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sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

O cesto da gávea de onde observo o mundo - 3ª mirada: Natividade da Serra, simplicidade e a busca pelo prazer

Olá!


No meu texto anterior, mencionei o serviço de balsas que navega pela represa de Paraibuna, e que tive a oportunidade de conhecer. O ponto final daquela travessia se deu no município de Natividade da Serra, pequena cidade planejada, de ruas largas e que tem sua vida afetada pela mesma represa ainda mais que a cidade de Paraibuna.



Na verdade, a represa não influiu na vida de Natividade. Ela a decidiu. Quem vê a sua zona urbana não imagina o quanto a cidade é antiga. É que todo o seu centro e boa parte da área rural foram submersos pelo fechamento da barragem que deu origem à represa, em 1973. Em um dos bares da cidade, encontrei uma foto com a mancha urbana antiga, e que, não fossem casas em sua maioria feitas de pau-a-pique, constituiriam uma espécie de chaveirinho de Atlântida.



Evidentemente, as marcas de uma mudança tão drástica se espalharam não só por corações e mentes dos antigos habitantes, que, fazendo pouco mais de quarenta anos do fato, ainda tem recordações marcantes, como é o caso do Kaé, dono da pousada e restaurante abaixo...



(Suas refeições ainda seguem as tradições locais, que, basicamente, utilizam produtos pecuários, como a costelinha com quirera que estava disponível nesse dia, e os óbvios peixes, tão presentes na dieta de quem tem uma gigantesca represa na sua vizinhança)



... mas também no próprio ethos da cidade nova, que adotou, por exemplo, o lema Non e flammis sed ex undis surrexi, que quer dizer “Não das chamas, mas das águas ressurgi”. No pórtico de entrada da cidade, pode-se ver (mal na minha foto) o brasão e o lema, além da reprodução de um tucunaré, a vedete pescável das águas.



Como eu disse, a partir da submersão ocorrida na década de 70, uma nova cidade foi construída. É possível perceber a modernidade das linhas ao observar o conjunto arquitetônico da praça central, que contém a igreja matriz, chamada de Nossa Senhora da Natividade. Na foto abaixo, a presença do coreto dá um certo sabor discrepante de nostalgia.



O Centro Cultural, situado ao lado da igreja, é construído com o mesmo espírito eclético: tem o mesmo aspecto de casarão das casas antigas, mas copia o frontão da igreja, ao avançar o telhado do átrio de entrada em forma triangular. A destacar a presença de gente com reais informações no seu interior, algo a ser copiado por outras prefeituras.



Há na praça central uma curiosa estátua estilizada de São Francisco de Assis, situada logo à frente da sede do serviço social do município, um prédio octogonal que dá um espírito ainda mais variado à região.



Se ainda se quiser ver resquícios de um passado mais distante, é na zona rural que se deve ir. Alguns bairros como Pouso Alto e Bairro Alto, como o próprio nome já denuncia, ficaram a salvo da invasão da represa de Paraibuna, e mantiveram suas características originais. Além disso, há vários sítios que se especializaram em pecuária leiteira, como este aqui.



Neste local, muitos doces de frutas e de melado, além de leite, que é vendido fresco, para o meu desprazer. Não sei se cheguei a contar, mas eu DETESTO leite, desde meu nascimento. Minha mãe tinha as tetas explodindo de tanto leite, e eu, sem querer saber, ia vivendo na base do chazinho. Leite Ninho, leite condensado dissolvido, leite de bar, leite de cabra, nada... Até que o médico falou: “Sopa nele, e seja o que Deus quiser”. Pela minha gordura, deu certo.



Também da zona rural conseguimos algo que há muito tempo procurávamos (eu não, a patroa): uma colcha de retalhos legítima. O pessoal daqui também lança mão do artesanato para conseguir acumular mais alguns caraminguás.



Tirando tudo isso, é mesmo da represa que se tem o principal provimento de comida e de turismo. Muito próximo ao centro, há a Prainha, um braço de represa de onde se pode partir para as ilhas e as bordas mais remotas.



A prainha tem uma bica de água fresca, o que é normal de ocorrer em uma região de terra tão encharcada. O fluxo de gente que vem pegar água nos garrafões é admirável, comprovando que a galera confia mais na natureza do que na Sabesp.



A Prainha tem muitos barcos, que são utilizados para os mais diferentes propósitos: levar pessoas para os bairros mais distantes, conduzir pescadores para as ilhas e outros pontos bons para seu lazer, ou, como nós, para dar apenas um simples rolê pelas calmas águas da represa.



(Na cidade, há uma imensa rede de trilhas supervisionadas, em especial no Núcleo Santa Virgínia, que também agrega o município de São Luiz do Paraitinga. Como tenho planos de cumprir todas as trilhas do núcleo, vou deixar sua menção para tal oportunidade).

A cidade é imensamente tranquila. Estereótipo da cidade do interior onde tudo acontece mais devagar, talvez até pelo fato de que peguei lá o dia mais quente de nossa viagem, o marulhar manso da represa parece reboar por todos os cantos. Tudo aqui é muito simples, e apenas as ocasiões de festas parecem ser capazes de chacoalhar um pouco a calma. E, confrontados com o agito típico da cidade grande, passamos a debater sobre o que é uma vida prazerosa. E é inevitável que Epicuro entre nesta conversa.

