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quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

O cesto da gávea de onde observo o mundo - 6ª mirada: Cunha e a arte vista além de seus materiais

Olá!


Como eu já disse no meu texto anterior, a partir de uma base em São Luiz do Paraitinga fui rodeando uma série de lugares, recomendados na base da interação com a galera local. Uma dessas recomendações acabou me conduzindo até a municipalidade de Cunha, a princípio para um ponto específico, que depois foi sendo enriquecido com outros papos e outras dicas.



Cunha é mais uma cidade que se originou no tráfego das tropas, mas já aqui temos um contato com a Estrada Real, uma espécie de trajeto que ligava os portos às cidades do interior de Minas Gerais, e por onde circulavam pessoas e mercadorias. O marco abaixo era utilizado para dar uma ideia das distâncias percorridas aos transeuntes, e fica situado no trecho em que eram comunicadas as cidades de Cunha e Paraty, já no Rio de Janeiro.



O local recomendado para visitação ficava numa derivação dessa estradinha. É a Pedra da Macela, um mirante natural a mais de mil e oitocentos metros que, em dias de bom tempo, permite visualizar toda a região de Cunha e a baía de Angra dos Reis, bem como a precitada Paraty. Só que, como é comum nessas encostas, o tal tempo bom só pode ser aferido in loco, o que não foi o caso. Basta uma nuvenzinha marota parar no morro ao sair de sua rota do mar ao continente.



Macela é o nome de uma planta que serve para fazer um chá calmante e para encher travesseiros e almofadas. De fato, é muito comum em toda a região, como a amostra que temos abaixo. De início, é uma flor, que, com o amadurecimento, vira essa espécie de paina.


O caminho para o pico da Pedra da Macela começa pela porteira de Furnas, que não permite a passagem de nada motorizado. Dali, é uma ladeira interminável de quatro quilômetros, numa base de concreto. Há várias sendas espalhadas pela estrada, que servem de pouso, porque ninguém é de ferro.


Há momentos de profunda desesperança. A subida é muito íngreme, e é necessário não esquecer de trazer alguma água, além de se utilizar calçados confortáveis. Eu não estava com nada disso, apenas com minha patroa e nossa coragem. No final das contas, o tempo não ajudou. Tudo o que vimos foi uma densa neblina e uma tapeçaria de nuvens. Nada de mata, nada de cidade, nada de mar. Faz parte.


Estando ainda cedo, fomos caçar mais terra para esbater. E há uma boa oferta de água para ensopar a bermuda. Vou mencionar aqui as cachoeiras que ficam na estrada do Monjolo. Primeiro há a Cachoeira do Desterro, uma queda dupla com uns 10 metros de altura, e, logo em seguida, há a Cachoeira dos Pimentas, uma longa cadeia de quedas d’água, com uns cem metros de comprimento.


A Cachoeira dos Pimentas não tem quedas verticais. Ao contrário, vai deslizando pelo seu leito como se fosse um tobogã, e forma uma série de remansos em sua extensão, permitindo fácil balneabilidade em suas águas gélidas.


O governo disponibilizou uma inesperada boa infraestrutura no local, que é gerida por um pessoal da própria comunidade. Há um deck para banhos de sol, uma demarcação para estacionamento e uma lanchonete, além de providenciais WC’s. Bela dica para levar crianças.


Há também uma trilhazinha que leva ao alto da barragem que forma a cachoeira e abastece a cidade, de nível fácil.


Tanto empenho na caminhada faz aflorar uma fome leonina. Lá vamos nós conhecer o centro da cidade, em busca de alimento. Almoçamos em um dos vários casarões espalhados pela cidade, que foi adaptado para servir de restaurante. Aliás, também aqui encontramos belas amostras de construções coloniais.



Um dos sobrados estava com sua estrutura exposta, de modo a ficar disponível para nosso aprendizado como funciona uma construção em pau-a-pique e taipa de pilão.



Tem a igrejona na praça? Tem, sim senhor. Uma igreja em estilo barroco, a matriz é dedicada a Nossa Senhora da Conceição.


Uma curiosidade desta igreja é sua parte traseira, onde está situada uma vila de sobradinhos antigos e uma fonte de água circulante. Não sei se se trata de uma referência à boa quantidade de quedas d‘água da região serrana. Pode ser que sim.


Também em Cunha, assim como em outras cidades da região, temos o velho Mercado Municipal. Pequeno, mas que abriga uma parte importante do artesanato popular local.


Como não viajei em alta temporada, peguei um contratempo: alguns dos lugares que gostaria de visitar estavam fechados, como o Lavandário e a Cervejaria Wolkenburg, o que já é motivo suficiente para ensejar uma nova visita. Na medida em que isso ocorrer, adendarei este texto.

