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segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

De volta às águas e trilhos que ficaram para trás – 4º lugar: São Sebastião do Rio Verde e nossas tendências a fazer coleções

(Por que gostamos de coleções? E por que às vezes elas nos escravizam?)

“Acreditamos no óbvio. Mas quando o examinamos um pouco mais de perto, vemos que por trás do que chamamos de óbvio há uma porção de preconceitos, fé distorcida, crenças e assim por diante. Mas a fim de atingir e entender o óbvio, temos primeiro que nos agarrar ao óbvio, e esta é a maior dificuldade. Todos nós queremos ser sagazes ou secretos, ou tencionamos ser algo que valha a pena e assim por diante”.

Fritz Perls

Olá!

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No meu último texto, falei sobre a cidade de Virginia. Eu não passei o dia inteiro lá, principalmente porque o Google me mandou chegar através de um caminho de terra bem ruinzinho, e fiquei meio preocupado de fazer a volta em horas mais escuras, com poucos recursos. Experiência? Não, coisa de velho mesmo. Mas o fato é que eu podia fazer o percurso por asfalto, conforme pude verificar na volta. É aquela velha história de confiar cegamente: fé cega, faca amolada, já diziam Nascimento e Bastos. Porém, a nova proposta de rota me permitiu dar uma passada pela cidade de São Sebastião do Rio Verde, de quem começarei a falar agora.

A cidade tem esse nome pela junção de seu padroeiro, o santo soldado que, conforme se narra, preferiu morrer a abjurar sua fé (escrevi sobre o sincretismo que existe em torno dele quando falei sobre Senador José Bento)…


… com o rio que corta a região, importante não só aqui, mas também em outras plagas, que acabam por também levar seu nome, como Conceição do Rio Verde.


São Sebastião do Rio Verde virou sede da mais nova estação turística que recebe a Maria-Fumaça da antiga rede ferroviária de Minas Gerais, em uma composição que vem da cidade de São Lourenço. Isso fez com que praticamente se dobrasse a rede disponível para reviver o passado, considerando o trajeto que leva a Soledade de Minas, já inaugurado a mais tempo.

Quem pegar o trem e vier para cá, terá a oportunidade de conhecer a igreja dedicada a São Sebastião, que impera na praça já próxima aos baixios da cidade.

A praça é daquelas típicas, onde ocorre a maior parte da vida social da cidade, onde o povo se agrupa, toma suas cervejinhas e namora.


Como fica em um declive, toda a sua estrutura se baseia nas pequenas rampas sucessivas, o que dá um certo ar piramidal à construção.


A praça contém algumas edificações interessantes e bonitas, da época em que ainda era sede do município de Pouso Alto, antes de ser rebaixada a distrito. Isso explica a presença de prédios históricos, como o do Fórum, que hoje abriga instituições como os Correios.

Como curiosidade, e levando em consideração se tratar de uma das estações do Caminho Religioso da Estrada Real, há aqui um plano de altimetria em forma de placa e anexo a um mapa, de forma a orientar os romeiros o quanto devem reservar de forças à medida que avançam.

Bem no alto da cidade, antes de chegar na praça central, há um marco típico da Estrada Real. Não deu tempo de tirar uma foto, e também fiquei com um pouco de preguiça de voltar para fazê-lo, então peguei uma da internet mesmo, mais especificamente no Google Maps, nas coordenadas 22.2269089, -44.9771486, apenas para ilustrar.

Já passei por várias cidades que fazem parte dessa rota: Cunha, Baependi, Caxambu, Passa Quatro, Itamonte, Guaratinguetá, Aparecida e, principalmente, a precitada Pouso Alto, quando aproveitei para trazer mais elementos sobre os fatos históricos que a cercam. Estimulados pela associação que cuida dos interesses do roteiro, os turistas que têm mais recursos passaram a enumerar suas passagens com bibelôs, fotos e souvenires, de modo a recordar (ou ostentar) suas estadias. Essa tendência levou o Instituto da Estrada Real a criar uma cartela onde se pode recolher carimbos de passagem, de forma a completar esse passaporte como se fosse um álbum de figurinhas.

