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sábado, 30 de maio de 2015

Pequeno guia das grandes falácias - 12º tomo - A afirmação do consequente

Olá!

Nasci na Mooca, acho que já falei aqui mais de uma vez. Tenho um papel chamado Certidão de Nascimento a provar, registrado no cartório que fica de frente com a igreja do Bom Conselho, em plena Rua da Mooca.

Para quem não é de São Paulo, é bom saber que a Mooca é um dos bairros mais tradicionais da capital paulista, possuidora de grande extensão e composta por uma série de bairros menores, como a Mooca Baixa e seus cortiços, o requintado Parque da Mooca, o Alto da Mooca da música do Adoniran, a Água Rasa do cemitério da Quarta Parada, a montanhosa Vila Bertioga, as limítrofes Vilas Libanesa e Regente Feijó, dentre outras. É um bairro tão importante para a memória paulistana quanto o Brás, a Barra Funda, o Bom Retiro e a Bela Vista, mas nada se compara ao bairrismo do mooquense.

Não sei bem por quê. Talvez seja pelo fato de que a Mooca tem uma boa preservação de sua arquitetura fundadora e não ter se degradado tanto, ou pela razão de que, apesar da prevalência italiana, há inúmeras outras etnias que ajudaram a amalgamar o bairro como uma pequena aldeia global. De fato, a região recebeu muitos espanhóis, muitos alemães, muitos eslavos (conhecidos como bichos d’água, dada sua brancura) e outras galeras. Havia, inclusive, uma gigantesca construção conhecida como Navio Parado, que ficava do lado de cá do rio Tamanduateí em relação ao Cambuci, e que tinha esse nome porque era erguido com altas paredes de pequenas janelas, à moda de escotilhas, em posição de “bico” para quem observava a paisagem além do rio. Este colossal cortiço era um abrigo especializado em famílias nordestinas. Uma de minhas tias, inclusive, saiu de lá. Pode ser esse um fator de identidade com a região, que também congregava muitas e muitas fábricas, inicialmente têxteis, para depois inaugurá-las de todo tipo.

Em uma de suas ruas mais industriais, a Barão de Monte Santo, estava pichada no muro de uma fábrica a inscrição emblemática: “A Mooca não é um bairro, nem uma cidade, nem um estado. É uma república”. De fato, a Mooca tem bandeira, tem hino e só não tem uma constituição própria porque faltam os tanques de guerra.

Mas a Mooca tem um time. Um time próprio e tradicionalíssimo, que mistura nome e cor dos dois mais clássicos times de Turim, na Itália: o grená Juventus, filhote das preferências clubísticas dos fundadores do Cotonifício Rodolfo Crespi Futebol Clube. De um, a Juve, pegaram o nome; do outro, a Torino, trouxeram o belíssimo uniforme cor de vinho – união provavelmente impensável na própria bota.

Juveeeeentus, Juveeeeeentus! Eu estou aqui!
Vamos torcer juntos, Juventus, e daqui nunca mais sair

O Clube Atlético Juventus é conhecido como Moleque Travesso, por causa das aprontações que fazia contra os clubes maiores, arrancando resultados inesperados de Corinthians, Palmeiras, São Paulo e da outrora clássica Portuguesa. Lembro sem saudades de um tremendo golaço do jogador Silva, feito único na carreira deste pouco conhecido atleta. Um gol de bicicleta clássico – não daqueles em que o jogador dá uma puxeta meia-boca e é festejado nos fantásticos da vida, mas um giro perfeito no ar, com chute retilíneo morrendo nas redes bem guardadas do lendário goleiro Ronaldo, hoje comentarista esportivo.

Mesmo assim, o Juventus angariou tal simpatia que é o segundo time de praticamente todo paulistano. E, se não se apegasse tão ferozmente ao futebol romântico (Seu slogan é “Ódio eterno ao futebol moderno”), que o mantém alijado da disputa por conquistas maiores, provavelmente seria o primeiro de todo o mooquense.

Sou da Mooca, já o disse, e tenho duas camisas do Juventus; a completamente grená, linda, e uma listrada, menos tradicional. Mas sou corintiano, de pai e mãe. E aqui nasce a falácia da vez: a afirmação do consequente.

Este é o clássico exemplo de falácia formal, ou seja, o erro não está na verdade das premissas utilizadas para compor a conclusão, mas na maneira com que são concatenadas na proposição. Imaginemos o seguinte silogismo:

Todo torcedor do Juventus possui uma camisa do time;
Décio possui uma camisa do Juventus;
Portanto, Décio é juventino.

Para compreender bem o erro desta proposição, é preciso conceituar o que é implicação material, condição necessária e condição suficiente. Vamos lá.

Conforme falei no primeiro tomo desta série, todo silogismo (construção lógica de um argumento) é composto de antecedentes e consequentes, ou seja, acontecendo tal e tal coisa, será acarretada tal consequência. Quando essa amarração é feita certinho, o argumento será válido, e poderá receber um valor de verdadeiro ou falso. Mais ainda: se o antecedente for verdadeiro, o consequente também será; se for falso, ocorre o inverso.