Mas o principal destaque de Cunha, no campo humano, fica por conta de seus produtores de cerâmicas. Há muitos ateliês, principalmente concentrados em um bairro chamado Vila Rica (mas não só).


As próprias casas onde atuam os ceramistas, são, por si só, uma atração à parte. Todas possuem um ar bucólico, que mistura um jeito meio rural com a afetividade da casa da vovó.


Muitos dos ceramistas utilizam uma técnica oriental para o cozimento de suas peças, e há fornos coletivos – que incluem verdadeiros rituais para sua abertura. Mas há também fornos menores, situados nos próprios ateliês, como esse que eu flagrei no subsolo de um deles.


As peças produzidas se destacam por não serem exatamente utilitárias, mas criações artísticas que visam mais enfeitar do que servir para uso quotidiano. Isso faz com que seu preço se estenda para além de sua mera manufatura. Há todo um trabalho intelectivo e criativo por trás.


O resultado é meio que uma fusão entre uso e adorno, o que nos remete ao mesmo assunto tratado neste post: o que podemos considerar arte?


Naquele texto, tratamos do assunto utilizando como baliza a teoria da formatividade de Luigi Pareyson. Aqui, convocaremos o filósofo analítico inglês Richard Wollheim para nos ajudar a compreender os limites da arte. 
Wollheim foi um cara que se ocupou da arte sob o prisma da Filosofia da Linguagem, ou seja, a arte é um jogo de significantes e significados que busca dar expressão a alguma forma de comunicação. E, da mesma forma que a linguagem, a arte não se destaca do contexto social e ambiental que o artista vive. Por isso, é absolutamente indissociável o que a arte expressa daquilo que o artista é. Em suma, uma obra sempre diz algo do artista. Desta forma, a Filosofia da Linguagem dá à Estética um caráter epistemológico.

Mas o ser humano produz inúmeros artefatos, que nem sempre podem ser considerados artísticos. O homem produz artigos de técnica, que podem ou não ser meras repetições, mas que assim mesmo dão trabalho e refletem as habilidades de um determinado ofício. O que é capaz de estabelecer uma diferença entre ambos é a intencionalidade do artista. Quando uma peça é manufaturada para ser arte, o artista o faz com a intenção de que seja arte, quer carregá-la com algum sentido subjetivo que escapa do mero aspecto objetivo. Esse é o artista, e não o artífice.

Agora fica mais fácil de compreender porque a obra de arte carrega alguma coisa do artista. Isso ocorre porque, da mesma maneira que a linguagem, a arte leva em seu bojo uma intenção de se expressar que é própria do seu autor, única, e que, da mesma forma que a frase mapeia o mundo na tese pictórica de Wittgenstein (é obrigatório ler este texto se você não conhece tal teoria), o sentido da obra mapeia a intenção do artista. Para tanto, ele usa aquilo que Wollheim chama de tematização, que é a ação deliberada do artista sobre um suporte que traduza sua intenção, como os traços sobre a tela que caracterizam a pintura.

A obra de arte é, então, um código posto contendo uma ideia transmitida, que deve ser reconstruída mentalmente por quem a aprecia. Quanto melhor a técnica utilizada pelo artista, mais capacidade de leitura e reconstituição terá o espectador e o crítico. Neste sentido, quem informa que um objeto qualquer é uma obra de arte é o próprio artista. No outro polo, pode-se reconhecer seu sentido ou não, mas não é seu atributo identificá-la como tal.

Neste momento, poderemos pensar no movimento idealizado por Tristan Tzara e liderado por Marcel Duchamp, o Dadaísmo. Este movimento procurava romper com os ditames acadêmicos sobre arte, subvertendo sua lógica. Por exemplo, nomeando objetos do dia-a-dia como obras artísticas, o chamado ready made. A obra “A Fonte”, de Duchamp, é o magnum opus desta ideia: um mictório nominado como escultura.

Devo reconhecer isto como obra de arte? O autor diz que é. Cabe a mim concordar ou não, mas o fato é que há uma mensagem sendo transmitida, e meu papel é decodificá-la: um protesto, uma crítica, uma autocrítica, um sarcasmo, uma ofensa... Duchamp colocou algum significado em sua obra, ou mesmo vários, da mesma forma que uma frase retrata a realidade. Essa mensagem pode ou não ser compreensível, pode estar carregada de ambiguidade, mas é uma mensagem. Nesse sentido, é arte.