Eu nunca me incomodei com esse tipo de coisa. Passei por várias dessas cidades, como vocês puderam ver acima, e não sei até quando continuarei passando por elas. É um dado importante saber que a cidade pertence a esse circuito, pelo simples fato de que é um detalhe histórico importante para saber por onde você anda, e não tenho nenhum tipo de problema com quem preenche suas cartelas, só não acho isso tão significativo assim.

Eu sou um ET que não coleciona nada? Não, nada disso. Tenho duas coleções dignas desse nome e uma espécie de juntado que algumas pessoas também encaram como coleção. Vou contar rapidinho sobre cada uma delas.

A minha coleção mais antiga é de chaveiros, e também a mais barata. Ela partiu de uma coleção preexistente, que era da minha mãe. Eu, ainda criança, vi aquela caixa de sapatos cheia de chaveiros e a genitora me contou detalhes de cada um deles. Peguei gosto pela coisa, conseguindo novas peças na base da inconveniência infantil, muitas vezes obrigando meus parentes mais velhos a se privar de sua peça apenas para que eu parasse com minha chatice. Depois, comecei a comprar itens em viagens, ao invés de obter outros bibelôs. Hoje, com o acesso mais facilitado a viagens internacionais, encarrego meus amigos de me trazerem algum de onde vierem. Ofereço-me para pagá-los, mas nunca aconteceu de alguém me cobrar. Assim sendo, tenho chaveiros de Cuba, República Dominicana, México, Chile, Argentina, Canadá, Estados Unidos, Japão e outros lugares que não lembro agora. O armazenamento cresceu a ponto de se tornar um problema: para que eu exponha os chaveiros, preciso de um móvel de grandes dimensões, daqueles de custo exorbitante e alocação complicada, e os hoje organizadores que os contêm vão ficando encostados nas paredes das intenções nunca realizadas. Atualmente, meu objetivo é fazê-lo assim que me aposentar, daqui a alguns anos. A ver.

Outra coleção é bem mais onerosa, bem mais recente e anda bem mais devagar. São métodos para extração de café. Eles são tão presentes na minha vida que até criei uma série sobre eles e as reflexões a que me levam, que podem ser lidos neste link. A coisa começou quando eu quis provar um sistema de extração diferente do Melittão habitual e da máquina de espresso dos bares da vida. Comprei uma cafeteira italiana na loja da esquina e comecei a testar diferentes configurações de extração, e percebi que, embora sutis, era possível conseguir diferenças surpreendentes entre elas. Entretanto, um chaveiro custa uns dez reais, e um método pode valer várias moedas empilhadas, razão pela qual desloco minhas prioridades para coisas mais urgentes. Tenho até alguns objetos meio custosos, mas nada que fira o orçamento, como fariam equipamentos Gaggia, Bialetti, Delonghi, Breville e outros italianos de bolso cheio.

Por fim, tenho camisas de times de futebol. Eu, particularmente, não considero uma coleção, mas há quem a chame assim. Vou comprando de acordo com os jogos que vou assistir, sempre na base do artigo mais barato. Também ganho algumas de presente, porque é aquele que não tem como errar. Teve um texto em que estiquei na cama meu pequeno acervo, que acabou por crescer. Mas não se trata de algo sistemático, que eu tenha um mínimo de critério para comprar. Chegou em casa, vai para junto das demais, só isso. Como costumo circular por muitos estádios, tenho muitas camisas, punto e finito.

Sendo assim, não me é estranho o hábito de colecionar, mas o colecionador de verdade (dizem) é aquele que busca a totalidade dos seus objetos de desejo. Bem, para chaveiros, querer completude é uma espécie de probatio diabolica, porque todos os dias serão lançados novos elementos no mundo inteiro. Idem com métodos de café e mesmo camisas de clubes, mas há, de fato, aqueles casos em que é possível manter uma coleção completa, como os discos de um determinado artista ou, vejam vocês, a cartelinha das cidades da Estrada Real. A grande pergunta é: por que nos incomodamos com isso? O que nos leva a despender tempo, recursos e energia para encher o álbum de figurinhas?   

