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quarta-feira, 29 de outubro de 2014

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Olá!



Olha só que legal! Este é o 100º post que publico neste humilde espaço*. Para comemorar, elaborei uma série de “eventos”, ou seja, um monte de pequenas coisas para melhor adornar e facilitar a navegação neste espaço. Na verdade, nem foram tantas coisas assim, mas que deram um bocado de trabalho para quem não é muito perito nessas coisas de design.
Achei que ficou bom. Tirei aquela cara padrão do Blogspot e inseri o muro chaveado que é possível ver logo acima. Também coloquei um menuzinho do tipo combo para fazer uma filtragem por área. Como há textos que se encaixam em mais de uma área, é evidente que serão listados mais de uma vez. Também providenciei uma revisão completa dos textos e criei uma espécie de distintivo, o tijolo com a chave, que será explicado ao longo deste texto.
Não cheguei a pensar que este blog atingiria este volume. Na verdade, imaginei que ele duraria pelos verões necessários à conclusão de meu projeto pedagógico. Para quem não sabe, o projeto é uma exigência na conclusão dos cursos de formação de professores, as famosas licenciaturas, e acompanham o restante do pacote, que inclui TCC, estágio com suas centenas de relatórios, análise de plano gestor, atividades acadêmicas e culturais, planos de aula e etc. Só que, na medida em que escrevia e divulgava meus textos, percebi uma repercussão positiva em meus leitores, o que acabou ampliando sua existência para o indecifrável tempo que o destino quiser. Por isso mesmo, resolvi abrir o espaço desta 100ª postagem para os meus “clientes” mais habituais, e desta forma satisfazer algumas de suas curiosidades e recolher novas sugestões de temas. Vamos lá.
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Comecemos em casa – a Deborah pergunta o que me levou para a Filosofia.
A lembrança mais remota que eu tenho da Filosofia como disciplina acadêmica remonta ao final da década de 70 ou começo da de 80, não lembro bem. Existia um programa de televisão que consistia em uma competição básica de conhecimento entre faculdades, uma gincana; havia lá suas atividades físicas também. Cheguei a pensar se não foi o “É proibido colar”, comandado pelo hoje festejado Antonio Fagundes, mas acho que não. Se não me engano, este último era destinado a colégios. Bom, passons... Lembro-me de que todas as vezes que o pessoal da Filosofia da USP ia ao programa, mandavam muito bem nas provas de conhecimentos e muito mal nas desportivas, gerando um estranho equilíbrio nos certames dos quais participassem. Colocando na mesa a questão prática típica das crianças, perguntei a mim mesmo: “Qual é o trabalho de quem se forma em Filosofia? O que faz um filósofo? Para que serve a Filosofia?”. Não sei por que, mas esse tipo de pergunta, tão frequente ainda hoje aos alunos, ficou meio que fixada na minha cabeça, e foi colocada como hipótese – muito embora os discursos fossem invariáveis: “Só se você quiser morrer de fome”.
Eu não quis. É claro que esse motivo não era suficientemente sério para me guiar ou desviar da faculdade. Segui o caminho das minhas atividades momentâneas, o que me levou à contabilidade e à informática, mas o tempo trouxe maturidade e, bom leitor que eu sempre fui (modéstia a parte), comecei a buscar em obras filosóficas as respostas a questões concretas que nem sempre a literatura conseguia me trazer. Acabei me encantando com o processo de construção do conhecimento através dos tempos, e, quando tive a oportunidade de mais uma vez cursar o superior, resolvi fazê-lo por gosto, e não por exigências “mundanas”.
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A Rê Cabaleiro – uma das mais citadas freguesas deste espaço – me pergunta em que (ou como) me inspiro e qual a relação com meu modo pessoal de pensar.
Bom, a proposta do blog é extrair Filosofia do quotidiano, das coisas que se passam no dia-a-dia. É causar discussão não a partir das grandes questões universais, mas chegar a elas através das notícias que leio, das coisas que vejo nas ruas, dos alimentos que como, das músicas que ouço. Uma das maiores dificuldades que percebo, em especial nos mais jovens, é associar questionamentos mais aprofundados com o mundo que os rodeia. Isso torna a disciplina tremendamente chata e pesada. Se é apresentada a um aluno uma tese epistemológica elaboradíssima, o resultado é tédio e desprezo. Entendo que é técnica muito mais eficaz apresentar um caso do quotidiano e, a partir dele, mostrar que já houve pessoas que pensaram cuidadosamente na questão.