Pois bem. Percebam que o silogismo é uma condição implícita. Ele afirma que, SE tais condições forem verdadeiras, ENTÃO a conclusão também é. Ou seja, a afirmação do antecedente IMPLICA no consequente. Essa é a implicação material. Tá explicado? Vou facilitar.

Imagine o silogismo clássico, aquele do Sócrates:

Todos os homens são mortais
Sócrates é homem
Portanto, Sócrates é mortal

Aqui, temos o seguinte: SE todos os homens são mortais e Sócrates é homem, ENTÃO Sócrates é mortal. Parece que isso está correto. Vamos verificar?

Para que seja verdadeira a afirmação de que Sócrates é homem, é necessário que ele cumpra alguns requisitos: que tenha duas pernas, dois braços, mão com cinco dedos e polegar opositor, blá, blá, blá, que seja racional e que seja mortal. É obrigatório a Sócrates ser mortal se ele quiser ser um homem, porque é característica inerente à espécie. Dessa forma, ser mortal é condição necessária para Sócrates ser um homem.

Por outro lado, para que Sócrates seja mortal, BASTA que ele seja homem. Ele poderia ser qualquer outra coisa: um macaco, uma barata, um morcego, um tenro pé de alface, um cogumelo ou uma bactéria – tudo isso é mortal, assim como a espécie humana. Assim, é condição suficiente que Sócrates seja homem para ser mortal.

Voltemos para Décio e Juventus. Ter uma camisa do clube é condição necessária para ser juventino? Não, é perfeitamente possível torcer para o Juventus e não ter camisa, boné, bandeira, adesivo e nem qualquer outra referência. A única condição necessária é gostar do clube mais que de outros.

Ter a camisa é condição suficiente? Não também. Posso ter camisas do Juventus, do Corinthians, do arquirrival Palmeiras, da Sampdoria, do Raja Casablanca, da seleção da Argentina... Isso quer dizer que eu torço por todos esses times? De forma nenhuma. Posso tê-las por achá-las belas, e essa sim é uma condição suficiente para eu ter a camisa.

Por isso, há problemas na construção desta última implicação material, que não existem no argumento do Sócrates – não há preenchimento de condições necessárias e suficientes para dar validade ao argumento.

O que está se praticando aqui é um deslocamento do ponto que deve receber a afirmação. Em um encadeamento lógico, a afirmação deve estar no antecedente, ou seja, nas premissas. A conclusão é o mero resultado da articulação delas. No caso do Décio juventino, há uma afirmação divorciada das premissas na conclusão, ou seja, há uma afirmação do consequente, que é o nome desta falácia.

Apenas para concluir, este é um tipo de falácia formal de um grupo conhecido como non sequitur, termo latino que quer dizer “não segue que”, mas vou deixar essa explicação para outro capítulo deste pequeno guia. Não há que se falar em afirmação do consequente não falaciosa, porque não se trata de um erro informal ou dispersivo, mas na construção da lógica do argumento.

Recomendações:

Tenho um livro do Mino Carta, tradicional filho da Mooca, que versa sobre o bairro alguns de seus personagens, recheados de fotos antigas. É muito bom.

CARTA, Mino. Histórias da Mooca (com a benção de San Gennaro). Rio de Janeiro: Berlendis & Vertecchia, 1982.

Este é um videozinho com o tal do gol do Silva. É, de fato, muito lindo.


E, finalmente, recomendo um curta-metragem que entrevista alguns moradores da república, que demonstram sua ligação afetiva com o bairro, além de trazer algumas informações históricas interessantes.

MULLER, Jurandir. Partido Mooca. Filme. Colorido. 28 min. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PwmRoKeqfng. Acesso em 13.06.2014.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Pequeno guia das grandes falácias - 11º tomo - O escocês de verdade (exclusão do grupo)

Olá!


Nas pesquisas que tenho realizado para a elaboração deste pequeno guia, nenhuma das falácias é tão unânime quanto a que falarei hoje com relação aos corolários que a definem. Trata-se da falácia da exclusão do grupo, mais conhecida como falácia do escocês de verdade, que tem como protagonista um tal de Angus.

Não há escocês que ponha açúcar em seu mingau

Vamos ver como funciona a coisa. Imaginando o seguinte debate...
“- Os escoceses são um povo casca grossa. Nenhum escocês come mingau com açúcar.
- Ora, mas eu conheço um escocês, o Angus, que coloca açúcar no seu mingau.
- Ah, nesse caso, seu amigo não é um escocês de verdade”
... verificamos que existe um fato (Angus é escocês e põe açúcar no mingau) que contradiz uma tese (Nenhum escocês põe açúcar no mingau), jogando-a por água abaixo. Só que o interlocutor inicial rebate a antítese, desqualificando-a (Não é um escocês de verdade), com o objetivo de manter válida sua proposição. 

Portanto, a falácia do escocês de verdade é utilizada quando queremos expulsar um integrante incômodo de um conjunto, justamente por ferir e contradizer a convicção que se pretende defender. Vou extrair um exemplo de um fenômeno recente nas redes sociais, decorrente da ignorância política e histórica.