Mas Wollheim vai mais longe. Para fazer uma análise crítica séria da obra de arte, e levando em consideração que o artista fala de si, não basta observá-la como um amontoado de traços sobre uma tela (Wollheim fala sobre a pintura, mas essa regra pode ser espraiada para qualquer modalidade artística). É preciso compreender a vida e o contexto social do autor, a fim de ter em mãos algum nível de perfil psicológico do mesmo. Somente compreendendo razoavelmente a história pode-se ter um mínimo de entendimento da mensagem. Somente verei um mictório se não compreender o contexto em que Duchamp o nomeou como obra de arte. Terei em Mondrian (vide este post) um desenhador de linhas retas, em Toulouse-Lautrec um devasso (leia este) se não entender porque eles se exprimiram da forma com a qual o fizeram. Isso porque temos nós, como espectadores, uma diferença cultural em relação ao autor, que precisa ser mitigada para que a interpretação e reconstituição da mensagem seja a mais próxima possível da intenção almejada.

É preciso, para isso, ter uma disposição mental de transcender aquilo que meramente vemos. E aqui a intencionalidade muda de lado. Quando olhamos para um quadro pendurado na parede, vemos nele um objeto. Ainda não ligamos nossos “dispositivos” interpretativos e vejo na tela apenas um amontoado de cores e traços. É o que Wollheim chama de ver-como (seeing-as). A partir do momento em que retiro o suporte tela da minha consciência e coloco-me no papel de receptor de uma mensagem, preferentemente munido de todo o contexto do emissor, já não vejo o quadro como um objeto, mas como a concreção de uma ideia, de onde posso extrair sua abstração. Já não vejo-como; esse é o processo de ver-em (seeing-in). Em resumo, eu desloco o papel do quadro de significante para significado, elemento primordiais para constituir a linguagem, como bem ensinou Ferdinand de Sausurre.

E as cerâmicas de Cunha, podem ser consideradas obras de arte? Bem, sob o prisma de Wollheim, quem deve me dizer isso é o artista. É óbvio que a cerâmica é uma mídia mais limitada que uma tela de pintura ou uma partitura, mas é construída com intenção e essa intenção pode carregar algum tipo de ideia, através de suas formas, das figuras traçadas nela ou de sensações táteis, como aspereza, rugosidade, aderência, impermeabilidade... Isso tudo pode levar consigo uma certa transmissão de ideias, uma intenção consciente, mesmo que seja para que o artista diga simplesmente: “eu acho esse padrão bonito, e você?”. Esse é o momento em que vou dar meu “ver-em” ao invés do “ver-como”, e resolver comigo mesmo se acho belo ou não, se acho arte ou não.

Recomendação de leitura:

Wollheim, como eu já disse, cuida especificamente de pintura neste livro, e dá muitos exemplos dos processos de sua teoria, o que é muito interessante. Mas suas ideias são facilmente acomodáveis a qualquer tipo de expressão artística, sem nenhuma forçação de barra.

WOLLHEIM, Richard. A pintura como arte. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

O cesto da gávea de onde observo o mundo - 5ª mirada: Lagoinha e umas viajadas no multiverso

Olá!


Após nossa estadia em Paraibuna (e de nossa passagem por Redenção da Serra), o destino era São Luiz do Paraitinga, cidade célebre por seus carnavais de marchinhas e por seu conjunto arquitetônico. Como ficamos lá por vários dias, vou deixar as suas miradas específicas para o final. No momento, basta dizer que os conselhos de viagem que recebemos do Donizetti, nosso anfitrião, incluíram duas outras cidades: Lagoinha e Cunha, e é sobre essa primeira que falarei agora.


Lagoinha é uma pequeníssima cidade de pouco mais de 4000 habitantes. Diferentemente de Natividade da Serra, Redenção da Serra e São Luiz do Paraitinga, a construção de sua zona urbana se deu no alto de um morro, o que lhe permitiu um bom nível de preservação da arquitetura original. O destaque maior vai para dois edifícios: a igreja dedicada a Nossa Senhora da Conceição...


... igreja construída no mesmo estilo de outras cidades tropeiras, em taipa de pilão, como está exposto em uma janela do reboco...



... e o Mercado Municipal, local de negócios dos tropeiros que iam e voltavam do porto de Ubatuba. Como era comum, procurava-se estabelecer um local com água abundante para o pouso das tropas, e ao redor destes locais a cidade ia sendo paulatinamente erigida. Normalmente, esse local era a borda de um rio, mas, no caso de Lagoinha, a fonte aquática era, como se deve suspeitar, uma lagoa. Ela ficava logo abaixo do prédio do Mercado Municipal (hoje desaparecida). Daí, a sua importância histórica.


Lagoinha, como sói acontecer nas cidades mais antigas do interior, é prenhe em elementos religiosos. Além da igreja matriz, outra importante referência católica é a igreja de São Benedito (se não me engano), localizada no cimo de uma ladeira daquelas de tirar o fôlego só de olhar.