Cabe fazer uma distinção importante, logo de cara. Epicuro, como relacionou sua ética fundamentalmente ao prazer, tem a fama de lascivo, de devasso. Não.

A confusão estabelecida se dá por conta do princípio ético do hedonismo (do grego hedoné, prazer), rapidamente vinculado à liberdade sexual. Quem navegou por esses mares foi Aristipo de Cirene, e, mais tarde, o Marquês de Sade. Para Epicuro, o prazer era coisa muito diferente, como se verá mais adiante.

Estamos em uma Grécia que já não vive o seu esplendor máximo. As conquistas de Alexandre Magno da Macedônia diminuíram a importância das cidades-estado e, consequentemente, da democracia direta. O período clássico, em que a Grécia era fonte de todo o saber, agora tinha se transmudado em helenismo, onde os gregos continuavam influenciando, mas também se deixavam influenciar. Neste contexto, aparece Epicuro de Samos. Assim como Platão tinha sua Academia, Aristóteles o seu Liceu e Zenão a sua Stoá, Epicuro funda uma espécie de escola, o Jardim. Retirado das proximidades dos centros urbanos, o Jardim era um horto onde imperava o silêncio e a reflexão, um lugar de onde brotavam as ideias da mesma forma que as flores (mais tarde, essa concepção de afloramento foi retomada por Friedrich Froebel para designar as crianças do jardim da infância).

Para Epicuro e seus seguidores, o princípio maior de uma vida que vale a pena é o prazer, como eu já disse. Mas esse prazer não é aquele vinculado à posse, às façanhas sexuais ou ao renome. O prazer epicurista está ligado especialmente à simplicidade.

Vou abrir um exemplo para as coisas ficarem bem claras. O brasileiro sempre foi conhecido por ser um apreciador de cerveja. Como bom brasileiro, eu também sou. Só que, ainda na década de 70, você tinha basicamente três opções: a predominante Pilsen, a adocicada Malzbier e a forte Stout, representada pela Caracu, que, no mais das vezes, era misturada a ovos crus para servir de “fortificante” (argh!). Ou seja, não era comumente aplicada como cerveja. 

Outros tipos de cerveja foram introduzidos paulatinamente – a München, a Bock, a Weiss. Mais recentemente, com o fenômeno das cervejarias artesanais, sabores ainda pouco conhecidos foram sendo introduzidos. As cervejas Ale, de alta fermentação, quase ausentes outrora, passaram a ser comuns. Cervejas do tipo Porter, Dunkel, Witbier, Red Ale, e a musa do momento: India Pale Ale, mais conhecida como IPA. É o que se chama de cerveja com sabor complexo. Realmente, seu sabor é impactante, e pode ser que cause um certo estranhamento ao primeiro gole. Pois bem.

Cervejas destes tipos são mais caras, e, portanto, menos acessíveis à rapaziada em geral. Eu confesso que tenho explorado cada vez mais as cervejas artesanais, sorvendo-as com um cuidado que eu não tinha ao tomar uma breja geral. Com isso, tenho desenvolvido uma certa resistência a tomar as marcas populares, povoadas de cereais não-maltados, com gosto de tudo, menos de malte lupulado. Por outro lado, se uma mocinha qualquer tomar uma IPA, provavelmente achará que há um toco de madeira torrada na garrafa de origem, produzindo esgares de rejeição.

Vamos relacionar tudo isso ao prazer. Se eu tiver vinte reais no bolso, tomarei a minha IPA e serei feliz. Idem para a mocinha, que tomará quatro latinhas de sua Pilsen pelo mesmo preço. Se eu tiver só cinco reais, minha IPA terá que ser deixada de lado, e precisarei tomar a tal breja. Para a mocinha, tudo bem. Ela comprará sua latinha e terá prazer. Eu, fresco que sou, terei uma redução significativa no prazer, se, por al, não o extinguir. Epicuro fecharia com a garota, não comigo.

Perceberam? O gosto menos complexo da mocinha acaba por lhe proporcionar um campo de prazer maior que o meu, que ficarei em busca de sofisticação. A mocinha age na base epicurista; eu, não. Quem se deu melhor?

Um outro exemplo mais rápido ainda: três pessoas têm, cada uma, um carro. O primeiro tem um Fusca, o segundo tem um Corolla e o terceiro, uma Ferrari F458. Vamos agora fazer intercâmbios. O dono do Fusca sentirá prazer ao guiar o seu próprio carro, adorará o Corolla e delirará com a Ferrari. O proprietário do Corolla vai se sentir satisfeito com seu carro, curtirá a Ferrari e sofrerá com o Fusca. Já o ferrarista vai querer chorar com o Corolla e entrará em colapso com o Fusca, só sentindo gosto se mantido com seu próprio carro.

