(Balançar na rede me afasta do meu mundo, e me leva a pensar qual será o próximo passo para que nos reconheçamos mais e mais inferiorizados)
É que Narciso acha feio o que não é espelho
Caetano
Olá!
Eu me casei em um mês de janeiro e, por conta disso, sempre
procuro fazer um agradinho para a patroa quando é chegado esse mês. Até não
muito tempo atrás, dados os limites financeiros, costumávamos comer na
pizzaria, ao invés de fazê-lo em casa. Hoje em dia, já dá para pensar em alguma
coisa mais arrojada, e temos feito curtíssimas viagens, de três ou quatro dias,
onde comemos, bebemos e celebramos a vida.
Não foi diferente neste ano. Como é viagem de tiro curto,
não dá para errar, e o negócio é fazer uma reserva. Só que eu errei. Sendo
janeiro, pensei em pular para o polo oposto e procurar um destino de inverno, e
raciocinei: será que desta vez dá para fazer as trilhas de Monte Verde sem
chuva? Eu já havia viajado para
lá, e peguei um interessante contraste de chuva e sol, e gostaria de
revê-la, desta vez a seco. Só que os aplicativos de hotéis não se limitam a
pesquisar a localidade desejada, mas uma área ao seu redor com um raio
generoso. Estupidamente, olhei uma oferta atraente, vi fotos do lugar e fechei
questão. Só que fui parar 20 km de terra longe dali, ainda em Camanducaia, mas
em um distrito chamado Vale do Bom Jardim.
“Você deve ter ficado puto”, pensará você. Pior que não. É
um lugar muito bonito, tranquilíssimo, que ainda não está na crista da onda do
turismo, afastado de excessos de rodas por causa da chegada exclusiva por
estradas de terra, mas é inevitável que logo chegue lá, dada a quantidade de
construções de casinhas e chalés pela redondeza. Dá para perceber claramente a
estrutura geográfica que dá nome ao lugarejo ao observar a paisagem pela
estradinha.
Sendo assim, não fiquei aborrecido, muito pelo contrário. O
Vale é um lugarejo simples, cheio de morros e fundos, com um clima bem ameno e
repleto de caminhos de chão.
Se temos um vale, é sinal de que temos um rio, e este é o
Rio Jaguary, cuja nascente não está muito longe dali e que vem formando saltos
e cachoeirinhas por todo o seu trajeto. Bem de frente ao chalé que aluguei
havia uma, de água muito limpa.
Havia uma mesa esperta bem na beira do rio, e fui matar uma
saudade que eu tinha desde o tempo em que as crianças eram pequenas: fazer um
piquenique de café da manhã. Parece coisa de namoradinhos, mas ninguém disse
que esses pequenos romantismos não dão colorido à vida.
Quando vamos a lugares assim, dizemos que presenciamos
paisagens bucólicas. Esse é um termo muito típico do Arcadismo, a corrente
literária que pregava um retorno à natureza. Temos muito disso aqui, como as aves
pouco conhecidas nos centros urbanos (aqui, temos um coró-coró)...
… as castanheiras que emprestam o nome à colina e ao sítio
que as contém…
… daquelas portuguesas, que comemos cozidas ou assadas, e
que perfuram os dedos dos incautos…
… as plantações de marmelo típicas do Sul de Minas…
… a igrejinha à qual o povo acorre nos fins de semana e nas
festas de guarda, com o sino que retine chamando os fiéis…
… e o sol que se põe atrás da serra, coisa tão rara de se
ver em megalópoles como São Paulo.
Um pouco de tecnologia, entretanto, não vai nada mal.
Como estamos na Mantiqueira mineira, não dá para deixar de
pensar em comida, naturalmente. A Casa Velha, sem qualquer patrocínio (estamos
aceitando) é um daqueles lugares em que comemos gemendo, tamanho o sabor dos
pratos ali servidos.
Mas à noite, o negócio é uma italianíssima parceria de pizza
e vinho.
E, no fim da tarde, uma atitude simples e reconfortante…
balançar na rede e olhar o tempo passando, o céu escurecendo e a noite
chegando, enquanto as mariposas começam aos poucos a chegar.
