Sempre que posso, procuro reunir minha galera (que, aliás,
vai retratada logo abaixo) para fazer alguma coisa qualquer, pelo simples
prazer de estarmos juntos e darmos risadas de nossas estripulias. Foi assim que
se deu alguns dias atrás, quando nos reunimos para um “festival” de quiches,
com destaque para um de carne seca, construído como se fosse um escondidinho:
em uma base de massa podre, carne seca desfiada e refogada com bastante cebola,
coberta por uma grossa camada de batatas e finalizado com queijo mozarela
(muzarela? Mozzarella? Muçarela?), devidamente gratinado em forno alto.
Acompanhou também um quiche de frango com elemento X (o tal elemento X nasceu
da desconfiança do meu filho Danillo, que queria saber do que se tratava o
ingrediente que dava liga no galináceo despedaçado – nada demais, apenas creme
de leite), um tradicionalíssimo de alho-poró e outro de palmito com batata,
para atender os veganos/vegetarianos da casa. Na tela da TV transformada em
monitor, um review de nossas
filmagens do ano passado. Na verdade, um making
off.
Como citei, havia um quiche de palmito manufaturado sem
carnes, leites ou ovos, para atender a demanda da filha Deborah, vegetariana, e
principalmente da afilhada Renata, aquela mesma, vegana. Daí, foi necessário
elaborar uma massa a parte, substituindo os elementos oriundos do reino animal
por outros de origem vegetal. Para o leite, usei extrato de soja; para os ovos,
dei liga com amido de milho, a boa e velha Maisena. Ficou bom, posso garantir.
Mancada: fiz gelatina de sobremesa, mas veganos não a consomem, feitas de
colágeno de origem animal que são. Juro que eu pensava que era fruto de alguma
mezinha vegetal, como o ágar-ágar. Peço perdão. Ainda bem que tinha umas
mexericas à disposição.
A questão do consumo de carne tem se aprofundado nos dias atuais. Há basicamente dois motores para discussão: um fisiológico e um ético, e resolvi tratar do tema, soltando meus pitacos. De bate pronto, vou marcar minha posição informando que seu ABSOLUTAMENTE CONTRÁRIO a todo tipo de diversão que implique em sofrimento para os animais. Abomino rodeios, detesto touradas, não suporto brigas de galo, tenho arrepios de pensar em farras do boi. Também desaprovo qualquer forma de abate que implique em sofrimentos longos e injustificáveis aos animais, como faz a extração do fígado do ganso para o paté de foie-gras ou o caldeirão borbulhante para cozinhar as lagostas ainda vivas. Também quero dizer não reprovo NENHUM modelo alimentar, que tento compreender as restrições que cada grupo se impõe e que não tenho nenhum motivo para brigar por conta disso. Isto posto, podemos começar a discutir.
Começarei tentando pensar onde se delimita o que é
necessidade física e o que é prazer. Mas antes de tudo, é preciso pensar porque
comer é uma espécie de celebração, como a que fizemos em casa, no “evento” que
abriu este post.
Não é preciso ter bola de cristal (eu não tenho) para
adivinhar o quanto era difícil a vida nos tempos em que o homo sapiens ainda engatinhava como espécie. Em outras
oportunidades, já fiz remissões à famosa assertiva de Blaise Pascal: “O homem
não passa de um caniço, o mais fraco da natureza. Mas é um caniço pensante. Não
é preciso que o universo inteiro se arme para esmagá-lo: um vapor, uma gota de
água, basta para matá-lo. Mas, mesmo que o universo o esmagasse, o homem seria
mais nobre do que quem o mata, porque sabe que morre e a vantagem que o
universo tem sobre ele; o universo desconhece tudo isso”. Não é só sobre o
autoconhecimento que Pascal falou nessa frase; também está explícito que a
razão é praticamente a única característica que nos mantem vivos: grandes
demais para se esconder, pequenos demais para enfrentar feras, fortes demais
para prescindir de farto alimento, fracos demais para suportar intempéries. Não
nadamos bem, não corremos bem, não saltamos bem, não escavamos bem, não voamos,
praticamente não temos faro, nossa audição é pouca, nosso principal sentido – a
visão – não tem a acuidade que tem uma águia; nossa pele é frágil, temos poucos
pelos, nossas unhas são pastiches de garras, nossos dentes mal conseguem
despedaçar uma maçã. Reproduzimos pouco e nascemos extremamente delicados. Mas
pensamos. E, por conta disso, chegamos à conclusão que multiplicaríamos em
muito nossa possibilidade de sobreviver se vivêssemos em grupo.
