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terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Sobre o pânico moral e o problema dos refugiados no Brasil (Pequeno guia das grandes falácias - 40º tomo: a generalização apressada ou falsa indução)

Olá!

Quando resolvi criar o Pequeno Guia das Grandes Falácias (link acima), minha ideia era produzir textos relativamente curtos sobre engodos frequentes em diversas linhas de raciocínio. No entanto, ocorreu um fenômeno que acabou modificando minha regra de conduta. A cada texto não relacionado ao Pequeno Guia que eu escrevia, começava a perceber uma relação do mesmo com algum tipo de falácia. Com isso, passei a aproveitar o próprio texto para amarrar com a respectiva falácia, e a estrutura do guia foi se modificando. Não acho isso um problema, e apenas gostaria de registrar a utilização deste recurso, porque entendo que enriquece o texto principal e evita que se perca uma boa oportunidade para tratar de uma determinada falácia. Afinal, ela é como formiga, capim-gordura e filha-da-puta: existe em toda parte. Vamos ao que interessa.
O mundo nunca, em nenhum momento, deixou de viver situações complexas. É claro que grandes chacoalhos como a queda do Império Romano, a Revolução Francesa e as Guerras Mundiais sempre vêm em primeiro lugar à nossa memória, dado ao fato de serem episódios de virada de mesa, que afetaram toda a História, mas isso não evita que grandes dramas ocorram diariamente.
Digo isso inspirado pelas calçadas empanturradas de estrangeiros na rua do Glicério, por onde passo diariamente. São tantos imigrantes no centro de São Paulo que desde algum tempo atrás tem sido realizada uma “Copa do Mundo” de refugiados, inicialmente no campo do quartel do Parque Dom Pedro. São haitianos, nigerianos, sírios, bengalis, colombianos, a grande maioria fugindo da miséria e da perseguição em seus países de origem, como já fizeram nossos avós em passado nem tão distante. Os comentários de nós, nativos, versam sobre uma espécie de invasão de nossas terras, onde os imigrantes vêm plantar suas bandeiras e tomar nossos empregos, ocupar nossos cortiços, assaltar nossos parcos bens, sujar nossas calçadas. Toda espécie de mazela.
A imprensa ajuda, e muito. Já falei por aqui o quanto a certas emissoras são um modelo bem acabado de sensacionalismo metido a erudito, onde se provoca a notícia distorcida com todos os acentos e pontos bem polidinhos. Em uma determinada reportagem que assisti na TV (como não consegui localizar uma reprodução na internet, vou omitir o canal) é enfatizado que um nigeriano compra celulares roubados na região da Cracolândia. Não há, na mesma, nenhuma vontade de dizer que o criminoso estrangeiro é só mais um elo na corrente que se espalha pelo submundo das leis frouxas e injustiça social no Brasil. Não se fala dos brasileiros que roubam os celulares, não se fala dos brasileiros que lucram com esse comércio, não se falam dos inúmeros brasileiros que receptam esses celulares, da mesma forma e no mesmo local que faz o grande acusado desta história toda, o nigeriano. Esse é o quintal da minha casa, vejo isso diariamente, e é quase impossível distinguir quem é quem naquela muvuca.
A reportagem faz entender que a recepção de celulares roubados é uma novidade e uma exclusividade de nigerianos. Não há nenhuma menção de que há dezenas de outros receptadores no mesmíssimo lugar, e o vínculo é imediato: nigerianos são criminosos. E dá-lhe reclamar das imigrações: que este monte de estrangeiros veio acabar com o país, que a gente vai ter que dividir o pouco que tem, que certos partidos querem mais gente alienada para votar em seus corruptos, et cetera. Desculpem a vocês que concordam com esse tipo de afirmação, mas vocês foram, mais uma vez, enganados. Basta pensar que a grande maioria dos réus da Lava Jato são pessoas que vocês adorariam ter como genros.
