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sexta-feira, 6 de maio de 2011

Sobre hinos e cantores sertanejos

Olá!

No domingo passado, para variar, eu estava trabalhando. Liguei meu radinho prá ouvir a corrida de fórmula Indy e, entre as dentadas em um pastel de palmito e os goles em um refrigente qualquer, ouço o início do hino dos EUA, interpretado pela Luciana Mello. All right, como dizem por lá. Canto seguro, correto, sem grandes firulas, sem ameaças de mísseis sobre nossas cabeças. Aí, chegou a vez do hino brasileiro, cantado por... Luan Santana!!! E a capella!!! Meu Pai Eterno...


Antes que digam que eu sou invejoso, velho, quadrado, anacrônico, ultrapassado, catastrofista, reacionário, conservador, despeitado, fundamentalista ou outra coisa qualquer, devo dizer que não tenho absolutamente nada contra o garoto em questão. Para mim, ele não é melhor nem pior que seus pares do sertanejo dito universitário (o que quer dizer isso, exatamente?).

Por que teria sido ele o escolhido para cantar o hino brasileiro? Para mim, não há como fugir dos teóricos de Frankfurt, que elaboraram a teoria da "Indústria Cultural", mais especificamente Theodor Adorno e Max Horkheimer. Para eles, a arte tornou-se produto na mão da sociedade capitalista. Da mesma forma que são produzidas latas de tinta e pacotes de macarrão, também os artigos pretensamente culturais devem ser feitos visando o lucro, que passa a ser o principal critério de escolha.

A Indústria Cultural provoca o mesmo efeito das técnicas comerciais aplicáveis à venda de qualquer produto: através da perda da consciência crítica, consumimos desenfreadamente aquilo que não precisamos, e nem aquilo que é melhor para nós. Perdemos a visão do todo, não nos importa mais a sensação de questionamento e espanto causados pela obra de arte legítima. O que importa agora é uma visão fragmentária, de consumo rápido, para que logo em seguida consumamos mais e mais, em um ciclo sem fim.

Os produtos precisam de vitrine... Qual seria melhor que essa, um evento internacional, transmitido para uma porrada de países, sendo que seu principal consumidor é o público estadunidense, e que também estava chamando a atenção de todas as pessoas no Brasil, por estar sendo realizado aqui?

Só que o tiro saiu pela culatra. O rapaz levou uma sonora vaia.

Não que o povo brasileiro seja tão refratário a inovações. Assisti a uma interpretação do hino, se não me engano na final do campeonato paulista do ano passado, feita pelo maestro João Carlos Martins, que foi simplesmente maravilhosa. Ele fez um passeio musical pelo Brasil, utilizando os principais ritmos regionais, culminando com um sambão de tirar o fôlego, sem esquecer do caráter erudito da apresentação. Clássico e popular fundidos. Excelente! E foi aplaudidíssimo.

Acontece, porém, que não se mexe com as representações simbólicas impunemente. Por mais que o hino tenha sido vilipendiado e mal utilizado através do tempo, ele ainda é o NOSSO hino (com perdão ao cacófato). Agrega em si nossos valores como pátria, representa um momento de orgulho para um povo mal tratado, reúne em si nossas diversidades e confluências (e isso o maestro soube captar muito bem). Por isso, não pode ser colocado diante do mundo como um produto qualquer, para ser jogado na prateleira de uma mercearia qualquer.

Repito mais uma vez: não tenho nada, absolutamente nada contra o rapaz. Acho ele bastante simpático, até. E não faria diferença se a execução se desse por outra celebridade da mesma linha. Mesmo que de outro estilo. Mas o preço foi pago.

Em tempo: podem meter o pau à vontade na Globo, e ela é digna disso. Mas a organização e a transmissão da Bandeirantes fizeram-me sentir saudades da "vênus platinada".

Recomendação de leitura:

ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento. Fragmentos Filosóficos. São Paulo: Jorge Zahar, 1985.

4 comentários:

  1. bom, gostei muito de seu comentário sobre o rapaz. E me fez lembrar da cantora Vanusa,que por sinal nem lembrava da letra do nosso hino.Mas tem muitas pessoas que não são famosas ,e também não sabem cantar o nosso hino.
    E cá pra nós, ele é muito lindo.

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  2. (Mimi brisando...)

    Concordo plenamente!
    Mas é questionável o ponto da platéia ter vaiado...
    Porque se fossem quaisquer pessoas ali, teriam louvado.
    Até que ele cantou bem... Mas a vaia se deu por outro motivo.
    Esse que você comentou, ridicularizar NOSSO hino pra vender dvd?
    Aqui vai meus aplausos para a platéia presente nesse momento, que conseguiu captar a verdadeira intenção de quem está por trás disso...
    Disseram tudo!

    Padrenho, thanks!

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  3. De nada. Vou retomar o assunto, para melhorar o debate.

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