Olá!
Dia desses, eu estava conversando com uma das minhas afilhadas sobre carreira. Sacumé, aquelas perguntas do tipo "E aí, já deciciu o que você vai fazer na facu? Vai ser publicidade mesmo?", etc. A resposta dela me intrigou um pouco: "Desisti de fazer publicidade. Não é possível ser ético nessa profissão", mais ou menos assim. Parei prá pensar um pouco sobre o assunto, e cheguei a uma conclusão um tanto inconclusiva.
Em primeiro lugar, é preciso pensar em como enxergamos a ética. Esta é uma das áreas da Filosofia mais polêmicas, porque é preciso lançar olhos antropológicos sobre a questão. Isso significa que, como cada povo tem seu conjunto de valores consolidado de maneira diferente que os outros, é preciso entender sua cultura para tentar compreender suas atitudes.
O jeito é procurar pensar especificamente na realidade brasileira. Como pensamos a ética e como ela conversa com o uso da publicidade? Vejamos.
O Brasil é um país de dimensões continentais, que vem sofrendo um processo de urbanização bastante significativo. Segundo o IBGE, mais de 80% da população vive nas cidades, quando até a década de 50 era inferior a 40%. Isso quer dizer que cada vez mais o fluxo de mercadorias torna-se intenso, porque as pessoas já não tem mais a possibilidade de provocar sua própria subsistência. Tem mais: adotamos, em especial nos últimos anos, um modelo econômico liberal, ou seja, um sistema capitalista com a intervenção estatal cada vez menor (claro que a questão dos impostos interfere nesse modelo, mas isso é assunto para outro post) e onde a concorrência é livre. Isso indica que a força da grana é muito grande. É preciso circular a economia cada vez com maior intensidade para a lógica da lucratividade poder girar sua roda. Mais um aspecto a considerar: vivemos em uma sociedade baseada em uma moral judaico-cristã, mas hoje em dia vemos um crescimento assustador do fenômeno evangélico. Enquanto os ideais de desprendimento do mundo estão no substrato do pensamento espírita e católico, os evangélicos não vão por essa linhagem. Para eles, não há nenhum peso na consciência em lucrar. É perfeitamente legítimo. Não vou discutir as causas, é apenas uma constatação.
Falamos em girar a roda do capitalismo. Seu motor é o dinheiro, mas seu combustível é a publicidade. Publicidade bem feita, nesta lógica, é aquela que faz vender, aquela que convence o consumidor. Os produtos de primeira necessidade são exatamente isso, necessários; mas mesmo aqui a publicidade deve fazer seu papel - indicar ao consumidor que o meu produto é melhor que o do outro. Se isso é válido para esse tipo de bem, o que não dizer dos supérfluos? Aqui então é que a propaganda deve ser mais eficiente, pois não se trata apenas de incentivar uma escolha, mas de convencer sobre vantagens e benefícios no consumo de produtos que, no limite, são desnecessários.
Temos então um tremendo problema: como podemos vender produtos sem expor seus defeitos? Porque é exatamente aqui em que podemos em pensar em uma atitude ética.
Vamos então colocar algumas situações: A publicidade vive utilizando em suas peças situações ideais. A par disso, temos cada vez mais uma preocupação com as minorias, o que é tremendamente justo. E o que tem alguma coisa a ver com outra? É que tem algumas minorias que são esquecidas, porque elas não se enquadram no modelo ideal.
Por exemplo: tiraram um baratinho da minha cara e da minha afilhada. Sendo eu diabético e ela vegetariana, o pessoal disse que, em nossos aniversários, levar-nos-iam, respectivamente, a uma doceria e a uma churrascaria. Ora, é só uma brincadeira, sem problema algum. Sou já maduro e não me incomodo com isso, e na verdade brinco muito com essa situação. Mas pensemos em uma criança diabética. Como você explica para ela que NUNCA poderá consumir aqueles maravilhosos doces, que todos aqueles produtos deliciosos NÃO SÃO para elas, que de uma prateleira com 50 tipos diferentes de doce NENHUM é para seu consumo, a não ser aqueles da caríssima e limitada seção de dietéticos? (O mundo é uma merda, mesmo. O doce diet mais barato custa só o TRIPLO de um convencional. Será que o adoçante é tão caro ou processo de produção é tão mais complicado? Tá bom, vai...) Essa criança vê a propaganda maciça dos supermercados da vida, e sofre com o desencanto de não ser semelhante aos outros.
Não vamos demonizar a publicidade. Ela é apenas mais um elemento desta lógica. Será possível, então, fazer um uso ético dela?
Minha resposta é sim. Mas isso é assunto para o próximo post, porque este já ficou muito comprido.
to no post, que dahora :D
ResponderExcluirCaro tio, por consideração a todos os anos que passamos juntos, como quase formado em publicidade acredito que posso adicionar alguns ingredientes à essa mistura de ideias.
ResponderExcluirAntes, contudo, devo dizer que muito bom o texto e muito bacana a iniciativa de um blog trazendo a filosofia para o dia-a-dia, acho que isso é um grande auxílio àqueles que filosofam sem saber e aos que não fazem ideia de como é a prática filosófica. Parabéns!
Escrevi um texto que se encontra no seguinte link: http://tacosepitacos.blogspot.com/2012/01/dialogo-entre-filosofia-e-propaganda-um.html que discuto algumas questões com este seu texto e otras cositas más. Quando der, dá uma passada por lá! Abraço!