Um olhar bem atento na foto acima, bem como na praça à frente da matriz, permitirá notar bandeiras do Divino Espírito Santo. As festas de Pentecostes (50 dias após a Páscoa), que no Cristianismo representam a vinda do Espírito Santo aos apóstolos, são muito significativas nesta região. É coisa praticamente extinta nas maiores cidades, mas que mobilizam as cidades inteiras deste pedaço, com procissões, missas, cantos, fantasias e comida para santo nenhum botar defeito.


A própria entrada da cidade é guarnecida por um Cristo Redentor, que, não convencionalmente, ergue seus braços aos céus, ao invés de abri-los sobre a cidade.


Outro ponto de interesse é o clássico coreto. Vale lembrar que Lagoinha é sede de uma fanfarra muito conhecida no meio, a Fanfarra Padre Chico, e, pelo que pude apurar, aufere muitos prêmios por onde se apresenta. A conferir.


Por fim, este conjunto de dois bonitos prédios, sendo que o da esquerda abriga a Prefeitura Municipal, e o do da direita, o Centro Pastoral.


Mas a grande vedete da cidade é a Cachoeira Grande. Trata-se de uma queda d’água de aproximadamente 40 metros de altura, que tem um efeito visual muito bonito.


A altura impressiona, mas o fluxo de água não é tão grande. Sua desembocadura forma um pequeno riacho, em continuidade ao rio do Pinhal.


A queda d’água forma uma bacia natural de erosão repleta de pedras e areia. Uma água fria, fria, fria de marré, marré, marré, e que, observada de baixo, forma uma ventania de arrancar os cabelos. Olha o gordinho palhaço atrás da pedra...


A cachoeira fica em uma propriedade particular. Por conta disso, foi construída alguma infraestrutura para dar ainda mais funcionalidade ao lugar, como alguns artigos de segurança e caminhos de pedra...


... uma ponte e uma arquibancada (que, aliás, serviu de cenário, neste dia, para as fotos de casamento de um casal de pombinhos. Lamento muito, mais saímos em muitas de suas fotos)...


... e um deck com vestiário. Além disso, para os dias de maior movimento, é aberta uma lanchonete, e há alguns quiosques grandes para a realização de eventos.


O painel geral é esse aí de baixo. Um recanto agradável, para refrescar o coco e tomar um sol. De fato, uma boa recomendação.


No vão que fica por detrás da queda d’água, passo a ter pensamentos quase que infantis. Eu, do alto de meu metro e setenta e sete, que sou diante de uma força da natureza? Uma estrutura escavada por milhares de anos, que tem mais de vinte vezes o meu tamanho... Uma pedra, pequena que seja, caindo na minha cabeça daquela altura, sela meu destino instantaneamente. Alguns graus que baixe a já gelada temperatura, alguns quilômetros por hora que acelere o vento, para me derrubar na bacia e me afogar... Um tombo que me faça ficar inconsciente... Tudo isso dá a mim a dimensão de minha pequenez.

Mas a cabeça começa a ir mais e mais longe. A Cachoeira Grande, a despeito de seu nome, é um ponto minúsculo mesmo em uma área relativamente pequena. Essa é a visão mais próxima que temos do satélite usado pelo Google Maps:


Mas se afastarmos a visualização do mapa para abranger apenas o contexto do município de Lagoinha, a cachoeira fica quase imperceptível:


Mantendo a lógica, veremos que Lagoinha é um pequeno município pertencente a uma sub-região denominada Alto Paraíba, que por sua vez está inserida no contexto do próspero Vale do Paraíba. Já aí, há uma certa dificuldade em se localizar a cidade. Mas, estendido a todo o estado de São Paulo, o exercício fica verdadeiramente duro. É preciso conhecer bem a região para conseguir identificá-la.

Progredindo com a imaginação, teremos que pensar no estado de São Paulo inserido na região Sudeste e no todo maior, o Brasil, país de dimensões continentais. São Paulo tem aproximadamente 3% da área total do Brasil. Se nesta altura do campeonato, Lagoinha já desapareceu do mapa e a Cachoeira Grande passou a ser uma entidade abstrata, que serei eu enfiado nas pedras atrás do véu de água?

Mas vamos continuar a expansão. O Brasil é parte significativa de um todo maior, chamado América, que contém ainda dois outros megapaíses, o Canadá e os Estados Unidos, além de outros países não tão grandes, mas de extensão respeitável: Argentina, México, Peru, Bolívia, Colômbia, Venezuela. Juntando a América às demais áreas continentais, teremos cerca de 1/3 da superfície do planetinha azul. Terra, planeta água. Quem tem minha idade lembra bem do hino do Guilherme Arantes.

