Olha só que legal! Este é o 100º post que publico neste
humilde espaço*. Para comemorar, elaborei uma série de “eventos”, ou seja, um
monte de pequenas coisas para melhor adornar e facilitar a navegação neste
espaço. Na verdade, nem foram tantas coisas assim, mas que deram um bocado de
trabalho para quem não é muito perito nessas coisas de design.
Achei que ficou bom. Tirei aquela cara padrão do Blogspot e
inseri o muro chaveado que é possível ver logo acima. Também coloquei um
menuzinho do tipo combo para fazer uma filtragem por área. Como há textos que
se encaixam em mais de uma área, é evidente que serão listados mais de uma vez.
Também providenciei uma revisão completa dos textos e criei uma espécie de
distintivo, o tijolo com a chave, que será explicado ao longo deste texto.
Não cheguei a pensar que este blog atingiria este volume. Na
verdade, imaginei que ele duraria pelos verões necessários à conclusão de meu
projeto pedagógico. Para quem não sabe, o projeto é uma exigência na conclusão
dos cursos de formação de professores, as famosas licenciaturas, e acompanham o
restante do pacote, que inclui TCC, estágio com suas centenas de relatórios,
análise de plano gestor, atividades acadêmicas e culturais, planos de aula e
etc. Só que, na medida em que escrevia e divulgava meus textos, percebi uma
repercussão positiva em meus leitores, o que acabou ampliando sua existência
para o indecifrável tempo que o destino quiser. Por isso mesmo, resolvi abrir o
espaço desta 100ª postagem para os meus “clientes” mais habituais, e desta
forma satisfazer algumas de suas curiosidades e recolher novas sugestões de
temas. Vamos lá.
- - -
Comecemos em casa – a Deborah pergunta o que me levou para a
Filosofia.
A lembrança mais remota que eu tenho da Filosofia como
disciplina acadêmica remonta ao final da década de 70 ou começo da de 80, não
lembro bem. Existia um programa de televisão que consistia em uma competição
básica de conhecimento entre faculdades, uma gincana; havia lá suas atividades
físicas também. Cheguei a pensar se não foi o “É proibido colar”, comandado
pelo hoje festejado Antonio Fagundes, mas acho que não. Se não me engano, este
último era destinado a colégios. Bom, passons...
Lembro-me de que todas as vezes que o pessoal da Filosofia da USP ia ao
programa, mandavam muito bem nas provas de conhecimentos e muito mal nas
desportivas, gerando um estranho equilíbrio nos certames dos quais
participassem. Colocando na mesa a questão prática típica das crianças,
perguntei a mim mesmo: “Qual é o trabalho de quem se forma em Filosofia? O que
faz um filósofo? Para que serve a Filosofia?”. Não sei por que, mas esse tipo
de pergunta, tão frequente ainda hoje aos alunos, ficou meio que fixada na
minha cabeça, e foi colocada como hipótese – muito embora os discursos fossem invariáveis:
“Só se você quiser morrer de fome”.
Eu não quis. É claro que esse motivo não era suficientemente
sério para me guiar ou desviar da faculdade. Segui o caminho das minhas
atividades momentâneas, o que me levou à contabilidade e à informática, mas o
tempo trouxe maturidade e, bom leitor que eu sempre fui (modéstia a parte),
comecei a buscar em obras filosóficas as respostas a questões concretas que nem
sempre a literatura conseguia me trazer. Acabei me encantando com o processo de
construção do conhecimento através dos tempos, e, quando tive a oportunidade de
mais uma vez cursar o superior, resolvi fazê-lo por gosto, e não por exigências
“mundanas”.
- - -
A Rê Cabaleiro – uma das mais citadas freguesas deste espaço
– me pergunta em que (ou como) me inspiro e qual a relação com meu modo pessoal
de pensar.