Tem sido muito frequente, pela parte de defensores do liberalismo econômico ou do conservadorismo moral, que os regimes fascistas (nazismo incluso) eram, na verdade, regimes socialistas. Baseiam essas declarações em argumentos pobres, como o fato de que o nome completo do partido de Hitler era Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, e que o termo “socialista” inserido seria o suficiente para colocá-lo como um modelo do marxismo. Mas há argumentos um pouco melhores, como aquele que diz que o estado quase absoluto dos nazistas possuía um intervencionismo incompatível com o pensamento liberal, não podendo, portanto, ser considerado um regime de direita. E é aí onde o escocês entra, seja no desconhecimento histórico, seja na desonestidade intelectual.

É fato que o fascismo como um todo propunha um estado forte. O lema de Mussolini, por exemplo, era “tudo no Estado, nada contra o Estado, e nada fora do Estado”. Mas vejam só. Hitler chegou ao poder pela via eleitoral, democrática, e o comunismo sempre se deu pela via revolucionária. O povo fez a escolha, e sabem por quê? Porque as elites alemãs estavam, naquele momento, se borrando inteiras de medo do comunismo, que prometia, como já se havia visto na Rússia, remover toda propriedade dos meios de produção. Um estado forte, com uma política de segurança interna altamente policial, era melhor para proteger a propriedade privada do que um estado mínimo. Sendo a propriedade o centro para o qual converge todo o mecanismo liberal, preferiu-se abrir mão do estado pequeno, mas desprotegido, e optou-se pela radicalização de sua proteção. Sim, crianças. Nazismo é direita, a extrema-direita, o liberal que usa o estado para se proteger, e o vitamina ao máximo para que ninguém mexa em sua casa. Não adianta querer excluí-lo pelo incômodo que causa.

Marxistas devem estar satisfeitos com o meu texto até agora, mas a mesma mecânica vale para o outro lado. Já li e escutei muita gente dizendo que o comunismo, da maneira que foi aplicado na União Soviética e satélites, não pode ser considerado marxismo, em especial o modelo aplicado por Stalin, que, por exemplo, desconsiderou a doutrina internacionalista de Marx. Isso não é verdade. O comunismo aplicou na prática a coletivização dos meios de produção, a ditadura do proletariado (ainda que de maneira dúbia), a expansão estatal. Isso tudo são premissas do marxismo. É sempre possível afirmar que há outras maneiras de aplicá-lo, mas não se pode excluir o comunismo soviético do rol de suas possibilidades, apenas pelo fato de ter se mostrado um modelo fracassado. Desta forma, o comunismo no modelo soviético também é marxismo, ainda que haja outras vertentes dentro do próprio comunismo.

Notaram como tanto de uma maneira como de outra se tenta excluir o escocês incômodo? Mas há maneiras ainda mais dissimuladas de fazer uma expulsão do grupo.

Vou recorrer agora à nossa memória pessoal. No meu tempo de criança, eu e meus amigos formávamos vários grupos para cometer peraltices, grupos estes que, às vezes, eram reduzidos a duplas. Lembro-me de uma traquinagem em especial, que era chamada de “Operação Resgate”, composta de uma série de procedimentos razoavelmente complexos para atingir um objetivo pouco nobre, mas vamos a ela.

Meu amigo Rogério, quando pequeno, era a personificação do capeta. Batia no irmão, afrontava diariamente a mãe, fugia da escola, brigava na rua, etc, etc e muitos etc’s. Gostava também de presepar toda a casa na ausência de sua sofrida mãe, a dona Marlene, a ponto de a mesma deixá-lo na rua, trancado para fora, quando ela precisava ir a algum lugar. É verdade! Uma prisão às avessas. Isso, para nosso aventureiro amigo, não era um castigo. Era um desafio, que precisava ser vencido... Quem era o escudeiro do moço? Tentem adivinhar...

Pois bem. Para invadir a casa do Rogério, era preciso acessá-la pelos fundos. Tratava-se de um daqueles sobrados construídos pelo proprietário em uma peça só, e depois divididos com paredes. Portanto, não havia corredores laterais. No fundo, havia em cada casa um pequeno quintal, com a lavanderia coberta por uma laje, também construída em bloco único. Como o seu sobrado ficava no meio de uma série de outros idênticos, era preciso invadir a casa do Moacir (amigo do meu primo e compadre Plínio, que na época já não morava mais lá), pela parte de baixo da rua. Subíamos pelo portão no muro lateral e caminhávamos até o tablado da laje coletiva, equilibrando-se também pela mureta que dividia os fundos do conjunto de casas com o pátio da fabriquinha de chinelos.

A outra opção era entrar pelo cortiço do seu Antônio, nome adotivo de um húngaro bravo que vociferava em sua língua de abundantes consoantes quando nos percebia a tungar seus abacates. Por ali, o acesso era mais fácil: no espaço do poço, logo após o primeiro bloco de quartos, apoiava-se no tronco do abacateiro e subia-se na laje. Usávamos menos essa opção porque o cortiço estava sempre movimentado. Desenhei um croqui meia-boca para todos entenderem melhor.