Na ordem de grandeza dos planetas do Sistema Solar, a Terra é o maior dos planetas telúricos, aqueles mais próximos ao Sol, mas que são bolinhas de gude quando comparados aos planetas gasosos, a trupe formada por Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Esse ajuntamento de corpos influenciados pelo Sol é limitado pela heliosfera, a zona do espaço em que nossa estrela consegue realizar alguma atração gravitacional e cujo cálculo é muito difícil de estabelecer com precisão. Mas é suficiente saber que todo esse equipamento está situado no Braço de Órion, uma das espiras da Via Láctea, nossa constelação, e que consiste naquela faixa que poeticamente observamos no céu quando há baixa luminosidade. Esqueçam, crianças, de conseguir ver a Via Láctea nas grandes cidades. A não ser que haja um blecaute geral e duradouro o suficiente.

Para saber que a Terra é azul, foi preciso que um cosmonauta soviético saísse do planeta e nos declarasse suas impressões. Como sabemos que a Via Láctea é espiral, se vivemos dentro dela e não temos como escapar dela? Observando o desenho e a formação de galáxias semelhantes. Quando pensamos a Via Láctea como algo gigantesco, observamos que há incontáveis outras galáxias, sendo que compomos, com nossas vizinhas mais próximas, o chamado Grupo Local, que contém mais de 50 delas.

Mas ainda podemos avançar um pouco mais. Nosso Grupo Local influencia e é influenciado por outros grupos de galáxias, que, reunidos em suas atrações gravitacionais, formam uma área gigantesca, chamada de Superaglomerado de Virgem. A Ciência ainda estuda estruturas ainda maiores, as Muralhas, sendo que a Muralha da Cabeleira, a Muralha Sloan e a de Hércules-Corona Borealis já estão consolidadas.

Olhando lá ao fundo, no entanto, consegue-se ir ainda mais além. Com os telescópios espaciais e de alta resolução, os astrônomos conseguiram captar vestígios de radiação que tendem ao vermelho (ler este texto e mais este para compreender melhor) no fundo do horizonte detectável. Esta radiação cósmica de fundo está nos limites do nosso universo conhecido, e demarcam o pouco que resta de detectável do Big Bang, a violenta expansão inicial que deu origem aos nossos quintais.

A grande pergunta que não quer calar: o que haverá além? Será que nosso universo delimita em definitivo o espaço em que toda a realidade acontece? Ou haverá algo mais?

Vamos com calma a partir de agora, porque vamos discutir o multiverso. E, para isso, já vamos estabelecer o que é fato: não existe uma teoria do multiverso, porque ainda não há elementos que permitam qualquer tipo de evidência. O multiverso é ainda apenas e tão-somente uma hipótese, uma especulação, circunscrita mais à Lógica do que à Ciência, que está ainda no campo da metafísica (o que é natural, como já escrevi aqui), mas que começa a apresentar seus pequenos delineamentos, como aconteceu com o átomo, com a gravidade, com as bactérias e muitas outras coisas que só se tornaram concretas muito tempo depois de sonhadas.

A teoria mais aceita para a origem do universo conhecido é o precitado Big Bang, uma imensa e rapidíssima expansão de energia que se deu a partir de um único e minúsculo ponto, como se fosse (mas não exatamente) uma colossal explosão. Um processo de inflação cósmica (uma espécie de gravidade invertida) fez com que o crescimento inicial do universo tenha se dado de maneira exponencial.  Desde então, tudo vai se expandindo e se afastando, entre si e do ponto central.

Acontece que o processo de inflação é desigual. Há lugares onde ela parece ter cessado, há outros em que ela parece acelerada, e outros ainda onde parece quem nem ainda ocorreu. Isso pode dar a impressão de que há algo externo ao universo que influenciaria seu desenvolvimento. Algo que perturbaria os pontos onde a inflação deveria ocorrer. Mas o que poderia ser, se não há nada detectável?

É aí que nasce a especulação do multiverso. Essas perturbações poderiam ser causadas por elementos externos ao próprio universo, seja por outros big bangs que ocorreriam externamente, seja pela interação que ocorreria um com o outro. Podemos ter um universo orbitando outro universo, como a Terra orbita ao redor do Sol. Tudo é possível, e corroborar ou descartar essa teoria ainda levará tempo.

Se o universo já é impossível de ser pensado por nossas pobres mentes descontínuas, imaginem uma infinidade de outros universos, surgidos de outras explosões, com suas regras físicas próprias. O que seríamos nós, já tão miúdos embaixo de uma cachoeira?

Seríamos nada e seríamos tudo. O que é o universo sem a nossa consciência? O que vale ter uma dimensão inconcebível se eu mesmo não estou aqui, para especular sobre ele? Eu sou parte do universo, assim como todos que vivemos também somos, e ele não é nada sem a intencionalidade que temos ao questioná-lo: quem somos, de onde viemos e para onde vamos?