Esse é o desafio de Epicuro: manter o gosto pela simplicidade. As coisas simples sempre estão ao nosso redor, independentemente de onde estejamos. O gosto por dar uma volta na praça, de molhar os pés na água mansa, de conversar com as pessoas sobre qualquer assunto que seja, tudo isso está ao alcance de todos, praticamente a qualquer momento. É preciso se livrar dos excessos das vontades e do olhar exterior, que tende a ridicularizar o dono do Fusca e enaltecer o da Ferrari, explicando os financiamentos impagáveis. É possível ter prazer com financiamentos nas costas?

E como Epicuro chega a essas conclusões? Vamos acompanhar a construção da sua lógica.

Epicuro, diferentemente do que pensava Platão, dá importância significativa às sensações. Enquanto Platão achava que as sensações eram deturpadoras do conhecimento real, porque podiam carregar consigo enganos e ilusões, Epicuro achava que as sensações eram as captações das emanações dos objetos. O objeto se apresentava a alguém transferindo fisicamente um simulacro de si mesmo, e é no momento em que esse simulacro nos penetra que se dá a sensação. Ou seja, a sensação tem o atributo de objetividade.

Ora, quais são os efeitos da sensação no organismo humano? Se ela é boa, temos o prazer; se é ruim, temos a dor. Esse é o eixo que faz com que se consiga distinguir o bem do mal, e, sendo assim, eticamente é um critério de escolha. Evidentemente, as nossas escolhas devem se pautar pelo prazer, ou seja, a sensação boa.

O prazer, para Epicuro, é menos algo ativo e mais uma ação negativa – a ausência. Ausência de dor e de perturbações no espírito, chamada de ataraxia (do grego a-taraktos, não perturbado). Não são, portanto, os excessos que propiciam um prazer sábio, porque se dissipam, mas uma opção pela sobriedade.

Mas o homem tende a sofrer por conta do medo. Os principais são o medo das divindades, o medo da dor e o medo da morte. Para tanto, Epicuro tinha a doutrina do tetrapharmakon, ou seja, dos quatro remédios:

1. Desprendimento com relação aos deuses;
2. Minimizar o medo da morte;
3. Noção de finitude do mal;
4. Educação dos sentidos para o prazer simples.

Trocando rapidamente em miúdos. Para o item 1, assim como os estoicos, Epicuro e seus seguidores achavam que os deuses tinham mais o que fazer além de ficar vigiando a vida dos reles mortais. Os deuses são absolutamente indiferentes ao que ocorre no planetinha, porque já vivem em sua perfeita harmonia. Não são ações humanas que produzirão a queda deste equilíbrio. Se os deuses não agem na vida humana, não há porque temê-los.

Item 2: é injustificado o medo da morte. Se há dor física, a morte representa seu término, portanto não é um mal; se há sofrimento psicológico, a perturbação que residia ainda no corpo não se transfere para a alma, porque a morte representa o fim de ambos, ou seja, dá fim às sensações.

Item 3: A dor não dura para sempre. Se é leve, é suportável; se é atroz, dura pouco, conduzindo à morte, que, como dissemos no item anterior, cessa todas as sensações, inclusive as más.

Finalmente, item 4: o prazer é muito fácil de ser obtido, como já disse acima. É apenas preciso saber dar ênfase e preparar o corpo para a simplicidade.

Com relação a esse último item, Epicuro dá a fórmula. Existem três tipos de desejos, que, de acordo com o seu atendimento, produz perenidade ou efemeridade ao prazer. Os primeiros são os desejos naturais e necessários, que devem ser atendidos para atingir a ataraxia. São os atos necessários à vida, como comer, repousar, beber. É a busca pelo essencial. Devem ser atendidos na medida em que acontecem. Os segundos são os desejos naturais e não necessários, aqueles que existem naturalmente, mas que não são imprescindíveis à sobrevivência. Epicuro inclui aí o sexo, as vestimentas e a superfluidade dos desejos necessários, como comer bem, dormir muito. São desejos guiados pelo que tem de agradável. Epicuro entende que se deve ser extremamente comedido com os excessos para que não se incorra em dano. Por fim, temos os desejos não-naturais e não-necessários, que são ligados à frivolidade: fama, riqueza, imortalidade. Esses desejos são os piores propulsores da dor, porque produzem um prazer momentâneo e que escraviza, afastando o homem da possibilidade de se satisfazer com pouco. O primeiro tipo de desejos deve ser atendido sempre; o segundo, com prudência e comedimento; o terceiro, nunca.

Dessa forma, podemos perceber como as doutrinas dos estoicos e dos epicureus são semelhantes. Há uma espécie de desprendimento do mundo e do desprezo às sensações, com a vital diferença de que, para os estoicos, o mal é algo a ser suportado resignadamente, enquanto para os epicuristas o bem é algo a ser buscado em sua simplicidade, nas pequenas coisas.

Seria tão bom ser epicurista no momento em que o médico nos prescreve uma dieta...

Mas é isso o que eu queria falar sobre Natividade da Serra. Uma cidade que, epicuristicamente, produz a sensação de simplicidade que seria necessária para uma vida menos crivada de preocupações. Nesses dias de estresse contínuo, isso vale muito, mesmo que eu ainda não esteja preparado para abandonar as opções culturais da cidade grande.

Um bom 2017 a todos. É necessário que esse ano seja melhor.

