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quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Sobre as confusões entre lugar de fala e representatividade, e os tropeços na transição de uma youtuber rumo ao engajamento (Pequeno guia das grandes falácias - 41º tomo: o Bulverismo)

Olá!


Vou surfar na hype? Vou surfar na hype. Este espaço está cada dia menos frequentado, embora minha média de produção venha se mantendo a mesma ao longo dos anos, e vou aproveitar um pouco deste expediente tão utilizado pela rede afora. Pensando bem, não há problema nenhum nisso, porque falar sobre fatos notórios e pessoas famosas faz parte do nosso quotidiano. O diferencial está em tentar extrair um sumo proveitoso de uma fruta que é puro escolho. De mais a mais, era um tema sobre o qual eu estava mesmo querendo falar, já há um bom tempo. Deixemos de vã filosofia e vamos ao que importa, até mesmo porque já estou bem atrasadinho.

No finalzinho do ano recém encerrado, uma polêmica acendeu os ânimos nesta já conturbada Ilha de Vera Cruz. Não vou detalhar muito, todo mundo já viu (mas aqui tem um vídeo com o ocorrido), bastando dizer que, em um matinal na TV, a youtuber Kefera Buchmann reagiu com um algum grau de agressividade a um audiente da plateia, que contrapunha certos argumentos ao feminismo que se discutia na ocasião. Nada muito UFC, mas o fato é que uma imensa discussão se iniciou a partir do evento, com tropas de defesa e ataque à garota, em especial nas redes sociais, lodaçal de onde brotam muitos monstros.

Kefera falou em mansplaining, manterrupting e lugar de fala, com o argumento de que um homem não é parte legítima para se pronunciar sobre feminismo, um assunto que não lhe diz respeito. Bom... Para poder entender se este argumento é válido, precisamos delinear bem o que é esse termo da moda, tão mal compreendido e utilizado, e, para tanto, precisamos começar do começo, sendo essencial saber o que é espaço público. Façamos isso agora.



Sempre que falamos genericamente em espaço público, vem à nossa mente alguma coisa como uma imensa praça. Por uma questão de familiaridade, penso na praça Clóvis, onde centenas de pessoas andam para lá e para cá, buscando o Poupatempo ou as essências da Silveira Martins. Algumas crianças correm aleatoriamente, espantando os pombos que uma senhora em vão tenta alimentar. Há um pipoqueiro e um vendedor de bexigas, enquanto uma boa vintena de mendigos filosofa sobre o momento mais adequado para se embebedar, e subempregados apregoam as fotografias 2x2-3x4-5x7, imprescindíveis para documentos, tudo isso vigiado pelos policiais que protegem transeuntes e meninas vendedoras das lojas de perfumes, a quem buscam impressionar. Eventualmente há algum violeiro que tenta cachês com seu chapéu deitado ao solo, ou um pastor que berra imprecações contra aqueles do mundo. Tudo isso parece passível de pintura e emolduramento, mas não é a expressão do conceito sociológico de espaço público. É, no máximo, um dos meios físicos onde este subsiste.

Vamos pensar no seguinte. Há um local onde todos somos os senhores do castelo. Dentro da minha casa, e nos limites da legalidade, eu faço o que bem entendo: fico pelado, tiro ouro do nariz, como bife com as mãos, trepo em cima do guarda-roupa, dentro do guarda-roupa, COM o guarda-roupa. O espaço privado é o espaço do indivíduo, compactuado, no máximo, com os familiares e com o outro consentido. Para isso, há fundamentações constitucionais e princípios éticos bem aceitos. Ocorre que existimos em sociedade e o viver coletivo é muito maior do que a soma das individualidades. Há inúmeros lugares onde o povo exerce esse sentido comunitário e estabelece seu convívio. Aqui, há uma série de limites que são estabelecidos de maneira coercitiva, seja através da lei, seja através dos costumes que aquele meio social adota. Não se pode pisar fora da faixa, e, se houver quem o faça, há punição em alguma forma. Ao contrário da casa, já não temos, no espaço compartilhado, a mesma liberdade. Não se anda pelado, porque é contra a lei; não se tira ouro do nariz, porque é mau costume. É a nossa cultura, em síntese, que dirá o que pode e o que não pode. E isso não ocorre apenas nas praças e nas ruas, mas por toda a cadeia de meios por onde as pessoas são alcançadas em sentido comunitário. Em um panfleto, em um programa de rádio, em um comício, nos grafites das paredes ou nas redes sociais a noção de espaço público também está presente, porque a sociedade não se limita à presença física, mas à disseminação de ideias e ao exercício de direitos, principalmente quando falamos nos elementos que constituem nossa cultura e nas ferramentas que fazem o próprio espaço público continuar a existir, como a liberdade de expressão, o respeito às escolhas e os direitos individuais. Portanto, a cada vez que um cidadão é tolhido em seu papel social, é o próprio espaço público que é agredido. Não há democracia sem o respeito ao espaço público. Não há sociedade sem espaço público.