É no balanço da rede que eu me percebo, pelo menos por
alguns instantes, fora da grande rede em que se transformaram nossas vidas. E é
assim que eu me percebo absorvido por elas: exatamente na sua ausência. Batemos
recordes de moléstias mentais, não somente porque hoje elas são reconhecidas
como tais, mas também porque vivemos em um mundo onde, como nunca, recebemos
informações em quantidade que não conseguimos processar. Eu, que sou low
profile em matéria de informática (até mesmo porque trabalho com essa desgraça),
estaria recebendo notificações aos borbotões de sites que nunca ouvi falar,
mensagens e status de WhatsApp, novos vídeos do YouTube e tantos outros
acessórios da vida contemporânea, e certamente estaria tentado a vê-los todos,
deixando para lá um contato mais íntimo com o mundo que me cerca.
Tentar achar os porquês das atitudes da vida contemporânea é
um desafio que tem incomodado o pessoal das humanas atuais. Não foge muito, no
meu entender, do nosso próprio narcisismo, e gostaria de fazer uma tentativa de
discorrer sobre isso. Como em filosofia as coisas nunca são tão simples, vou
ter que fazer um regresso à mitologia grega, e explicar um pouco como se
desenhou o mito de Narciso, o personagem que deu substrato ao modo de vida que
vivemos até hoje.
Tudo começa com a ninfa Eco, cuja história vai se
entrecruzar com a do jovem mancebo. Uma ninfa era uma espécie de divindade que
protegia algum aspecto da natureza, como já falei neste
texto. No caso específico de Eco, ela era uma oréade, que estavam ligadas
às montanhas e às grutas. Eco era regida por uma autoadmiração, voltada
especialmente para sua melodiosa voz, e isso fazia com que ela falasse,
falasse, falasse e falasse.
Certa feita, Zeus, um dos maiores especialistas em puladas
de cerca que se tem história, estava andando pelo meio das oréades para
conseguir um belo desfrute, mas não obtinha favores de Eco, que preferia ficar
ouvindo sua própria voz. Entretanto, a ciumenta deusa Hera, desconfiada das
longas ausências do marido, resolveu dar uma investigada pelos lados das
montanhas. Para não permitir que Hera visse seu marido em pleno ato com suas
colegas ninfas, Eco aproveitou de sua verborragia, puxando papos cada vez mais
longos com a ciumenta deusa, a fim de permitir que Zeus escapasse. Mais tarde,
quando se tocou da falcatrua, Hera condenou Eco a apenas repetir as últimas
palavras de seus interlocutores, de modo a não mais praticar sua arte oral.
Deprimida, Eco passou a viver isolada pelos bosques, onde ficou até seu
encontro com o jovem Narciso.
Este jovem era filho do deus Cephisus com a ninfa Liríope.
Sua principal característica era uma incrível beleza, além de uma
autossuficiência sem igual. Como a visão da antiga Grécia sobre a sexualidade
era muito diferente da que temos hoje em dia, Narciso era visto e desejado por
todos, homens e mulheres, e também pelas ninfas, notadamente a já citada Eco.
Entretanto, sua vaidade não lhe permitia se ver seduzido por ninguém, nem mesmo
pela belíssima tagarela. O encontro dos dois se deu durante uma caçada na
região onde a ninfa havia se refugiado. Vendo-o ao longe, a pequena entabulou
um diálogo limitado pela sua maldição e, quando finalmente se aproximou, o
amor-próprio de Narciso fez com que a pobre moça fosse repelida com duras
palavras e soberba infinita. Envergonhada, a menina terminou por se ocultar no
fundo das cavernas, e lá definhou até se transformar em pedra, restando viva
unicamente sua voz, na forma das repetições tão comuns que encontramos dentro
desses lugares.
A arrogância do jovem não passou despercebida da deusa
Nêmesis, que, testemunhando a dor de Eco, estabeleceu uma vingança: Narciso
pagaria seu ato através de um amor impossível - a paixão por si mesmo. A
concretização se deu em outro dia de caçada. Estando fatigado pela faina, Narciso
se aproximou de uma fonte e sobre ela se debruçou, a fim de pegar água. Foi
quando se deu a famosa cena da visão no reflexo, e o início de uma paixão
irremediável. A cada vez que tocava a superfície, a imagem desaparecia, para se
materializar novamente em segundos. Narciso tentava beijar sua imagem, mas o
mesmo acontecia. Sem conseguir se distanciar e também sem alcançar seu
objetivo, o jovem cada vez mais se depauperava, até perder toda sua força e
morrer. No lugar de seu corpo, brotou a bela flor que leva seu nome.
