendedoras não deixa espaço para a dúvida: muita gente gravou
essa baboseira, e custou um bom tanto até a história sumir*.
Se o boca-a-boca vintage
tem esse poder de causar medo, o que não é possível de fazer com meios de
comunicação de alcance global? A mídia em geral, e a imprensa em particular,
tem um poder imenso nas mãos, ao lado de seus próprios interesses. Sempre é
preciso lembrar que os jornais são produzidos por empresas, que tem suas
diretivas e interesses, e a neutralidade é impressionantemente difícil
de se obter. É CLARO que há jornais e jornalistas sérios, que fazem o melhor
possível, assim como também é claro que há quem faça uso desse grande poder de
persuasão. Cohen observa que essas ferramentas podem ser utilizadas não só para
disseminar alarmas, mas para serem os soldados de cruzadas morais. Há a
necessidade de que um determinado pânico se dissemine, e atinja expressividade
entre uma população que o receba acriticamente, e que normalmente não seria tão
afetada pelo demônio popular eleito. Muitas vezes isso é feito
escancaradamente, e, para isso, é convocado um analista, que produzirá uma
“opinião própria”, que insuflará o público e escusará o veículo, que poderá
proclamar sua “isenção”. Mas há maneiras de se fazê-lo sub-repticiamente. Uma
das técnicas é encadear uma notícia negativa em sequência à notícia sobre o
objeto que se tenta demonizar, formando uma cadeia de causa e consequência, tão
procurada por nossas mentes. Por exemplo, dá-se a notícia sobre o aumento no
número de imigrantes, e, logo em seguida, outro sobre a diminuição de postos de
trabalho. Pronto! A correlação se dá imediatamente, ainda que seja falsa
e apresentada aparentemente sem que se queira fixar o elo. Entre ambas as
técnicas, prefiro a primeira. Pelo menos sabemos bem com quem estamos lidando.
Resumindo: o pânico moral funde um medo exacerbado e
injustificado com uma reprovação de ordem moral, que se apoia em uma
plataforma, a mídia. O pânico moral é voltado contra o que Cohen chama de demônios populares, os grupos que
recebem a etiqueta na testa: o torcedor das organizadas e as mortes em dias de
jogos, os gays e a “família tradicional brasileira”, os nigerianos e os roubos
de celulares. Por trás disso tudo, um mecanismo que ajuda não só a criar
rótulos, mas também a alimentar preconceitos: a generalização apressada. Trata-se de uma falácia indutiva, que tira
seus “méritos” de um número muito pequeno de casos para atribuir uma característica
a um grupo completo. Vamos dar voz ao filósofo italiano Norberto Bobbio, ao
fazer observações sobre a visão geral que se tem sobre os intelectuais:
“A maior parte destes discursos está viciada por um erro
lógico bastante conhecido, do qual um intelectual deveria prevenir-se: a falsa
generalização. Muito frequente na excessiva linguagem polêmica cotidiana, que
não se pauta pela sutileza na análise dos fatos e no uso das distinções ou das
subdistinções, pois seu objetivo é antes de tudo o de persuadir ou de
dissuadir, não o de conhecer ou fazer conhecer, a falsa generalização é
desaprovada no discurso racional. Convém à linguagem vulgar, fabricada com
estereótipos, segundo a qual todos os políticos são corruptos [N. do A.: O cara
está falando da Itália], todos os médicos são incompetentes [N. do A. 2: Idem]
e, claro, todos os intelectuais são indistintamente arrogantes, vaidosos, creem
ser sabe-se lá quem e assim por diante, ou são, como foi dito recentemente, ‘lamentosos’.
Falar dos intelectuais como se eles pertencessem a uma categoria homogênea e
constituíssem uma massa indistinta é uma insensatez: a uma afirmação
peremptória como ‘os intelectuais traem’, deve-se imediatamente perguntar: ‘Precisamente
todos? E se não todos, quais?’ (...) Seja qual for o modo em que venham a ser
definidas a natureza e a função do intelectual, não é possível alcançar uma
definição restritiva o suficiente para tornar plausível um juízo de absolvição
ou de condenação global. Todos inocentes, todos culpados”.
A engrenagem por trás dessa falácia é sempre a mesma, um processo heurístico que, através de uma amostra muito pequena, tenta estender uma
realidade a um grupo inteiro. Funciona da maneira exatamente oposta ao dicto simpliciter (acidente): enquanto a generalização apressada toma como regra
geral para o grupo aquilo que se observa em uma parte muito reduzida, a falácia
do acidente não admite que uma pequena quota tenha alguma característica
diferente do grupo como um todo.
Vejamos o caso das pesquisas eleitorais. Sempre que uma
destas é divulgada, vem a reboque um número que indica sua margem de erro. Essa
margem é inversamente proporcional ao tamanho da amostra. Quanto maior o número
de pessoas consultadas, menor a margem de erro. Esta somente será igual a zero
quando toda a população é consultada, ou seja, a eleição propriamente dita.
Amostras muito pequenas tendem a ser muito pouco representativas, sendo
passíveis de distorções por inúmeros fatores. É por isso que, para se fazer
generalizações seguras, é preciso amostras proporcionais ao tamanho do campo
que se quer medir.
É possível obter raciocínio lógico a partir de amostras
pequenas, e se ter uma boa generalização? Sim, é possível. Digamos que se
queira saber a impressão dos trabalhadores sobre uma determinada lei que lhes
afete os benefícios sociais (para o bem ou para o mal, tanto faz no caso). Uma
das maneiras possíveis é fazer uma consulta direta, o que demandará uma amostra
gigantesca. Outro modo é consultar os sindicatos que, em tese, agregam o pensamento
de suas respectivas categorias e são em número bem menor. Desta forma, a
generalização já está devidamente filtrada em cada um dos sindicatos, e, ainda
que em número teoricamente pequeno, tem condições de refletir o que pensa o
conjunto total de trabalhadores.
Já me alonguei muito, mas é preciso dar uma advertência
final. A generalização apressada (ou falsa indução) não é só uma falácia. É um método de
pensamento simplista e perigoso, que nos ajuda a atribuir a populações inteiras
os defeitos que estão contidos em poucos membros, e pelos motivos os mais
equivocados possíveis. Se todo imigrante é um criminoso, estamos bem pegos –
pensaram isso também de nossos pais e avós. Se filho de peixe peixinho é...
Recomendações de leitura:
A obra de Cohen disponível está em espanhol, o que não chega
a ser um problema.
COHEN, Stanley. Demonios
populares y pánicos morales. Cidade do México: Cedisa, 2015.
Já o livro de Bobbio onde está o trecho que extraí neste
posto é o seguinte:
BOBBIO, Norberto. Os
intelectuais e o poder. Dúvidas e opções dos homens de cultura na sociedade
contemporânea. São Paulo: UNESP, 1996.
* Sim, a lenda persiste! Vejam o que eu encontrei na
internet (já avisando que o único Shinji Ono que localizei é um jogador de
futebol).
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