O homem aprendeu a se organizar coletivamente e percebeu o
quanto isso era proveitoso para coletar, pescar e, principalmente, caçar. Havia
grande vantagem em obter uma quantidade mais significativa de proteínas, tornando
a raça mais forte e resistente a doenças. Só que, para caçar, o homem se
expunha a riscos. Precisava correr atrás dos bisões e outros bichos carnudos em
campo aberto, onde podia ele se tornar a presa da vez. Também não era fácil
encara o tal bisão: era um animal forte, de chifres pontiagudos, e que não se
entregava de graça. Havia uma batalha diária, portanto. E a cada vez que os
membros de uma tribo se recolhiam às suas cavernas com uma boa quantidade de
alimento conquistado, não havia motivos para tristeza. Muito pelo contrário.
Era um dia que não tinha sido vivido à toa, e, aos poucos, os homens começaram
a aprender a fazer agradecimentos às suas divindades. O jantar começava a virar
uma espécie de ritual.
E ao redor do pobre bisão agora abatido, a tribo toda se
reunia, feliz, certamente enumerando as aventuras e desventuras das caçadas,
retratando-as nas paredes das cavernas, uns contando mais vantagens do que os
outros, com os jovens ouvindo assombrados as histórias dos mais velhos. A
comida também é objeto de celebração e interação, garantia de sobrevivência e
de repouso tranquilo, ao menos até o dia seguinte. É por isso que é difícil
pensar em festa sem comida.
Ocorre que, muitos séculos depois, apareceu um tal de Thomas
Malthus, economista estudioso da demografia, por volta de 1800, dizendo que a
população cresceria em progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos
cresceria em progressão aritmética. Era a teoria populacional malthusiana. Quem
tem um pouquinho de conhecimento matemático sabe o que isso significa:
PA: 1+2=3 3+2=5 5+2=7 7+2=9 9+2=11 11+2=13 13+2=15
PG: 1.2=2 2.2=4 4.2=8 8.2=16 16.2=32 32.2=64 64.2=128
Vejam o que isso representa graficamente:
Deu para sentir o caos prognosticado, né? Malthus chegou a essa conclusão analisando o fato de que o crescimento populacional ocorrido em 200 anos havia sido muito incrementado, principalmente motivado pelos avanços científicos e tecnológicos, que proporcionaram um belo aumento na expectativa de vida, aviado pelo combate mais efetivo às doenças e pelo aperfeiçoamento do saneamento básico e da produção de alimentos. Esses fatores ensejaram também o acréscimo da taxa de natalidade. Vidas mais longas, em maior quantidade. Isso representava uma necessidade cada vez maior de produção dos alimentos. Malthus propunha uma diminuição na fertilidade das famílias, mas é óbvio que encontrou a oposição ferrenha de uma série de setores da sociedade, começando pelas igrejas. Como era necessário quebrar esse paradigma, buscou-se o outro lado, ou seja, aumentar mais e mais a produção agropecuária. Só que os meios nem sempre eram os mais saudáveis, seja para as pessoas, seja para o planeta. Devastou-se muito, mudou-se a natureza dos alimentos, desenvolveram-se técnicas químicas de aumento dos rebanhos e de defesa contra as pragas. Desviaram-se os cursos dos rios, aterraram-se áreas pantanosas. Ecossistemas inteiros foram para o vinagre da memória, existindo hoje apenas em livros.