Recomendações:

Epicuro, como costuma acontecer com os filósofos pré-medievais, teve muito de sua obra perdida. Mesmo assim, sua doutrina pode ser encontrada nos aforismos do livro que abaixo recomendo:

EPICURO. Sentenças Vaticanas. Máximas Principais. São Paulo: Folha de S. Paulo, 2016. Col. Folha Grandes Nomes do Pensamento.

E uma recomendação insólita: uma cerveja. Para quem gosta de sabores desafiadores, recomendo a cerveja IPA da Bières de la Madona, uma cerveja artesanal produzida em Ubatuba, verdadeiramente respeitável. É difícil de achar, mas, se encontrar, não perca a oportunidade de sentir as variações de lúpulo que produzem a estranha harmonia entre um sabor amargo e um aroma comedido. Vale a pena (mas é preciso gostar de cerveja).

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

O cesto da gávea de onde observo o mundo - 2ª mirada: Paraibuna, astrologia e subjetividade

Olá!

A rodovia dos Tamoios dá acesso a três das mais belas cidades do litoral paulista: Caraguatatuba, São Sebastião e Ilhabela (escrita assim mesmo). Mas a vibe não estava para praia (leia este texto para entender melhor minha posição). Após sair de Jambeiro, já na parte da tarde, nossa rota apontou para Paraibuna.



O nome da cidade tem tudo a ver com o principal rio da cidade, o Rio Paraibuna, que, ao somar-se ao rio Paraitinga (do qual falaremos em post futuro), dá origem ao rio Paraíba do Sul, tão importante que dá nome a toda a região que corta, o Vale do Paraíba. “Paraibuna”, segundo o site da prefeitura local, significa “rio de água escura”, o que somente é verdade no aspecto visual. Pega com a concha da mão, é água normal como qualquer outra. Suas margens contêm muitos pontos de pescaria, e, embora eu tenha localizado alguns locais de despejo, é limpo o suficiente para dar sobrevida a muitas espécies de pássaros e persistentes capivaras, abundantes mesmo em área urbana.



Super flumina é o lema da cidade, que quer dizer “sobre os rios”. A origem deste termo vem de um salmo da Bíblia, que versa lamentações do povo hebreu escravizado pela Babilônia, e que clama por vingança com aquela gentileza típica do Velho Testamento. Como o salmo é curtinho, vou transcrevê-lo abaixo. A parte do choro é bastante bela, mas o arremate é de doer.

1. Sobre as águas dos rios da Babilônia, nos assentávamos chorando, lembrando de Sião. 2. Nos salgueiros daquela terra, pendurávamos, então, as nossas harpas, 3. porque aqueles que nos tinham deportado pediam-nos um cântico. Nossos opressores exigiam de nós um hino de alegria: Cantai-nos um dos cânticos de Sião. 4. Como poderíamos nós cantar um cântico do Senhor em terra estranha? 5. Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém, que minha mão direita se paralise. 6. Apegue-se minha língua ao céu da boca, se eu não me lembrar de ti, se não puser Jerusalém acima de todas as minhas alegrias.

7. Contra os filhos de Edom, lembrai-vos, Senhor, do dia da queda de Jerusalém, quando eles gritavam: Arrasai-a, arrasai-a até os alicerces. 8. Ó filha da Babilônia, a devastadora, feliz aquele que te retribuir o mal que nos fizeste. 9. Feliz aquele que se apoderar de teus filhinhos, para os esmagar contra o rochedo.

Mas o lema não se dá unicamente pela existência do rio. Toda a sua vida é influenciada pela enorme represa que lhe toma boa parte de sua porção leste, e que lhe pega de empréstimo o nome. Os habitantes se vangloriam de ser a represa mais limpa e bem conservada em termos ecológicos do Brasil. É, de fato, um local onde não se vê as paredes de espuma que vemos na Billings ou na Guarapiranga, nem a sujeira das bordas, que formam imenso depósitos de lixo nos remansos, além de ter um relevo que a favorece esteticamente, como os braços que se veem das estradinhas de terra ao seu redor.



É, portanto, um paraíso para quem gosta de pescar ou praticar esportes náuticos, com a vantagem de possuir águas calmas e uma verdadeira miríade de ilhas espalhada pelo seu gigantesco espelho d’água.



A administradora de todo esse manancial é a CESP, já que o mesmo foi construído justamente para tocar a usina hidrelétrica de Paraibuna, que é uma das mais importantes controladoras da vazão do rio Paraíba do Sul. Como tal, esta companhia se responsabiliza por manter balsas que ligam, de hora em hora, partes do município e de outras cidades que ficariam isolados de outra forma, já que a represa pegou todo esse pessoal de supetão. Após passar pela usina, é possível encarar uns 30 quilômetros de estrada de terra para chegar à balsa mais próxima.



Quem está acostumado com as barcas estilo ferry boat do Rio de Janeiro ou as balsas chatas de pequeno calado autônomas das travessias do litoral paulista vai achar curioso: as balsas da represa de Paraibuna são pranchões sem motorização, que são conectados a um rebocador, o autor do serviço pesado. Tivemos a infelicidade de ter um desses quebrados bem no meio da travessia, o que nos obrigou a ficar esperando por quase uma hora pela troca de propulsor. Mas, por outro lado, foi possível acompanhar in loco toda a operação náutica necessária para fazer a permuta.