Bom, a proposta do blog é extrair Filosofia do quotidiano,
das coisas que se passam no dia-a-dia. É causar discussão não a partir das
grandes questões universais, mas chegar a elas através das notícias que leio,
das coisas que vejo nas ruas, dos alimentos que como, das músicas que ouço. Uma
das maiores dificuldades que percebo, em especial nos mais jovens, é associar
questionamentos mais aprofundados com o mundo que os rodeia. Isso torna a
disciplina tremendamente chata e pesada. Se é apresentada a um aluno uma tese
epistemológica elaboradíssima, o resultado é tédio e desprezo. Entendo que é
técnica muito mais eficaz apresentar um caso do quotidiano e, a partir dele,
mostrar que já houve pessoas que pensaram cuidadosamente na questão.
Evidentemente há assuntos que me tocam mais de perto. São
coisas que se passam na minha cabeça sem nenhuma motivação especial, e ficam a
espera de ser revolvidas por algum acontecimento qualquer. Uma postagem no
Facebook, por exemplo, pode disparar um processo de confecção de texto. Uma
cena na rua. Um filme. Um almoço. O bom da Filosofia é que tudo pode ser fonte
de inspiração. Mas também trabalho “sob encomenda”. Há quem tenha dúvidas sobre
determinado assunto, queira saber um pouco de minha visão sobre determinado
tema, e nesse ponto minha persona professor entra em ação. Em geral, já tenho
algum tipo de “forma bruta” do objeto requisitado, e então me ponho a pesquisar
e elaborar melhor tais pensamentos. É processo por vezes lento.
Procuro apresentar visões variadas sobre um tema específico.
Nem sempre coloco em tela posições com as quais eu concorde, mas procuro
discorrer sobre elas da maneira mais isenta possível, até mesmo porque não
posso me arrogar o direito de portar a verdade – pode ser que nada do que eu
penso seja real. Mas, evidentemente, minhas posições pessoais acabam por
“contaminar” meus textos, até porque minha ideia não é produzir textos
acadêmicos, mas dar um estímulo ao pensamento, abrindo leques de opções a quem
me lê.
- - -
A Ná Cabaleiro – irmã da Renata anterior - me pergunta onde
escrevo meus posts, e de onde tiro argumentos para escrever.
Basicamente, não tenho um lugar específico para escrever,
algo como um quarto ou escritório, mas há alguns locais onde, com certeza,
carrego meu caderninho para dar tratos à bola e redigir pelo menos o grosso dos
meus textos. Um desses lugares, como falei em outras oportunidades, é a feira
de orgânicos do Parque da Água Branca, enquanto aguardo as compras da minha
inseparável Mimi, e, vez por outra, da retro mencionada Deborah. Não tenho
muita paciência nem qualificação para selecionar os melhores chuchus (argh!) ou
saladas, então fico tomando meus litros de café enquanto aguardo e escrevo. Outro bom lugar para redigir é a Praça Buenos
Aires, onde, vez por outra, passos meus parcos minutos de almoço revisando
minhas escritas. Também aproveito salas de espera de médicos, dentistas e
veterinários, muitas das vezes demorados e solitários. E, claro, na minha casa,
sem lugar e hora prefixados.
Os argumentos brotam do dia-a-dia, como já expliquei, mas
não escrevo a esmo. O trabalho de redação sempre implica em pesquisa, e, como
tenho a responsabilidade de não escrever bobagens, essa tarefa pode acabar
levando muito tempo. Como meus jovens leitores eventualmente me pedem para
desenvolver textos específicos, preciso me aprofundar nesses assuntos, que nem
sempre estão muito claros na minha mente. Às vezes o texto sai quase no fluxo
da consciência, mas quase nunca é assim. Normalmente, consulto a estante da
minha casa, onde tenho livros, apostilas e anotações da faculdade, mas também
uso bastante a internet. Se for o caso, vou até a biblioteca e consulto uma
obra específica. Já cheguei a fazê-lo unicamente por causa de uma temática, o
que dá medida da seriedade com que tento manter meu espaço cibernético.