Conclusão: o mundo sobrevive hoje em dia por causa desse
monte de tecnologia alimentícia, isso é inegável; podemos até mesmo discutir se
era possível outro caminho, só que o fato é que chegamos onde chegamos, e se
hoje há deficiências na distribuição dos alimentos, isso se deve mais a
questões financeiras do que propriamente pela ausência de comida. Mas isso quer
dizer que as coisas devem ser imutáveis, restando a nós apenas nos conformar?
Tem um monte de gente que acha que não, eu inclusive. E uma série de alternativas alimentares tem surgido com o passar do tempo, buscando resgatar um pouco da harmonia ecológica de nosso pobre mundo, muitas delas voluntárias (além das restrições típicas de quem já adoeceu – diabetes e hipertensão à frente).
Comecemos falando dos orgânicos,
que, grosso modo, não tem grandes preocupações éticas com o objeto consumido.
Sua distinção visa dois objetivos principais: um resguardo à saúde e uma
relação menos traumática com o meio ambiente. Isso porque os orgânicos querem
reduzir ao mínimo o consumo de alimentos que sofreram algum tipo de intervenção
química. Nestes termos, os orgânicos querem consumir alimentos que não passaram
por processos de utilização de defensivos agrícolas inorgânicos ou de adubos
químicos. Também são descartados os produtos que aceleram artificialmente o
crescimento ou a utilização de transgênicos. Em resumo, os orgânicos visam
restabelecer o equilíbrio natural do ecossistema, mesmo que isso represente
maçãs menores.
Orgânicos não são muito radicais. Consomem carne e derivados
de origem animal, que também devem seguir os mesmos princípios das lavouras.
Também podem consumir alimentos que não são orgânicos em suas misturas, como é
o caso de açúcar e sal. Para garantir a autenticidade do produto que consomem,
geralmente contam com associações que somente admitem membros que seguirem à
risca as regras de “organicidade” estabelecidas em conjunto, através de
inspeções e auditorias, bem como pelo exame laboratorial para captar a presença
de produtos inorgânicos.
Em seguida, vamos falar dos vegetarianos. Existe uma gama gigantesca de variações, por isso
mesmo vou estabelecer que as menções neste texto dizem respeito ao modelo
ovolactovegetariano, ou seja, vegetais mais leite e ovos (com respectivos
derivados). Da mesma forma que no caso dos orgânicos, há um componente de busca
por mais saúde e cuidados ecológicos, mas o componente ético dá um passo além.
O vegetariano não distingue um motivo pelo qual os animais devem ser
considerados inferiores aos homens, talvez até mesmo em remissão às conclusões
darwinianas de que todas as espécies presentes na natureza humana hoje são igualmente
evoluídas – o homem não é uma pérola da criação nem o ponto mais alto da escala
natural. Este é um dos motivos pelos quais os vegetarianos se abstêm de comer
carne, porque este ato implica (ooooooooooooooooooooooh!!!) na morte do animal.
Caso isso não ocorra, o consumo é lícito. Por isso, ovos, leite, mel e geléia
real podem fazer parte da sua dieta.
Passemos agora aos vegetarianos estritos, mais conhecidos
como veganos. Neste grupo, o
componente ético válido para os vegetarianos torna-se mais profundo. Agora, já
não basta que o animal não seja morto: ele não pode ser objeto de exploração.
Os veganos excluem completamente de suas dietas todo e qualquer alimento de
origem animal, e procuram substituí-lo por alternativas vegetais. Procuram ter
uma ação mais ideológica, trabalhando ativamente pela causa dos direitos dos
animais, e usam reiteradamente novas discussões, como uma modalidade de
preconceito humano conhecida por especismo (da qual já falei há tempos).
São verdadeiramente engajados, procurando se posicionar a favor da redução de
testes com animais de laboratório, sendo contrários à utilização de produtos
que se utilizam desses testes. Mas aqui já estou escapando ao tema dieta.
