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quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Cartas náuticas para marinheiros de terra firme - 13º relato: Jaguariúna e o esquecimento como necessidade

Olá!


E eu tirei um fim de semana para ser criança. Crianção mesmo, daqueles bobos, que ficam correndo de lá para cá, cutucando as pessoas e atrapalhando seus afazeres e seu repouso. Tudo isso dentro de um trem, daqueles puxados a maria-fumaça.

Explico melhor. Todo ano, eu aproveito o fim de semana mais próximo do dia 13/01 para comemorar o aniversário de casamento com a patroa. Algumas vezes comemos fora, em outras fazemos alguma viagenzinha. Não tenho grande paciência em fazer turismo nessa época do ano, de muito movimento e pouco proveito, por isso mesmo a volta é mais curta. Este ano, o dia treze calhou no próprio domingo, e fomos enfrentar o sol venusiano que tem nos torrado nos últimos dias para completar o Circuito das Águas Paulista. Só faltava Jaguariúna, a cidade do rio negro das onças, e é para lá que embarcamos em nosso quase-totalmente-pago Bedelho*. Queríamos fazer o célebre caminho férreo da antiga Companhia Mogiana, que vai até Campinas.


Estávamos hospedados em outra cidade, mais especificamente Monte Alegre do Sul, tomando uma fresca após o sábado de sol a pino. Saímos logo cedo para Jaguariúna, objetivando conhecer um pouco mais da cidade antes de se mandar para a região da estação ferroviária. Acontece que encontramos um lugar tão propício para estacionar que resolvemos ficar andando um pouco mais a pé. Passamos meio que de passagem pela praça da matriz, a igreja de Santa Maria, com seu adro e coreto costumeiros. Havia missa, e resolvemos não encher o saco de ninguém com nossos flashes.


Logo em seguida a um café, descemos até a rua Amazonas, intervalo da Rodovia João Beira que contém a principal atração fixa da cidade, a estação ferroviária. Tenho uma triste memória deste lugar: foi aqui que tomei minha primeira multa fora da cidade de São Paulo, surpreendido por um radar de 40 Km/h em uma avenida de quatro faixas. O prédio é um modelo de boa conservação.


É evidente que há modernidades instaladas para facilitar a vida dos transeuntes, já que o lugar é muito frequentado, mas, dentro do que é possível, todo o ar do passado é mantido também pelos equipamentos, como as janelinhas de compra das passagens, os bancos de madeira e os relógios analógicos em pleno funcionamento.


Há ainda a caixa d’água utilizada outrora para suprir os mais de cinco mil litros necessários ao funcionamento de uma única locomotiva, hoje ao lado da lanchonete instalada nos fundos da estação. Notem que as pessoas ainda podem optar por fazer um mais familiar e menos caro piquenique. Não chegamos a tanto: optamos pelo sorvete italiano mesmo.


A estação não é somente a gare de onde partem e chegam os trens turísticos, mas é um núcleo de memória completo. Por isso mesmo, é conhecido como Centro Cultural Zi Cavalcanti. Um dos salões da estação hospeda o Museu Ferroviário, que contém peças, equipamentos e vestimentas necessárias ao desempenho das funções específicas.


Como alguns exemplos, posso mencionar as diversas maquetes e miniaturas de locomotivas e vagões espalhados pelas paredes do museu...


... e destas curiosas pilhas, muito semelhantes àquelas que usávamos em brinquedos e radinhos, só que muito maiores. “As amarelinhas” eram os artefatos produzidos pela Ray-o-vac, como estas abaixo; havia também as Eveready, a “pilha do gato”, e as National, “Hi-top e Hyper”. Às vezes eu lembro de cada coisa...


Uma das coisas mais legais do Centro Cultural é um vagão em que o turista pode se vestir com uns simulacros de roupas de época para fazer fotografias (cobradas, evidentemente). Eles possuem uma gama bem grande de vestimentas, que servem para todo mundo se sentir em uma novela das seis, sejam adultos ou crianças.


