Quase todos os dias eu desço a Rua da Consolação, por
motivos trabalhistas. Para quem não conhece São Paulo, trata-se de uma via
muito movimentada, que liga o centro à região da Avenida Paulista, além de se
imiscuir por área chique da cidade. É possível vê-la na TV por ocasião da
parada LGBT e da corrida de São Silvestre, por ser parte do percurso de ambas.
Tem um sem-fim de logradouros conhecidos, como a universidade Mackenzie, o
Tribunal do Trabalho, a Advocacia Geral da União, o Cine Belas Artes e o
Cemitério da Consolação, o mais antigo ainda em uso na Terra da Garoa. Mas o
foco aqui vai ser voltado para duas casas espelhadas, um pouco para baixo da
caixa d’água. São duas construções que claramente tiveram seus dias de glória,
mas que hoje têm propósitos bem distintos da habitação original. Uma foi virou
um cortiço, e a outra foi ocupada por coletivos de artistas jovens. Tentei uma
foto minimamente decente, mas há muitas árvores na frente, de modo que, para
entender bem o contexto, só olhando presencialmente.
Seria de se supor que a casa ocupada por sem-tetos seria
mais objeto de conflitos do que a outra. Muito embora ninguém ali tenha vida
fácil, o fato é que basta uma ordem judicial para que os despejos ocorram, o
que se dá vez por outra. Mas a encrenca está mesmo na assim chamada Casa
Amarela, o ateliê coletivo. Os moradores dos arredores alegam que os artistas,
na verdade, desrespeitam seguidas vezes as leis do silêncio e provocam muita
sujeira, além de não filtrar a presença de menores em meio a consumidores de
drogas as mais várias. Já os agitadores culturais erguem a bandeira do
preconceito e da sombra da indefinição do poder público.
No final das contas temos uma guerra cultural. Os moradores
dizem que se pratica qualquer coisa ali, menos arte. Os atelieristas dizem que
a redondeza é elitista e que não compreende uma arte ao mesmo tempo popular e
inovadora. Quem tem razão?
A explicação passa, sem dúvida, pelos jogos de interesse,
mas não sejamos simplistas. Em uma mesma cidade, ou melhor dizendo, em um mesmo
quarteirão, não há consenso sólido sobre o valor da arte e sobre a
preponderância ou não da manifestação coletiva sobre a vontade individual. Na
natureza, teríamos um embate de forças físicas e a coisa estaria resolvida. Mas
entre nós as coisas não podem ser assim. Somos seres humanos, e guiamo-nos por
anseios e desejos tão distintos entre si que há momentos em que parece não
haver unidade na espécie. Mas ainda assim somos humanos, estranhos nos caminhos
que traçamos, merecedores nós mesmos de sermos estudados. É o que tenta fazer a
Antropologia.
Anthropos, em
grego, significa “homem”, o homem-espécie. No bojo filosófico, o humano é
colocado sob o holofote logo em seguida à filosofia da physis. Deixou-se de pensar no universo e passou-se a olhar para
aquele que pensa o universo. Isso
começa com os sofistas e não se dá gratuitamente. Com o modelo democrático
ateniense, que cria a cidadania, o desenrolar da existência já não depende dos
deuses diretamente e dos reis subsidiariamente. Os homens da polis participam
das decisões e são responsáveis por elas, de forma a constituir um parâmetro
para explicar a realidade, cada um com seus próprios pontos de vista,
experiências, preferências, preconceitos. “O homem é a medida para todas as
coisas”, dizia Protágoras de Abdera.
Este é o ponto em que a Ética,
a área filosófica que analisa os comportamentos e as escolhas dos seres
humanos, tomará o timão da nau intelectiva, e, de certa forma, temos aqui o
nascedouro da Antropologia, até porque, com a devida vênia de quem pensa o
contrário, os animais não-humanos são aéticos (o que é diferente de
antiéticos). Portanto, quando falamos em Ética, estamos compulsoriamente
falando dos bípedes implumes. Só que, da mesma forma que a Sociologia
e pelos mesmos mecanismos, a Antropologia tem a intenção de ser uma Ciência,
cujo objeto é estudar o humano em si mesmo, na sua relação com sua comunidade e
com seu ambiente, atribuindo-lhe um papel. E, para isso, precisa de uma
metodologia que lhe dê rumo e guarida.