De lá, serpenteamos mais um pouco pelas ilhas até chegar à balsa de Natividade da Serra, mas isso é história para o próximo post da série.

Paraibuna, como é comum por essas cidades tropeiras, tem um conjunto de construções bastante interessantes, como o complexo que abrange a Igreja do Rosário...



... a Santa Casa de Misericórdia Divino Espírito Santo...



... e o Instituto Santo Antonio, um antigo colégio interno e orfanato, que até hoje atende crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social (miséria, em tucanês). Todos eles às margens do rio Paraibuna.



Por ocasião de nossa visita, estava sendo realizada uma festa para levantamento de fundos da tríplice instituição, ora centenária. Como curiosidade, tenho a contar que, além dos típicos bingos, rifas e barraquinhas de algodão-doce-pipoca-amendoim-quebra-queixo-sorvete-pamonha, aqui também temos leilões de criações. Galinhas a granel, porquinhos, cabritos, casais de coelhos e patos, e até novilhas. O animador parecia um daqueles locutores de rodeio.



Contornando o morro central da cidade, chega-se ao produto que a tornou notória: a bananinha. Acho um pouco injusta essa fama toda. Não pela qualidade do produto, muito pelo contrário. Mas é que dá a impressão de que a cidade é um imenso bananal, com lavradores carregando as pencas nas costas em direção a uma imensa usina fumegante. Deste painel, só o cheiro do doce é verdadeiro. E é bom, viu?



Isso porque, como eu já disse, é uma cidade típica dos tropeiros, algo que vai muito além da banana. Do lado do morro oposto ao do rio Paraibuna, temos o principal conjunto arquitetônico que denota essa característica, começando pela bica d’água, toda feita em azulejos, e que se encontra funcional. A frase na parte de baixo foi deturpada por algum moleque sem noção de patrimônio histórico, naturalmente: “Quem bebe água da BICA, aqui fica”.



E, logo ao lado, fica o Mercado Municipal, o mais bem estruturado da região, onde podemos encontrar, aqui sim, tudo de típico que há em Paraibuna.



Há doces – principalmente a “taiada”, rapadura misturada com farinha e gengibre. Há cachaça de todos os tipos, sendo a vedete aquela misturada com cambuci, fruta que tem um cheiro doce, mas um sabor bastante ácido. Também desta fruta são encontrados compotas e xaropes. Há vendas de panelas de barro e de ferro. Há chapéus e acessórios vários. Há grãos a granel...



... e há comida. Uma espécie de relíquia do mercado é o pastel de milho do falecido Manezinho, que deixou a receita única para seu genro. Crocante por fora, com a carne moída após o cozimento garantindo a maciez por dentro, é daquelas coisas que se come em estado de contemplação.



E, para o almoço, temos o “fogado”. É um prato que se prepara de um dia para o outro, com a carne de segunda cozinhando lentamente em fogo brando por toda a madrugada, resultando em um ensopado com a carne já quase que desfiada.



Os pratos são verdadeiros épicos, mais se assemelhando a discos voadores. Em resumo, é para os fortes. Veja a cara mista de consternação e locupletação da patroa, com o restaurante responsável ao fundo. É daquelas coisas para colocar na lista “o que fazer antes de morrer”.



Por fim, no alto do outeiro que centraliza a cidade, temos a igreja matriz (que surpresa), ladeada por uma série de casarões coloniais. É a igreja de Santo Antonio, uma das mais lindas que eu já vi, sem exageros. Na parte de dentro, a história do santo é contada em painéis pintados no teto, e a nave central contém, no arco de abóbada, uma frase de lavra de nosso caro franciscano, com um conjunto de cores que está entre o insólito e o diáfano, dando boa resposta à luz natural.



Na parte de fora, um estilo barroco com revestimento de azulejos, coisa típica de portugueses, em uma foto tirada de dentro do indefectível coreto.



Mas há algo de estranho no campanário...



Aproximando o zoom da câmera, podemos perceber ao redor do relógio...



... a inesperada presença dos signos do zodíaco!



Pensei que fosse algo raro, mas fazendo uma rápida pesquisa, encontrei esta página que contém uma série de relógios astrológicos absolutamente incríveis, espalhados por toda a Europa.

Pois muito bem. Temos diante de nós uma contradição. A religião católica baseia-se na Bíblia, que proíbe, em vários de seus versículos, a prática de astrologia*. Mas o uso dos signos do zodíaco nos relógios de igrejas e catedrais faz crer o contrário.

Aqui nós temos que tomar certos cuidados. Como podemos explicar o surgimento da astrologia? Vou tentar fazê-lo com minhas próprias palavras, das coisas que aprendi. Como já dei uma pincelada neste texto e neste outro, o homem sempre procurou, desde os primórdios, dar motivos para as intercorrências de sua vida. Só que hoje em dia temos instrumentos e elementos que nos permitem não só dar explicações a origens e procedências, mas também a construir modelos com bom nível de predição, tais como foram as ondas gravitacionais de Einstein, detectadas este ano, mas descritas há cem anos.