Por fim, vou mencionar os macrobióticos, ainda mais restritivos em sua alimentação. Neste
caso, a porção filosófica está ligada a um pretendido equilíbrio com a própria natureza
e com o meio ambiente, como preconizam certos elementos do taoísmo, doutrina
religiosa fortemente associada a esse modelo alimentar. Para tanto, a ingestão
de comida deve ser baseada em alimentos integrais, o que exclui praticamente
todos os produtos que passam por algum processo de industrialização. Há
inclusive restrições com o consumo de alguns alimentos de origem vegetal, como
é o caso da batata, das pimentas marcadas, café e chás cafeinados, porque
teoricamente estes alimentos afetam o equilíbrio sódio-potássio exigido em sua
dieta. Mesmo o consumo abundante de água é desaconselhado. Por outro lado, é
permitido o consumo de peixes, com moderação. Os macrobióticos devem observar
alguns itens não significativos para outros regimes alimentares. Devem respeitar,
por exemplo, os alimentos nativos do local onde vivem e as épocas do ano em que
estão naturalmente disponíveis. Enfim, os macrobióticos, antes de mais nada,
precisam conhecer mais a fundo os elementos que compõe a sua dieta do que
qualquer outra categoria.
Há ainda muitíssimas outras formas de se dedicar a uma dieta
específica, como os peixetarianos, a permacultura, ortomoleculares e muitos
mais, mas para este texto é o que basta. Eu estou colocado em um meio termo
entre a dieta convencional com a adição de muitos elementos orgânicos,
principalmente em legumes e verduras. Dizem que um bom sinal é encontrar uma
lagartinha em um pé de salada (ainda em preparo, naturalmente). Isso indica que
a hortaliça não está impregnada de pesticidas. Tenho encontrado bastante delas.
De uma forma ou de outra, entendo que, se queremos ajudar a
resolver os problemas do mundo, precisamos começar diminuindo drasticamente o
desperdício, não importando, a princípio, se vamos ou não aderir a alguma
alternativa alimentícia como as mencionadas até aqui. O documento “Os rastros
do desperdício de alimentos: Impactos sobre os recursos naturais”, emitido pela
FAO, órgão da ONU voltado para a questão em tela, dá indicações preciosas sobre
os excessos cometidos no mundo inteiro com a pauta alimentar. Segundo o
relatório, há 1,3 BILHÃO (1.300.000.000!!!!) de toneladas de alimentos sendo
jogados fora todos os anos no planetinha azul. Isso não produz apenas um
prejuízo financeiro imenso (algo em torno de 750 bilhões de dólares), mas causa
um impacto ambiental gigantesco, porque há muita água utilizada no processo, há
muita terra desmatada para plantar coisas que não servirão para nada e há muita
sujeira sendo mandada para o subsolo, onde vai contaminar os lençóis freáticos.
E, principalmente, esse volume é mais do que suficiente para mitigar a fome no
mundo inteiro. Ah, um detalhe. O documento não inclui informações de
desperdícios alimentícios oriundos dos oceanos, o que aumentaria o número ainda
mais assustadoramente.
Vivemos hoje uma condição contraditória. Nossos ancestrais
usaram a união dos grupos para melhorar os procedimentos de caça e coleta, mas
consumiam muita energia para fazê-lo. Temos hoje alimentos a nosso dispor em
quantidade muito maior, e não nos esforçamos praticamente nada para queimá-los.
Ficamos sedentários e gordos, e a variedade disponibilizada nos induz a consumir
mais e mais e mais e mais e mais e mais e mais. A tecnologia nos permitiu
descumprir a profecia de Malthus, mas o desperdício de comida também representa
desperdício de recursos naturais. Com um plus
pernicioso: a poluição do ambiente e devastação cada vez maior dos biomas
originais. Desta forma, qualquer mecanismo que regule as nossas dietas é bom,
independentemente das posições éticas e ideológicas.