Essa história simbolizava tantas outras na espécie humana
que acabou por se tornar a narrativa da autoimagem que suplanta a própria visão
que não consegue sair de si mesma, de forma a originar inúmeras inspirações
poéticas, como o verso da epígrafe, ou a nominar princípios psicológicos, como
fez Freud.
Quando Freud escreveu seu livro “O Mal-estar na Civilização”,
as sociedades ocidentais viviam um momento em que se viram defronte a um
paradoxo retumbante. No século XVIII, o Iluminismo
removia o pensamento das superstições religiosas, enquanto no século XIX o Positivismo
creditava à ciência um mundo de avanços em todas as dimensões. O que tínhamos
no começo do século XX? A maior guerra que se teve notícia, com recursos
tecnológicos nunca sonhados antes. A ciência que traria uma qualidade de vida
nunca sonhada era a mesma que produzia os artefatos mais mortais jamais
arquitetados. Essa encruzilhada em que a humanidade se colocou vinha agravada
pelo descolamento das divindades, que agora não admitiam regresso, tendo em
vista as descobertas que o próprio conhecimento científico trazia, e que a
retirava do lugar especial que imaginava ter. A humanidade passava a se olhar
em seu reflexo e, como Narciso, começa a definhar em sua imagem autoconstruída.
Alguns desses eventos eram tão marcantes ao desmonte dessa imagem própria que
Freud deu o nome de feridas narcísicas ao fruto dos golpes que os
homens, vistos como coletividade, sofreram no seu eu, todas no âmbito
científico.
A primeira delas se dá através de Copérnico.
Resumidamente, cria-se que o planeta representava o centro do universo e,
consequentemente, todos os astros giravam ao seu redor. Quando observados
puramente no plano intuitivo, não tem erro. Observamos o Sol, a Lua e as estrelas
descrevendo um círculo nos céus e concluímos fácil que estamos no meio. E o que
isso significa? Que estamos em uma posição central, que somos agraciados por
Deus, que o universo todo foi feito para nós. Se ainda não o temos todo em
nossas mãos, é daqui do meio que poderemos alcançá-lo.
Mas, mesmo sendo intuitivo, um olhar um pouco mais atento
via coisas inexplicáveis. Por que há estrelas que começam a andar para trás,
contrariando todo o movimento típico de leste para oeste? Por que algumas
dessas mesmas estrelas parecem maiores ou menores no firmamento, dependendo da
época do ano? Para explicar esses fenômenos no contexto do geocentrismo, eram
necessárias hipóteses estapafúrdias, como epiciclos e excentricidade. A
resolução que Copérnico deu era de uma simplicidade irritante: não, não estamos
no centro. Quem está no centro é o Sol. Nós estamos girando junto com os demais
planetas, na periferia, em pé de igualdade com nossos irmãozinhos cósmicos.
Um pouco mais adiante, vieram Darwin
e Wallace. A princípio, e por séculos, cria-se que todos os seres vieram
prontos e acabados através de um criador, que os colocou no mundo de acordo com
sua vontade para cumprir uma determinada função. O ápice era o ser humano, um
ser mais próximo do que eram as próprias divindades, capaz de criar e de
abstrair, que não vive só por viver, como qualquer outro ser.
Entretanto, a observação cuidadosa da realidade já fazia com
que a emergente comunidade científica percebesse que os seres não eram
estáveis, e que se transformavam no decorrer de longos lapsos de tempo. O que
Darwin e Wallace notaram foi que essa transformação não se dava ao léu, mas
através de pressões ambientais que levavam à seleção dos entes mais bem
adaptados. Mais ainda: como essa pressão era exercida sobre indivíduos, as
diferenciações não eram unívocas, gerando distinções dentro de uma mesma
espécie. Isso faz surgir o conceito de ancestral comum, sendo que as espécies
parentes eram aquelas que guardavam maiores semelhanças. Pepinos e melancias,
minhocas e sanguessugas, gatos e leões, macacos e homens. O homem é um primata
dentre outros, que um dia no passado foi um único animal, o tal ancestral comum
entre nós e os macacos. Nós somos macacos. Nada mal para quem é a imagem e
semelhança de deus.