Evidentemente, no entanto, a cereja do bolo é o passeio de locomotiva a vapor. Saudade para os idosos, curiosidade para as crianças, fico exatamente no meio termo: andei um bom tanto de trem, mas nunca de maria-fumaça; portanto, trem para mim não são só os rápidos metrôs, mas não chega a ser uma antiguidade, como essa máquina que estava pronta para puxar nossos vagões.


O trajeto é mais ou menos longo, com a duração de três horas e meia, aproximadamente. Como pega pontos bem íngremes, ele não é feito todo de equipamento a vapor, mas de locomotiva a óleo também. Nesta foto abaixo, temos, lado a lado, as duas máquinas utilizadas para nos conduzir até Campinas. A azul é a diesel, e mesmo que não possua todo o romantismo da locomotiva mais antiga, tem uma beleza muito digna. O distintivo é lindo.


Embarcamos no carro 04, embora eu tenha feito questão de pegar a patroa pela mão e puxá-la para percorrer todos os vagões em uso, perturbando a paz alheia. Percebam que é possível sair de um vagão e entrar em outro, o que é uma novidade para os atuais metrôs. Minha esperança era chegar até o vagão da fornalha, mas os condutores, preparados para abestados como eu, tratam de deixar o primeiro vagão devidamente trancado.


Um pouco antes da partida, já com os vagões praticamente plenos, e eu fui fazer a foto clássica da janelinha. Talvez a minha inabilidade seja a responsável, mas aqui é possível perceber pelo volume de luz o quanto o astro-rei estava disposto a arrancar a pele dos pobres turistas.


O momento da saída da estação é um dos ápices da viagem, com as composições que saem e as que ficam acionando seus barulhentos apitos. Há um viaduto de contorno por sobre a avenida que faz com o trem pegue sua rota, entremeada pela região rural de Jaguariúna e Campinas.


Uma das primeiras paisagens que é avistada no caminho é o rio Jaguari, que ajuda a denominar a cidade, e que a abastece. A ponte por sobre ele é alta e completamente invisível para quem está no interior do trem.


A partir daí, o percurso vai se entremeando basicamente por duas espécies de panorama: os longos corredores de mata de ambos os lados (os comissários – ferromoços – informaram que sempre há riscos de faíscas que podem meter fogo na quiçaça. Credo)...


... e as terras cultivadas, algumas delas cheias de história. Essa fazenda abaixo, por exemplo, é pertencente à família Paes de Barros, a mesma da famosa avenida da Mooca, a pátria da qual me exilei. Estamos em plena rota do café do século XIX, e este era um eixo de muita riqueza.


No interior do trem, além dos sorvetes e souvenires, um trio passa de vagão em vagão para animar a galera com músicas de outrora. É o trio Maria Fumaça. A arquibancada acompanha batucando nos bancos de couro, e alguns passageiros mais descoladinhos chegam a ensaiar uns passinhos balouçantes.


No fundo da composição, o vagão-restaurante (chamado de Pullman). Fui arrastando a patroa de fora a fora do trem para chegar até aqui e tomar uma água, pelo puro prazer de dizer “cheguei aqui”. Não há nada de tão especial – talvez tomar sopa fosse um pouco mais complexo no sacolejo.


O trajeto até Campinas inclui, além da própria estação de Jaguariúna, outras cinco. A primeira delas é a estação Carlos Gomes, que é utilizada como uma espécie de oficina mecânica onde são feitos os reparos de locomotivas e vagões, e lá está repleto de equipamentos para consertar.


A estação seguinte é a Desembargador Furtado, e, de todas, é a que está mais estragadinha. Em termos de construção, ok, parece estar sólida e facilmente reparável, mas ainda precisa ser devidamente revitalizada.


Depois, temos a estação do Tanquinho, que tem esse nome porque aqui existia uma espécie de “lava-rápido” para os equipamentos da linha. É aqui onde é feita a parada para os meio-passeios, uma das opções disponíveis. Eu fiz o caro (porém compensatório) percurso completo.