Mas o problema no Brasil é até relativamente pequeno se comparado à Europa, tanto no volume dos deslocamentos quanto na reação das populações e governos. Aqui no Brasil ainda há alguma compassividade, porque a manifestação da ojeriza ao estrangeiro se dá na esfera dos botecos (e da imprensa maliciosa). No velho continente, a coisa se dá no campo público, onde governos e populações confrontam abertamente as ondas de imigrações. Para mim, a famosa imagem do menino sírio morto na praia da Turquia é definitiva e explicita um drama humano que não tem como ser justificado pela preservação de fronteiras, manutenção de emprego e outras. Mas somos assim mesmo, ocupantes do planeta azul, presos aos nossos egoísmos.
Como eu acabei de dizer, o discurso contra imigrações, mesmo aquelas de fundo humanitário, está baseado no estado de necessidade que os refugiados trazem, o que gera uma bola de neve: são pobres e não-qualificados, vindos de países violentos. O caminho óbvio é a criminalidade. É evidente que dentre tantos, algum haverá de seguir esse roteiro, mas de onde se tirou a ideia de que essa é uma regra geral? Desde o século XIX o Brasil é terra de imigrantes. Você mesmo que me lê, provavelmente tem um sobrenome estrangeiro, assim como eu. Parte dos meus avós vieram fugindo da fome, parte fugindo da guerra, exatamente como continua acontecendo hoje. Se hoje o Brasil ainda é opção para quem vem do desespero, é porque esses mesmos imigrantes, nossos avós, tornaram-no minimamente atraente, da mesma forma que os novos ingressantes podem também fazer. Essa é a história escrita, e não há registro de que fluxos humanos nos tenham feito passar necessidades, como se pode dar a entender. Talvez tenham involuntariamente ajudado a manter os negros na marginalidade, mas esse é outro assunto, para ser tratado com mais cuidado.
Também é uma boa oportunidade para revisitarmos nossos preconceitos mais velados. Não nos preocupamos tanto quando os imigrantes são portugueses (tivemos um pouco notado fluxo no começo da década), chineses ou coreanos, mas ficamos bastante incomodados com bolivianos e haitianos, índios e negros que são. Parem um pouco para pensar. Tem gente que prefere trabalhar como escravo no Brasil, e que te causam mais repulsa do que aqueles que os colocam nessa condição. Não é contraditório?
Mas é claro que essas coisas não nascem do vazio. Temos uma tendência clara em atribuir a outrem a causa de problemas que, na verdade, são nossos. Como vivemos em um determinado modelo de sociedade, comparável a um organismo, há a propensão em se acreditar que ela funciona como deveria funcionar, e, se algo vai mal, antes de observar se o seu funcionamento não tem nenhum tipo de enguiço intrínseco, vamos procurar a causa fora, em algum tipo de desvio ao padrão.
É o exemplo do desemprego e do aumento da criminalidade. Temos um equilíbrio econômico precário e um ordenamento jurídico de faz-de-conta, mas, como essas coisas acontecem por defeitos tão profundos quanto equivalentes ao nosso próprio caráter, é mais fácil apontar um bode expiatório.
É sobre esse mecanismo que se debruçou o sociólogo sul-africano Stanley Cohen. Estudioso da criminalidade, buscou um novo rumo na pesquisa sobre a impressão geral que a população tem sobre os agentes dos delitos. Para tanto, foi estudar em campo o caso do confronto entre duas tribos urbanas típicas da década de 60: os rockers e os mods.
Hoje pode até parecer estranho, mas o conceito de tribos era uma novidade absoluta naquela época. Era a primeira vez na história em que havia uma clara contraposição entre o que pensavam os jovens e o que era praticado pelas gerações anteriores, o que, evidentemente, criou várias rotas de colisão. A juventude, buscando se desvencilhar da ortodoxia veterana, que coincidia com o período das guerras da Coreia e do Vietnã, caracterizada pelo envio de recrutas para uma batalha que não era a deles, não formava uma massa uniforme e homogênea. Afinal de contas, fugir de um paradigma conservador não se dá sem aventura, sobre um palmilhar em terreno incerto, e cada um foi para um lado, buscar sua própria solução.
Os rockers eram conhecidos por sua adesão ao rockabilly, aversão ao uso de drogas, exaltação da vida livre e uso abundante de motocicletas, com sua indumentária correlata: jaquetas de couro, botas e calças de brim. Já os mods (abreviatura de moderns) eram comumente membros da classe média que se vestiam com apuro, gostavam de experiências psicodélicas e eram adesivos ao jazz e ao Rhythm & Blues, se aproximando de estilos mais exóticos no transcorrer de sua existência, como o ska jamaicano e a motown de Detroit.