Evidentemente há assuntos que me tocam mais de perto. São coisas que se passam na minha cabeça sem nenhuma motivação especial, e ficam a espera de ser revolvidas por algum acontecimento qualquer. Uma postagem no Facebook, por exemplo, pode disparar um processo de confecção de texto. Uma cena na rua. Um filme. Um almoço. O bom da Filosofia é que tudo pode ser fonte de inspiração. Mas também trabalho “sob encomenda”. Há quem tenha dúvidas sobre determinado assunto, queira saber um pouco de minha visão sobre determinado tema, e nesse ponto minha persona professor entra em ação. Em geral, já tenho algum tipo de “forma bruta” do objeto requisitado, e então me ponho a pesquisar e elaborar melhor tais pensamentos. É processo por vezes lento.
Procuro apresentar visões variadas sobre um tema específico. Nem sempre coloco em tela posições com as quais eu concorde, mas procuro discorrer sobre elas da maneira mais isenta possível, até mesmo porque não posso me arrogar o direito de portar a verdade – pode ser que nada do que eu penso seja real. Mas, evidentemente, minhas posições pessoais acabam por “contaminar” meus textos, até porque minha ideia não é produzir textos acadêmicos, mas dar um estímulo ao pensamento, abrindo leques de opções a quem me lê.
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A Ná Cabaleiro – irmã da Renata anterior - me pergunta onde escrevo meus posts, e de onde tiro argumentos para escrever.
Basicamente, não tenho um lugar específico para escrever, algo como um quarto ou escritório, mas há alguns locais onde, com certeza, carrego meu caderninho para dar tratos à bola e redigir pelo menos o grosso dos meus textos. Um desses lugares, como falei em outras oportunidades, é a feira de orgânicos do Parque da Água Branca, enquanto aguardo as compras da minha inseparável Mimi, e, vez por outra, da retro mencionada Deborah. Não tenho muita paciência nem qualificação para selecionar os melhores chuchus (argh!) ou saladas, então fico tomando meus litros de café enquanto aguardo e escrevo.  Outro bom lugar para redigir é a Praça Buenos Aires, onde, vez por outra, passos meus parcos minutos de almoço revisando minhas escritas. Também aproveito salas de espera de médicos, dentistas e veterinários, muitas das vezes demorados e solitários. E, claro, na minha casa, sem lugar e hora prefixados.
Os argumentos brotam do dia-a-dia, como já expliquei, mas não escrevo a esmo. O trabalho de redação sempre implica em pesquisa, e, como tenho a responsabilidade de não escrever bobagens, essa tarefa pode acabar levando muito tempo. Como meus jovens leitores eventualmente me pedem para desenvolver textos específicos, preciso me aprofundar nesses assuntos, que nem sempre estão muito claros na minha mente. Às vezes o texto sai quase no fluxo da consciência, mas quase nunca é assim. Normalmente, consulto a estante da minha casa, onde tenho livros, apostilas e anotações da faculdade, mas também uso bastante a internet. Se for o caso, vou até a biblioteca e consulto uma obra específica. Já cheguei a fazê-lo unicamente por causa de uma temática, o que dá medida da seriedade com que tento manter meu espaço cibernético.
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Vamos para o Bruno Costa, outro afilhado, que me manda belo pacote de perguntas, e que serão respondidas por tópicos:
1) Uma curiosidade que eu sempre tive é sobre o seu processo de escrita. Se você faz um roteiro, se vai montando o texto no dia a dia;
Varia muito, Bruno, e depende muito do tamanho do conhecimento que eu já tenho sobre o tema e sobre o tanto que preciso pesquisar. Às vezes faço de fato algo como um “roteiro”, em geral pontuando os tópicos que preciso enfatizar. Redijo os trechos e depois me ocupo de costurá-los. Há momentos em que estes tópicos já se tornam fixos, mas há coisas que vão surgindo na minha cabeça, seja no processo de escrita, seja em uma destas avenidas quaisquer, seja em algum bate-papo, quando, do nada, pinta uma correlação. Raramente, o texto sai no correr da pena, mas acontece de vez em quando. E às vezes a escrita vai sendo montada sequencialmente, como se fossem os vagões de um trem.
2) ...como você escolhe os excelentes livros e filmes que vai indicar. O processo de inicio ao fim. Desde a ideia e a conclusão.