Pois bem. O espaço público não é uma coisa uniforme, bonitinha como um arabesco, porque ele é composto de um espaço físico e conceitual que é ocupado por pessoas, com seus anseios e expectativas. Estas pessoas tendem a se agrupar de acordo com certas afinidades, que vem de dentro, e de certas classificações, impostas de fora. No primeiro caso, podemos enquadrar as tribos urbanas, os estudantes de uma determinada área ou a torcida de um time qualquer. Passo pela Liberdade nos domingos e ela está repleta de otakus. Ao que me consta, nenhum deles está lá porque é obrigado, mas porque lhes é agradável se vestir de desenho animado e ocupar a praça com suas fantasias e palavrões. Por outro lado, há grupos que são enquadrados em uma determinada categoria por força de uma disposição cultural dominante. Sabemos da pluralidade social, mas sabemos também que há uma espécie de padrão universal, uma cultura hegemônica, onde um grupo ideal se encaixa melhor que os outros, e cria-se uma noção de “lado de fora”. São assim as minorias, como negros, gays, indígenas, portadores de necessidades especiais e tantos outros, incluindo mulheres – que não são poucas, mas sucumbem na normatividade. Essa diferenciação visa delinear bem quem tem a régua na mão para medir e quem está sobre a mesa para ser medido. É por isso que eu disse que o espaço público não é um quadro elegante na parede, mas uma cena em constante tensão, até mesmo porque ele não é estático, e seu grande movimento se dá pelas manifestações, que, em ambiente democrático, são os designadores de existência dos grupos que o compõe. É nesse sentido que chamamos essas manifestações de falas, o meio primordial da nossa linguagem, tão característica do ser humano. Estas falas não partem uniformemente, mas de acordo com a maneira como os diferentes grupos são formatados, eles mesmos um lugar neste espaço público que mescla área física e virtualidade. Daí, o tal lugar de fala, quase um sinônimo de ponto de vista de um grupo.

Há inúmeros lugares de fala em uma sociedade, tantos quantos houverem nichos em que se possa enquadrar um determinado fragmento de população, e cada um deles tem um discurso específico sobre o espaço público como um todo, sobre o modo como cada aspecto da vida comum transita nele e sobre os demais lugares de fala. A cultura dominante, por exemplo, tende a ter uma fala mais conservadora, evidentemente porque não quer que as relações mudem, com grande gradatividade nas eventuais transformações. Obviamente, o espaço público já é moldado de forma a lhes favorecer. Já agrupamentos destacados do padrão tem lugar de fala mais contundente, mais urgente. Um negro, uma mulher, um gay, um ateu, todos eles, que são externos à normatividade do consenso geral, a partir do seu lugar de fala, também se manifestam da maneira com a qual seu papel na teia social lhe provoca maior ou menor sofrimento, que não pode esperar a vida inteira e mais seis meses para ser ao menos atenuado. Vejam que o lugar de fala tem seus delimitadores muito borrados, especialmente porque acabam se interseccionando: uma mulher negra, para dar um exemplo, pode ter sua visão pontuada a partir de três ângulos – o do gênero feminino, o da população negra e aquele que é a mistura dos dois, que tem algum grau de especificidade com relação aos demais.