Com esse ideário divergente, houve um determinado momento em que ambos os grupos passaram a se confrontar, por aquele espírito de clã que vemos entre os jovens, chegando muitas vezes à pancadaria. Os mods chamavam os rockers de caipiras; os rockers chamavam os mods de mariquinhas. Pode parecer coisa de criança (e é), mas foram esses embates isolados que forneceram às gerações mais velhas uma oportunidade de reagir, acusando a camada jovem de desordeira e ameaçadora. Pouco mais do que algumas costelas partidas resultaram do confronto entre os grupos, mas o que se pintou era sua franca ameaça a todo um sistema social. Os mods e os rockers foram tachados de violentos intrínseca e generalizadamente, fazendo com que as pessoas nas ruas passassem a temê-los só de vê-los, configurando uma espécie de materialização dos demônios, e, mais ainda, exigindo que as autoridades interviessem pela sua simples existência. Dessa forma, através da disseminação de notícias extrapoladas, o corpo mandatário se encarregava de construir uma justificativa ao combate a ideologias que se opunham à sua, através da opinião pública e da formação de opiniões. É o que Cohen denominou de pânico moral.
É evidente que há situações onde o pânico se justifica. Basta pensarmos no que se passa na cabeça das pessoas, como os habitantes da cidade mineira de Mariana, ao saber que a represa que sustenta milhões de litros de dejetos químicos estourou às suas costas, ou com os ocupantes dos edifícios Joelma e Andraus, que protagonizaram as piores catástrofes incendiárias da combalida metrópole da qual vos falo. Não há espaço para a racionalidade em um momento desses, com a tragédia iminente. Só se pensa em escapar; se não da morte, ao menos do sofrimento, como fizeram os desesperados que saltaram dos precitados prédios, para não serem consumidos pelas chamas. Mas o pânico moral não se caracteriza pela premência da situação, mas por sua desproporção. E isso se reflete nos próprios edifícios em questão. Após a restauração do Andraus, sua ocupação se tornou tão difícil que acabou por se tornar um prédio de trabalho da prefeitura, muito embora tenha se transformado em um local modelo de segurança. Já estive lá e vi: dê dois passos e há um extintor; mais dois, e há uma mangueira; mais dois, e há um machado; mais dois, e há uma maca, tudo sinalizado e com acesso facilitado. Sprinkles, detectores de fumaça, alarmes e equipes treinadas a cada andar – não há motivo para temer, mas as pessoas temem, irracionalmente, embaladas pela história que aquele lugar conta.
Idem no caso que estou tratando? Idem. Temos ao nosso redor todo um contexto social complicado, com muitas desigualdades e pobreza, sem soluções de curto prazo e com uma classe dirigente pouco fiável. Mas os problemas são imediatos e graves. Qualquer ameaça ao status gera uma reação de quem tem algo a perder, obviamente.
Mas o que faz o pânico moral ser tão musculoso, a ponto de transformar alguns eventos isolados em uma ameaça a todo um conjunto social? Acertou quem afirmou ser a mídia.
Primeiro é preciso conceituar um pouco melhor o que é a mídia. Esse é um termo que foi chupado de media, usual em terras ianques e que significa o conjunto de meios de comunicação que é estabelecido em determinada sociedade. Temos a propensão a identificar de imediato mídia com imprensa, o que é correto, mas incompleto. Por exemplo, quando lemos um romance, ouvimos um álbum ou assistimos a um filme, chega a nós uma coleção de informações que, de uma forma ou outra, retrata algum aspecto cultural, e isso, por si só, diz muito sobre o modo de pensar e de agir da sociedade que os produz e/ou consome. Portanto, mídia não é só o Jornal Nacional, mas a novela das oito também.
Isso posto, podemos tentar entender um pouco mais como o pânico moral se dissemina. Obviamente, vou contar uma historinha.