Em geral, as obras que indico são aquelas com as quais me socorri em pesquisa. Há também textos que nascem da própria leitura de uma obra, ou de algum filme ou peça que assisti, também estes são processos do quotidiano que me inspiram a escrever. Há muitos casos em que busco, além de uma recomendação mais direta, alguma referência mais lateral, procurando enriquecer a compreensão.
3) E a outra curiosidade é em saber o que esse blog significa pra você, se funciona como um diário público, ou um caderno de estudos, ou talvez algo como uma coluna particular. Enfim como você vê isso o que você faz e com que objetivos.
É tudo isso, separado ou misturado. É um diário público (não “diário” no rigor da palavra, bem entendido, já que o atualizo somente quando possível), porque há o propósito não só de propor temas, mas de emitir opiniões sobre eles, além de desafiar meus leitores a também fazê-lo. É um caderno de estudos, porque reflete meus anos de aprendizado na faculdade e leituras autônomas, bem como de participações em palestras e muita coisa que assisto/leio na internet, filtrando e sintetizando o que obtenho de mais interessante. E é também uma coluna particular porque, lembrando que nunca somos totalmente isentos (por mais que devamos tentar sê-los), serve para marcar minha posição sobre inúmeros temas. Tanto é verdade que, nas redes sociais, respondo – raramente, é fato – a algumas postagens com o compartilhamento de meus posts.
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Minha afilhada Jéssica Araújo (Jazz, para os íntimos) pergunta: qual autor que te traz mais coisas boas e pensamentos positivos sobre a vida, já que a Filosofia nos deixa meio “bad” às vezes. Ela quer saber se há algum autor que faz o inverso.
Vai ser um pouco mais longo. É difícil responder isso, tenho até mesmo uma certa dificuldade em estabelecer qual corrente filosófica mais influenciou meu pensamento, porque é a típica perspectiva que deveria vir de fora; alguém da área deveria ler meus textos e dizer: “Ah, isso aqui se assemelha a Fulano, aquilo ali é influenciado por Sicrano”, e assim por diante. É uma coisa interessante: músicos adoram revelar influências, escritores já tem dificuldade em admiti-las. Como não sou uma coisa nem outra, fico entre a cruz e a caldeirinha. O que posso dizer é que meu filósofo favorito é Schopenhauer. Isso quer dizer que sou pessimista? Sim.
O grande problema é que a Filosofia não olha os problemas pelo seu lado bom; olha-os pelo seu lado real. E isso faz com que todos os aspectos de uma questão tenham que ser colocados na mesa, com seus aspectos positivos e negativos. Como a Filosofia procura por problemas, em geral temos mais aspectos negativos sendo tratados.
Por isso mesmo, os filósofos que observaram as limitações e fraquezas humanas sempre dão uma aura de mau humor aos seus escritos, mas isso não é algo proposital: é inerente à sua obra. Imagine o trabalho de um médico: ele é composto por vidas salvas, por partos bem sucedidos, por correções de anomalias, por indicação de medicamentos que aliviam as dores, e isso é muito bom, traz felicidade e realização. Mas há também o fracasso, erros médicos, vidas interrompidas. Há socorro para pessoas acidentadas, rostos desfigurados, vítimas de crimes, membros amputados, doenças permanentes, e mortes (Há inclusive um aconselhamento geral para que os médicos não cliniquem pacientes queridos, como parentes e amigos, para que seja possível manter a serenidade e o juízo crítico diante das dificuldades que possam ser encontradas. Imagine, por exemplo, um médico que esteja fazendo uma cirurgia no seu próprio filho, e que ocorra uma hemorragia inestancável. A possibilidade de que este médico entre em desespero é tão grande quanto indesejável, portanto o ideal é que alguém isento e mais distante seja acionado).
Com os filósofos ocorre o mesmo. Seja ele otimista ou não, encontrará dificuldades de manter uma mensagem positiva sempre. A não ser que escreva auto-ajuda. Aí, é fácil. Mas não é Filosofia (leia aqui).
Isso quer dizer que só encontrarei depressão em leituras filosóficas? Não, evidentemente. Quando a Filosofia investiga coisas que não derivam do caráter humano, ela é neutra. Filosofia da Linguagem, Física pré-socrática, Estética e outras áreas podem ser lidas sem que se tenha vontade de chorar, e há algumas obras que falam do caráter humano por um viés mais voltado para a felicidade. Rousseau, por exemplo, acha que o ser humano nasce bom e o mundo ao seu redor o distorce. Portanto, mesmo que Rousseau navegue pelas dificuldades das relações humanas, tem no substrato de seu pensamento a crença nessa bondade natural, e o ápice desta crença o levou a produzir uma de suas obras-primas, Emílio, em que discorre sobre um método educacional para manter nas crianças esse espírito benévolo sem que se mantenham ingênuos perpetuamente.