Nesta mesma estação, existe um pequeno museu das telecomunicações, que contém telégrafos, centrais telefônicas, aparelhos e outros que-tais. Estava com a porta encostada, e eu estava babando para dar uma olhada. Nada como uma criança numa hora dessas: uma menina mais atrevida um pouco chegou empurrando a porta e abrindo tudo para a massa ignara invadir. Fiz feio? Fiz feio, mas registrei o que eu queria, em nome do conhecimento.


A penúltima estação antes do destino final é a Pedro Américo, que homenageia o dono da imensa Fazenda São Pedro, que permitiu a passagem da linha de ferro por suas terras, evitando assim os custos da desapropriação ou uma volta gigantesca.



A última estação, na cidade de Campinas, chama-se Anhumas, um rio da região. É aqui que embarcam as pessoas que fazem o trajeto contrário, e onde o pessoal da ABPF – Associação Brasileira de Preservação Ferroviária dá diversas explicações sobre o funcionamento das máquinas, da manutenção da ferrovia e de sua história.



Em uma das marias-fumaças, a justa homenagem ao idealizador deste projeto de conservação, o francês Patrick Dollinger, que desde 1977 reuniu pessoas e recursos para levar a cabo a tarefa de manter o que fosse possível da história ferroviária do país, algo que é relativamente comum na Europa, mas que no Brasil...



Na volta, fiz menos reportagens e apreciei um pouco melhor os cenários, ainda mais que, pelo acordo assinado com a patroa, eu fui na janelinha. Estávamos de volta a Jaguariúna mais ou menos às 16:30. Dava tempo suficiente para passear pela feirinha de artesanato da estação e ainda subir até o Parque dos Lagos, uma espécie de Ibirapuera local.



São dois lagos entremeados por uma via pública, o que divide o parque em dois, e que podem ser intercambiados por um túnel. Deu tempo de refrescar a garganta antes de pegar a estrada de volta, ainda com clima saarauí.



Vamos fazer uma análise dos três tipos de pessoas que eu encontrei nessa viagem. Há as crianças, que se divertem enquanto o tédio não bate; há os bobos-alegres como eu, que procuram aproveitar a oportunidade rara de encontrar uma ponte entre o ontem e o hoje. E há aqueles de mais idade, que tem uma atitude de nostalgia. São, de longe, os mais emocionados com o passeio, que terminam com uma mescla de gratidão por poder reviver um pouco de seu passado e a melancolia de ter ciência de que o seu tempo, assim como as locomotivas, estão ficando para trás.

Já falei neste texto sobre a maneira como as memórias são resgatadas de maneira pouco confiável, o que acaba ocasionando aquela sensação de que “antigamente as coisas eram boas”. Neste outro, mostrei como até mesmo podemos reconstruir maliciosamente nossa memória, de modo a constituir fatos totalmente novos como se fossem reais. Mas há ainda outro ponto importante, que parece controverso: tão importante quanto lembrar é esquecer. É vital até.

A memória é uma coisa difícil de rastrear. Se fizermos bastante força para tentar evocar nossa primeira recordação, vamos lembrar de algumas coisas marcantes ou prosaicas, não há muito como controlar. De uma forma ou de outra, essa lembrança se dará por volta dos três ou quatro anos. Mas isso não significa que seja, de fato, a primeira coisa que está em nossas reservas mentais. Na verdade, há registros de cheiros e sabores desde que nascemos, provavelmente do leite de nossas mães. Não conseguimos lembrar disso porque não tínhamos a linguagem suficientemente desenvolvida, mas não acontece às vezes de termos a sensação de que há algo a lembrar em uma determinada circunstância? Nada mais pode ser do que um registro de uma sensação que obtivemos em um momento anterior à nossa maturidade linguística, e que acabou ficando solta, mas ainda assim existente.

Mas ok, essa memória difusa deixa de fazer sentido a partir do momento em que temos desenvolvimento intelectual suficiente para fazer conexões linguísticas, mas ainda assim não temos nossa memória toda presente, o tempo todo. Uma parte da memória se esvai rapidamente, de modo a ter três destinos: extinção, repressão ou esquecimento puro.