- - -
Vamos para o Bruno Costa, outro afilhado, que me manda belo
pacote de perguntas, e que serão respondidas por tópicos:
1) Uma curiosidade que eu sempre tive é sobre o seu
processo de escrita. Se você faz um roteiro, se vai montando o texto no dia a
dia;
Varia muito, Bruno, e depende muito do tamanho do
conhecimento que eu já tenho sobre o tema e sobre o tanto que preciso
pesquisar. Às vezes faço de fato algo como um “roteiro”, em geral pontuando os
tópicos que preciso enfatizar. Redijo os trechos e depois me ocupo de
costurá-los. Há momentos em que estes tópicos já se tornam fixos, mas há coisas
que vão surgindo na minha cabeça, seja no processo de escrita, seja em uma
destas avenidas quaisquer, seja em algum bate-papo, quando, do nada, pinta uma
correlação. Raramente, o texto sai no correr da pena, mas acontece de vez em
quando. E às vezes a escrita vai sendo montada sequencialmente, como se fossem
os vagões de um trem.
2) ...como você escolhe os excelentes livros e
filmes que vai indicar. O processo de inicio ao fim. Desde a ideia e a
conclusão.
Em geral, as obras que indico são aquelas com as
quais me socorri em pesquisa. Há também textos que nascem da própria leitura de
uma obra, ou de algum filme ou peça que assisti, também estes são processos do
quotidiano que me inspiram a escrever. Há muitos casos em que busco, além de
uma recomendação mais direta, alguma referência mais lateral, procurando
enriquecer a compreensão.
3) E a outra curiosidade é em saber o que esse blog
significa pra você, se funciona como um diário público, ou um caderno de
estudos, ou talvez algo como uma coluna particular. Enfim como você vê isso o
que você faz e com que objetivos.
É tudo isso, separado ou misturado. É um diário
público (não “diário” no rigor da palavra, bem entendido, já que o atualizo somente
quando possível), porque há o propósito não só de propor temas, mas de emitir
opiniões sobre eles, além de desafiar meus leitores a também fazê-lo. É um
caderno de estudos, porque reflete meus anos de aprendizado na faculdade e
leituras autônomas, bem como de participações em palestras e muita coisa que
assisto/leio na internet, filtrando e sintetizando o que obtenho de mais
interessante. E é também uma coluna particular porque, lembrando que nunca
somos totalmente isentos (por mais que devamos tentar sê-los), serve para
marcar minha posição sobre inúmeros temas. Tanto é verdade que, nas redes
sociais, respondo – raramente, é fato – a algumas postagens com o
compartilhamento de meus posts.
- - -
Minha afilhada Jéssica Araújo (Jazz, para os
íntimos) pergunta: qual autor que te traz mais coisas boas e pensamentos
positivos sobre a vida, já que a Filosofia nos deixa meio “bad” às vezes. Ela
quer saber se há algum autor que faz o inverso.
Vai ser um pouco mais longo. É difícil responder
isso, tenho até mesmo uma certa dificuldade em estabelecer qual corrente
filosófica mais influenciou meu pensamento, porque é a típica perspectiva que
deveria vir de fora; alguém da área deveria ler meus textos e dizer: “Ah, isso
aqui se assemelha a Fulano, aquilo ali é influenciado por Sicrano”, e assim por
diante. É uma coisa interessante: músicos adoram revelar influências,
escritores já tem dificuldade em admiti-las. Como não sou uma coisa nem outra,
fico entre a cruz e a caldeirinha. O que posso dizer é que meu filósofo
favorito é Schopenhauer. Isso quer dizer que sou pessimista? Sim.
O grande problema é que a Filosofia não olha os
problemas pelo seu lado bom; olha-os pelo seu lado real. E isso faz com que
todos os aspectos de uma questão tenham que ser colocados na mesa, com seus
aspectos positivos e negativos. Como a Filosofia procura por problemas, em
geral temos mais aspectos negativos sendo tratados.
