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quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sobre a fama e os extremos de seus problemas

Olá!

Amy Winehouse... Não era fã dela, não curto muito o som dela, mas sua trajetória inevitavelmente me faz pensar. Como o triste desfecho de sua vida está bombando em todos os meios de comunicação, muitas outras histórias do show business estão sendo relembradas. A síndrome dos 27 então, nem se fala. O que mais me chama a atenção é a maneira como a vida das celebridades é devassada, como cada passo é seguido e como as especulações se amontoam. São toneladas de fotos, vídeos, declarações e entrevistas que focam o lado feio da sua carreira. Creio que nunca uma morte foi tão previsível.

A mídia não tem piedade. A busca pela informação não tem uma ética bem definida, e colide com a individualização do ser humano, apregoada pelo modus vivendi liberal-capitalista. É como se as pessoas precisassem obter notícias de seus ídolos para suprir a falta de acontecimentos em suas próprias vidas. Já notaram como os programas de televisão, os sites de notícias e as revistas são repletas de futilidades? Fulano causou em uma festa, sicrana ficou com beltrano, mengano viajou prá não-sei-onde e por aí afora? A mídia substituiu definitivamente as antigas Donas Xepas, que tinham por diversão "cuidar" da vida alheia em sua própria rua. Com uma diferença: a precitada Xepa observava a vida de SUA comunidade, algo que a circundava e que podia, de uma forma ou de outra, influir em sua própria vida.

Hoje não. Talvez não saibamos nem o nome de nosso vizinho de parede, mas nos preocupamos com o que acontece com nossos ídolos, lááááááááááááá do outro lado do mundo, em um nível de detalhe que não temos nem de nossos próprios familiares.

Só que a fama é um fardo pesado prá se carregar. A perseguição é incômoda, deprimente e até perigosa. Lembrem-se que a princesa Diana morreu em uma fuga de paparazzi. O preço pago, portanto, pode ser altíssimo. Vejam novamente o caso da cantora recém-falecida. O que mais deveria importar é o legado musical que ela deixou, mas a imagem de uma drogada inconsequente e escandalosa é o registro mais frequente e significativo. Certo: que dessa tragédia extraiamos lições, mas exemplos como esse podemos obter aos montes em qualquer esquina da cidade, pessoas que estão ao nosso alcance e que deveriam nos interessar mais do que interessam.


Essa história fez-me lembrar de um livro, chamado "O Santo da ilha", escrito pelo agitador cultural catarinense Wilson Rio Apa. Comprei-o no sebo e paguei um preço baratíssimo, e provavelmente seria dinheiro jogado fora. Sua leitura, no entanto, revelou uma obra que é uma pequena pérola, um livro brilhante até.

Trata-se da história de um menino que nasce com uma pequena mancha na testa, e que por força das circunstâncias e coincidências é adotado como santo pela comunidade local. Ao compreender-se como tal, inicia sua luta para ser reconhecido como ser humano, dono de virtudes e defeitos, despido de qualquer taumaturgia. Mas o mundo ao seu redor já estabeleceu sua condição. Não há atitude que ele tome que não acaba por agravar a situação, mesmo que essas atitudes sejam a antítese das suas características de santo, ou seja, a criação da imagem gerada por sua fama. Mais não conto, para não tirar a graça da história, que é muito boa e vale a pena ser lida. Tenho o livro. Quem quiser e me conhecer pessoalmente, pode lê-lo.

Conclusão: a fama pode parecer boa, mas coloca-nos em tal condição que se torna difícil desvencilhar-se dela, a tal ponto que corremos o risco de sermos desnaturados, e não termos nossas reais necessidades reconhecidas. Nem todos possuem equipamento psicológico suficiente para suportar. Essa menina, a Amy, não tinha.

Há mais o que falar sobre o caso em questão, e voltarei em breve ao assunto.

Recomendação de leitura:

RIO APA, Wilson. O Santo da ilha na guerra dos rumos. São Paulo: Brasiliense, 1978.

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