Os dois primeiros não são esquecimentos de verdade. Elas ficam reservados na memória para uma eventual necessidade ou por um acidente que as faça vir novamente à tona. No caso da extinção, é aquilo de mais comum que acontece. Temos espaços na nossa memória de trabalho para que possamos operar o nosso dia-a-dia e coisas mais triviais. Na medida em que não são mais estimuladas, as memórias que ocupam esse espaço vão sendo extintas, não no sentido de ser apagadas, mas de dar lugar para outros pensamentos ativos, e ficam prontas para serem evocadas no momento adequado. É como um pôster do seu time que você tira da parede. Todos os dias, você entrava e saía de casa e via o escrete imbatível, mas a peça envelheceu e você decide recolhê-la. Por um tempo, haverá o estranhamento com a ausência, até que a parede vazia vai fazer parte de sua nova rotina e os onze cavaleiros serão extintos de sua memória. Mas bastará uma reportagem, um bate-papo, uma nova final para que o seu pôster seja resgatado na sua mente. Portanto, não é um esquecimento de fato, mas uma retenção mnemônica.

Na repressão, mecanismo muito estudado por Freud, um determinado fato ou circunstância é “jogado fora” da memória por uma questão de autoproteção, em especial quando causa grande incômodo para a pessoa. Às vezes tratamos de nos forçar a esquecer, tentando pensar em outra coisa, mas o próprio cérebro se encarrega de executar essa tarefa, depositando a memória desagradável no inconsciente. É evidente que novas experiências dolorosas podem fazer aflorar a memória reprimida no consciente, o que demonstra que este também não é um esquecimento na acepção da palavra.

Mas o fato é que esquecemos, para o nosso próprio bem. Existe uma condição patológica que faz com que as memórias não se apaguem, extremamente limitante. É o stress pós-traumático, um transtorno onde uma experiência traumática de natureza grave fica registrada de maneira tão indelével na consciência da pessoa que são frequentes as recorrências do acontecimento a nível mental, como nos sonhos, nos sustos frequentes, na equiparação de situações semelhantes. Isso faz com que a vida da pessoa se torne tremendamente limitada, cercada por recidivas que não se apagam da memória. Imaginemos alguém que sofreu um sequestro violento, onde tenha sofrido abusos e torturas. Se essa pessoa não receber um acompanhamento psicoterapêutico sério, poderá ter suas memórias traumáticas evocadas a cada instante: a cada notícia sobre o mesmo tema, a cada carro semelhante ao que lhe levou, a cada canto escuro como seu cativeiro, a cada pedaço de comida como a que lhe trazia sobrevida, a cada grito como o que lhe berravam. Se nossas memórias não se apagassem naturalmente, viveríamos, todos nós, em um stress pós-traumático permanente.

A própria dinâmica do stress pós-traumático, no entanto, ajuda-nos a entender o que é um esquecimento de verdade e o que não é. As memórias estarão tão mais propícias a ser esquecidas quanto menos ligadas a um contexto de emoção estiverem, o que é extremamente intenso na situação da perturbação mencionada. Mas é um fenômeno muito fácil de experimentar sem grandes consequências. Vou usar exemplos pessoais. Eu lembro muito bem do “7 x 1”. E você também, que sabe bem do que estou dizendo, a não ser que não seja brasileiro ou alemão (ou argentino). Lembro de muitos detalhes. Assisti os jogos anteriores da Copa nos mais diversos lugares: no apartamento das minhas afilhadas comendo pipoca, no meu vizinho tomando cerveja, no meu sogro, que me devolveu a visita no jogo seguinte. Até mesmo no hospital, com minha mãe moribunda, assisti a um dos jogos. No malfadado dia do malogro, acabei ficando sozinho em casa mesmo. Peguei um saco de batatinhas, uma garrafa de cerveja e liguei a tevê do quarto, esticando os joelhos na cama. Lembro que eu estava confiante em uma alienada tradição de que a Alemanha era a maior freguesa do Brasil no futebol de alto nível, e achava que isso ia pesar. Lembro do primeiro gol, inclusive que cocei a cabeça e arranquei uma casquinha dela, o que me fez um pequeníssimo sangramento. Lembro também do inacreditável sacode, quatro gols em seis minutos, e que a patroa foi lavar a louça, puta da vida. Eu tirei a camisa do Timão que vestia, para preservar sua dignidade. É uma daquelas cor de vinho, linda de morrer, com o São Jorge tatuado, a única terceira camisa que eu gostei de verdade. Não a pendurei no mancebo, coloquei-a direto na gaveta, tão pouco o tempo que a vesti. Depois do jogo, finalizado o massacre, estranhamente fui atrás de todas as resenhas possíveis, na tevê, no rádio e na internet. Até ouvir a frase-síntese de todo aquele vexame, se não me engano proferida por José Trajano: “Agora Barbosa** pode descansar em paz”.