O croqui meia-boca, com os dois acessos possíveis ao lajeado

Estando no tablado da laje, caminhávamos até aquela concernente ao Rogério, onde havia um pequeno telhadinho ligando a laje à janela do quarto dos fundos, que era facilmente destravada com o uso de uma chave de fenda. Só que esse telhadinho era feito de material ordinário – aquelas telhinhas onduladas de plástico – que, para sustentar, eram necessárias duas traves de pouca resistência, dado o pouco peso das peças. Mesmo sendo nosso herói um menino, o telhadinho era tão frágil que não conseguiria suportá-lo sem romper. Para solucionar o problema, eu descia da laje e montava uma escora com paus de rodo, enquanto meu amigo engatinhava por cima das telhas. Destravava a ventana, entrava por ela e corria ao andar debaixo, para abrir a porta do fundo. E lá íamos pegar os cigarros e a cachaça do pai dele.  Sim, é verdade... Tínhamos todo esse trabalho para pegar dois cigarros (o péssimo Luiz XV, por sinal) e dois cálices de pinga de corotinho... Pura subversão, só faltava ser vodka.

Contei essa história toda para dar a dimensão da importância que uma aventura reputada como idiota pelos adultos pode ser importante para as crianças. Elas conseguem penetrar tão fortemente no universo paralelo de suas brincadeiras que esta ganha estatuto de realidade. Um jogo na rua é como se ocorresse no estádio, uma corrida parece valer medalha, e uma guerra de barro parece a batalha do Monte Castelo.

Com relação a isso, podemos perceber que a realidade percebida pelas crianças sempre é um pouco ignorada pelos adultos, ou mesmo pelas crianças mais velhas. Lembram-se dos “café-com-leite”, os meninos menores que brincavam junto dos grupos, mas que nunca eram empurrados para as mulas, para os pegadores, para os bate-caras? Eram os escoceses que não eram de verdade, uma forma branda de exclusão, ainda que para não cometer injustiças.

Nisso, chego a uma obra-prima da literatura infanto-juvenil. Um daqueles livros feitos para entreter crianças e tocar adultos, chamado “Os meninos da rua Paulo”. A história é uma grande parábola da guerra, que, na época (começo do século XX), já se encontrava às portas da Europa. Passa-se em Budapeste, onde um grupo de meninos utiliza um terreno para desenvolver suas brincadeiras, especialmente um jogo chamado de pela, algo semelhante com um tênis que se joga em grupo. Esse terreno, o grund, torna-se objeto de desejo de outro grupo, que passa a juntar esforços para tomá-lo para si, e consequentemente há a resistência daqueles que lá já estão. O autor, Ferenc Molnar, apresenta os personagens de maneira plural, mas que orbitam em torno de um objetivo comum. Desta forma, temos os frágeis, os indecisos, os inconsequentes, os racionais, os emotivos, dando todo um universo social em um mundo microscópico.

Há todos os elementos de uma guerra: a situação de desequilíbrio, o objeto de conquista, a diplomacia, os líderes, os traidores, os espiões, a pressão psicológica, as táticas, o conflito em si, a violência e suas vítimas, em especial o pequeno Ernö Nemecsek, que personifica o soldado fiel, aquele que dá a vida pela sua nação, pelo seu grund. Um conflito – ainda que pequeno – nunca deixa de ser um conflito.

E existe a exclusão do grupo não falaciosa? Sim, desde que a condição de exclusão seja verdadeira. Por exemplo: poderíamos dizer que todas as tiranias são antidemocráticas, mas que havia um país, o Brasil, que teve eleições durante o período ditatorial. Se dissermos que o Brasil não tinha uma democracia de verdade, estaremos corretos, porque a democracia não se caracteriza apenas por eleições. Aliás, eleições estas que excluíam o voto para presidente, para governadores, prefeitos de capitais, etc. Não são as eleições que definem a democracia, mas o Estado de Direito, a característica de não existir ninguém acima da lei.

Recomendação de leitura:

O livro de Ferenc Molnar é daqueles livros raros, que podem ser lidos tanto por crianças como por adultos, como também acontece com O Pequeno Príncipe, Alice no País das Maravilhas, As Aventuras de Huckleberry Finn e outros. Para mim, leitura obrigatória.

MOLNAR, Ferenc. Os meninos da rua Paulo. São Paulo: Ediouro, 1996.

Agradeço à minha patroinha por emprestar suas pernas para personalizar o escocês (No caso, escocesa).

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Vacinas versus moral - uma luta difícil de explicar

Olá!