Vou mencionar dois filósofos contemporâneos que versaram parte de sua obra ao estudo da felicidade, e que produziram livros mais leves, por conseguinte (ótimos, por sinal). Um deles é Bertrand Russell, filósofo da linguagem por excelência, que tenta encontrar na supressão do egocentrismo o melhor caminho para a felicidade humana em seu livro A conquista da felicidade. O outro é Julián Marías, filósofo espanhol mais recente ainda, que no seu livro A felicidade humana discorre sobre a felicidade de forma muito simples: os homens já não conhecem o que é a felicidade pelo simples fato de não pensaram mais nela, de não refletir se o modo como a sociedade nos coloca diante dela é o que realmente pode nos conduzir a este estado. Vou mencionar as referências mais abaixo.
Para finalizar, em geral, gosto dos filósofos que mataram charadas: Demócrito com o atomismo, Kant com a epistemologia da razão, Wittgenstein com a teoria pictórica, Nietzsche com a vontade de potência, Bergson com a intuição... Principalmente quando observamos a batalha de séculos que a humanidade teve para que estes filósofos tenham sido vetores da síntese destes pensamentos.
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A Darci Bernardo Cagnin, que para quem não sabe é mesmíssima Mimi que há 25 anos é minha patroinha, quer saber se tenho algum texto do qual me orgulhe mais.
Eu diria que não, pelo menos a princípio. Mas, relendo todos eles, percebo que alguns são mais fortes que os outros. Alguns ficaram datados, em outros ficou faltando encaixar melhor os contextos, mas eles vão ficar como estão. Refletem um momento do meu pensamento e servem como registro histórico. Se eu quiser revisar seus conteúdos, fá-lo-ei através de uma nova postagem, fazendo as devidas remissões. Mas gosto muito da maneira que redijo meus escritos.
Certa vez, a Renata mencionada na segunda pergunta reparou que, no decorrer de minhas aulas, eu sofria uma certa “transformação”. Em geral, iniciava um tema com linhas gerais, passava para a experiência pessoal, em um tom bastante coloquial. Na medida em que avançava para as teses e teorias extraídas dessas observações, eu adotava uma linha cada vez mais professoral, abandonando paulatinamente a informalidade, ganhando mais e mais coesão na fala, e até mesmo mudando postura e tom de voz. É como se eu começasse a “incorporar” uma entidade professor externa a mim.
Fazendo a revisão gramatical dos meus textos, percebi que também aqui este fenômeno ocorre. Muitas vezes saio de uma coloquialidade quase de boteco para partir a um português escorreito, feito de palavras raras. Pensei uma boa meia hora sobre a questão, e me lembrei do quanto uma leitura legal pode se transformar em um enfadonho texto acadêmico, e decidi que mudar a maneira de escrever seria desnaturar este espaço. Afinal, escrevo do mesmo jeito que gosto de ler – um texto leve na introdução e nas pinturas de pavão do tema, e um pouco mais de seriedade ao se tratar do miolo da questão. No final das contas, essa é a maneira mais espontânea que tenho para registrar minhas ideias. Textos acadêmicos devem ser sérios e é importante que sejam assim, mas este não é um espaço da seriedade, mas da Filosofia que podemos encontrar no café e nas abelhas. Não são textos para serem citados em artigos, mas para estimular seus leitores a buscarem suas próprias pesquisas.
Ela também quer saber se houve algum texto em que eu espelhe mais a minha tristeza. Bom, já falei inúmeras vezes sobre a morte e a angústia, e como, de certa forma, meus textos refletem um estado de espírito, pode dar a impressão que eu estava entristecido nesses momentos, mas isso não é tão intenso quanto possa parecer. Pelo menos não todas as vezes em que abordei temas como esses. São assuntos por vezes difíceis de encarar, por isso mesmo necessitam de seriedade no trato.
Mas há um texto em que eu estava de fato tomado de torpor. É o post intitulado “Por que nos envergonhamos de dizer ‘eu te amo’?”, por motivos óbvios.
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O Marcos Santos faz pergunta semelhante: algum texto de maior impacto?