Pois bem. Semana passada, o Corinthians jogou contra o São Caetano e eu não me lembro de mais nada, a não ser que vi a partida no mesmo quarto (por uma questão de hábito) e que ela terminou 1 a 1. Se eu estava de camisa, se eu estava descalço, se minha patroa falou mal da vizinha, se o cachorro dormiu nos meus pés, se eu fui antes ou depois no banheiro, não lembro mais nada disso, e nem tenho condições de lembrar. São esquecimentos reais, porque não havia nenhuma emoção em especial para retê-los, como na vergonha de 2014. Era um jogo comum de campeonato, que a gente não assiste no campo porque o ingresso está com o preço exorbitante. A emoção faz uma espécie de lastro que prende toda a cadeia de acontecimentos em um mesmo arcabouço, como se fosse um galho com suas folhas. O vexame de 2014 teve toda uma carga emocional para fixar as circunstâncias que lhe cercavam; a estreia do campeonato paulista, não.

Isso ajuda a explicar um pouco a reação mais emotiva dos mais velhos. O resgate feito de suas memórias traz apenas coisas boas. O tédio das longas viagens, o incômodo do balanço diário, a obrigação de ir e vir ao trabalho ainda que não se queira, todos ficaram pelo caminho, na cova rasa do esquecimento real, ou, no mínimo, sem extrair os cadáveres da repressão ou o mofo da extinção. O esquecimento, no caso, torna doces suas memórias, e ajuda a explicar porque cada coisa no funcionamento de nossos corpos e nossas cabeças são, por si só, fascinantes. Daqui a alguns anos, talvez, quando eu pensar em Jaguariúna, queira repetir a jornada, quem sabe com eventuais netos, para lembrar das fotos e da viagem, e esquecer do calor causticante, único senão que poderia me desanimar.

Recomendação de leitura:

O professor Iván Izquierdo é um argentino naturalizado brasileiro que se especializou no estudo das memórias. Fez algo que é muito bom para nós, membros da plebe rude: traduziu um tema extremamente complexo em termos simples, facilmente compreensíveis. Recomendo fortemente.

IZQUIERDO, Iván. A Arte de Esquecer. Cérebro e Memória. Rio de Janeiro: Vieira e Lent, 2010.

* É um Prisma 2010 verde, que tem se portado muito bem em quase todos os terrenos cruéis que o enfiei (daí o apelido). Se os ventos monetários se mostrarem propícios, devo despachá-lo ainda este ano, porque as coisas são assim mesmo: é um bem a quem trato com um carinho ilusório. Daqui a pouco, não vale mais nada e lá vou eu fazer financiamentos imensos para comprar algo pouquinha coisa melhor.

** Para quem não sabe, Barbosa era o goleiro da seleção brasileira na Copa de 1950, igualmente disputada no Brasil. O resultado foi um vice-campeonato, com uma derrota por virada diante do Uruguai. Barbosa foi considerado o maior culpado, devido a uma suposta falha no segundo gol dos cisplatinos: o atacante Ghiggia entrou de fianco na área brasileira, e o infeliz guarda-redes se preparou para cortar o evidente cruzamento, que não veio – o chute direto entrou no cantinho esquerdo da meta. Barbosa carregou o peso da derrota até sua morte, no ano 2000. Diante do fiasco acachapante de 2014, sua memória foi devidamente (e tarde demais) redimida.

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