Meus caros amigos, quando começou a campanha de vacinação contra o papiloma vírus humano (HPV), em março de 2014, utilizei meus limitados meios para incentivar todas as meninas na idade alvo que eu conheço para que a tomasse. Seu motivo principal é que este vírus é responsável por 70% dos casos de câncer no colo do útero, o que é seu maior dano, evidentemente. Houve algum tipo de gritaria contra este tipo de vacinação, mas achei que fosse passageiro, seja pela novidade, seja por alguns conceitos que faziam com que se julgasse inadequado o recebimento de tal medicamento, mas como eu tinha esperança de ser uma atitude efêmera, não dei muita importância à coisa. Chegando a época da segunda dose, percebi que o movimento para a resistência à vacinação (quem nem é uma resistência propriamente dita, já que a vacina não é obrigatória) multiplicou-se ferozmente. Tendo isso em vista, achei melhor reforçar minha posição e explicar porque entendo que a atitude de pais que não incentivam suas filhas a se vacinarem é irresponsável.



Antes de tudo, é preciso entender o que baseia a decisão de um governo em promover e financiar um processo caro como é a vacinação em massa. Sim, eu sei. Os governos brasileiros são corruptos em todas as suas instâncias, como tem demonstrado sobejamente os últimos noticiários, e, desde já, vamos deixar todas as propinas necessárias embutidas em todas as fases do processo. Desta forma, não falaremos mais nisso e não perderemos o foco, ok?
 
Basicamente, três valores são levados em conta: a existência de determinada vacina, a seriedade da doença a ser combatida e o seu custo-benefício. Felizmente, o Brasil tem uma longa tradição e estratégias bem consolidadas de distribuição de vacinas, o que, para sermos justos, chegou a excelência a partir do período de ditadura militar. Desde então, os sucessivos governos tem todos sido bastante generosos com os orçamentos destinados à aquisição e distribuição destes medicamentos, com inúmeras campanhas conduzidas insistentemente até mesmo para doenças sem registros – se vocês procuravam algo para se orgulhar do Brasil, já podem esquecer o futebol; o modo como combatemos a poliomielite, por exemplo, é paradigma para o mundo inteiro.

Desta forma, a questão do custo-benefício é incrivelmente bem resolvida no Brasil, e isso reflete na escolha das vacinas que serão disponibilizadas à população, já que muitas delas são caras, o que dificultaria seu acesso às pessoas mais pobres, justamente as mais suscetíveis às contaminações. E com isso cobrem-se não somente doenças graves no sentido fisiológico, como é o caso da precitada pólio e da tuberculose, mas também aquelas cujo tratamento é mais caro do que as vacinas, como é o caso de rubéola, coqueluche ou caxumba. É fácil de entender: uma vacina Penta, que protege contra cinco doenças (difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e meningite B) custa algo em torno de R$ 200,00 para aplicação em clínica. Se for necessário tratar apenas uma das cinco doenças cobertas, digamos o tétano, só o soro necessário custará o mesmo que a vacina – além da utilização de outros medicamentos e da ocupação de médicos, enfermeiros e hospitais. Também vale a pena economicamente vacinar, ora pois.

Resta saber o que dá base ao governo para determinar a segurança de um medicamento à população. Como os órgãos públicos encontram evidências de que uma vacina pode fazer com que o benefício humano suplante o custo financeiro, o que é representado pela efetividade do tratamento? Mais ainda: o que assegura que uma vacina fará mais bem do que mal?

Vasculhando pelo site do Ministério da Saúde, encontrei um bom exemplo de documento preliminar para um projeto de vacinação, que pode ser lido neste link. Percebam o naipe dos pesquisadores: abrangem Economia, Fisioterapia, Farmácia e Nutrição. Notem a quantidade de informações e os detalhes tratados. Vejam a quantidade de bibliografias e o cotejamento de valores. Mas percebam, principalmente, que logo no seu princípio, o estudo declara as fontes de sua pesquisa, que são revistas de divulgação científica. Revistas? Revistinhas??

Sim, revistas. A Ciência descreve seu desenvolvimento através de suas pesquisas, e estas são divulgadas em revistas. Não, não... Não me refiro às revistas que podem ser encontradas nas bancas de jornal, como a Superinteressante ou a Galileu. Elas falam da Ciência como curiosidade, não como ofício. Revistas científicas de verdade em geral são mantidas por universidades, fundações acadêmicas, órgãos governamentais, associações profissionais (muito embora haja revistas publicadas por empresas comerciais, nada impede). As mais conhecidas são a Nature, a Science, a PubMed, a PLoS, dentre outras, algumas mais abrangentes, outras mais específicas. Algumas são impressas, outras já evoluíram para a mídia digital. Sua principal diferença com relação às revistas de banca é que estas podem ser lidas casualmente, sentado embaixo de uma árvore, ou aguardando o ônibus no ponto, identicamente ao que o gajo faz ao “matar” um jogo de palavras cruzadas, enquanto a divulgação científica é coisa para profissionais (ou, pelo menos, para gente que tenha um mínimo de compreensão do processo científico). É ferramenta de trabalho.

A pesquisa científica é sempre realizada com extremo rigor e não parece em nada com o que pensa o imaginário popular. O artigo científico tem que descrever, nos mínimos detalhes, as pesquisas que retrata. Isso inclui metodologia, estatísticas, resultados, hipóteses testadas, análise e interpretação de dados, remissões a outras pesquisas, etc. Tudo isso para que seja possível a repetição dos experimentos por qualquer cientista que queira fazer uso dela, seja para aprofundá-la, seja para refutá-la, ou para servir de base para novas pesquisas.