A finalização veio no começo do século XX. Já fora do centro
do universo, já um animal como outro qualquer, a humanidade ainda se arrogava a
condição da racionalidade. O homem pode crescer como autêntico patrimônio
universal porque tem a lógica como seu principal componente e o conhecimento
como sua grande ferramenta. Sua genialidade pode ser resumida na fecundidade de
seus inventos e descobertas, no avanço tecnológico e na criatividade artística.
Nenhum outro animal tem qualquer semelhança com esse bolsão de benesses
potenciais.
Entretanto, um esbarrão na rua, que qualquer lógica deduz a
falta de intenção, já produz simulacros de MMA entre dois machos alfa. Aliás, a
violência é espetáculo que atrai milhões, desde o tempo dos gladiadores até os
ringues modernos. A lógica não vale nada diante dos afetos. Os lapsos fazem
esquecimentos em momentos vitais. Os atos falhos fazem com que digamos aquilo
que não queríamos, e nunca sonhamos o que queríamos, mas o que surge em nossa
cabeça, bom ou ruim. Nós estamos sentados em um lugar pacífico, sem nenhuma
preocupação aparente, e do nada vem os medos, as vergonhas, as aflições. Nossos
afetos fazem com que tomemos atitudes que não têm como serem chamadas de
racionais. O controle que temos sobre nossa mente é extremamente menor do que
aquele que julgávamos ter. Nossa porção racional é ínfima dentro do conteúdo
total da nossa psiquê. Freud descobre que o inconsciente é muito maior e mais
atuante do que a consciência. Há uma guerra entre o instinto animal por um
lado, e pela repressão socioambiental pelo outro, de forma não perceptível aos
sentidos, mas que pressiona a porção consciente de forma muito difícil de
lidar, e essa é uma usina de problemas emocionais, neuroses e psicoses à
frente. Achávamo-nos racionais, mas não o somos.
Será que esses caras eram malvadões que queriam diminuir a
humanidade, que é a pérola da criação divina? Não, nada disso. Eles quiseram
uma visão mais realista, mais factual, menos transcendente do que é o universo.
É aquela coisa: quando somos crianças, explicações do tipo cegonha são
suficientes para satisfazer a curiosidade de como os bebês são encaminhados. Na
medida em que crescemos, passamos a querer saber mais, a exigir mais, e estamos
sempre aperfeiçoando nossos conhecimentos. Precisamos não só compreender a
dinâmica dos nascimentos, mas como se formam os diferentes órgãos, os pulsos
nervosos, e até mesmo em que momento exato começa esse fenômeno chamado vida.
Foi assim com os novos saberes que resultaram nas feridas narcísicas, e ainda
não pararam. Depois de Copérnico, vieram Brahe, Kepler, Hubble. Depois de
Darwin, vieram Weiseman, De Vries, Dobzhansky. Depois de Freud, tivemos
Wertheimer, Rogers, Gazzaniga.
Em resumo, o nosso narcisismo coletivo, marca de nossas
sociedades, é profundamente afetado à medida que a ciência avança e descobre
cada vez mais sobre nós mesmos. O homem é encapsulado por muito menos
estruturas que pensava e é muito mais parelho a todo o resto da realidade
circunstante. A cada golpe desses, o mundo deixa de ser um grande quintal feito
sob medida para a humanidade, que passa a se tornar cada vez mais um ponto
indefinido em um gigantesco universo. Sozinho. Pelado. Embaixo das pontes.