É claro que eu não sou dado a exageros. Acho que é preciso
ter cuidado em não radicalizar tanto uma ideologia (que em si mesmo não tem
nada de mais) a ponto de se causar mais prejuízos do que benefícios. Sei, por
exemplo, que existem alguns grupos que se colocam contrariamente à fluoretação
da água, ou à aplicação de vacinas. Estarão agindo com bom senso? Se há o
argumento de que devemos nos privar da presença de insetos porque eles são
vetores de doenças, e que há uma legítima defesa que justifica seu extermínio,
não deveremos aplicar a mesma lógica para o uso de técnicas de prevenção de
doenças? Algumas discussões acabam se transformando em contendas assemelhadas a
brigas de torcidas – fundamentalismo não é bom em lugar nenhum, a começar pelas
religiões; e princípios éticos ficam abalados quando o debate não é ético – ora
bolas! – e as opiniões não são respeitadas. Por exemplo: um lado diz que
onívoros são assassinos, que se alimentam com prazer do sofrimento alheio. O
outro, são hippies inconsequentes que gostariam que o mundo fosse um grande
cigarro de maconha. Nada disso. Todos têm seus argumentos e muitos deles são
plenamente válidos, enquanto outros são falaciosos. Mudanças de hábitos
implicam em mudanças de culturas, e estas não surgem do nada. São semeadas por
séculos a fio. E dessa forma nos constituímos em adversários, quando
deveríamos, na verdade, trocar estudos, e não farpas. O mundo está muito
dividido em posições antagônicas, e isso é um dos motores para chegar à
situação de pré-caos ambiental. Chegou a hora de lançarmos uma agenda realmente
eficiente, e isso passa pela conscientização de cada um de nós.
Recomendação de leitura:
Segue abaixo o endereço eletrônico do documento da FAO.
Infelizmente está em inglês, mas vale o esforço de traduzir.
FAO. Food
wastage footprint: Impacts on Natural Resources. FAO: Roma, 2013. Disponível
em http://www.fao.org/docrep/018/i3347e/i3347e.pdf.
O livro que mencionei de Thomas Malthus é um clássico da
Economia, que influenciou muita gente, incluindo ninguém menos que Charles
Darwin. O insight que detonou seu
ideário de seleção natural veio da leitura da teoria populacional. Vejam,
portanto, como vale a pena conhecer este autor.
MALTHUS,
Thomas. Ensaio sobre o Princípio
da População. Lisboa: Relógio d’Água, 2014.
Recomendação de receita:
E hoje a segunda dica vai ser inusitada: vou passar a
receita do meu tradicional quiche, tão aprovado por extensa comunidade de umas
vinte pessoas. Afinal, culinária, arte e filosofia se confundem. Vamos lá.
Primeiro, a massa base – serve para uma montanha de recheios
subordinados à sua imaginação. Os ingredientes entre colchetes são os
substitutos para fazer uma massa vegana.
2 xícaras de farinha de trigo
100 gramas de margarina [100 gramas de creme vegetal]
1 ovo batido levemente [200 ml de creme de soja]
300 ml de leite [300 ml de extrato de soja]
1 colher de chá de fermento
Sal a gosto
Em primeiro lugar, lembre-se de deixar todos os ingredientes
em temperatura ambiente. Coloque 1 e ½ xícaras de farinha de trigo em um
recipiente grande o bastante para trabalhar. Adicione o ovo batido, a margarina
e o sal. Comece a mexer com as mãos, acrescentando aos poucos o leite. Vá
mexendo o grude pastoso até ficar tudo homogêneo. Neste momento, você vai
perceber que a massa ainda estará muito mole. Vá acrescentando o restante da
farinha até a massa desgrudar dos seus dedos. Não se incomode se a farinha for
insuficiente – acrescente mais, bem aos poucos. Quando o ponto estiver legal,
adicione o fermento, misture bem e forme uma bola. Deixe-a descansar por, no
mínimo, 15 minutos. É estressante.