Um artigo científico não se esgota com a sua redução à escrita. Antes de ser divulgado, é submetido a um processo conhecido como “revisão por pares”, que consiste em uma arbitragem feita por cientistas do mesmo naipe do autor, e o resultado da revisão deve ser parte integrante da publicação. A revisão pode resultar em aprovação, reprovação ou sugestão de melhorias. Quando o artigo é rejeitado, nada mais resta ao autor a não ser retirá-lo. E se uma pesquisa for comprovada fraudulenta, falsa ou plagiada, a própria revista se encarrega de fazer a retratação do artigo. Quando isso acontece, a credibilidade do autor tenderá a zero para todo o sempre.

Uma pesquisa em geral é constituída de intermináveis relatórios, que incluem toda a descrição dos procedimentos a serem adotados, os resultados esperados e aqueles efetivamente obtidos, com ampla análise destas discrepâncias. Os ambientes devem ser rigorosamente controlados, para que as variáveis no processo influenciem minimamente. Cada passo dado inclui ampla descrição, e, como é natural, faz todo o alicerce para a próxima etapa, que podem ser muitas. Pesquisas na área médica podem ser extremamente longas, pois é necessário que se incluam itens como quarentena de cobaias, progressão nos seus portes, tempos médios de permanência e eliminação, avaliação de riscos e segurança no prosseguimento. Muitas delas exigem estudos de impacto ambiental, e incluem planejamento financeiro. Também é necessário testar reações adversas e efeitos colaterais, além de realizar exames de placebo. Este termo se popularizou nos últimos tempos, e significa tudo o que vai em um medicamento que não tem efeito clínico – os princípios ativos. Este procedimento serve para duas coisas: para verificar se os componentes não ativos cumprem sua função sem influenciar nos efeitos do medicamento investigado, e se os pacientes do grupo controle não estão sofrendo influência psicológica, que distorcerão os resultados. Estes testes são tão rigorosos que chegam a incluir um método chamado “duplo cego”, onde nem os membros do grupo controle nem os pesquisadores sabem quem está usando o medicamento ativo e quem está usando o placebo. Esse processo é útil porque impede que o grupo controle sofra influência psicológica e que os pesquisadores dirijam sua opinião sob influência dos resultados parciais.

Por todos esses motivos, uma revista de divulgação científica não é gostosa de ler. O estilo é árido, porque necessita de objetividade, por muitas vezes utiliza números e mais números, e tem jargão próprio, repleto de termos compreensíveis apenas pelos iniciados. E, dependendo da área que trata, não descreve coisas agradáveis – coisas como vivissecções, descrição de efeitos colaterais, reações adversas, colorações e aspectos de dejetos, essas coisas.

Juntei uma bula de um remédio extremamente prosaico: Ibuprofeno. Advil e Alivium são duas marcas comerciais que representam esse medicamento que, como vocês bem sabem, serve para tirar dor e febre, e que é do tipo de produto que, até bem pouco tempo atrás, vendia até em botequim:


Percebam a quantidade de informações existentes. Sabem de onde elas vêm? De pesquisas. Se, por ventura, algum tipo de reação adversa ou efeito colateral for percebido, novas pesquisas são realizadas, até que novas conclusões possam ser obtidas, e, com isso, a farmacopeia e as bulas são atualizadas.
 
O mesmo se aplica às vacinas. Também elas podem ter reações adversas e efeitos colaterais, que são descritos em suas bulas (sim, vacinas também tem bulas) a partir de pesquisas e mais pesquisas. Tem aqui neste link um videozinho sensacional, que conta como surgiu e como funciona uma vacina, seja no sentido fisiológico, seja no sentido demográfico.

Por tudo isso, o processo de disponibilização de um medicamento é muito mais seguro do que deixar livre a doença que se pretende trazer imunização. 

Existe cientista pilantra? Ô se tem. Mas qual Pelé se aplica quando um suposto cientista quer provar suas teses sem ter que se submeter à apreciação de seus pares? Há duas formas básicas: publicação em livros ou artigos em revistas de Filosofia.

A princípio, parece que é importante que um cientista publique livros com suas teorias, mas há uma armadilha neste tipo de publicação. Ele é muito mais aberto a fraudes.

Um livro é publicado no interesse comercial de sua editora, sem a necessidade que seu conteúdo seja reflexo de um resultado real de pesquisas metodologicamente bem descritas. Nada impede, em um livro, que todo o conteúdo de uma teoria seja ficcional, até porque o processo de arbitragem não é obrigatório neste caso. E nascem livros como o famoso “Eram os deuses astronautas?”, de Erich von Daniken, um suíço que teoriza, a partir de construções complexas como as pirâmides ou das estátuas da Ilha de Páscoa, todas elas de difícil explicação científica, que a criação do mundo e da humanidade foram obra de seres extraterrestres. Seu estilo é de todo convincente, mas suas teses são puramente abstratas, e falta ao livro provas incontestes ao que diz. O livro foi um enorme sucesso, e muita gente passou a adotá-lo como expressão da verdade. Mas o fato é que ele usa e abusa da falácia do “Deus das lacunas”, já devidamente esmiuçada no meu pequeno guia das grandes falácias (leiam aqui). Portanto, ela joga com a necessidade inescrutável do ser humano de obter explicações para tudo, ainda que as hipóteses estejam baseadas em metafísica, ou que estejam sustentadas nas nuvens.