Vou engendrar um exemplo meio simplista para tentar deixar um pouco mais evidente a coisa, misturando realidade e ficção pedagógica. Eu moro no 5º e último andar de um daqueles predinhos antigos do centro de São Paulo, o que, obviamente, não constitui uma cobertura, mas um andar como os outros. Apesar disso, com relação aos apartamentos de outros andares, tenho certos privilégios. Por exemplo, há a laje superior onde posso estender minhas roupas, algo que somente eu e mais três unidades podemos fazer. Os demais apartamentos têm apenas seus pequenos cubículos apelidados de lavanderia para fazê-lo. O elevador sempre demanda maior esforço para me transportar, porque é para o meu andar que ele percorre a distância mais longa. O mesmo se aplica ao recolhimento do lixo pelo zelador. Mas é pela varanda que dá vista para a região do Parque Dom Pedro que a regalia é mais notável. Do meu balcão, vejo uma boa parte da Várzea do Carmo, dos viadutos da Rangel Pestana, do magnífico edifício da Escola Fazendária, de todo o conjunto de sobradões da Rua do Carmo e mesmo de uma fatia do Brás. Os apartamentos do quarto andar ainda conseguem enxergar os sobradões e a escola, mas já a partir da janela da dona Madalena, no terceiro, tudo o que se vê é o paredão cinza de uma quadra de futsal. A família de peruanos do primeiro andar tem o agravante da barulheira matinal da padaria do térreo, e suas paredes externas são todas pichadas, o que indica também o risco do roubo. Consequentemente, a vista do meu apartamento é boa, mas ofusca um item fundamental: a dificuldade que tenho em ver os demais apartamentos do próprio prédio. Se eu debruçar perigosamente na mureta, verei apenas a varanda de uma unidade do quarto andar, e mais nada. Os demais andares também não me veem, mas me sentem – a poeira dos meus tapetes, a água de limpeza dos meus vitrôs, o salto alto da patroa e o frenético sapateado do Homem-Cueca, fenômenos causados por mim, mas que não são absorvidos por mim. Os outros andares sabem que eu existo, o que só fico sabendo quando os mesmos reclamam. Quando cada um de nós se manifesta acerca do horizonte, o faz a partir de um determinado lugar. Eu diria que é belo, ou ao menos interessante, que há construções antigas, que há noção de progresso, que está bom, enfim. A dona Madalena dirá que é sem graça, um grande muro cinza e nada mais. Já os peruanos dirão que é feio, todo rabiscado e ruidoso. Imaginemos o prédio visto de frente e vamos cognominá-lo de tecido social. Cada um dos andares é um lugar de fala, influenciado diretamente pelas condições materiais dos habitantes de cada um deles.

O lugar de fala de um grupo inclui aquilo que é manifestado a respeito dos demais grupos. Não se trata de uma mera opinião, mas de um ponto de vista que precisa ser conhecido, até mesmo para que os diferentes nichos sociais se compreendam mutuamente. Isso é o diálogo, pressuposto básico da democracia. Por isso, não existe essa coisa de dizer que determinado assunto não é o lugar de fala de uma pessoa pelo simples fato dela não pertencer ao grupo. Como bem notou a filósofa Djamila Ribeiro, há uma confusão muito frequente entre lugar de fala e representatividade. Eu, como homem, hetero, branco e gordo, não posso me considerar um representante do grupo feminino, homo ou negro, apenas dos gordos, e como gordo falar daquilo que me aflige como indivíduo: catracas mínimas, bancos espremidos, roupas raras e caras. Mas o fato de eu não ser mulher não tira meu ponto de vista sobre o feminismo. Do meu lugar de fala, há uma visão sobre mulheres, gays e negros, que podem e devem ser debatidos. Voltando ao prédio, meu lugar de fala é o quinto andar, mas minha opinião sobre os peruanos e dona Madalena pode passar pela empatia e reconhecer as suas aflições com o muro, ou simplesmente pode ser um “foda-se”. Saber disso é proveitoso para, pelo menos, que se saiba com quem se está lidando, já que o lugar de fala é, antes de qualquer coisa, uma predisposição ética. Lugar de fala não é lugar de silêncio. Lugar de silêncio é nas ditaduras.