Vamos lá. Se nós formos partir do princípio de que existe uma realidade, é preciso fazer uma diferenciação: o que é a realidade em si mesma e qual é a forma com a qual ela é percebida. Essa distinção é importante porque ela racha o conceito ao meio, porque quem percebe a realidade sempre é uma consciência, e essa consciência é de cada um dos contribuintes deste malfadado e cada vez mais quente planetinha. Ou seja, mesmo que uma realidade exista, ela é uma para mim, outra para você, atípico leitor, mais uma ainda para meu vizinho e outra para o seu. Quero dizer com isso que ninguém apreende a realidade da mesma maneira que o amiguinho, porque nossas vidas podem se assemelhar, mas nunca são iguais. Idem ocorrerá com nossos sentidos, com nossa cultura, com nossos costumes. Tudo isso faz com que, mesmo que ainda seja possível dizer que há uma realidade, ela é incognoscível.

Parece que a volta vai ser longa, mas nem tanto. Se você conhece um pouco de filosofia, já sacará que eu falei de duas coisas no parágrafo anterior: do noumeno kantiano e da Fenomenologia, sua derivada metodológica. É com eles que a ideia de que tudo depende de uma consciência que absorva a realidade e que, por isso, é impossível que se chegue a uma conclusão definitiva sobre cada coisa-em-si. Acontece que essa particularização na forma de apreender o mundo não significa que não exista um padrão no modo em como a percepção se dá pelas diferentes consciências, muito pelo contrário. Se existem fronteiras para a mente, elas estão bem delimitadas pela maneira com a qual o intercâmbio entre o objeto posto e o objeto percebido são trabalhados pelo equipamento psíquico. Por exemplo, o roteiro deste processamento sempre se dá no sentido de fora para dentro, com o uso dos sentidos para concretizar esse trânsito. O que varia, como eu já disse, depende do aporte cognitivo de cada um dos indivíduos. A realidade é como é para nós mesmos porque ela se configurou desta forma.

A existência de padrões faz com que tenhamos tendências que são razoavelmente parecidas em cada uma de nossas mentes, apesar de o resultado final ser distinto para cada um. Um desses padrões é que sempre temos a propensão em buscar completudes para elementos onde faltam pedaços, de forma que sempre consigamos deduzir com a melhor precisão possível qual é o objeto que está à nossa frente. Sendo assim, projetamos continuidades onde elas faltam, acrescentamos números onde eles não existem, fechamos círculos abertos. Este é o princípio geral da psicologia da Gestalt, de quem já falei demoradamente neste texto link. Se o tema te interessa, leia lá, porque está cheio de bons (e futebolísticos) exemplos.

O fundamental é que o cérebro tem a faculdade de perceber totalidades, de modo que as partes isoladas precisam estar em relação entre si para compor um sentido completo. Uma absorção da realidade pode ser completamente distinta de outra, ainda que esteja composta pelos mesmíssimos elementos, porque há uma configuração que modifica todo o sentido daquilo que vemos. Mas é aí que temos o pulo do gato. A mente tem a faculdade, mas não a obrigação, de aceitar a totalidade que percebe. Quando olhamos a cartela de carimbos das cidades visitadas na Estrada Real, podemos justamente nos voltar para o buraco que falta, e não para os campos já preenchidos. Isso traz uma sensação incômoda de que falta alguma coisa naquela configuração, de que há alguma engrenagem que não gira e é justamente isso que nos move a completar aquela lacuna, o que nos trará a confortável dimensão de estabilidade.

Em certa medida, isso ajuda a explicar por que temos uma sanha interior de buscar as completudes, e há uma normalidade nisso, já que há seus propósitos biológicos e psicológicos no dimensionamento complementar da realidade que absorvemos. O propósito de fazer coleções fica razoavelmente fundamentado por esse princípio, além de outros fatores, como vaidade e aspectos afetivos. O problema está quando passamos do ponto, e o que era um hobby passa a ser um sofrimento de múltiplos aspectos.