Utilize uma forma de fundo removível. Não é preciso untar,
porque já tem margarina suficiente na massa. Se você tiver habilidade
suficiente, abra a massa com um rolo, senão use os dedos mesmo. Cubra todo o fundo da forma com a massa a
partir do centro, e vá espalhar até os cantos. Não deixe a massa muito grossa,
senão vira tijolo. Pressione a massa pelos lados da forma, até recobri-los por
completo. Não faz mal se sobrar massa. Podemos fazer um miniquiche ou
transformá-lo em torta. Fica bom do mesmo jeito.
Substitua o sal por duas colheres de açúcar se a intenção
for fazer um quiche doce.
Coloque a forma em forno pré-aquecido a 200 graus. Asse até
ficar firme, mas não abuse. A massa deverá voltar ao forno.
Recheios:
Como falei anteriormente, esta é a parte divertida, já que é
possível criar quase que livremente. No caso, vou passar os quatro recheios que
apresentei no festival.
Quiche de carne seca
700 g de carne seca
1 cebola roxa média
500 g de batatas
Duas colheres de cebola bem picada
Duas colheres de salsinha bem picada
200 ml de leite
300 g de queijo mozarela (muzarela? Mozzarella? Muçarela?)
ralado
Sal a gosto (cuidado! A carne seca já é bem salgada)
Um dia antes do preparo, lave a carne e coloque-a de molho
em água. Troque a água por umas quatro vezes no período de 12 horas, até baixar
bem a salmoura. Se você acabar tirando sal demais, nada impede de repor um pouco
na hora de cozinhar.
Parta a carne seca em cubos grandes e coloque-a em uma
panela de pressão com água suficiente para cobri-la. Deixe cozinhar por uns 45
minutos. Desfie a carne seca, retirando os excessos de gordura (é melhor do que
retirar a gordura antes e desperdiçar metade do produto).
Corte a cebola roxa em fatias finas e junte-a à carne seca
em uma panela. Mexa ambos até a cebola murchar. Reserve.
Lave as batatas e descasque-as. Coloque em uma panela de
pressão com água previamente fervida e deixe cozinhar por 5 minutos. Passe a
batata cozida por um espremedor ou esmague-a com um garfo, sendo que neste caso
o risco de ficar “pedaçuda” aumenta consideravelmente.
Em uma panela, derreta uma colher de sopa de manteiga e frite
um pouco de cebola bem picada. Despeje a salsinha, coloque a batata amassada,
misture até ficar homogêneo e despeje o leite aos poucos. Mexa sem parar até
começar a desgrudar da panela.
Para montar, despeje a carne seca sobre a massa e alise. Em
seguida, despeje o purê de batatas e alise novamente. Recubra tudo com a
mozarela (muzarela? Mozzarella? Muçarela?) ralada e leve ao forno. Deixe assar
até o queijo ficar gratinado. Caso a massa comece a ficar meio queimada antes
disso, retire do forno e gratine o queijo com um maçarico muito bem regulado,
porque quiche com cheiro de isqueiro ninguém merece. Sirva quente.
Frango com elemento X:
1 peito de frango
Sal a gosto
1 gema
200 ml de creme de leite (o elemento X)
1 colher de sopa de farinha de trigo
200 ml de leite
2 tomates
2 colheres de cebola picada
½ colher de alho
1 colher de manteiga ou margarina
1 pitada de pimenta do reino
Cozinhe o peito de frango em uma panela de pressão por cerca
de 30 minutos. Após esfriar um pouco, desfie todo o peito, desprezando os ossos
e a pele, óbvio. Doure a cebola e o alho em uma colher de manteiga e frite um
pouco. Coloque dois tomates picados. Eles vão soltar bastante água e dar um
gosto bem legal. Mexa de vez em quando. Faça uma mistura homogênea com o ovo, a
pimenta do reino, a farinha de trigo e o leite. Quando o frango estiver quase
seco, ajunte essa mistura e mexa sem parar, até ficar pastoso. Junte o creme de
leite e reserve.