E então, como em um momento de mágica, vejo-me novamente lúcido com o meu redor. Atravesso a parede de água e vou buscar a minha esposa, para tomar uma bela cerveja desses tipos novos no Brasil, provavelmente uma Porter. De boa na lagoa...

Recomendação de leitura:

Recomendo a leitura do curso de Cosmologia do Observatório Nacional, que contém estes e muitos outros ensinamentos na área da Astronomia:

OBSERVATÓRIO NACIONAL. Cosmologia. Da origem ao fim do universo. Coord. Carlos Henrique Veiga. Rio de Janeiro: ON, 2015.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

O cesto da gávea de onde observo o mundo - 4ª mirada: Redenção da Serra e a História contida nas catástrofes

Olá!


Continuando nossos relatos de viagem. Após partirmos de Paraibuna, apontamos a proa de nosso pequeno navio terrestre para a cidade de São Luiz do Paraitinga, onde pretendíamos pegar pouso por mais alguns dias. Poderíamos chegar lá por dois caminhos: fazer a mesma passagem de balsa por Natividade da Serra que havíamos feito anteriormente – caminho mais curto; ou voltar à Trabalhadores e pegar a Rodovia Osvaldo Cruz em Taubaté – caminho mais rápido. Optamos pelo segundo, meio que por conta do excesso de poeira na garganta. No caminho, uma placa indicava o desvio para Redenção da Serra. Por que não?


Da mesma forma que Natividade da Serra, esta cidade foi condenada, na década de 70 a ser submergida pela represa de Paraibuna. Porém, ao contrário desta, houve um cantinho de reminiscências: onde se situava a antiga praça central, restaram alguns imóveis.


O mais significativo dentre eles, é, sem dúvida, a antiga igreja matriz, denominada Igreja de Santa Cruz. Não foi absolutamente tranquilo evitar a invasão das águas. Para tanto foi necessário construir um muro de contenção...


... que, visto pelo lado de dentro, tem lá uns dois metros de altura, formando uma espécie de bacia. Em tempos atrás, mesmo essa proteção foi insuficiente, inundando as cercanias de lama.


A igreja, por fora, não está exatamente um brinco, apesar de ser perfeitamente possível contemplar sua arquitetura. Mas, pelo que pude conversar com o pessoal da região, é por dentro que as coisas estão feias. Sendo feita de material delicado (taipa de pilão), a falta de manutenção está fazendo cair grandes placas de reboco e surgir muitas rachaduras. Triste...

O outro remanescente de outrora é um casarão colonial que servia de abrigo para a prefeitura local. Fica bem ao lado da igreja e compunha com ela a peça principal da praça central.


Alguns moradores tem a opinião de que a destruição da cidade velha foi inútil, porque na maior parte do tempo a represa não chega a atingir tal área, o que faz com que alguns cadáveres fiquem expostos.


A foto abaixo é da estação de energia da cidade. É evidente que sua resistência se deu pela estrutura mais robusta. As antigas casas de pau a pique foram todas “derretendo”, uma a uma, até seu completo sumiço.


Novamente: tal como em Natividade da Serra, a vida da cidade é fartamente influenciada pela presença da represa, constituindo-se, inclusive, em seu principal potencial turístico. Os vários braços que interpenetram a cidade são razoavelmente povoados por pescadores e barcos.


Outra atividade importante é o artesanato, sendo que a utilização de palha de milho é bastante frequente. Fomos aos bairros, onde as mulheres colocam a mão na massa para reforçar o orçamento. Estas flores foram obtidas na casa da Edna, que, além de tudo, é também costureira.


Já esta boneca, mais sofisticada, foi conseguida no café da Rita, onde pudemos nos confrontar com outros três produtos típicos da região: o bolinho de chuva assado, a broa de mandioca e a geleia de araçá.


Da mesma forma que sua prima-irmã, a cidade de Redenção da Serra foi transferida para terras mais altas, e, portanto, não tem aquele jeitão de cidade de tropeiros, tão típica do Vale do Paraíba. Haja vista, por exemplo, à nova matriz de Santa Cruz, construída em um estilo totalmente diferente da original.


Uma cidade com uma história muito pouco conhecida, infelizmente. A foto abaixo (medíocre, mas é a única que tirei) é da praça de entrada da cidade, que representa e justifica o nome da cidade: um negro liberto, aludindo ao fato de que, ainda antes da Lei Áurea, Redenção da Serra (então Santa Cruz de Paiolinho) já havia abolido a escravidão em seu território.


Até agora, falei em semelhanças entre Redenção da Serra e Natividade da Serra. Agora, vou falar em uma diferença que percebi intuitivamente. Redenção da Serra teve seu ego muito mais atingido pela descaracterização e pela perda da memória do que Natividade da Serra. Pareceu a mim uma cidade mais cabisbaixa, menos esperançosa de seu futuro. Sua população reduziu muito: eram cerca de 10000 habitantes antes da represa, para os menos de 4000 atuais. Quando conversávamos com os nativenses, víamos certo orgulho em falar sobre sua cidade nova. Já os redencenses quase vão às lágrimas ao lembrar da cidade velha. Tenho uma tese rápida, mas não confirmatória.