Por exemplo: o carimbo que falta no passaporte da Estrada Real pode produzir um planejamento que me fará economizar dinheiro para obtê-lo nas próximas férias, o que é bom e normal. A questão chega quando ocorre uma compulsão que me leva a um endividamento para consegui-lo, ou faltas ao serviço, ou hospedagens perigosas. Imagine a situação de uma pessoa que chega ao posto de registro e o encontra fechado. Em níveis normais, nada mais ocorreria do que ficar levemente puto, e voltar outro dia. Uma pessoa acometida de um transtorno certamente terá sua viagem estragada, que por vezes é cara, pelo fato prosaico de não conseguir um canalha de um carimbo, estampado com tinta vagabunda (ou não). O mesmo ocorreria comigo se eu me pusesse a fazer carnês e deixasse de comprar meu feijãozinho sagrado para comprar os caríssimos métodos italianos. Há um ponto em que precisamos conter os nossos ímpetos, para o bem de nossa vida como um todo. Mas pode ser pior.

O extremo desses transtornos está naqueles que recentemente começaram a ser chamados de acumuladores. Eu já falei sobre acúmulos neste espaço, especialmente porque eu tenho uma pessoa bem próxima dada a esse hábito - minha sogra. Tudo quanto é cisco e caco sem importância ela guarda, achando que poderá ter serventia em algum momento, e isso a leva a preencher quartos, quintais, corredores, fundos de cama, mesa e qualquer espaço minimamente disponível de objetos que obviamente não terão utilidade alguma. Convencer uma pessoa com esse nível de transtorno a se livrar de alguma de suas porcarias é missão quase impossível. Meu sogro teve brigas homéricas porque jogou fora alguma coisa largada que achou ser lixo, e, para não esquentar a cabeça, simplesmente largou mão de tentar algum argumento. O caminho da cama para o guarda-roupa é uma picada por onde há ameaça de avalanche em qualquer esbarrão, que às vezes acontecem. Não adianta fazer menção a qualquer espécie de aconselhamento psicológico, porque sua já decantada fúria é imediatamente despertada.

Não vou discutir a terapêutica aplicada a esses casos, porque eu não tenho conhecimento para tanto, mas a própria teoria da Gestalt, a meu ver, oferece propostas de solução, tanto para a situação das compulsões, quanto dos acúmulos. Vamos então dar uma olhadinha nisso.

O psicólogo Fritz Perls é um crítico da Psicanálise, para quem o linguajar utilizado é tão hermético que impossibilita qualquer interessado em compreender suas teses. O problema é que, segundo ele, sob essa linguagem maquiada e pernóstica, há longas dissertações sobre o óbvio, e então era de maneira óbvia e simples que deveria se expressar. Além disso, ele discorda de que o inconsciente seja tão preponderante sobre o equipamento psíquico, a ponto de tornar a instância consciente um navegante de um barco sem leme. Vê que a mente funciona com um mecanismo de compensação semelhante ao que acontece com toda a parte fisiológica do corpo, e dá exemplos disso. Quando há qualquer desarranjo que provoque um mal para o organismo, ele mesmo procura, através dos mecanismos que têm disponíveis, recuperar seu equilíbrio. Isso acontece com alterações de pressão, ritmo cardíaco, níveis de açúcares e tantos outros fenômenos sujeitos a intempéries, que acontecem o tempo todo, porque outras ocorrências mais prosaicas, como satisfazer a fome, também causam um desequilíbrio que clama por normalização. A doença ocorre quando não é possível restabelecer seu status normal. Por exemplo, quando os níveis de glicose não são levados a certo nível após um período de jejum, temos a diabetes, que espalha desgraça por todo o corpo quando não tratada. Essa busca por estabilidade é chamada de homeostase e também pode ser incluída no nível mental.

Tá. Mas como a psique resolve seus desequilíbrios? A primeira coisa é que temos a tendência de perceber totalidades, mas isso não significa que esse processo se dê sem perturbações. Tudo vai depender das necessidades circunstanciais que temos em um momento, de modo a processar a realidade circunstante e satisfazer as nossas necessidades. Isso fará variar o conceito chave da Gestalt conhecido como figura-fundo, que nada mais é do que aquilo que nossos sentidos absorvem em primeiro plano em qualquer circunstância que demande sua atenção.