Por isso mesmo, os filósofos que observaram as
limitações e fraquezas humanas sempre dão uma aura de mau humor aos seus
escritos, mas isso não é algo proposital: é inerente à sua obra. Imagine o
trabalho de um médico: ele é composto por vidas salvas, por partos bem
sucedidos, por correções de anomalias, por indicação de medicamentos que
aliviam as dores, e isso é muito bom, traz felicidade e realização. Mas há
também o fracasso, erros médicos, vidas interrompidas. Há socorro para pessoas
acidentadas, rostos desfigurados, vítimas de crimes, membros amputados, doenças
permanentes, e mortes (Há inclusive um aconselhamento geral para que os médicos
não cliniquem pacientes queridos, como parentes e amigos, para que seja
possível manter a serenidade e o juízo crítico diante das dificuldades que
possam ser encontradas. Imagine, por exemplo, um médico que esteja fazendo uma
cirurgia no seu próprio filho, e que ocorra uma hemorragia inestancável. A
possibilidade de que este médico entre em desespero é tão grande quanto
indesejável, portanto o ideal é que alguém isento e mais distante seja
acionado).
Com os filósofos ocorre o mesmo. Seja ele otimista
ou não, encontrará dificuldades de manter uma mensagem positiva sempre. A não
ser que escreva auto-ajuda. Aí, é fácil. Mas não é Filosofia (leia aqui).
Isso quer dizer que só encontrarei depressão em
leituras filosóficas? Não, evidentemente. Quando a Filosofia investiga coisas
que não derivam do caráter humano, ela é neutra. Filosofia da Linguagem, Física
pré-socrática, Estética e outras áreas podem ser lidas sem que se tenha vontade
de chorar, e há algumas obras que falam do caráter humano por um viés mais
voltado para a felicidade. Rousseau, por exemplo, acha que o ser humano nasce
bom e o mundo ao seu redor o distorce. Portanto, mesmo que Rousseau navegue
pelas dificuldades das relações humanas, tem no substrato de seu pensamento a
crença nessa bondade natural, e o ápice desta crença o levou a produzir uma de
suas obras-primas, Emílio, em que
discorre sobre um método educacional para manter nas crianças esse espírito
benévolo sem que se mantenham ingênuos perpetuamente.
Vou mencionar dois filósofos contemporâneos que
versaram parte de sua obra ao estudo da felicidade, e que produziram livros
mais leves, por conseguinte (ótimos, por sinal). Um deles é Bertrand Russell,
filósofo da linguagem por excelência, que tenta encontrar na supressão do
egocentrismo o melhor caminho para a felicidade humana em seu livro A conquista da felicidade. O outro é
Julián Marías, filósofo espanhol mais recente ainda, que no seu livro A felicidade humana discorre sobre a
felicidade de forma muito simples: os homens já não conhecem o que é a
felicidade pelo simples fato de não pensaram mais nela, de não refletir se o
modo como a sociedade nos coloca diante dela é o que realmente pode nos
conduzir a este estado. Vou mencionar as referências mais abaixo.
Para finalizar, em geral, gosto dos filósofos que
mataram charadas: Demócrito com o atomismo, Kant com a epistemologia da razão,
Wittgenstein com a teoria pictórica, Nietzsche com a vontade de potência,
Bergson com a intuição... Principalmente quando observamos a batalha de séculos
que a humanidade teve para que estes filósofos tenham sido vetores da síntese
destes pensamentos.
- - -
A Darci Bernardo Cagnin, que para quem não sabe é
mesmíssima Mimi que há 25 anos é minha patroinha, quer saber se tenho algum
texto do qual me orgulhe mais.
Eu diria que não, pelo menos a princípio. Mas,
relendo todos eles, percebo que alguns são mais fortes que os outros. Alguns
ficaram datados, em outros ficou faltando encaixar melhor os contextos, mas
eles vão ficar como estão. Refletem um momento do meu pensamento e servem como
registro histórico. Se eu quiser revisar seus conteúdos, fá-lo-ei através de
uma nova postagem, fazendo as devidas remissões. Mas gosto muito da maneira que
redijo meus escritos.