Mas hoje temos tudo isso por conta do patrimônio intelectual acumulado nestes relativamente poucos milênios de existência da espécie humana. Até o Renascimento, muito pouco tínhamos andado com o conhecimento científico, e as deduções tinham um espectro muito mais largo, o que produzia inúmeras falsas correlações. As mais clássicas dizem respeito à posição dos astros no firmamento.

A lógica era a seguinte: vamos imaginar um lugar onde há invernos rigorosos. Estamos em uma época onde a conservação dos alimentos era muito difícil, e a caça e a coleta não eram proveitosas em ambientes repletos de neve e gelo. As crianças que nascerem nesta época terão nutrizes menos bem alimentadas, e, por conseguinte, elas mesmas não terão ao seu dispor todos os elementos que necessitam para um crescimento saudável. Crianças mais fortes, portanto, nascem no verão, com seus melhores humores e mais energia para encarar o mundo. É claro que a personalidade não é composta apenas pelo fator ambiental, mas não há dúvida que o vigor físico de uma criança refletirá em seu caráter.

O que faz o homem antigo? Observa a posição dos astros no momento do nascimento da criança e atribui a eles as características do fedelho. Isso porque a humanidade divinizou as estrelas e os planetas, porque imputava a eles a causa pelos acontecimentos diversos do mundo: as chuvas, as floradas, as colheitas, a disponibilidade de caça e pesca. Portanto, assim como a posição dos astros em tese determinavam os meios de subsistência, também faria sentido se controlassem os demais aspectos da existência, como a índole das pessoas. Conceitos físicos como os que expus acima eram desprezados, porque seriam meras consequências ou das vontades dos deuses, ou da influência dos corpos celestes. É um pensamento cum hoc, de correlação de coincidências, como pode ser lido neste texto.

Essa lógica persistiu por séculos, atravessando inclusive a ascensão dos monoteísmos. Se é fato que as funções divinatórias da leitura das rotas dos astros foram sendo combatidas por suas teologias (que não aceitavam uma regência maior que a de sua divindade), também não conseguiam remover o fato de que alguns conjuntos de circunstâncias aparentemente casavam sempre com o posicionamento dos corpos celestes. A ausência de dados científicos, que teriam o condão de atribuir outras causas aos fenômenos, dificultava o afastamento da hipótese astrológica.

Pior. Um dos mais proeminentes pensadores cristãos, São Tomás de Aquino, reconhece, ele mesmo, a influência dos astros na sensibilidade e na inteligência das pessoas, como se pode ler em seu Compêndio Teológico (Capítulo 128). Ele entende que os corpos celestes atuam indiretamente na vontade humana, e que é dever do homem resistir a estas influências, fazendo uso de sua razão. Desta forma, compreendemos que, mesmo não reconhecendo um efeito que impeça o livre-arbítrio humano, o principal teólogo da Idade Média não retira por completo a capacidade dos astros de influenciar as escolhas humanas. Isso, senhores, é astrologia.

Tudo isso, vejam bem, era perfeitamente compreensível até o momento em que o patrimônio intelectual da humanidade passou a receber mais e mais informações que embasavam outras visões, menos metafísicas. A descoberta da gravidade, do heliocentrismo, das órbitas planetárias, de novas constelações e planetas deveriam demonstrar que os astros não têm nada a ver com nossa vida, ao menos no sentido interior, de formação da personalidade. Mas não. Ainda há muita gente que acredita em horóscopo.

Algumas das alegações: se a lua e o sol são capazes de influenciar as marés, por que não poderiam mexer com nossos corpos, tão cheios de líquidos? Pelo simples motivo de que somos infinitamente menores do que os planetas, ora. Há mais ação gravitacional entre você que me lê e o dispositivo onde me lê do que entre o planeta Saturno e nós, por exemplo. E olhe que a atração gravitacional não impede que seu celular se arrebente no chão caso você o solte: o planeta Terra o atrai muito mais do que seu corpo. Outra coisa: as forças que atuam astrologicamente são metafísicas, ou seja, não podem ser detectadas empiricamente. Desculpe, neste caso temos um chute. Nem eu provo que não existe, nem você prova que existe. Ou seja, nada que esteja no campo científico.

A questão da astrologia é que ela tem certas cutrucas que lhe permitem uma elasticidade muito grande. Se você colocar duas pessoas do mesmo signo que sejam extremamente diferentes, haverá a divisão dos decanatos, que nada mais são que os períodos astrais divididos em dez dias cada, fazendo com que tenhamos, por exemplo, arianos do primeiro decanato, arianos do segundo decanato e arianos do terceiro decanato. Ou seja, os do primeiro são influenciados pelo signo anterior, os do terceiro pelo signo seguinte e os do segundo seriam os arianos “puros”, o que triplica as possibilidades de enquadramento do signo. Outro volteio diz respeito a pessoas muito semelhantes de signos completamente diferentes. Para este caso, temos os doze signos tipificados em quatro categorias, os chamados elementos: fogo (Áries, Leão e Sagitário), terra (Touro, Virgem e Capricórnio), ar (Gêmeos, Libra e Aquário) e água (Câncer, Escorpião e Peixes). Desta forma, se alguém for de Câncer, terá semelhanças com Escorpião e Peixes, além de aproximações com todos os outros signos que os circundam. Sem contar a questão dos ascendentes, do signo solar e do signo lunar, que dá uma plasticidade tão grande ao horóscopo que torna possível o encaixe de qualquer conjunto de circunstâncias em qualquer signo. Por isso é possível fazer a astrologia funcionar sempre.

