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quinta-feira, 16 de junho de 2011

A razão e a vontade

Olá!

Conforme prometido, prossigo com o assunto do post anterior.

Existe um descompasso muito grande entre o que queremos conscientemente e o que desejamos inconscientemente. Isso parece Freud? Não, não parece. É Freud.

Mas essa brincadeira não começa com ele. Vem de um pouco antes, através de um filósofo absolutamente genial, razoavelmente conhecido, mas um pouco subestimado, em minha opinião. Trata-se de Arthur Schopenhauer, conhecido como filósofo do pessimismo.

Na época em que Schopenhauer desenvolveu seu pensamento, o mundo vivia o auge do cientificismo. A ciência e a tecnologia vinham para oferecer um mundo melhor para todos. Desta forma, tínhamos um primado da razão. O intelecto era a ferramenta que guiava a ação.

O que explicava, então, as ações irracionais do homem? O que poderia estar por trás dos acessos de raiva, das crises de choro, das decisões impulsivas, impensadas? Mais ainda. Por que o homem vive em uma insatisfação permanente? Por que quer sempre mais, assim que atinge um objetivo?

A grande sacada de Schopenhauer foi perceber que não é a razão que está no comando: é a VONTADE. Sobre esta, o intelecto não tem controle. Ela é informe, única e não tem objetivos específicos, a não ser, no limite, a buscar a própria preservação. O mundo, em suma, não é racional, não pode ser explicado pela via da racionalidade.


Freud faz uma transposição deste princípio da vontade para o campo da psicanálise. Essa vontade inconsciente de Schopenhauer ganha o nome de "pulsão", e está na porção mais instintiva da mente, o Id.

Desta forma, podemos isolar o que queremos conscientemente do que desejamos inconscientemente. SABEMOS o que é bom, o que é útil, o que é proveitoso. Mas isso não representa o que nós DESEJAMOS. As emissoras comerciais trabalham no nível do emocional, trabalham com o desejo inconsciente. Já a TV Cultura procura pelo racional, ela intelectualiza sua produção. Acontece que as emoções são mais imediatas. A satisfação do desejo é mais imperativa do que o aperfeiçoamento racional. Também as emoções são mais facilmente absorvidas: o pensamento racional exige elaboração, trabalho. Por isso, os programas feitos dessa maneira são "cansativos" - pensar cansa.

Como se muda esse estado de coisas? Eu não sei. Mas penso que é possível uma mudança de hábitos: procurar racionalizar não só os programas intelectualizados da TV Cultura, mas procurar fazer leituras críticas do mais popularesco dos programas da TV Record (lixo dos lixos em termos de televisão). É sempre possível extrair Filosofia, mesmo de onde se ache impossível.

Recomendação de leitura:

A obra de Schopenhauer é absolutamente essencial para quem gosta de filosofia, por isso voltarei a este autor em outras oportunidades. Seu capolavoro é o seguinte:

SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e representação. São Paulo: UNESP, 2005.

Recomendação de teleaudiência:

Toda a programação da TV Cultura é digna de apreciação. É muito bem feita e criativa. Só não dá prá esperar as coisas que vemos em outras emissoras. E, a bem dizer da verdade, elas já encheram mesmo.

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