Certa vez, a Renata mencionada na segunda pergunta
reparou que, no decorrer de minhas aulas, eu sofria uma certa “transformação”.
Em geral, iniciava um tema com linhas gerais, passava para a experiência
pessoal, em um tom bastante coloquial. Na medida em que avançava para as teses
e teorias extraídas dessas observações, eu adotava uma linha cada vez mais
professoral, abandonando paulatinamente a informalidade, ganhando mais e mais
coesão na fala, e até mesmo mudando postura e tom de voz. É como se eu
começasse a “incorporar” uma entidade professor externa a mim.
Fazendo a revisão gramatical dos meus textos,
percebi que também aqui este fenômeno ocorre. Muitas vezes saio de uma
coloquialidade quase de boteco para partir a um português escorreito, feito de
palavras raras. Pensei uma boa meia hora sobre a questão, e me lembrei do
quanto uma leitura legal pode se transformar em um enfadonho texto acadêmico, e
decidi que mudar a maneira de escrever seria desnaturar este espaço. Afinal,
escrevo do mesmo jeito que gosto de ler – um texto leve na introdução e nas
pinturas de pavão do tema, e um pouco mais de seriedade ao se tratar do miolo
da questão. No final das contas, essa é a maneira mais espontânea que tenho
para registrar minhas ideias. Textos acadêmicos devem ser sérios e é importante
que sejam assim, mas este não é um espaço da seriedade, mas da Filosofia que
podemos encontrar no café e nas abelhas. Não são textos para serem citados em
artigos, mas para estimular seus leitores a buscarem suas próprias pesquisas.
Ela também quer saber se houve algum texto em que
eu espelhe mais a minha tristeza. Bom, já falei inúmeras vezes sobre a morte e
a angústia, e como, de certa forma, meus textos refletem um estado de espírito,
pode dar a impressão que eu estava entristecido nesses momentos, mas isso não é
tão intenso quanto possa parecer. Pelo menos não todas as vezes em que abordei
temas como esses. São assuntos por vezes difíceis de encarar, por isso mesmo
necessitam de seriedade no trato.
Mas há um texto em que eu estava de fato tomado de
torpor. É o post intitulado “Por que nos envergonhamos de dizer ‘eu te amo’?”,
por motivos óbvios.
- - -
O Marcos Santos faz pergunta semelhante: algum texto
de maior impacto?
Bom, neste caso, usei a ferramenta de estatística
do próprio Blogger. Ela indica, em números absolutos, que estes são os meus 10
posts mais lidos:
6º - A concepção de boa arte (colaboração de Vitor Bertalan)
Não tenho muito a
extrair desta lista. O líder, inclusive, foi feito bem despretensiosamente, e
não chutaria nunca que seria o mais lido de todos. Em termos de “audiência”,
esperava muito mais de alguns outros textos, mas o incômodo não me leva à
depressão. Calculo, pelas estatísticas, que tive arredondadas 8 leituras
diárias, mas este é um número crescente. Se levarmos em consideração que a
divulgação é feita unicamente através do mecanismo de seguidores do Blogger e
da minha conta pessoal no Facebook, não está mal. O que é possível constatar,
isso sim, é que toda vez que alguém replica o compartilhamento, o volume de
acessos ao meu blog tem interessantes picos, algo de multiplicar por 10 mesmo.
Até por isso, aproveito para agradecer a todos os que compartilharam textos
meus na internet, porque ajudam este trabalho a se tornar um pouco mais
conhecido.
E tem mais uma
coisa: é Filosofia, né? O que eu podia esperar? Ganhar minha vida com esse
blog? Menos, muito menos...
- - -
O Rogério
Raddatz, meu GRANDE amigo de infância, certa feita me questionou por que
“Aporias Plurais”, e sugere que eu mencione uma traquinagem muitas vezes
repetidas em nossa vida, chamada “Operação Resgate”. Bom, com relação a esta
última, merece um texto a parte, que farei em breve. Já quanto ao nome do blog,
peço um pouco de paciência e que sentem, porque lá vem história.