Funcionar? Bem, para isso é preciso muita boa vontade. Boa vontade, na verdade, não; é preciso compreender o fenômeno psicológico denominado validação subjetiva. Este é o principal fator para fazer com que as pessoas ainda confiem em predições zodiacais.

O mais famoso experimento para detectar a subjetividade validatória foi conduzido pelo psicólogo e professor norte-americano Bertram Forer, que elaborou um teste muito interessante e que se tornou bastante conhecido, mas que, na ocasião, era uma autêntica pegadinha do Malandro. A coisa era assim: Forer forneceu a seus alunos um formulário que teria o propósito de testar suas personalidades. Após as respostas, e com base nelas, um avaliador lhes forneceria uma descrição da personalidade de cada um. Só que o avaliador não existia e, ao invés de avaliar as respostas, Forer desprezou-as, devolvendo a todos os alunos o mesmo texto, composto de frases extraídas de várias predições astrológicas, compondo o seguinte texto de treze tópicos:

Você tem uma grande necessidade de que outras pessoas gostem de você e te admirem.
Você tem a tendência a ser autocrítico.
Você tem um grande potencial inexplorado, que você ainda não usou a seu favor.
Apesar de você ter algumas fraquezas de personalidade, você geralmente consegue compensá-las.
Seus relacionamentos têm representado problemas para você.
Disciplinado e autocontrolado por fora, você tende a ser preocupado e inseguro por dentro.
Às vezes você tem sérias dúvidas ao pensar se tomou as melhores decisões ou fez a coisa certa.
Você prefere um pouco de mudança e variação, e fica insatisfeito quando cercado por restrições e limitações.
Você se orgulha por ser um pensador independente e não aceitar as afirmações dos outros sem provas satisfatórias.
Você descobriu que é imprudente em ser franco demais com os outros.
Às vezes você é extrovertido, afável e sociável, mas em outros momentos você é introvertido, cauteloso e reservado.
Algumas de suas aspirações tendem a ser pouco realistas.
Segurança é um dos maiores objetivos em sua vida.

Em seguida, cada um dos alunos deveria apreciar o texto e dar uma nota para o mesmo, nos seguintes termos:
  • 0 (zero) representaria nenhuma correspondência
  • 5 (cinco) representaria correspondência total
O resultado final: 4,26!!! Os alunos concordaram com praticamente tudo o que estava descrito no texto-resposta. A mesma, para todos. Uma turma inteira de pessoas iguais. A essa tendência em encontrar concordância com termos genéricos e tomá-los como verdadeiros é o que Forer gostaria de ter denominado de efeito Barnum, em alusão ao empresário circense Phineas Barnum, hábil na arte de convencer pessoas sem se expressar de forma precisa. Mas o efeito ficou mais conhecido por seu próprio nome, ou seja, efeito Forer. A partir deste teste pioneiro, inúmeros outros foram realizados, tanto para confirmar o efeito, quanto para comprovar a invalidade dos mapas e prognósticos astrais.

E o que podemos depreender desses experimentos? Assim como a humanidade somente descobriu que a Terra é azul quando saiu do planeta, também temos imensa dificuldade em reconhecer o que nós mesmos somos. Temos a tendência em achar que o conjunto de nossas características e convicções é bom e precioso, sejam elas físicas ou psicológicas, e apenas uma visão externa pode dar cabo da tarefa, o que pode ser particularmente doloroso para nós. Mas, sobre esse tema, o viés de confirmação, falarei com mais propriedade em postagem futura. Por ora, basta saber que conseguimos absorver informações genéricas sobre nós com muito mais facilidade do que dados específicos.

Se você ler com atenção à descrição de Forer, perceberá que é praticamente impossível não se encaixar nas predições. Algumas delas, inclusive, são tautológicas. Se há momentos em que você é extrovertido, e há outros em que você é introvertido, então temos a totalidade da sua vida! Desta forma, quem aceita uma descrição como essa, é dado a reconhecer-se vagamente, de não possuir uma visão realista muito apurada de si próprio. Essa é uma característica humana, e só quem está com o ceticismo em dia consegue detectar a armadilha. Afinal, a validação subjetiva, ou efeito Forer, é uma das principais ferramentas para a leitura fria, tema que venho tratando paulatinamente em meus textos.

Trocando em miúdos: temos a tendência de enxergar correlações onde elas não existem, em especial quando dizem respeito à nossa pessoa, pelo efeito de nos faltar externalidade. É muito difícil enxergarmos a nós mesmos. Quando um horóscopo qualquer nos diz alguma coisa, devemos, antes de dar crédito a ele, pensar se a sua aplicabilidade não se dá a qualquer ser humano. Este é um bom exercício para evitar consequências perniciosas.