Quando eu era criança pequena, já existiam as vendedoras de Yakult©, igual-que-nem existem até hoje, vagando sob o sol forte ou chuva intensa com seus carrinhos brancos, tentando ganhar a vida enquanto a morte não lhes pega, vendendo regularidade intestinal, cansando-se de tomar calotes. Eu não era muuuuuuuuuuito chegado nos lactobacilos, mas minha mãe achava que fazia bem e me empurrava um pouco, saudável que se reputava o produto. Ocorre que, passados alguns anos, lançou-se um outro produto, chamado Taffman E©. Sua proposta, como o nome indica, era fornecer uma fonte de vitamina E, conhecida no vulgo como a vitamina da fertilidade. Algum filósofo de porta de boteco especulou sobre os motivos de tal lançamento, com caráter afrodisíaco. Nosso anônimo pensador vinculou o poder revigorante da novidade a um suposto prejuízo ocasionado pelo consumo dos casei hirota, de ordem disfuncional no futuro desempenho sexual dos seus consumidores. Sim, pensava-se que o Yakult causava brochadeira, e que o Taffman vinha para reparar o infortúnio.
Ainda que sem internet, e na medida do alcance possível, a coisa se espalhou como um rastilho de pólvora em plena combustão, chegando até mesmo ao subúrbio paulistano, gerando árduas dúvidas na cabeça da emérita genitora, que suspendeu o fornecimento (para o meu gáudio) até tomar a melhor decisão possível: aproveitando a consulta periódica ao Dr. Deodato, pediatra do Sindicato dos Metalúrgicos que cuidava dos meus perrengues, solta-se o questionamento indiscreto sobre a veracidade do boato. Com a negativa do douto fisiologista (e seu sorriso irônico), as garrafinhas voltaram à geladeira, mas o testemunho das vendedoras não deixa espaço para a dúvida: muita gente gravou essa baboseira, e custou um bom tanto até a história sumir*.
Se o boca-a-boca vintage tem esse poder de causar medo, o que não é possível de fazer com meios de comunicação de alcance global? A mídia em geral, e a imprensa em particular, tem um poder imenso nas mãos, ao lado de seus próprios interesses. Sempre é preciso lembrar que os jornais são produzidos por empresas, que tem suas diretivas e interesses, e a neutralidade é impressionantemente difícil de se obter. É CLARO que há jornais e jornalistas sérios, que fazem o melhor possível, assim como também é claro que há quem faça uso desse grande poder de persuasão. Cohen observa que essas ferramentas podem ser utilizadas não só para disseminar alarmas, mas para serem os soldados de cruzadas morais. Há a necessidade de que um determinado pânico se dissemine, e atinja expressividade entre uma população que o receba acriticamente, e que normalmente não seria tão afetada pelo demônio popular eleito. Muitas vezes isso é feito escancaradamente, e, para isso, é convocado um analista, que produzirá uma “opinião própria”, que insuflará o público e escusará o veículo, que poderá proclamar sua “isenção”. Mas há maneiras de se fazê-lo sub-repticiamente. Uma das técnicas é encadear uma notícia negativa em sequência à notícia sobre o objeto que se tenta demonizar, formando uma cadeia de causa e consequência, tão procurada por nossas mentes. Por exemplo, dá-se a notícia sobre o aumento no número de imigrantes, e, logo em seguida, outro sobre a diminuição de postos de trabalho. Pronto! A correlação se dá imediatamente, ainda que seja falsa e apresentada aparentemente sem que se queira fixar o elo. Entre ambas as técnicas, prefiro a primeira. Pelo menos sabemos bem com quem estamos lidando.