Coloque essa gororoba toda na massa pré-assada, cubra com
alguma das dicas de cobertura posteriores e volte a assar, até ficar pronto.
Alho-poró:
1 pé de alho-poró
Sal a gosto
1 colher de farinha de trigo
1 colher de manteiga ou margarina
1 colher de cebola picada
1 colher de salsinha picada
300 ml de leite
200 ml de creme de leite
1 gema
Compre um alho-poró com folhas. Não caia na armadilha dos
mercados que só vendem o talo. Se você gostar do sabor de talo, faça um quiche de cebola que sai mais
barato. Lave-o muito bem (costuma vir um pouco de terra nas juntas das folhas
com o talo) e pique em fatias finas. Deixe de molho em água com algumas gotas
de vinagre por uns 15 minutos (aliás, acostume-se a fazer isso com qualquer
verdura que você for consumir). Ferva água em uma panela em que caiba todo o
alho-poró e desligue. Preste muita atenção: você vai colocar o alho-poró nessa
água, contar até cinco e escorrer imediatamente! Se ficar muito tempo, murcha
tudo e vai parecer chiclete. Reserve.
Em uma panela, derreta uma colher de manteiga e doure a
cebola. Junte em um recipiente a parte a gema batida, o leite e a farinha.
Despeje na panela e mexa insistentemente, até engrossar. Coloque o alho-poró
escorrido e o creme de leite, já com a panela desligada, mexendo bem.
Coloque esse creme sobre a massa previamente assada e cubra
com alguma das sugestões abaixo. O clássico dos clássicos é as claras em neve.
Palmito e batata vegano
1 vidro de palmito
4 batatas médias
1 colher de cebola
1 colher de salsinha
1 colher de creme vegetal
200 ml de leite de soja
1 pitada de cúrcuma
½ colher de sopa de amido de milho
Pegue um vidro de palmito (não use açaí, que é um engodo –
palmeira real de origem legalizada ou pupunha são mais indicados, ainda que
mais caros) e escorra. Doure uma colher de cebola no creme vegetal e junte o
palmito, deixando até secar. Faça uma mistura do extrato de soja, do amido de
milho, da salsicha e da cúrcuma. Despeje essa mistura na panela e mexa bem, até
engrossar. Junte o creme de soja e reserve.
Cozinhe as batatas já descascadas em uma panela de pressão
por 5 minutos. Amasse-as como explicado anteriormente. Coloque uma colher de
creme vegetal numa frigideira, junte as batatas e mexa até ficar homogêneo.
Coloque lentamente o leite de soja e cozinhe até ficar bem pastoso.
Pegue a massa já pré-assada e despeje o palmito já
preparado, alisando-o ao final. Coloque cuidadosamente a massa de batata e
alise. Cubra com massa ou com nada, a seu critério. Queijo e claras não valem
para veganos.
Coberturas:
O clássico dos quiches é a clara em neve, mas não estamos
aqui para perpetuar tradições. É possível aproveitar um tanto de massa que
sobrar. Se for bastante, alise-a com um rolo de macarrão e cubra o quiche por
inteiro (transformando-o em torta), podendo ser pincelado com gemas ou shoyu para dar uma corzinha (eu não
costumo usar nada). Se a massa não for suficiente, faça rolinhos finos com as
mãos, deixando parte do recheio exposto.
Para fazer a cobertura de clara, faça assim:
1 ou 2 claras, dependendo do tamanho do quiche
2 colheres de sopa de queijo parmesão ralado
Bata as claras em neve, até o ponto em que a mesma se
sustente sozinha no recipiente. De posse de um fuê (olhe no Google), misture
suavemente uma colher de parmesão ralado. Coloque essa mistura IMEDIATAMENTE
sobre o recheio do quiche, espalhando-a. Para garantir a firmeza, basta colocar
uma ponta de colher de cremor de tártaro, mas eu não uso. Após, salpique a
outra colher de parmesão e leve ao forno para dourar.
Bom apetite!
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