Bem, é evidente
que primeiramente decidi pelo blog como projeto pedagógico, para depois escolher
um nome. Não ia ser tão pouco criativo a ponto de chamá-lo de Blog do Décio,
por isso queria pegar um nome relacionado à (oh!) Filosofia. Pensei
inicialmente em Panta Rei, o “tudo flui” de Heráclito, mas achei que estava
meio nada a ver, era só um nome bonito, sem muita coerência com a proposta,
além de um motivo muito mais grave (e o único verdadeiro – o resto é balela): o
nome já estava ocupado no Blogger. Sem mais ideias imediatas, baixei um
dicionário de termos filosóficos para buscar inspiração e estudar algumas
hipóteses: paideia, maiêutica, episthéme... De repente, estava lá:
Aporia (gr. aporia: impasse, incerteza): 1. Dificuldade resultante da igualdade
de raciocínios contrários, colocando o espirito na incerteza e no impasse
quanto à ação a empreender.
2. Dificuldade irredutível, seja numa questão
filosófica, seja em determinada doutrina. Em outras palavras, dificuldade
lógica insuperável num raciocínio. Uma objeção ou um problema insolúvel: tudo o
que faz com que o pensamento não possa avançar.
Aporia... Um nome
pequeno-burguês para beco sem saída... Por que não? Parecia se encaixar bem ao
propósito do trabalho, afinal é bem frequente se ver em frente a um muro
intransponível de nossas dúvidas, sendo que a única chave que temos para
abri-lo é o nosso próprio raciocínio (perceberam que já estou explicando a
simbologia recém-nascida da decoração deste blog?). Reservei.
Vamos testar o
nome no Blogger? Já existe! Merda...
Voltemos ao
glossário. Ethos, logos, pathos, plethos... Plethos! Pluralidade... Também vai
ao encontro da proposta. Não nos defrontamos com um muro feito de uma só
aporia, mas de várias. Cada tijolo do muro é uma dúvida, com sua resposta
própria (ou “irresposta”), e desse paredão emerge a barreira entre nosso
conhecimento e nossa ignorância. Parecendo bom, vamos testar e, desta vez, com
sucesso. Meu blog se chamava Plethos, que é o seu endereço até hoje.
Mas a ideia da
multiplicidade das aporias me pareceu tão boa, que fiquei com dó de não
utilizá-la. Se as dúvidas existem e elas são muitas, temos um “plethos de
aporias”. Que nome feio! Temos uma “pluralidade de aporias”. Que nome enrolado!
Temos “muitas aporias”. Que nome sem sal! Temos “aporias plurais”. Bom, tá
melhorzinho. Fica esse.
- - -
Finalmente, meu
sarcástico amigo Lucas Soares (Tio Maza) pergunta, laconicamente: “O que lhe
incentiva a continuar com o blog?”, pergunta essa que interpreto como qual o
próximo passo que darei neste espaço.
Na verdade, ainda
não sei bem. Acho que esta é uma das grandes vantagens do mundo moderno: você
tem espaço disponível para expor suas ideias, sua arte, seus palpites e
opiniões. Sentia muita falta de algo do gênero quando era jovem. Começava a
escrever muita coisa nos meus cadernos, que se perdiam, eram esquecidos, e
utilizados como livros de anotações e de receitas. Não sei se isso vai
acontecer com meu blog, mas, enquanto eu tiver o que falar e as pessoas
quiserem ler, a brincadeira prossegue, porque é o combustível que me alimenta. O
que tenho como certo é que prosseguirei adicionando itens paulatinamente ao
“pequeno guia das grandes falácias”, e que sempre procurarei traçar roteiros
filosóficos das viagens que faço, com foi o caso do “diário de bordo de uma nau sem rumo” e estão sendo as “cartas náuticas para marinheiros de terra firme”.
