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sexta-feira, 27 de maio de 2011

Comércio de animais e tridimensionalidade humana

Olá!

Anteontem fiz um trampinho de dissertação filosófica que consistia em analisar um texto e dele deduzir as teses e a solidez de seus argumentos. Babapanois. Mas fiquei interessado pelo texto em si, que falava sobre a posse e comercialização de animais, e pode ser lido aqui.

Em resumo, o autor faz algumas comparações entre animais e escravatura, homens primitivos e crianças deficientes para justificar sua posição contrária ao comércio de animais. Ele não é contrário ao convívio com os animais, mas ao especismo. No que o homem é melhor que os animais, a ponto de poder legislar sobre a vida deles como mercadoria? Não vou entrar no mérito do confronto vegetarianismo versus carnivorismo. Quanto há radicalismo nas posições, toda discussão é impossível. Também não falarei em marxismo com sua coisificação de todos os valores, que viram objeto de venda. A leitura do texto me fez refletir sobre a questão da essência da humanidade. O que faz com que um homem seja um homem, e não outro animal, outro ser vivo?



Desde que somos crianças, somos ensinados que os homens são animais racionais, e que os animais guiam-se unicamente pelos instintos. Ora, parece-me discutível esta posição, porque o homem age muitas vezes irracionalmente. Aliás, desde de Schopenhauer que a primazia da razão foi abalada: é a vontade que guia a conduta dos homens (Freud aperfeiçoa e amplifica o termo: são as pulsões). Por outro lado, o condicionamento e a habitualidade é capaz de engrendrar ações nos animais em que é impossível não enxergar algum grau de articulação mental, ainda que primitiva. Portanto, parece que a diferença não é por aí.

Uma capacidade humana que parece mais clara é a de enxergar a si próprio. Não no sentido de se olhar em um espelho real, mas metafísico. Os animais não saem de si, não conseguem se questionar sobre sua participação no universo. Não articulam mentalmente além do concreto, não abstraem. E, com isso, não percebem valores estéticos, por exemplo.

E nesse ponto é impossível fugir do pensamento de Max Scheler.

Este autor fundou a Antropologia Filosófica. Ele apostou em uma tridimensionalidade do homem. Todos os seres possuem uma dimensão biológica. Alguns possuem também uma dimensão psíquica. Mas só o homem é também espiritual.

O sentido desta espiritualidade não é propriamente religioso. É, na verdade, uma capacidade de transcender-se, sair de suas constrições ambientais e se desprender existencialmente daquilo que é só orgânico. Não pode ser suprida unicamente por uma demanda psicológica: se o homem não se relaciona com a transcendência, seu pensamento sempre será voltado unicamente a si mesmo.

Leitura interessante, recomendo:

SCHELER, Max. A Posição do Homem no Cosmos. São Paulo: Forense, 2003.

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