Redenção tem em sua igreja matriz e sua prefeitura uma lembrança permanente de seu passado. Uma espécie de espinho na carne, um patrimônio histórico que vai se depreciando na mesma medida em que sua memória vai se esvaindo. Isso machuca o redencense. Na zona urbana de Natividade, nada vemos do passado. Para tê-lo à sua frente, o nativense tem que ir aos bairros afastados. Só que lá não existe uma mera reminiscência quase não funcional do passado. Há uma vida que pulsa completa, uma existência que, apesar da mudança forçada de hábitos, não morreu.

E isso tudo me faz lembrar do fluxo da História e das lições de Filosofia da História, que busca explicar como o mundo varia em sua temporalidade. O filósofo que me vêm à tona é Walter Benjamin. Mas vou dar um pequeno volteio para explicar melhor.

A disciplina denominada Filosofia da História é razoavelmente recente porque, até o Iluminismo, havia uma teoria sobre seu desenvolvimento quase unívoca: ação divina. Seja de modo determinístico, com o destino desenhado pela divindade; seja por um conjunto de regras que fazia o homem, dentro de seu arbítrio, optar pelo ditame divino (sob pena de incorrer em penalizações gravíssimas), a História era entregue pronta aos homens, e não fazia grande sentido tentar encontrar uma lógica pelo qual os fatos históricos se desenrolavam.

Com o progresso da humanidade, em especial com o desenvolvimento científico e tecnológico, cada vez mais a atribuição divina foi perdendo tanto sua consistência quanto sua necessidade. Deus passou a ser prescindível aos homens, e a Filosofia passou a questionar mais e mais se haveria uma linha que conduzia os acontecimentos além do mero acaso, e mais ainda: se havia a possibilidade de se dar alguma espécie de unidade entre os diferentes períodos históricos. Alguns filósofos abordaram meio que lateralmente o tema, até que Hegel dá a atenção merecida ao tema, enxergando um processo dialético na formação da realidade, conforme já pude pincelar neste texto, e que, por isso mesmo, vou repassar muito rapidamente, por amor à coesão deste texto.

Hegel entende que, em tudo o que acontece na vida, os fatos já carregam em si mesmo a própria contradição. Por exemplo: se eu compreendo o conceito de bom, automaticamente já compreendo o sentido de mau, e, entre a bondade absoluta e a maldade absoluta, temos o meio-termo. Se a tese é o bem, que vive em harmonia com o mundo, mas que pouco se protege; e o mal é sua antítese, que é malicioso, mas que se isola da vida em comum, podemos observar que o bom precisa se aproximar do que sua antítese é, para sobreviver, ou seja, precisa aumentar seu grau de desconfiança, suas armaduras, etc. Por outro lado, o mau precisa ser concessivo, estabelecer algumas regras em que sua agressividade não o destrua a si próprio. Ambos se aproximam em síntese, que é uma terceira via. Acontece que esta própria síntese já é uma nova instância dialética, que também contém a contradição de si própria. E daí um novo movimento dialético se faz, ad infinitum. Para Hegel, o mecanismo que faz com que a dialética se mova é ideal, o chamado Espírito, mais conhecido como Geist, no original alemão. Quando diz respeito ao tempo, é o Zeitgeist.

Depois disso, Karl Marx observa as teses de Hegel e concorda em parte com elas. No entanto, ele não compreende que o processo dialético se dê de maneira idealista, mas concreta. Para Marx, as coisas acontecem no mundo e só nele, sem instâncias divinas ou seja lá o que for. É o materialismo histórico dialético, que já tratei neste texto (desculpem se estou sendo repetitivo, mas preciso dar um fio condutor para o que estou redigindo agora). E qual é o elemento deflagrador do processo histórico, se não temos nada metafísico que o dispare? É a luta de classes. Tudo pode ser explicado pela luta de classes: a ética, a política, a arte, a religião e tudo o mais. Se um regime endurece, é por conta da luta de classes; se um artista se destaca ou se obscurece, é por conta da luta de classes. E assim sucessivamente.

A par disso, temos também a tese positivista, mais linear, e que se baseia, em suma, no progresso, como já esmiucei aqui. Os positivistas entendem que, após o término de um estado religioso e dogmático, já não há mais amarras para a evolução da história, tendo como base seus avanços científicos. A técnica permite ao homem obter resultados antes inimagináveis, e que se sabe que evoluirão ainda mais. Mais doenças serão curadas, mais artefatos de guerra permitirão um novo paradigma na conquista, mais aparelhagem deixará a quantidade de mistérios e de usos dos recursos do planeta mais aperfeiçoados. O propulsor da História sempre foi a técnica, mas que se arrastou lentamente por séculos. A aceleração no progresso será sempre exponencial.