E, finalmente, para encerrar o tema do relógio zodiacal: entendo que os doze signos do zodíaco representam a plenitude do espaço do céu, morada de Deus. Os signos do zodíaco formam uma circunferência pela abóbada celeste, de modo a compreendê-la toda – para cada ponto que você der uma mirada, verá um dos signos. Por isso, é razoavelmente compreensível que se encontre essa representação em uma igreja, ainda mais tendo em mente sua associação com o tempo representado pelo relógio. Totalidade do espaço e totalidade do tempo são paradigmas da onipresença e da infinitude, características do Deus judaico-cristão, e, com isso, encontramos um sentido possível para a curiosidade paraibunense, sem que o pobre construtor do engenho esteja fadado a arder no fogo do inferno. Pelo contrário, a obra é bela, histórica, vale por si só e é um distintivo da cidade de Paraibuna. Que vá para o inferno aquele que quiser desfazê-la.

Recomendações de leitura:

O livro abaixo é o de autoria de São Tomás de Aquino, que mencionei neste texto. Ele discorre muito bem sobre a influência dos astros, em um momento em que ainda não possuíamos conhecimento suficiente para pensar o contrário.

SÃO TOMÁS DE AQUINO. Compêndio de Teologia. Rio de Janeiro: Presença, 1977.

O endereço abaixo contém uma cópia do paper onde Bertram Forer descreve seu experimento pioneiro:

http://apsychoserver.psych.arizona.edu/JJBAReprints/PSYC621/Forer_The%20fallacy%20of%20personal%20validation_1949.pdf


*Abaixo, vários trechos bíblicos em que são condenadas as práticas astrológicas. Alguns são verdadeiramente cruentos, é melhor se prevenir (kkk):

Deuteronômio 18,10: Não se ache no meio de ti quem faça passar pelo fogo seu filho ou sua filha, nem quem se dê à adivinhação, à astrologia, aos agouros, ao feiticismo,

Deuteronômio 4,19: Quando levantares os olhos para o céu, e vires o sol, a lua, as estrelas, e todo o exército dos céus, guarda-te de te prostrar diante deles e de render um culto a esses astros, que o Senhor, teu Deus, deu como partilha a todos os povos que vivem debaixo do céu.

Deuteronômio 17, 2-5: Se se encontrar no meio de ti, em uma das cidades que te dá o Senhor, teu Deus, um homem ou uma mulher que faça o que é mau aos olhos do Senhor, teu Deus, violando sua aliança, indo servir outros deuses ou adorando o sol, a lua, ou o exército dos céus - o que eu não mandei -, se te derem aviso disso, logo que o souberes, farás uma investigação minuciosa. Se for verdade o que se disse, se verificares que realmente se cometeu tal abominação em Israel, farás conduzir às portas da cidade o homem ou a mulher que cometeu essa má ação, e os apedrejarás até que morram.

Isaías 47,13-15: Esbanjaste teus esforços entre tantos conselheiros. Que eles então se levantem e te salvem, aqueles que preparam o mapa do céu e observam os astros, que comunicam a cada mês como irão as coisas. Ei-los como argueiros de palha que o fogo consumirá; não poderão escapar às investidas da chama. (Não será um braseiro onde se coze o pão, nem um fogo perto do qual se assenta). Eis o que valerão teus feiticeiros que tens procurado consultar desde tua juventude. Eles fogem espavoridos, cada qual para seu lado, sem que nenhum venha em teu socorro.

2 Reis 21:6: Fez passar pelo fogo seu próprio filho; entregou-se à magia, à astrologia, à necromancia e à adivinhação. Multiplicou as ações que ofendem o Senhor, provocando assim a sua ira.

2 Reis 23.5: Despediu os sacerdotes dos ídolos que os reis de Judá tinham estabelecido para oferecer o incenso nos lugares altos, nas cidades de Judá e nos arredores de Jerusalém, assim como os sacerdotes que ofereciam incenso a Baal, ao sol, à luz, aos sinais do zodíaco e a todo o exército dos céus

Ezequiel 8.16-18: Levou-me então ao interior do templo. À entrada do santuário do Senhor, entre o vestíbulo e o altar, avistei cerca de vinte e cinco homens, que, de costas para o santuário do Senhor, com a face voltada para o oriente, se prosternavam diante do sol. Filho do homem, disse-me ele, vês isto? Não basta à casa de Judá entregar-se a esses ritos abomináveis que aqui se praticam? Haverá ainda ela de encher a terra de violência, e não cessará de me irritar? Ei-los que trazem o ramo ao nariz. Está bem! Eu, de minha parte, procederei com furor, não terei condescendência, serei impiedoso. Inutilmente clamarão a meus ouvidos, não os ouvirei.

Jeremias 8.1-3: Naquele tempo - oráculo do Senhor - serão retirados de seus sepulcros os ossos dos reis de Judá, dos seus chefes e sacerdotes, dos seus profetas e habitantes de Jerusalém. E serão expostos ao sol, à lua e à multidão das estrelas que tanto amaram e serviram, e que seguiram, consultaram e adoraram. Esses ossos não serão mais recolhidos, nem enterrados, permanecendo como adubo na superfície do solo. Preferível à vida será a morte para os sobreviventes dessa raça perversa, em todos os lugares pelos quais eu os houver dispersado - oráculo do Senhor dos exércitos.