Bom, neste caso, usei a ferramenta de estatística do próprio Blogger. Ela indica, em números absolutos, que estes são os meus 10 posts mais lidos:
6º - A concepção de boa arte (colaboração de Vitor Bertalan)
Não tenho muito a extrair desta lista. O líder, inclusive, foi feito bem despretensiosamente, e não chutaria nunca que seria o mais lido de todos. Em termos de “audiência”, esperava muito mais de alguns outros textos, mas o incômodo não me leva à depressão. Calculo, pelas estatísticas, que tive arredondadas 8 leituras diárias, mas este é um número crescente. Se levarmos em consideração que a divulgação é feita unicamente através do mecanismo de seguidores do Blogger e da minha conta pessoal no Facebook, não está mal. O que é possível constatar, isso sim, é que toda vez que alguém replica o compartilhamento, o volume de acessos ao meu blog tem interessantes picos, algo de multiplicar por 10 mesmo. Até por isso, aproveito para agradecer a todos os que compartilharam textos meus na internet, porque ajudam este trabalho a se tornar um pouco mais conhecido.
E tem mais uma coisa: é Filosofia, né? O que eu podia esperar? Ganhar minha vida com esse blog? Menos, muito menos...
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O Rogério Raddatz, meu GRANDE amigo de infância, certa feita me questionou por que “Aporias Plurais”, e sugere que eu mencione uma traquinagem muitas vezes repetidas em nossa vida, chamada “Operação Resgate”. Bom, com relação a esta última, merece um texto a parte, que farei em breve. Já quanto ao nome do blog, peço um pouco de paciência e que sentem, porque lá vem história.
Bem, é evidente que primeiramente decidi pelo blog como projeto pedagógico, para depois escolher um nome. Não ia ser tão pouco criativo a ponto de chamá-lo de Blog do Décio, por isso queria pegar um nome relacionado à (oh!) Filosofia. Pensei inicialmente em Panta Rei, o “tudo flui” de Heráclito, mas achei que estava meio nada a ver, era só um nome bonito, sem muita coerência com a proposta, além de um motivo muito mais grave (e o único verdadeiro – o resto é balela): o nome já estava ocupado no Blogger. Sem mais ideias imediatas, baixei um dicionário de termos filosóficos para buscar inspiração e estudar algumas hipóteses: paideia, maiêutica, episthéme... De repente, estava lá:
Aporia (gr. aporia: impasse, incerteza): 1. Dificuldade resultante da igualdade de raciocínios contrários, colocando o espirito na incerteza e no impasse quanto à ação a empreender.

2. Dificuldade irredutível, seja numa questão filosófica, seja em determinada doutrina. Em outras palavras, dificuldade lógica insuperável num raciocínio. Uma objeção ou um problema insolúvel: tudo o que faz com que o pensamento não possa avançar.

Aporia... Um nome pequeno-burguês para beco sem saída... Por que não? Parecia se encaixar bem ao propósito do trabalho, afinal é bem frequente se ver em frente a um muro intransponível de nossas dúvidas, sendo que a única chave que temos para abri-lo é o nosso próprio raciocínio (perceberam que já estou explicando a simbologia recém-nascida da decoração deste blog?). Reservei.
Vamos testar o nome no Blogger? Já existe! Merda...
Voltemos ao glossário. Ethos, logos, pathos, plethos... Plethos! Pluralidade... Também vai ao encontro da proposta. Não nos defrontamos com um muro feito de uma só aporia, mas de várias. Cada tijolo do muro é uma dúvida, com sua resposta própria (ou “irresposta”), e desse paredão emerge a barreira entre nosso conhecimento e nossa ignorância. Parecendo bom, vamos testar e, desta vez, com sucesso. Meu blog se chamava Plethos, que é o seu endereço até hoje.
Mas a ideia da multiplicidade das aporias me pareceu tão boa, que fiquei com dó de não utilizá-la. Se as dúvidas existem e elas são muitas, temos um “plethos de aporias”. Que nome feio! Temos uma “pluralidade de aporias”. Que nome enrolado! Temos “muitas aporias”. Que nome sem sal! Temos “aporias plurais”. Bom, tá melhorzinho. Fica esse.
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Finalmente, meu sarcástico amigo Lucas Soares (Tio Maza) pergunta, laconicamente: “O que lhe incentiva a continuar com o blog?”, pergunta essa que interpreto como qual o próximo passo que darei neste espaço.