Esse é o grande engano de Kefera. A partir do meu lugar de fala, eu tenho uma ideia formada que pode ou não coadunar com os representantes de outros lugares de fala, mas não há sentido em impor um limite que não existe. Apesar disso, não podemos simplesmente atacá-la, como muita gente tem feito. É preciso entender um pouquinho da sua carreira. Ela foi uma das primeiras pessoas a sacar o funcionamento do YouTube, plataforma de vídeos que remunera os produtores de conteúdo de acordo com a publicidade gerada por suas visualizações. Com um conteúdo voltado para o público jovem, dando opiniões e comentando sobre sua vida pessoal, arrebanhou uma multidão de fãs interessados em seu jeito despojado e, por vezes, controverso. Com isso, tornou-se uma das mais seguidas personalidades da internet. Veio diversificando cada vez mais suas atividades, com o lançamento de livros, atuação em novelas, filmes e peças teatrais, descolando-se de sua origem. Em busca de uma mudança da visão que se tem sobre ela, engajou-se na luta feminista, o que derivou no convite a um programa de televisão, onde rolou todo o fuzuê. É louvável que sua temática amadureça, que saia do mero entretenimento e é muito boa sua adesão à causa feminista, porque sua notoriedade carrega toda uma visibilidade de um público que lhe acompanhava de perto até então e que lhe ouve, além de lhe tirar uma certa impressão de futilidade (o que não é um mal em si). Só que parte de qualquer processo de maturação é feito de tropeços. Todos nós passamos por isso. A impressão que tive é aquela que acontece quando começamos um novo namoro, ou compramos um carro bacana, ou, como no caso, adquirimos um novo conhecimento. Queremos mostrá-los a todo mundo, repetir os conceitos como se pertencentes a uma seita hermética, da qual somos agora iniciados, em palavras que têm o efeito de um sortilégio, assim como fazemos com veículos e consortes. Chegará o tempo em que haverá uma compreensão melhor de como os conceitos traduzem ideias, que tem uma sequência lógica, e que são essas que importam, não valendo a pena despejá-los sobre nossos interlocutores apenas para dar uma pretensa impressão de que sabemos muito sobre o que estamos falando. Vejam vocês: uma das críticas mais contundentes que tenho visto a todo esse caso diz respeito exatamente às contradições de sua manifestação – menciona o manterrupting interrompendo a outra parte, e cita o lugar de fala esquecendo que ela mesma é bem sucedida, pertencente a um padrão estético bem aceito e muito bonita, um lugar de fala com vários privilégios. Sua opinião sobre outras lutas que não sejam o feminismo seria ilegítima? Ela fala pelas mulheres negras? Pelas mulheres trans? É preciso lembrar que, de seu lugar de fala, um sociólogo homem pode não só falar com propriedade de feminismo, bem como pagar um preço pela sua defesa a esses mesmos ideais. Afinal de contas, os preconceitos não são lançados só sobre um “público-alvo”, mas também a quem se engaja a eles. Sim, ele nunca será uma mulher, ele não REPRESENTA a mulher e não “sente na pele” o que significa sofrer pelo simples fato de ser mulher, mas ele pode, do lado de fora da representatividade, perceber coisas que a própria representante não enxerga. Eu não represento nem o primeiro, nem o terceiro andares, mas os peruanos e a dona Madalena talvez nem tenham ideia de como é ter a vista panorâmica do quinto andar, e justamente eu, sabedor de suas aflições, posso lutar pela queda do muro. Uma dominação carrega consigo sempre uma boa dose de alienação, e muitas vezes uma mulher concorda com atitudes que são contrárias a ela, reputando-as como naturais. Como funcionaria o lugar de fala impeditivo em uma circunstância desta? Toda fala é legítima quando se propõe a também ouvir. É o diálogo. É a democracia.

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Subsidiariamente, podemos também dar uma enriquecida no Pequeno Guia das Grandes Falácias, que, para quem não sabe, é uma coletânea de argumentos defeituosos que eu lancei neste recanto, alguns com foco direto, outros derivando de um tema principal, como é este caso. Quando Kefera introduz a temática do mansplaining e do manterrupting, ela já prejulga o seu interlocutor sem fazer qualquer análise do seu argumento. A impressão geral é a de que o rapaz em questão está errado antes mesmo de se avaliar seus argumentos. O mansplaining, por exemplo, se baseia no fato de que a sociedade aceita melhor as explicações de um homem sobre o feminismo do que as das próprias mulheres. Só que, para se detectar um mansplaining, é preciso que ele esteja constituído e que seja demonstrado por a mais b. Não é qualquer argumento sobre feminismo emitido por um homem que é mansplaining, e por este motivo é preciso interpretar o argumento antes de imputar erro. Esse tipo de falácia de dispersão chama-se bulverismo, derivado de um nome criado pelo professor e escritor norte-irlandês Clive Staples Lewis, mais conhecido como C. S. Lewis.