Pode ser que a brincadeira dure anos ou acabe amanhã. Tudo depende do meu
tempo, da minha sobrevivência e, para dizer a verdade, da minha vontade, que
por ora persiste. Cheguei a pensar em transformar este espaço em um canal do
YouTube, mas penso em dois dificultadores: não tenho habilidade para produzir
bom conteúdo (no sentido técnico) e não tenho equipamentos decentes. Além do
mais, confio muito mais na minha pena do que na minha língua. Pode ser que lá
pelo 200º post eu apresente algo parecido como novidade.
Mas, além disso,
já tem algum tempo que venho adicionando fotografias, desenhos e outras
ilustrações aos textos do meu blog. Os motivos são “publicitários”. Primeiro:
na versão mobile do Blogspot, sempre fica exposta alguma das fotos na página de
chamadas. Depois: ao compartilhar um texto nas redes sociais (notadamente no
Facebook), uma foto torna a chamada muito mais atraente. E por último: como
resolvi sempre inserir ilustrações de alguma forma, aproveito para exercer meu
bom humor/sensibilidade/amadorismo-com-boa-vontade artístico/(in)habilidade no
Photoshop, e uso meus amigos e afilhados como modelos de minhas pretensas
fotografias. Peço desculpas, mas é um processo de construção de conhecimento no
qual ainda engatinho. Prometo melhorar.
- - -
Alguns outros
leitores não enviaram perguntas sobre o blog em si, mas sugeriram temas, que
serão desenvolvidos e publicados aos poucos. Quem me lê e interage com meu
conteúdo já aprendeu a ter paciência. O Jhonatan Souza, por exemplo, gostaria
que eu comentasse sobre a mudança comportamental das gerações, principalmente
com as novas tecnologias. A Eliana Souza (não são parentes) pergunta, curta e
seca: Por que o homem trai? Meu colaborador Vitor Bertalan quer que eu discorra
sobre o apogeu da filosofia árabe e sobre o concílio de Nicéia. São temas
amplos, mas instigantes, que serão analisados cada um a seu tempo.
Outros grandes
leitores deste espaço são meus sobrinhos Pedro Debs e Paulo Mutuca, e o Marcos
Paulo Zaninetti, que não enviaram perguntas, mas a quem agradeço igualmente
pela preferência.
Recomendação de leitura:
Vou fazer uma
auto-propaganda e convidar a todos que usufruam deste espaço. Há textos sobre
todos os tipos de assunto, desde os mais polêmicos até os mais triviais, e vai
continuar nessa pegada: posso divulgar textos sobre a existência como ilusão e
sobre a qualidade do chá de saquinhos. Tudo é possibilidade filosófica. Ele
está aberto a críticas, elogios, sugestões e etc. Quem quiser e achar que o
espaço merece, divulgue a seus amigos. Minha intenção é dar uma pequeníssima
contribuição para o enriquecimento cultural do país, que precisa escalar muito
ainda para reconhecer que a Filosofia não é algo apenas para malucos, mas que
pode ser muito bacana de ser lido e debatido.
* Devo admitir, humildemente, que usei um macete
sul-americano para considerar este o 100º post publicado. Como decidi fazê-lo
meio que em cima da hora, teria que represar as postagens posteriores por muito
tempo, o que daria uma quebrada sem precedentes no ritmo das publicações. Desta
forma, coloquei uma plaquinha de “homens trabalhando” e toquei minha vida
normalmente. Isso tudo porque convidei meus amigos a levantarem os
questionamentos, redigi o presente texto em resposta, preparei o novo fundo e o
logo, o iconezinho da barra de menu, pesquisei e testei as mudanças de menu e
reli texto por texto para fazer a revisão gramatical. Desculpem pela chicana,
mas foi feita com a melhor das intenções.
E também seguem abaixo as obras mencionadas na resposta à
Jazz.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio,
ou da Educação. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
RUSSELL, Bertrand. A
conquista da felicidade. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.
MARÍAS, Julián. A felicidade humana. São Paulo: Duas
Cidades, 1989.
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