Resumindo: o pânico moral funde um medo exacerbado e injustificado com uma reprovação de ordem moral, que se apoia em uma plataforma, a mídia. O pânico moral é voltado contra o que Cohen chama de demônios populares, os grupos que recebem a etiqueta na testa: o torcedor das organizadas e as mortes em dias de jogos, os gays e a “família tradicional brasileira”, os nigerianos e os roubos de celulares. Por trás disso tudo, um mecanismo que ajuda não só a criar rótulos, mas também a alimentar preconceitos: a generalização apressada. Trata-se de uma falácia indutiva, que tira seus “méritos” de um número muito pequeno de casos para atribuir uma característica a um grupo completo. Vamos dar voz ao filósofo italiano Norberto Bobbio, ao fazer observações sobre a visão geral que se tem sobre os intelectuais:
A maior parte destes discursos está viciada por um erro lógico bastante conhecido, do qual um intelectual deveria prevenir-se: a falsa generalização. Muito frequente na excessiva linguagem polêmica cotidiana, que não se pauta pela sutileza na análise dos fatos e no uso das distinções ou das subdistinções, pois seu objetivo é antes de tudo o de persuadir ou de dissuadir, não o de conhecer ou fazer conhecer, a falsa generalização é desaprovada no discurso racional. Convém à linguagem vulgar, fabricada com estereótipos, segundo a qual todos os políticos são corruptos [N. do A.: O cara está falando da Itália], todos os médicos são incompetentes [N. do A. 2: Idem] e, claro, todos os intelectuais são indistintamente arrogantes, vaidosos, creem ser sabe-se lá quem e assim por diante, ou são, como foi dito recentemente, ‘lamentosos’. Falar dos intelectuais como se eles pertencessem a uma categoria homogênea e constituíssem uma massa indistinta é uma insensatez: a uma afirmação peremptória como ‘os intelectuais traem’, deve-se imediatamente perguntar: ‘Precisamente todos? E se não todos, quais?’ (...) Seja qual for o modo em que venham a ser definidas a natureza e a função do intelectual, não é possível alcançar uma definição restritiva o suficiente para tornar plausível um juízo de absolvição ou de condenação global. Todos inocentes, todos culpados”.
A engrenagem por trás dessa falácia é sempre a mesma, um processo heurístico que, através de uma amostra muito pequena, tenta estender uma realidade a um grupo inteiro. Funciona da maneira exatamente oposta ao dicto simpliciter (acidente): enquanto a generalização apressada toma como regra geral para o grupo aquilo que se observa em uma parte muito reduzida, a falácia do acidente não admite que uma pequena quota tenha alguma característica diferente do grupo como um todo.

Vejamos o caso das pesquisas eleitorais. Sempre que uma destas é divulgada, vem a reboque um número que indica sua margem de erro. Essa margem é inversamente proporcional ao tamanho da amostra. Quanto maior o número de pessoas consultadas, menor a margem de erro. Esta somente será igual a zero quando toda a população é consultada, ou seja, a eleição propriamente dita. Amostras muito pequenas tendem a ser muito pouco representativas, sendo passíveis de distorções por inúmeros fatores. É por isso que, para se fazer generalizações seguras, é preciso amostras proporcionais ao tamanho do campo que se quer medir.
É possível obter raciocínio lógico a partir de amostras pequenas, e se ter uma boa generalização? Sim, é possível. Digamos que se queira saber a impressão dos trabalhadores sobre uma determinada lei que lhes afete os benefícios sociais (para o bem ou para o mal, tanto faz no caso). Uma das maneiras possíveis é fazer uma consulta direta, o que demandará uma amostra gigantesca. Outro modo é consultar os sindicatos que, em tese, agregam o pensamento de suas respectivas categorias e são em número bem menor. Desta forma, a generalização já está devidamente filtrada em cada um dos sindicatos, e, ainda que em número teoricamente pequeno, tem condições de refletir o que pensa o conjunto total de trabalhadores.
Já me alonguei muito, mas é preciso dar uma advertência final. A generalização apressada (ou falsa indução) não é só uma falácia. É um método de pensamento simplista e perigoso, que nos ajuda a atribuir a populações inteiras os defeitos que estão contidos em poucos membros, e pelos motivos os mais equivocados possíveis. Se todo imigrante é um criminoso, estamos bem pegos – pensaram isso também de nossos pais e avós. Se filho de peixe peixinho é...
Recomendações de leitura:
A obra de Cohen disponível está em espanhol, o que não chega a ser um problema.
COHEN, Stanley. Demonios populares y pánicos morales. Cidade do México: Cedisa, 2015.
Já o livro de Bobbio onde está o trecho que extraí neste posto é o seguinte:
BOBBIO, Norberto. Os intelectuais e o poder. Dúvidas e opções dos homens de cultura na sociedade contemporânea. São Paulo: UNESP, 1996.

* Sim, a lenda persiste! Vejam o que eu encontrei na internet (já avisando que o único Shinji Ono que localizei é um jogador de futebol).

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