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terça-feira, 31 de maio de 2011

Sobre o grunge

Olá! 

Nesta semana, escutei uma boataria que dava conta do fim da banda Restart, papas do assim denominado "rock colorido". No final das contas, não passava disso, um boato. E os meninos do Restart estão lá, conquistando fãs e reais, enquanto nós, velhos saudosistas, sonhamos acordados com o fim dos tempos, quando poderemos, felizes e purificados, ouvir em uma verdadeira catarse coletiva os anjos entoarem Jethro Tull em suas harpas.

Essa farofa toda me lembrou de minha juventude na década de 80, quando os portoriquenhos do Menudo eram igualmente objeto de amor e ódio do público. Eram amados porque eram bonitinhos, sei lá... Um visual meio andrógino, umas danças rebolativas, musiquinhas do tipo abelha, e via discorrendo. Os que odiavam o faziam porque eram bonitinhos, sei lá... Um visual meio andrógino, umas danças rebolativas, musiquinhas do tipo abelha e etc.

Ou seja, nada muito diferente do que acontece hoje.

Na verdade, ama-se ou detesta-se os Restarts e Menudos da vida menos por sua música (?!) e mais por seu visual, pela sua promessa de sonho jovem, pelo seu hedonismo. Talvez seja por isso mesmo que sua duração seja tão curta.

Tenho sentido falta de um movimento jovem legítimo, com uma proposta bem definida, com a qual a molecada possa se envolver e se engajar. Assim foram punks, darks, proggers, metaleiros, entre outros. Acho que o último que o fez legitimamente tenha sido o grunge.



Para quem não conhece, o grunge nasceu em Seattle, cidade do noroeste estadunidense, e foi representado por bandas como Mudhoney, Green River, L7, Temple of the Dog, Stone Temple Pilots, Sound Garden, Alice in Chains e, principalmente, Nirvana e Pearl Jam. O movimento representava um desvínculo entre arte e mercado, não no sentido de que seja necessário um negar ao outro, mas que a arte não tenha que se vender. Se tocar pode te trazer dinheiro, muito que bem. Do contrário, ótimo também.

O grunge típico é descendente direto do hippie, no sentido de que é preciso não se matar por conta do mundo ao seu redor. Ambos são isolacionistas: o hippie se refugia na tribo que tem todas as coisas em comum, o grunge em sua própria solidão. Também não possuem indumentária detalhada: compram suas roupas em brechós, de modelos ultrapassados, que buscam mais o conforto que o adorno. Sua diferença mais expressiva está no conteúdo das letras das músicas: enquanto os hippies são otimistas que cantam contra a guerra e pelas flores, o grunge é pessimista, sarcástico e angustiado. O grunge não acredita que a sociedade pode lhe dar uma resposta satisfatória às suas aflições. Daí, nasce uma aparência de desleixo, com cabelos desarrumados, tênis sujos e sem meias, calças rasgadas, camisas de flanela largas, com os punhos abertos.

(Já vi gente assim... e garanto que muito antes do nascimento do movimento).

Apesar de que o grupo mais conhecido do grunge tenha sido o Nirvana (até mesmo por conta de sua história trágica), creio que seu álbum mais representativo tenha sido "Ten", do Pearl Jam.

É um álbum de muito fôlego, que contém todos os elementos da estética grunge colocados em evidência: canções rasgadas, sujas, em um estilo bem hard, em um meio termo entre a habilidade do heavy metal e da agressividade punk, com letras que falam da impotência do homem diante do destino, portadores de existências inautênticas. Os vocais quase desafinados possuem também seu simbolismo: é o escape daquilo que o mundo tem por aceitável, mas sem se esquecer de que estamos falando de ARTE. Portanto, apesar da simplicidade e da agressividade, é um álbum cheio de MUSICALIDADE.

Tenho saudades destas bandas em que aguardávamos ansiosamente pelo lançamento de seus álbuns, vestíamos suas camisetas como se fossem de times. Eram bandeiras que tínhamos para carregar. E percebo que, infelizmente, não existem mais.

Recomendação de audição:

Pearl Jam - Ten (1991)

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