Por ser uma Ciência jovem, a Antropologia ainda não possui o
mesmo nível firme de concordância em sua estruturação das Exatas, havendo quem
a divida em várias subáreas. Nós aqui vamos nos deter na mais simples de suas
taxonomias, que a divide em dois: Antropologia Física e Antropologia Cultural.
A primeira vê o ser humano como organismo, e deixaremos esse papo para os
biólogos. Melhor será estancarmo-nos na segunda, o que já é o bastante.
Tudo tem que começar pela noção de cultura, o que nos remete
à questão “Casa Amarela vs. Redondezas”: ainda que definir cultura não seja a
tarefa mais hercúlea, atribuir-lhe valor é o grande busílis. Mas sempre vamos tentar.
Cultura, em latim, significa a ação
de cultivar. Sabemos que o homem desenvolveu suas cidades justamente porque
dominou as técnicas agrícolas, que lhe permitiram a fixação na terra. Dessa
forma, a cultura ganhou o sinônimo de produção humana. Tudo o que tem o dedo do
homem é cultura, sendo este um dos seus principais diferenciadores dos demais
animais. Certo: o homem faz muitas coisas que outros bichos fazem, mas, para
investigar a cultura, não ligamos para O QUE o homem faz, mas COMO faz. Comer, dormir
e trepar são ações orgânicas, que um cachorro ou um camelo também fazem. Isso
não é cultura. Ela entra quando resolvemos arriscar fazer sushi, quando optamos
por lençóis de seda ou quando quebramos a rotina em um motel. Aí temos cultura,
um conjunto de usos e costumes que reflete nossa vida como humanos – nossas
religiões, nossas artes, nossas técnicas, nossos lazeres, nossos artefatos,
nossas comunidades e tudo o mais que for “cultivado”, incluindo nossas
filosofias.
Sim, tudo bem. Cultura é a produção humana que nos destaca do
meio natural, como já pude escrever neste
texto, mas é preciso entender como ela se forma e como funciona, e, para
isso, a Antropologia possui várias linhas de estudos, que acabaram por
constituir diferentes escolas de pensamento. Vamos rabiscar um pouco sobre as
principais.
Comecemos pelo Evolucionismo.
Esse nome não é estranho. Uma das principais descobertas do século XIX, que impulsionou
a cientifização do conhecimento, foi a evolução das espécies através de
processos de seleção natural, em teses elaboradas por Charles Darwin e Alfred
Wallace (leiam mais aqui).
Em resumo resumidíssimo, a evolução enuncia que as espécies atuais originam-se de outras anteriores, cujas modificações se deram por uma melhor adaptação às
condições ambientais disponíveis à época. Quanto melhor a adaptação, mais
facilmente a espécie se reproduz e se mantém. Darwin e Wallace não chegaram a
essa conclusão em um papo de boteco, mas através de muita observação. Com o
correr do tempo, a evolução ganhou muitas evidências, como o registro fóssil,
as convergências evolutivas, as estruturas vestigiais, as distribuições e
isolamentos geográficos, a embriologia comparativa, a filogenética e, mais
recentemente, o estudo de DNA.
Edward Tylor e outros pensadores do evolucionismo cultural
seguiram o mesmo raciocínio geral. Seus defensores, empolgados com a descrição
do funcionamento evolutivo, entendiam que, da mesma forma que uma espécie, um
ato cultural também prepondera quando tem melhores condições de adaptação do
que outros, tornando a cultura cada vez mais aperfeiçoada. Isso dá uma
perspectiva histórica à cultura, porque explica seu surgimento e
desenvolvimento. Vejamos: da mesma forma que a evolução biológica converge para
soluções semelhantes em espécies diferentes, como é o caso das asas de morcegos
e aves, o mesmo acontece culturalmente, como no caso das pirâmides egípcias e
astecas. Da mesma forma que as aves continentais guardam semelhanças entre si e
diferenças com pássaros ilhéus, também povos isolados diferem bastante de
etnias fronteiriças. Da mesma forma que os fósseis dão o registro de como eram
espécies ancestrais, é nos achados arqueológicos que se acham referências
passadas da cultura. Através do estudo destas inflexões evolutivas é possível desenhar
o desenvolvimento de um determinado traço cultural, assim como podemos
compreender como surgiram caracteres biológicos.