Eu vou usar como exemplo uma música. Imagine-se chegando no fim da tarde em sua casa e colocando os fones de ouvido, antes de deitar-se no sofá. Você escolhe uma música no LP que você acaba de colocar no prato, mais especificamente na faixa Time do álbum The Dark Side of the Moon, do Pink Floyd, bem conhecida para facilitar nossa dinâmica. Coloca a agulha no artefato e repousa o corpo sobre o sofá, já descalço e com as luzes apagadas. Lentamente, vai começando a penetrar uma massa sonora em seus ouvidos, mas ela não vem em um bloco estanque. A princípio, é fácil, apesar de assustador. O ribombar dos despertadores nos traz a um estado de alerta, sem que consigamos fixar um foco em nenhum deles, até que ouvimos a estranha percussão que simula as batidas de um coração, que puxa toda a atenção para si. A instrumentação começa espaçada, seguindo o ritmo já imposto. Neste momento, já perdemos parte da atenção na percussão e a levamos para o conjunto de baixo-guitarra-teclado. Quando a introdução acaba e o corpo da música irrompe, somos puxados pela parte vocal e pela poesia que carrega consigo. Isso vai persistir até o magnífico solo de David Gilmour, que chama para si todo o eixo atencional do audiente, até o retorno da melodia cantada e, enfim, sua conclusão. Pois bem. Tudo aquilo que chamou nossa atenção central é aquilo que chamamos de figura, e tudo o que ajudou a compor o ambiente, sem, no entanto, ficar no centro, é o fundo.

Notem duas coisas. Primeiro, é possível a qualquer um mudar a figura nessa configuração, bastando que lancemos conscientemente nosso foco para outro ponto. No momento do solo, por exemplo, podemos aguçar os ouvidos para absorver o trabalho de teclados que está sendo feito e, nesse caso, ele é a figura, enquanto a guitarra fará parte do fundo. Segundo, movido por interesse próprio, também é possível que a figura já seja outro instrumento, motivado, por exemplo, pelo fato de ser um baixista ouvindo a música e, nesse caso, a figura são as linhas de baixo, enquanto o solo vai para o fundo.

Essa relação figura-fundo, ou seja, de ênfase no que se percebe, pode ser uma boa explicação para as compulsões dos colecionadores. Enquanto você exibe a cartela cheia de carimbos, uma pessoa em situação de equilíbrio emocional verá como figura o monte de quadradinhos preenchidos, e os buracos estão no fundo. Eles somente serão notados secundariamente, em um momento de análise mais profunda. Já para quem não se conforma com os claros, são eles que constituem a figura, sendo que tudo o mais que foi realizado fica para o fundo. A percepção de totalidade dessa pessoa estará turvada pelo desequilíbrio, e a auto-regulação psicológica não consegue resolver o desequilíbrio, a homeostase não se dá, e aí temos a condição patológica. Idem com o acúmulo. Aquele monte de quinquilharia está suprindo algum tipo de desequilíbrio contra o qual o contribuinte não consegue lutar. Perls entende que é através do reconhecimento da maneira como se dá a configuração entre o contato que fazemos com nosso ambiente que permite assumir certas responsabilidades sobre nossas reações. Se eu sei que uma partida de futebol modorrenta me irrita, saber refazer a sua configuração é a solução para que o desconforto diminua: olhar o movimento da torcida, procurar algum anúncio novo, ou mesmo praticar um autocontrole, tudo isso ajuda. Nessa ótica, os próprios transtornados têm condições de mudar a configuração de suas compulsões, observando, por exemplo, o quanto a sua casa poderia ser mais espaçosa e confortável tendo menos acúmulos.

De uma forma ou de outra, repito que não me incomodo com quem tem suas coleções, desde que não se tornem grilhões. Bons ventos a todos!

Recomendação de leitura:

O principal papa da gestalt-terapia é o alemão Friedrich (Fritz) Perls, que levou as ideias da Gestalt para o consultório e lá fez interessantes observações.

PERLS, Fritz. A Abordagem Gestáltica e Testemunha Ocular da Terapia. Rio de Janeiro: LTC, 1988.

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