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sábado, 30 de julho de 2011

A tragédia da morte na juventude

Olá!

Vou retomar o tema Amy Winehouse, desta vez sobre outro prisma. Uma morte deste tipo causa choque em todas as pessoas, como sempre ocorre quando um evento assim é evitável. São assim especialmente se há um processo contínuo de auto-destruição e aniquilamento, o que pode terminar inclusive em suícidio, como foi o caso do líder do Nirvana, Kurt Cobain. A interrupção repentina destas vidas gera um vazio doloroso, porque são sinônimos de fracasso, um fracasso que não é compensado pelo êxito em uma área específica. Mas em que medida este fracasso não é apenas do falecido, mas de toda a humanidade?


Vou referir-me a Schopenhauer, como já havia feito em postagens anteriores (Comércio de animais e a tridimensionalidade humana e A razão e a vontade). Para ele, o mundo é feito de representações da vontade. Esta é única, mas se manifesta diferentemente para cada pessoa. Cada visão é feita a partir de uma determinada perspectiva. A vontade que se manifesta a mim é completamente distinta daquela que se manifesta a qualquer outra pessoa.

O que eu tiro disto tudo? Que o conjunto de impressões que eu obtenho de minha relação com o mundo é totalmente próprio. Esse processo é irrepetível, porque mesmo quando eu imito, o faço por motivos próprios, de maneira própria, com reflexos físicos e psicológicos próprios e com resultados finais próprios. Desta forma, eu constituo um mundo próprio, absolutamente único, que é só meu. Portanto, quando uma pessoa morre, todo esse conjunto morre junto. Ou seja, o UNIVERSO INTEIRO morre junto com a pessoa. Qual universo? Aquele que foi gerado pelas suas representações.

Todo o patrimônio intelectual da pessoa vai-se embora também. As manifestações artísticas, as ideias, o modo de se resolver os problemas quotidianos, a expressão dos sentimentos. Como membro da humanidade e como possuidor de um conjunto único de representações, podemos afirmar que sua perda é perda para todos.

Daí a importância do registro. Quando escrevo neste blog, estou registrando minhas impressões, estou manifestando um modo de pensar que, por ser eu humano, é também de todo o conjunto da espécie. O mesmo se dá quando alguém comenta estes escritos: suas impressões são registradas e repassadas. Quanto mais debate temos, mais intensamente a teia humana vai se entrelaçando, e mais rico se torna não apenas este blog, mas o arcabouço intelectivo humano. Isso se dá na obra de arte, nas relações pessoais, nas manifestações políticas, nos cultos religiosos, em tudo. Há sempre alguém que se manifesta, outro alguém que recebe a manifestação, a interioriza e replica. O processo é dialógico.

A tragédia da morte na juventude é que ela ocorre fora de hora. Todo o processo é interrompido. Os universos são extintos antes de manifestarem sua plenitude. Quanto mais não teríamos de Amy Winehouse, Kurt Cobain e outros se eles ainda estivessem vivos e produtivos? Quanto de sua arte e conduta ainda não poderiam gerar de debates? A morte, sabemos, é tão inevitável quanto a angústia, mas este corte brutal é uma perda repentina para todos os seres humanos, e isso doi muito.

Recomendação de audição:

Como eu já disse, não sou exatamente um fã de Amy Winehouse, mas não deixo de reconhecer qualidade em seu trabalho. Por isso, vou recomendar sua masterpiece.

WINEHOUSE, Amy. Back to black. CD. Nova Iorque: Island, 2006. 33:23 min.

PS importante: alguns seguidores deste blog estão reclamando que está difícil postar comentários, porque a maquininha de postagem costuma dar erro. Bem, quando redijo um novo texto, sempre informo no Facebook. Podem postar comentários lá, o valor é o mesmo. Só não deixem de contribuir para os nossos universos.

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