Tendo tudo isso agora em mente, poderemos analisar o pensamento de Walter Benjamin, pensador alemão da Escola de Frankfurt. Há, inclusive, certo desconforto em enquadrá-lo como membro desta escola, haja vista algumas discrepâncias fundamentais com o marxismo. No entanto, não vamos discutir esse aspecto neste momento.

Benjamin entende que toda História que chega a ser baixada em registro é aquela contada pelos vencedores. O historiador é quase que compelido a se associar ao vencedor por uma questão de empatia: sobre eles, repousa toda a glória da conquista, com sua visibilidade e quantidade absurda de fontes. E não é só. Todo o contexto cultural gerado após a conquista trata de produzir loas ao seu condutor, ainda que sub-repticiamente. Mas não há como evitar que a História e a cultura tenham dois lados. Os monumentos da cultura são também monumentos da barbárie. Isso porque retratam um status da cultura produzida por um determinado projeto: o projeto de quem venceu, e a história dos vencidos é sempre jogada para baixo do tapete, ficando mofada nas memórias de quem quer mais é jogar fora o passado. Os próprios vencidos concordam com esse fio.

Essa História imiscuída faz com que Benjamin discorde frontalmente da ideia positivista de progresso como impulsionador da História, porque é uma História parcial. Vejamos o que ele diz a respeito:

“Há um quadro de Klee [N. do A.: Paul Klee, pintor alemão surrealista] que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso”.

Para quem não conhece a obra, peguei uma amostra na internet, disponível no endereço http://lounge.obviousmag.org/ruinas/2012/09/angelus-novus.html.


Walter Benjamin, pelo que é possível compreender deste fragmento, vê a História como o produto das catástrofes, produzida pelos vencedores e suportada pelos vencidos. O progresso, diz ele, é um método que permite acumular ruínas sem se aperceber delas. O tempo não é um vazio por onde o progresso percorre e a História não tem uma linearidade – ela é inflexionada pelas catástrofes. Mais ainda: a História precisa esmiuçar não só as versões dos vencedores, fartamente disponíveis, mas também os fatos ocultos daqueles a quem a catástrofe desfavoreceu.

As catástrofes são de fundo meramente natural, como as enchentes, as tempestades e os terremotos? Evidentemente que não. O próprio exemplo de Redenção da Serra é um exemplo de catástrofe. A vida de toda uma comunidade foi transformada a partir da imposição de um governo. Lembremos que a operacionalização da represa de Paraibuna se deu em um momento de regência da ditatura militar. Não foi uma escolha, e sim uma imposição. Hoje em dia, ainda as imposições funcionam, mas sem a mordaça na boca que era imposta em tal época.

Benjamin escreve em um período semelhante, mas ainda pior. Era o momento da ascensão do fascismo, com sua variante mais perniciosa: o nazismo, que lhe atingia mais diretamente, pelo fato de ser judeu. Era justamente no surgimento desta vertente política que Benjamin produz sua desconstrução mais radical do conceito de racionalidade do progresso. Se este é o fio condutor da história, como é possível a existência de um regime baseado na irracionalidade? É porque mais uma vez a realidade dialética se apresenta: o fascismo é o contraponto da racionalidade. Está contido nela, na forma de antítese. Se não é inevitável que o progresso técnico ocorra no fascismo, o mesmo não se pode dizer no plano político-social. É o regresso da barbárie. Neste sentido, o pensamento de Benjamin se prova muito humano, ao não esquecer das pequenas histórias dos vencidos.

Ainda que ninguém tenha morrido fisicamente na invasão das águas em Redenção da Serra, é fato que muito dos significantes se desmancharam nas águas, e isso é de uma violência difícil de conceber. As histórias de seus habitantes foram reescritas de modo a causar necroses em suas almas, complicadas de curar.

Isso tudo não significa que eu não tenha gostado da cidade. É um povo muito receptivo, que nos oferece café pelo simples fato de dizer “bom dia”. E há boa comida, e há muitos peixes, e há como fazer turismo ecológico nas suas novas margens. Gostaria de rever a igreja matriz reformada, e que esse fato significasse uma espécie de nova inflexão para a autoestima do lugar.

Recomendação de leitura:

Recomendo o seguinte livro de Walter Benjamin, que, além de seus pensamentos sobre História, contém muitos outros textos interessantes, que versam sobre arte, religião e etc.

BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas. Magia e Técnica. Arte e Política. São Paulo: Brasiliense, 2012.