O problema maior na antropologia evolucionista é que ela
ignora uma regra básica da própria teoria da evolução. Para esta, todas as
espécies existentes atualmente estão igualmente evoluídas, sem uma distinção de
avanço. O critério é existencial – se a espécie está hoje no mundo, é porque
está adaptada a ele, não importando se é uma cianobactéria ou uma baleia azul.
É o caso das minhocas, uma espécie antiquíssima, que tem espécies derivadas e
mais complexas, como é o caso das sanguessugas. Mas o fato de haver derivações
não indica que não existam mais minhocas, ora essa, ou mesmo que minhocas sejam
mais retrógradas que sanguessugas. Ambas existem, portanto ambas estão no mesmo
nível evolutivo. Já em termos de cultura, cria-se em uma hierarquia
etnocêntrica. A cultura evoluía em ritmos distintos em cada um dos locais do
globo, sendo que (que surpresa!) aquela desenvolvida no hemisfério norte
estaria em estágio mais avançado, ainda a ser alcançado por latinos,
subsaarianos, austral-asiáticos e demais “primitivos”, que seriam fósseis
culturais a serem estudados para se compreender a linha histórica da cultura.
Aqui, o pressuposto da existência contemporânea é deixado de lado, e que as
necessidades culturais de cada povo tinham diferenças fundamentais para
explicar seu estágio. Havia algo como uma meta cultural comum, cujo caminho
estava trilhado em mais milhas pelos europeus e vizinhos hemisféricos. Essa
vertente, mais tarde conhecida como darwinismo social, foi propugnada por
Herbert Spencer e tinha uma conotação que era, no final das contas,
marcadamente racista. Por isso, essa escola foi muito criticada.
Como alternativa, foi desenvolvida a corrente do Difusionismo, que, embora também tivesse foco na historicidade da cultura, de
certa forma inverteu a lógica da pesquisa evolucionista. Esta última tinha como
pano de fundo a seguinte pergunta: “Por que as culturas possuem diferenças
entre si?”. Já os difusionistas perguntam “por que as culturas possuem
semelhanças entre si”. Sua resposta geral se dá pelo contato dos diferentes
povos. Ao estabelecer o convívio entre culturas distintas, ocorre a difusão de
alguns conhecimentos, trazidos por quem chega ou recebidos por quem espera.
Toscamente falando: eu sei fazer churrasco e Fulano sabe fazer feijoada. Vou na
casa dele e assisto, maravilhado, todo o ritual de feitura da iguaria,
compreendendo os pontos onde seu método é melhor que o meu: as quantidades de
tempero, tempo de cozimento, os acompanhamentos. O mesmo se dá no sentido
inverso, com o corte das carnes, a intensidade da chama, a distância exata para
o ponto ideal. O processo de absorção se dá em uma medida na qual minha
feijoada e o churrasco do Fulano tornar-se-ão mais próximos entre si, até se
tornarem indistinguíveis de sua origem. Eu difundi o churrasco para Fulano e
Fulano difundiu a feijoada para mim. Esse é um exemplo reduzido de um processo
de aculturação, ou seja, de absorção
de conhecimentos e elementos antropológicos de uma cultura por outra. Ela pode
ser feita gradualmente, como ocorre nas imigrações incentivadas e pacíficas,
como ocorreu em países jovens, e aqui temos uma assimilação cultural, que
costuma manter os propósitos originais dos usos e costumes nos seus novos
praticantes. Mas é claro que nem sempre o processo de difusão se dá sem
conflitos. Em invasões e conquistas territoriais, a cultura dos invadidos é
sobreposta pela cultura invasora. O mesmo se dá nos casos de imperialismo
econômico, onde a cultura do povo dominante impõe os seus elementos ao povo
subalterno, e, quando não suprime sua cultura original, absorve-a para si em
outros termos, descolados do seu uso anterior. É o que acontece com os artigos
rituais que são transformados em enfeites. São casos de apropriação cultural,
que já discuti aqui.