Estamos à espera da próxima ferida narcísica e isso deve ser
um bom motivador para nossa busca incessante por informações, essencialmente
para não ser pegos no contrapé, embora as outras feridas tenham demonstrado que
isso é inevitável. Seria até possível defender que a quarta ferida já existia
antes mesmo da terceira, com a constatação marxista de que os homens nunca
conseguem ser neutros, sendo que toda sua ação é ideológica. Tudo o que você
come, tudo o que você admira, tudo o que você quer, tudo o que você interpreta
e percebe do mundo ao seu redor está banhado de ideologia, de preformatações que
se constituíram a partir de uma cadeia de ações e reações vindas das disputas
entre as diferentes classes sociais. A ideia não é exatamente nova, lembrando
que já o velho Aristóteles dizia que o homem é um animal
político. A novidade em Marx vem na forma de alienação, um conceito de Feuerbach
aplicado à vida social, onde o homem aceita a condição imposta pelo seu lugar
na escala social sem ao menos se dar conta disso.
Mas isso é uma espinha na virilha se comparada com as
verdadeiras feridas, e penso que a próxima está em pleno desenvolvimento,
paulatino como sempre, mas aparente como nunca, ainda exercendo seu fascínio,
mas já despertando seus medos. Vamos a ela.
Eu nunca fui exatamente um entusiasta do xadrez, mas o
noticiário fez muito barulho em meados da década de 90, quando o atual campeão
mundial da época, o azerbaijano (então soviético) Garry Kasparov, foi convidado
a enfrentar um computador em uma partida similar às que aconteciam entre
grandes mestres. Não era exatamente uma novidade, que já ocorria desde a década
de 80, sempre com vitória humana. Só que, naquele mês de maio de 1997,
aconteceu. Era a segunda vez que Kasparov enfrentava o Deep Blue, uma
máquina especificamente configurada para jogar xadrez, com ampla capacidade
para processamento de cálculos. A vitória foi longe de ser confortável, e
poderíamos considerar inúmeros fatores: algum vacilo do humano Kasparov em um
dia especialmente ruim, a hiperespecialização do Deep Blue, preparado com um
nível de especificidade que não lhe daria mais nenhuma aplicação ou algum tipo
de trapaça, vá lá. Houve acusações de que a IBM, fabricante do computador, fez
algum tipo de manipulação, porque, de fato, se recusou a fornecer os prints dos
logs de cálculo do Deep Blue a Kasparov, alegando sigilo autoral. Houve até
mesmo teorias da conspiração dizendo que havia um pool de jogadores
assessorando o computador, para forçar a vitória e obter uma sobrevalorização
do preço das ações da IBM no mercado. Mas o caso é que o fato foi um ponto de
inflexão na maneira como olhamos essa tão comentada disciplina nos dias atuais:
a inteligência artificial.
Eu dei pitacos sobre esse tema nesse humilde espaço (aqui
e aqui),
e imagino que, se for possível reduzir a mente a algoritmos, teremos uma grande
possibilidade de construir máquinas que pensem por si. Não é que uma vitória em
um torneio de xadrez ou a composição de um texto no ChatGPT, ou ainda um
comercial que imite uma cantora famosa vá fazer com que nos consideremos
superados em nossa inteligência, mas temos diante de nós um caminho inequívoco
e do qual não vamos voltar atrás. Esse é um momento chave, em que
reconheceremos em breve que não somos mais os seres que possuem a melhor
capacidade cognitiva no planetinha azul já bastante acinzentado, e, nesse
momento, teremos a quarta ferida completamente exposta às moscas da nossa
inferioridade. Como vamos lidar com essa situação, é uma pergunta que não tenho
como responder. Eu, de minha parte, vou fazer como faço com a morte: sem ter
como especular, vou esperar, e é tudo.
Para finalizar, resolvi colocar esse texto no conjunto que
escrevi que fui à região bragantina, não porque este pedaço de terra fique lá,
mas porque falei de Monte Verde naquele contexto, então achei por bem agrupar
tudo por lá. Bons ventos a todos!
Recomendações:
É um repeteco, mas não há problemas quanto a isso,
principalmente porque é um tema que rende bem mais que um post.
FREUD, Sigmund. O Mal-estar na Civilização. São
Paulo: Cia. Das Letras, 2011.
E a música da epígrafe, um grande clássico da MPB:
VELOSO, Caetano. Sampa. in: Muito - Dentro da
Estrela Azulada. Rio de Janeiro: Phillips, 1978.
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