Marcadores

terça-feira, 17 de maio de 2011

Sobre seios e censura

Olá!

Alguns fatos fazem-me descrer totalmente da raça humana. Não dá!

Na semana passada, duas mães tiveram o constrangimento de serem censuradas por praticarem o ato que melhor as caracteriza como tais: dar de mamar.

Uma delas foi "convidada" a interromper seu ato em uma instituição (que eu prezava bastante até o presente momento) chamada Itaú CULTURAL (grifo meu). A outra, por postar uma foto no Facebook. Em ambos os casos, o motivo é o mesmo: fere a política de utilização, os termos de uso. No caso do Facebook, por exemplo, a alegação é que não podem ser postados conteúdos de nudez ou que sugiram atividade SEXUAL!!!!!!!!!!!!!!!! Meu Deeeeeeeeeus, para este mundo doente, eu preciso descer prá vomitar!!!!!!

Bem, mantenhamos a calma e tentemos analisar friamente este tipo de ignorância.


Boa parte do problema tem relação com a mistura de puritanismo e fetichismo que caracteriza o pensamento ocidental e acaba por tornar os seios objetos de desejo irrefreado, e, por consequência, despudorados, imorais. Para entender isso tudo, é preciso lembrar que os seios são uma característica das fêmeas, e a distorção do pensamento judaico-cristão acabou por relacionar e tornar a mulher um sinônimo de pecado. Portanto, a contemplação de um seio seria a contemplação de um símbolo da causa do erro, da perdição. É o macho que se sente tentado irresistivelmente pelo demônio da tentação.

Gente do céu, nós achamos que somos racionais. A sociedade, como estamos observando, não teve a capacidade de discernir até agora os atos das pessoas. Sexualizar os seios tem lugar, tem hora, tem contexto. Não há animal que puna suas fêmeas por amamentar suas crias. Seios NÃO SÃO genitálias, principalmente quando estão amamentando. Será que não conseguimos enxergar em perspectiva? Somos ainda tão tacanhos a ponto de achar que a visão de uma criança mamando pode remeter a um ato sexual?

Ah, ser humano, ser humano... Que triste raciocínio de merda é esse?

E que não se diga que essa não é uma doença (sim, uma doença) tipicamente ocidental. Por que nas aldeias dos índios brasileiros e dos negros africanos não existe esse conceito? Há um filme, na verdade um desenho, que mostra com excelência a naturalidade com que os africanos lidam com os seios desnudos. Trata-se de "Kirikou e a feiticeira", do francês Michel Ocelot. É daquelas raras obras de arte que se presta tanto para crianças quanto para adultos. Ambos podem assistir com o mesmo prazer, porque o diretor conseguiu trabalhar em duas mãos: a emocional e a racional. Geralmente isso acontece quando o autor aposta na inteligência da criança (não sei se os desenhos mais populares conseguem esse efeito).

No final das contas, acho que somos mesmo culpados pelos frutos que colhemos. Em um mundo em que as mulheres põe em risco sua capacidade de amamentar ao encher suas tetas de silicone, não é de surpreender que os seios tenham "valor de uso", e que este uso não seja aquele que a mãe natureza lhe deu.

(Em tempo: não quero aqui dar a impressão de que os seios não façam parte da sexualidade da mulher. Muitíssimo pelo contrário. Negar o uso sexual dos seios é a mesma coisa que afirmar seu uso exclusivamente sexual - é tudo uma questão de racionalidade).

Recomendação de filme:

OCELOT, Michel. Kirikou e a feiticeira. Animação. França, 1998. 71 min.

5 comentários:

  1. kirikou já vi, gostei.

    realmente é doentia a questão do "tzão" por bebes amamentando u-u.

    ResponderExcluir
  2. bebes amamentando Blunu?
    Que eu saiba, são as mães que amamentam, e não as próprias crianças... =D

    ResponderExcluir
  3. Assisti Kirikou e a feiticeira, amei!
    Obrigada por recomendar...

    ResponderExcluir
  4. Parabéns pelo texto e pelo blog!
    Com tanta garota tirando foto de minivest e empinando a busanfa e publicando tranquilamente no Facebook, censuram uma mulher amamentando... Inversão absoluta de valores.
    E.T.: A primeira coisa que perguntei quando fui colocar prótese foi se eu poderia amamentar e a resposta foi sim, pois a prótese ficaria por trás do músculo, não comprometendo a glândula e a amamentação. Só pra esclarecer. ;-)

    ResponderExcluir