Percebam como no Difusionismo a ênfase do estudo das origens
dos fenômenos culturais está muito mais ligada à maneira com a qual as
diferentes culturas interagem entre si do que na relação hierárquica do
Evolucionismo, o que lhe retira o ranço etnocêntrico. Mas é uma escola que tem
defeitos que a outra não tem. Em linhas gerais, essa corrente acredita que a difusão
sempre se dá a partir de um ponto para daí se espalhar ao mundo. Acha que o
homem tem uma tendência à acomodação que torna rara a aparição de grandes
revoluções culturais. Isso não é uma mera preguiça, mas uma propensão a repetir
indefinidamente coisas que já deram certo, sem se arriscar muito com
“novidades”, e empreendimentos significativos não dariam em árvores. Apesar
desta ideia de cultura conservadora ter sua lógica, imaginar que grandes
descobertas não podem ser concomitantes é algo difícil de se aceitar. Vejamos
novamente o problema das pirâmides. Apesar da soberba fama das egípcias, há
pirâmides núbias, centro-americanas, chinesas, templos piramidais e zigurates
babilônicos e sumérios, contemporâneos ou até anteriores aos mausoléus
faraônicos. É preciso uma ginástica desproporcional para explicar uma rota de
difusão com esse traçado, e sabemos que a construção das pirâmides é complexa o
suficiente para não ser considerada um elemento cultural grandioso. Pelo
princípio da navalha
de Ockham, é mais fácil supor que nem todo processo cultural é difusório,
podendo ocorrer espontaneamente em diferentes locais e épocas. Eis um dos
motivos pelos quais brotou o Relativismo Cultural, que, nas mãos de gente como Franz Boas, diz não ser possível
enxergar a cultura alheia pelos olhos de nossa própria cultura, já que sistemas
antropológicos precisam levar em conta valores locais que nascem por
contingências próprias. Atribuir valor de melhor ou pior corresponde a ter um
ângulo só da questão.
Tanta preocupação com a história das formações culturais foi
fundamental para o estabelecimento da disciplina, mas se o intuito é ter uma
visão horizontal sobre a questão, onde a cultura de um determinado povo fosse
focada holisticamente, a briguinha entre evolucionistas e difusionistas revela-se uma interminável e inútil caceteação. Afinal de contas, a história
pregressa de qualquer coisa pode ser importante para entender como essa coisa se tornou o que ela é, mas não responde como ela funciona, algo tão
importante de se saber quanto. Neste sentido, nasce o Funcionalismo, de Bronislaw Malinowski e congêneres, que tem o
objetivo de compreender a cultura como um organismo, em que cada parte isolada
tem uma determinada função para benefício do todo (daí o nome da corrente). De
certa forma, o Funcionalismo é muito imiscuído com a Sociologia, por uma
relação de dependência: uma sociedade se caracteriza como um imenso organismo,
cujas instituições existem para executar funções específicas e cuidar de um
aspecto da vida social. A maneira como essa função é executada corresponde ao
papel da cultura. Por exemplo: toda sociedade possui determinadas instituições
que provêm lazer aos seus membros, e isso é um membro do grande organismo
social. Agora, se as pessoas utilizarão esta instituição jogando futebol,
empinando pipa, dançando, assistindo filmes, rezando terços ou simplesmente
cultuando ócio, isso faz parte da cultura. A mesma analogia pode ser feita na
equiparação entre natureza e cultura. O corpo é um todo que possui partes, cada
uma com suas tarefas que visam suprir necessidades orgânicas. Isso é
determinístico, não há como fugir de supri-las. A cultura, no entanto, não é
unívoca e isso é fácil de perceber. Diferentes culturas se alimentam de forma
diferente, vestem-se, divertem-se, locomovem-se... A cultura representa um modo
de atender uma necessidade, de maneira peculiar a cada povo.