A outra forma de ludibriar é a divulgação de teses em revistas de pesquisa filosófica, que funciona com método algo semelhante, mas não igual. Isso ocorre porque o fluxo de uma publicação filosófica segue os mesmos passos da pesquisa científica: um método claro, fontes fartamente declaradas, sequência de hipótese-desenvolvimento-conclusão, tema inédito ou revisão, aprovação dos pares e publicação. Esta técnica de engodo é especialmente matreira, porque a Filosofia tem um espectro mais largo que a Ciência. Sua base é a lógica, e não a prova, porque investiga o nascedouro de ideias que um belo dia poderão se tornar Ciência (quando houver elementos suficientes para conduzir uma pesquisa) ou que escapam ao alcance da Ciência, como teorias sobre Artes, Religião, etc. Um grande exemplo são as teorias do Design Inteligente, que refutam as ideias da seleção natural, mas que não tem falseabilidade possível (vide este texto) para serem consideradas científicas.

Os defensores do design inteligente, ligados à Religião, armaram uma bela briga nos Estados Unidos para que suas teses fossem apresentadas como alternativa à seleção natural em aulas de Ciências, o que vem sendo seguidamente recusado pelos meios acadêmicos, já que há a exigência de que em aulas de Ciências, se ensine Ciências!!! O drible tentado é a divulgação de suas pesquisas em revistas de divulgação filosófica, e não científica. Não há nada de errado nisso. Os pares da academia filosófica discutem ideias, e não provas. Mas o máximo possível de atingir é o âmbito filosófico, e não o científico. Por enquanto, a brincadeira de tornar o design inteligente uma tese científica não tem dado certo, mas vai que cola...

(Parênteses para deixar bem claro: teses como o design inteligente têm tanto valor quanto a teoria da evolução no campo das ideias. Não tiro o mérito, nem a engenhosidade da mesma, mas não é possível enquadrá-la como Ciência. Já disse, no mesmo texto mencionado logo anteriormente, que tanto Ciência, quanto Religião, quanto Arte e Filosofia tem o condão de produzir conhecimento válido, mas é preciso chamar pão de pão e pedra de pedra. Os métodos são diferentes, os motivadores são diferentes, as necessidades são diferentes. Não me acusem, por favor, de dizer que o design inteligente tem menos valor do que a teoria da evolução – só que esta pertence às Ciências e aquela à Religião).

Já estou me estendendo muito. Vamos à controvérsia.

No passado, já tivemos severa resistência à aplicação de vacinas, e tivemos um exemplo muito claro no Brasil, que chegou a causar ampla revolta popular – o episódio da Revolta da Vacina. Seu principal componente era a imposição da aplicação, a vacina era obrigatória. Não vou me estender no tema, mas indicar um bom livro sobre o assunto logo abaixo.

Mas não há, neste momento, uma comoção popular baseada na imposição governamental. Todas as notícias e boatos levam a crer que a base da resistência é a teoria da conspiração. A vacina contra HPV tem reações adversas e efeitos colaterais, mas quem deseja colocar-se na posição de detrator maximiza estratosfericamente essas condições indesejáveis. Tudo isso gera um desestímulo nas meninas candidatas. Primeiramente porque são bastante jovens, e já se colocam indispostas por conta da dor da picada – seu discernimento ainda não é completo e são imediatistas, por conseguinte. Com isso, o segundo ponto (dor local, náuseas, tonturas e que-tais) ganha proporção mastodôntica. Mas, como já disse, essas reações são passíveis de acontecer não apenas para vacinas, mas para qualquer medicação (vejam quanta coisa é contraindicada, ou adversa, ou colateral na bula que colei). Por que o problema especificamente com a vacina contra HPV?

Acontece que toda essa conversa contra a vacinação do HPV me parece muito mais um manifesto de fundo moral do que uma verdadeira preocupação com efeitos indesejados e contraindicações. Uma moral torta e doentia, evidentemente, mas ainda poderosa e muito espraiada em nossa sociedade.

Vamos pegar os componentes. É uma vacina destinada a meninas pré-adolescentes, para evitar uma doença cuja principal via de contágio é sexual. Pronto! A vacina já virou importante incentivo para o aumento da precocidade e promiscuidade da nossa já tarada juventude. Ela serve para permitir às meninas, cada vez mais cedo, se introduzir na pecaminosa vida sexual, sem nenhum risco. E então a solução é posicionar-se contrariamente. Quer saúde, abstenha-se!