Como se pode perceber, o bulverismo é uma espécie de argumentum ad hominem circunstancial, na medida em que se deixa de analisar a proposição do argumentador para atacar o próprio argumentador, afirmando peremptoriamente seu erro em decorrência de sua condição. No caso, o fato de ser homem inviabiliza a correção daquilo que se diz, o que, evidentemente, não é boa técnica argumentativa, mas que gera engajamento.

Mas o que seria esse curioso nome? É que Lewis, em seu artigo denominado “Bulverismo ou os Fundamentos do pensamento do século XX” cria uma personagem fictícia, chamada Ezekiel Bulver, que tem uma espécie de epifania aos cinco anos de idade, quando ouve sua mãe refutar seu pai pelo gênero em uma questão de matemática. Essa técnica sofística, segundo Lewis, espalha-se como praga por qualquer lugar em que se queira levantar uma discussão. Nesse sentido, ele tem razão. Nestes tempos difíceis, o bulverismo é prática comum mesmo em meios menos raivosos, porque é menos agressivo que um ataque pessoal, mas faz os mesmos estragos e com os mesmos mecanismos – a desqualificação do antagonista e o desvio do argumento principal. Se eu digo que sou contra a liberação das armas e alguém diz que sou covarde, isso é um ataque pessoal; se diz que socialistas não tem nada a dizer na liberação de armamentos, porque são contra liberdades individuais, é um bulverismo. Percebam que, em nenhum dos casos, há importância nas minhas razões. Em qualquer uma delas, as causas e os motivos antecipam as razões, que nem são analisadas, e que se prestam independentemente de quais forem essas últimas. Vejam o fenômeno:

Afirmação 1: Sou contra a venda de armas porque é perigoso para quem tem crianças pequenas em casa.
Ataque pessoal: Você é contra porque é covarde.
Bulverismo: Você é contra por ser socialista, que não tem nada a dizer por ser contra liberdades individuais.

Afirmação 2: Sou contra a venda de armas porque é o fator surpresa sempre está a favor de quem ataca, e não de quem se defende.
Ataque pessoal: Você é contra porque é covarde.
Bulverismo: Você é contra por ser socialista, que não tem nada a dizer por ser contra liberdades individuais.

Afirmação 3: Sou contra a venda de armas porque ela retroalimenta a violência.
Ataque pessoal: Você é contra porque é covarde.
Bulverismo: Você é contra por ser socialista, que não tem nada a dizer por ser contra liberdades individuais.

Afirmação 4: Sou contra a venda de armas porque favorece um lobby muito restrito de fabricantes.
Ataque pessoal: Você é contra porque é covarde.
Bulverismo: Você é contra por ser socialista, que não tem nada a dizer por ser contra liberdades individuais.

Notaram como a estrutura da resposta é sempre possível? Como a simplificação sempre se antecipa ao argumento a ser combatido? É desse jeito que ambos funcionam. E funcionam bem.

Recomendações:

Djamila Ribeiro é uma jovem ativista negra, polêmica porque lida com temas polêmicos. Sendo de esquerda, vai, a partir deste ano, para uma nova minoria. Mas sua obra citada abaixo é essencial para estabelecer bem o que é lugar de fala. Livro simples e de leitura rápida. Não deixem de lê-lo se quiserem se imiscuir em causas sociais.

RIBEIRO, Djamila. O que é Lugar de Fala? Belo Horizonte: Letramento, 2017.

O artigo de C. S. Lewis que fala sobre bulverismo está disponível na internet. É autor cujas ideias não estão entre as minhas favoritas, mas é célebre (principalmente por conta d’As Crônicas de Nárnia) e teve essa sacada argumentativa. Portanto, segue um endereço onde seu texto pode ser lido em português:

LEWIS, Clive S. Bulverismo, ou os Fundamentos do Pensamento do Século XX
Disponível em: http://ultimato.com.br/sites/cslewis/2014/05/30/bulverismo-ou-os-fundamentos-do-pensamento-do-seculo-xx/

E (por que não?), o canal no Youtube de Kefera Buchmann. Não sou inscrito em seu canal e não acompanho sua carreira artística, mas não posso cometer a injustiça de citá-la e não lhe dar crédito algum:

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