Essa é a principal distinção que fazem os funcionalistas: a
cultura é sempre artificial, e, por isso, distinta da natureza humana que, a
princípio, clama por seu uso, por uma maneira de resolver um determinado
problema. Mas é preciso alguns critérios científicos para distinguir o que é um
fenômeno cultural, e o funcionalismo indica que o mesmo deve preencher os
seguintes requisitos: estatuto, pessoal, normas, aparelhagem material,
atividade e função. Vamos dar um exemplo, obviamente. Para que a sociedade
possa se sustentar, há uma instituição chamada “ocupação”. O estatuto empregatício consiste em uma
relação produtiva que desemboca em algo que pode ser comprado e vendido,
gerando giro e renda. O pessoal são
os atores que participam desta relação, como o patrão e o empregado. As normas são aquelas ditadas pelo governo
e pelo dono do negócio, que estabelecem o quanto e quando pagar. A aparelhagem material diz respeito aos
locais e ferramentas necessários ao desempenho das tarefas que concretizarão o
objeto da relação. A atividade é o
desenrolar propriamente dito daquilo que precisa ser feito para a obtenção do
produto ou do serviço, enquanto a função
corresponde à necessidade da existência de toda essa parafernália, ou seja,
gerar sustento para o trabalhador e lucro para o empresário. Notem como o
estudo sociológico e antropológico são fortemente imbricados na escola
funcionalista, e esta acaba se tornando uma das principais críticas contra a
metodologia: uma indistinção de objeto quase irresolvível, embora tenha sido
com ela que os pesquisadores saíram de verdade dos gabinetes para fazer o estudo
direto e vivencial com diferentes culturas, porque o estudo das instituições
deve ser feito in loco,
contrariamente ao que faziam as correntes anteriores.
Por fim, temos a escola do Estruturalismo. É uma corrente que lança mão de um forte
psicologismo em suas bases, como veremos. A estrutura que dá nome à corrente é
aquilo que está por baixo da casca de cultura que pode ser colhida
empiricamente. Claude Lévi-Strauss e demais membros da tendência percebiam que
a estrutura cultural de qualquer sociedade é essencialmente a mesma. Temos como
comparativo a construção civil: uma ponte, por exemplo, pode ser pênsil,
estaiada, cantilever, treliça contínua, em arco, em vigas ou uma simples
pinguela, mas sua estrutura é a mesma: um tablado que percorre por sobre um
meio aquático sustentado em algum apoio. A manufatura e seus detalhes, estes
sim, são extremamente variáveis, mas o objetivo é sempre o mesmo: atravessar de
uma margem à outra, e algo chamado “ponte” tem as características acima. Se
colocarmos um cipó amarrado em uma árvore ou uma rampa para saltar de um lado
para o outro, teremos outra estrutura que não uma ponte.
Da mesma forma funciona a sociedade. Um conjunto de normas
rege um determinado agrupamento de pessoas que pretendem ter vida em comum, com
uma liderança bem definida e tarefas bem especificadas para cada um dos
estratos que a compõe, de forma a obter um mínimo de colaboração mútua. Seja em
uma comunidade indígena, seja em uma nação industrializada, a estrutura de uma
sociedade é essencialmente essa. Se a cultura se desenvolve tendo como eixo uma
sociedade, ela também obedece a uma estrutura.
E por que isso acontece? Os estruturalistas entendem que a
mente humana tem, em qualquer lugar onde esteja, uma espécie de esqueleto que
lhe dá também uma estrutura. Vistos como indivíduos, todos os seres humanos
possuem conteúdos próprios que lhe dão características subjetivas, mas a
estrutura mental é comum a todos. Temos todos um aparelho instintivo que nos
permite dar uma resposta rápida a uma necessidade premente, temos todos uma
memória que nos possibilita armazenar informações e conhecimentos, temos todos
uma inteligência que nos faz processar a razão, temos todos critérios
subjetivos de gosto e preferências e, se Freud estiver correto, temos divisões
na consciência, com uma parte animal sendo refreada pela moral introjetada pelo
meio em que se habita. Esta estrutura psíquica se plasma pela humanidade
inteira e isso termina por se espraiar para os meios externos de convívio,
começando pela sociedade e pela respectiva cultura. Essa é uma linha de
pensamento que fere de morte o racismo do darwinismo social, porque coloca não
só todas as culturas e sociedades em pé de igualdade, mas também toda a
humanidade. Estruturalmente, somos todos iguais. Lévi-Strauss falou sobre essas
coisas, e eu já falei sobre Lévi-Strauss e estruturas, como neste
texto.
É isso por enquanto. Há outras correntes, e mesmo estas se
mesclam muito, mas as questões da Antropologia são tão extensas que eu
extrapolei bastante sobre o que queria falar. Faz parte. Bons ventos a todos.
Recomendação de leitura:
Nada como um pequeno manual para entender um pouco melhor
sobre o tema. O que eu mais usei na faculdade foi o seguinte:
MELLO, Luiz Gonzaga de; Antropologia
Cultural. Iniciação, Teoria e Temas. São Paulo: Vozes, 2007.
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