Esse pensamento só é colocado explicitamente por fanáticos, mas a verdade é que ele está firmemente guardado no substrato do pensamento de uma sociedade com o nosso modelo, e acaba gerando esse tipo de anomalia.

Portanto, pais, pensem no que segue. A principal via de contágio do HPV é a sexual, de fato. Mas não é a única. O HPV é assintomático, uma menina não sabe que é portadora, até que um belo dia, muitos anos depois, aparece uma verruga no colo do seu útero, ou um tumor. Mas é nessa idade em que os filhos começam a se descolar dos pais, já querem passar a noite na casa das amigas, e isso implica em empréstimo de calcinhas, uso de toalhas alheias, sentar nas privadas de outras casas. Isso não significa que o pessoal da casa em que sua filha se hospedou seja porco. A doença é silenciosa e pode até mesmo nunca se manifestar para algumas pessoas. A vacina RESOLVE esse problema. E qual a alternativa? Impedir as filhas de saírem de casa? Melhor proibi-las de ir à escola, então; porque também lá há banheiros e risco de contágio.

E, no final das contas, para o bem e para o mal, acabou o tempo da contenção sexual a qualquer custo. Até parece que conseguiremos segurar a sexualidade de nossas filhas com ameaças de inferno

E, para mim, o argumento definitivo – desculpem-me pela pieguice a partir de agora. O câncer é uma doença terrível, mutiladora. Parece que toda a quantidade de pecados que uma pessoa possa ter cometido não é suficiente para justificar o tamanho de um castigo que é representado por essa moléstia. Vivenciei de perto todo o estertor de dois avós e de minha mãe, esta última por três longos anos. Não queria para eles, não quero para minha filha. Imagino como eu me sentiria vendo-a doente, apenas porque eu tinha medo de que ela saísse trepando por aí... Prefiro-a viva e bem, ela tem seus próprios caminhos, descolados de mim e do que eu quero. Meu papel nunca pode ser o de protegê-la daquilo que é convicção minha, mas de tudo o que estiver ao meu alcance para garantir seu futuro, independentemente de mim.

ADENDO:

Ora, direis: não será este mesmo parlapatão que vocifera contra aqueles que se põe defesos da vacina um detrator da vacina contra a gripe? Sandice ou cinismo?

Calma lá, tenho motivos para isso. Quando começaram as primeiras campanhas de vacinação contra a gripe, o local onde trabalho resolveu, ele mesmo, contratar uma empresa para fazer o serviço. Isso porque, de posse de números e estatísticas, tinha comprovações que os surtos de gripe punham a nocaute considerável contingente de funcionários, e incentivá-los a se imunizar representaria, no final das contas, significativa economia (além, é claro, de propiciar bem-estar físico).

Ainda que temeroso com a malvada agulha, e incentivado pelas insinuações de falta de hombridade pela parte dos diletos coleguinhas, fui um dos primeiros a aderir à campanha. No dia seguinte, a reação: estou gripado – febre, dor no corpo, coriza, essas melecas todas. Assim como eu, muitos outros funcionários. Evidentemente, coloquei as hipóteses de fraude, empulhação, engano, engodo e teorias da conspiração. Mas busquei mais informações. Realmente, é esperada uma reação deste tipo, algo como uma gripe atenuada, mas nada que o impeça de exercer suas atividades diárias – o que é fato, ainda que sob desconforto.

Portanto, não me vacinar contra a gripe passou a ser uma opção. Prefiro correr o risco de pegar uma gripe mais forte do que garantir uma atenuada.

- Tá vendo? Então sua defesa das vacinas é furada!

Alto lá. Há uma ENORME diferença entre se arriscar a uma gripe ou a um câncer. Não existe câncer atenuado, nem câncer que suma sozinho, após alguns dias de cama e canja. E outra: não me proteger contra a gripe é uma opção MINHA. Recomendo que se faça como eu fiz. Tome ao menos uma vez a vacina contra a gripe e veja sua reação. Depois disso, será possível avaliar se vale a pena usufruí-la novamente ou não.

Recomendações:

Indiquei um vídeo específico logo acima, mas resolvi recomendar um canal inteiro, porque ele é muito bom. Trata-se do Nerdologia, feito pelo biólogo Átila Iamarino com bom humor e todo cuidado. Fala de curiosidades científicas e esclarece muitas coisas que ficam povoando o universo das dúvidas de nosso cérebro. Vale muito a pena conhecer.


O livro do von Daniken é bem escrito, mesmo sendo polêmico. Pode-se concordar ou não, mas é um ótimo exemplo de livro pseudocientífico, com a vantagem de não ser aporrinhante de ler.

Von DANIKEN, Erich. Eram os deuses astronautas? São Paulo: Melhoramentos, 2000.

O livro abaixo é um importante subsídio para compreender o que foi a Revolta da Vacina.

CHALHOUB, Sidney. Cidade febril: Cortiços e epidemias na Corte imperial. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

Agradeço também à minha patroinha por deixar-me molestar seu bracinho para a foto que ilustra este post (Antes que me perguntem: groselha com cobertura de morango).