Na verdade, ainda não sei bem. Acho que esta é uma das grandes vantagens do mundo moderno: você tem espaço disponível para expor suas ideias, sua arte, seus palpites e opiniões. Sentia muita falta de algo do gênero quando era jovem. Começava a escrever muita coisa nos meus cadernos, que se perdiam, eram esquecidos, e utilizados como livros de anotações e de receitas. Não sei se isso vai acontecer com meu blog, mas, enquanto eu tiver o que falar e as pessoas quiserem ler, a brincadeira prossegue, porque é o combustível que me alimenta. O que tenho como certo é que prosseguirei adicionando itens paulatinamente ao “pequeno guia das grandes falácias”, e que sempre procurarei traçar roteiros filosóficos das viagens que faço, com foi o caso do “diário de bordo de uma nau sem rumo” e estão sendo as “cartas náuticas para marinheiros de terra firme”. Pode ser que a brincadeira dure anos ou acabe amanhã. Tudo depende do meu tempo, da minha sobrevivência e, para dizer a verdade, da minha vontade, que por ora persiste. Cheguei a pensar em transformar este espaço em um canal do YouTube, mas penso em dois dificultadores: não tenho habilidade para produzir bom conteúdo (no sentido técnico) e não tenho equipamentos decentes. Além do mais, confio muito mais na minha pena do que na minha língua. Pode ser que lá pelo 200º post eu apresente algo parecido como novidade.
Mas, além disso, já tem algum tempo que venho adicionando fotografias, desenhos e outras ilustrações aos textos do meu blog. Os motivos são “publicitários”. Primeiro: na versão mobile do Blogspot, sempre fica exposta alguma das fotos na página de chamadas. Depois: ao compartilhar um texto nas redes sociais (notadamente no Facebook), uma foto torna a chamada muito mais atraente. E por último: como resolvi sempre inserir ilustrações de alguma forma, aproveito para exercer meu bom humor/sensibilidade/amadorismo-com-boa-vontade artístico/(in)habilidade no Photoshop, e uso meus amigos e afilhados como modelos de minhas pretensas fotografias. Peço desculpas, mas é um processo de construção de conhecimento no qual ainda engatinho. Prometo melhorar.
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Alguns outros leitores não enviaram perguntas sobre o blog em si, mas sugeriram temas, que serão desenvolvidos e publicados aos poucos. Quem me lê e interage com meu conteúdo já aprendeu a ter paciência. O Jhonatan Souza, por exemplo, gostaria que eu comentasse sobre a mudança comportamental das gerações, principalmente com as novas tecnologias. A Eliana Souza (não são parentes) pergunta, curta e seca: Por que o homem trai? Meu colaborador Vitor Bertalan quer que eu discorra sobre o apogeu da filosofia árabe e sobre o concílio de Nicéia. São temas amplos, mas instigantes, que serão analisados cada um a seu tempo.
Outros grandes leitores deste espaço são meus sobrinhos Pedro Debs e Paulo Mutuca, e o Marcos Paulo Zaninetti, que não enviaram perguntas, mas a quem agradeço igualmente pela preferência.
Recomendação de leitura:
Vou fazer uma auto-propaganda e convidar a todos que usufruam deste espaço. Há textos sobre todos os tipos de assunto, desde os mais polêmicos até os mais triviais, e vai continuar nessa pegada: posso divulgar textos sobre a existência como ilusão e sobre a qualidade do chá de saquinhos. Tudo é possibilidade filosófica. Ele está aberto a críticas, elogios, sugestões e etc. Quem quiser e achar que o espaço merece, divulgue a seus amigos. Minha intenção é dar uma pequeníssima contribuição para o enriquecimento cultural do país, que precisa escalar muito ainda para reconhecer que a Filosofia não é algo apenas para malucos, mas que pode ser muito bacana de ser lido e debatido.
* Devo admitir, humildemente, que usei um macete sul-americano para considerar este o 100º post publicado. Como decidi fazê-lo meio que em cima da hora, teria que represar as postagens posteriores por muito tempo, o que daria uma quebrada sem precedentes no ritmo das publicações. Desta forma, coloquei uma plaquinha de “homens trabalhando” e toquei minha vida normalmente. Isso tudo porque convidei meus amigos a levantarem os questionamentos, redigi o presente texto em resposta, preparei o novo fundo e o logo, o iconezinho da barra de menu, pesquisei e testei as mudanças de menu e reli texto por texto para fazer a revisão gramatical. Desculpem pela chicana, mas foi feita com a melhor das intenções.
E também seguem abaixo as obras mencionadas na resposta à Jazz.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio, ou da Educação. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
RUSSELL, Bertrand. A conquista da felicidade. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.
MARÍAS, Julián. A felicidade humana. São Paulo: Duas Cidades, 1989.

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